Retalhos Como Francisco e Clara de Assis, a Fraternidade a todos saúda em Paz e Bem!Retalhos

25 de novembro de 2011

1º Domingo do Advento - Vigiai! - IL Risorto

16 de novembro de 2011

17 de Novembro - Festa de Santa Isabel da Hungria



Catequese do Papa: Isabel da Hungria, a princesa entre os pobres
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 20 de outubro de 2010 (ZENIT.org) - Apresentamos, a seguir, a catequese dirigida pelo Papa aos grupos de peregrinos do mundo inteiro, reunidos na Praça de São Pedro para a audiência geral.
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Queridos irmãos e irmãs:
Hoje, eu gostaria de falar-vos sobre uma das mulheres da Idade Média que suscitou maior admiração: Santa Isabel da Hungria, chamada também de Isabel de Turíngia. Ela nasceu em 1207, na Hungria. Os historiadores discutem onde. Seu pai era André II, rico e poderoso rei da Hungria, o qual, para reforçar seus vínculos políticos, havia se casado com a condessa alemã Gertrudes de Andechs-Merania, irmã de Santa Edwirges, que era esposa do duque de Silésia. Isabel viveu na corte húngara somente nos primeiros quatro anos da sua infância, junto a uma irmã e três irmãos. Ela gostava de música, dança e jogos; recitava com fidelidade suas orações e mostrava atenção particular aos pobres, a quem ajudava com uma boa palavra ou com um gesto afetuoso.
Sua infância feliz foi bruscamente interrompida quando, da distante Turíngia, chegaram alguns cavaleiros para levá-la à sua nova sede na Alemanha central. Segundo os costumes daquele tempo, de fato, seu pai havia estabelecido que Isabel se convertesse em princesa de Turíngia. O landgrave ou conde daquela região era um dos soberanos mais ricos e influentes da Europa no começo do século XIII e seu castelo era centro de magnificência e de cultura. Mas, por trás das festas e da glória, escondiam-se as ambições dos príncipes feudais, geralmente em guerra entre eles e em conflito com as autoridades reais e imperiais. Neste contexto, o landgrave Hermann acolheu com boa vontade o noivado entre seu filho Ludovico e a princesa húngara. Isabel partiu de sua pátria com um rico dote e um grande séquito, incluindo suas donzelas pessoais, duas das quais permaneceriam amigas fiéis até o final. São elas que deixaram preciosas informações sobre a infância e sobre a vida da santa.
Após uma longa viagem, chegaram a Eisenach, para subir depois à fortaleza de Wartburg, o maciço castelo sobre a cidade. Lá se celebrou o compromisso entre Ludovico e Isabel. Nos anos seguintes, enquanto Ludovico aprendia o ofício de cavaleiro, Isabel e suas companheiras estudavam alemão, francês, latim, música, literatura e bordado. Apesar do fato do compromisso ter sido decidido por razões políticas, entre os dois jovens nasceu um amor sincero, motivado pela fé e pelo desejo de fazer a vontade de Deus. Aos 18 anos, Ludovico, após a morte do seu pai, começou a reinar sobre Turíngia. Mas Isabel se converteu em objeto de silenciosas críticas, porque seu comportamento não correspondia à vida da corte. Assim também a celebração do matrimônio não foi fastuosa e os gastos do banquete foram distribuídos em parte aos pobres. Em sua profunda sensibilidade, Isabel via as contradições entre a fé professada e a prática cristã. Não suportava os compromissos. Uma vez, entrando na igreja na festa da Assunção, ela tirou a coroa, colocou-a aos pés da cruz e permaneceu prostrada no chão, com o rosto coberto. Quando uma freira a desaprovou por este gesto, ela respondeu: "Como posso eu, criatura miserável, continuar usando uma coroa de dignidade terrena quando vejo o meu Rei Jesus Cristo coroado de espinhos?". Ela se comportava diante dos seus súditos da mesma forma que se comportava diante de Deus. Entre os escritos das quatro donzelas, encontramos este testemunho: "Não consumia alimentos sem antes estar certa de que procediam das propriedades e dos bens legítimos do seu marido. Enquanto se abstinha dos bens adquiridos ilicitamente, preocupava-se também por ressarcir àqueles que tivessem sofrido violência"(nn. 25 e 37). Um verdadeiro exemplo para todos aqueles que desempenham cargos: o exercício da autoridade, em todos os níveis, deve ser vivido como serviço à justiça e à caridade, na busca constante do bem comum.
Isabel praticava assiduamente as obras de misericórdia: dava de beber e de comer a quem batia à sua porta, distribuía roupas, pagava as dívidas, cuidava dos doentes e sepultava os mortos. Descendo do seu castelo, dirigia-se frequentemente com suas donzelas às casas dos pobres, levando pão, carne, farinha e outros alimentos. Entregava os alimentos pessoalmente e cuidava com atenção do vestuário e dos leitos dos pobres. Este comportamento foi informado ao seu marido, a quem isso não apenas não desagradou, senão que respondeu aos seus acusadores: "Enquanto ela não vender o castelo, estou feliz!". Neste contexto se coloca o milagre do pão transformado em rosas: enquanto Isabel ia pela rua com seu avental cheio de pão para os pobres, encontrou-se com o marido, que lhe perguntou o que estava carregando. Ela abriu o avental e, no lugar dos pães, apareceram magníficas rosas. Este símbolo de caridade está presente muitas vezes nas representações de Santa Isabel.
Seu casamento foi profundamente feliz: Isabel ajudava seu esposo a elevar suas qualidades humanas ao nível espiritual e ele, por outro lado, protegia sua esposa em sua generosidade com os pobres e em suas práticas religiosas. Cada vez mais admirado pela grande fé de sua esposa, Ludovico, referindo-se à sua atenção aos pobres, disse-lhe: "Querida Isabel, é Cristo quem você lavou, alimentou e cuidou" - um claro testemunho de como a fé e o amor a Deus e ao próximo reforçam e tornam ainda mais profunda a união matrimonial.
O jovem casal encontrou apoio espiritual nos Frades Menores, que, desde 1222, difundiram-se em Turíngia. Entre eles, Isabel escolheu o Frei Rüdiger como diretor espiritual. Quando ele lhe narrou as circunstâncias da conversão do jovem e rico comerciante Francisco de Assis, Isabel se entusiasmou ainda mais em seu caminho de vida cristã. Desde aquele momento, dedicou-se ainda mais a seguir Cristo pobre e crucificado, presente nos pobres. Inclusive quando nasceu seu primeiro filho, seguido de outros dois, nossa santa não descuidou jamais das suas obras de caridade. Além disso, ajudou os Frades Menores a construir um convento em Halberstadt, do qual o Frei Rüdiger se tornou superior. A direção espiritual de Isabel passou, assim, a Conrado de Marburgo.
Uma dura prova foi o adeus ao marido, no final de junho de 1227, quando Ludovico IV se associou à cruzada do imperador Frederico II, recordando à sua esposa que esta era uma tradição para os soberanos de Turíngia. Isabel respondeu: "Não o impedirei. Eu me entreguei totalmente a Deus e agora devo entregar você também". No entanto, a febre dizimou as tropas e o próprio Ludovico ficou doente e morreu em Otranto, antes de embarcar, em setembro de 1227, aos 26 anos. Isabel, ao saber da notícia, sentiu tal dor, que se retirou em solidão, mas depois, fortificada pela oração e consolada pela esperança de voltar a vê-lo no céu, interessou-se novamente pelos assuntos do reino. Outra prova, porém, a esperava: seu cunhado usurpou o governo de Turinga, declarando-se verdadeiro herdeiro de Ludovico e acusando Isabel de ser uma mulher piedosa incompetente para governar. A jovem viúva, com seus três filhos, foi expulsa do castelo de Wartburg e começou a procurar um lugar para refugiar-se. Somente duas de suas donzelas permaneceram junto dela, acompanharam-na e confiaram os três filhos aos cuidados de amigos de Ludovico. Peregrinando pelos povoados, Isabel trabalhava onde era acolhida, assistia os doentes, fiava e costurava. Durante este calvário, suportado com grande fé, paciência e dedicação a Deus, alguns parentes, que haviam permanecido fiéis a ela e consideravam ilegítimo o governo do seu cunhado, reabilitaram seu nome. Assim, Isabel, no início de 1228, pôde receber uma renda apropriada para retirar-se ao castelo familiar em Marburgo, onde vivia também seu diretor espiritual, Frei Conrado. Foi ele quem contou ao Papa Gregório IX o seguinte fato: "Na Sexta-Feira Santa de 1228, com as mãos sobre o altar da capela da sua cidade, Eisenach, onde havia acolhido os Frades Menores, na presença de alguns frades e familiares, Isabel renunciou à sua própria vontade e a todas as vaidades do mundo. Ela queria renunciar a todas as suas possessões, mas eu a dissuadi por amor aos pobres. Pouco depois, construiu um hospital, recolheu doentes e inválidos e serviu em sua própria mesa os mais miseráveis e abandonados. Tendo eu a repreendido por estas coisas, Isabel respondeu que dos pobres recebia uma especial graça e humildade" (Epistula magistri Conradi, 14-17).
Podemos ver nesta afirmação certa experiência mística parecida com a vivida por São Francisco: de fato, o Pobrezinho de Assis declarou em seu testamento que, servindo os leprosos, o que antes era amargo se transformou em doçura da alma e do corpo (Testamentum, 1-3). Isabel transcorreu seus últimos 3 anos no hospital fundado por ela, servindo os doentes, velando com os moribundos. Tentava sempre levar a cabo os serviços mais humildes e os trabalhos repugnantes. Ela se converteu no que poderíamos chamar de mulher consagrada no meio do mundo (soror in saeculo) e formou, com outras amigas suas, vestidas com um hábito cinza, uma comunidade religiosa. Não é por acaso que ela é padroeira da Terceira Ordem Regular de São Francisco e da Ordem Franciscana Secular.
Em novembro de 1231, foi vítima de fortes febres. Quando a notícia da sua doença se propagou, muitas pessoas foram visitá-la. Após cerca de 10 dias, ela pediu que fechassem as portas, para ficar a sós com Deus. Na noite de 17 de novembro, descansou docemente no Senhor. Os testemunhos sobre sua santidade foram tantos, que apenas quatro anos mais tarde, o Papa Gregório IX a proclamou santa e, no mesmo ano, consagrou-se a bela igreja construída em sua honra, em Marburgo.
Queridos irmãos e irmãs, na figura de Santa Isabel, vemos como a fé e a amizade com Cristo criam o sentido da justiça, da igualdade de todos, dos direitos dos demais e criam o amor, a caridade. E dessa caridade nasce a esperança, a certeza de que somos amados por Cristo e de que o amor de Cristo nos espera e nos torna, assim, capazes de imitá-lo e vê-lo nos demais. Santa Isabel nos convida a redescobrir Cristo, a amá-lo, a ter fé e, assim, encontrar a verdadeira justiça e o amor, como também a alegria de que um dia estaremos submersos no amor divino, no gozo da eternidade com Deus. Obrigado.
[No final da audiência, o Papa cumprimentou os peregrinos em vários idiomas. Em português, disse:]
Queridos irmãos e irmãs,
Santa Isabel da Hungria nasceu em mil duzentos e sete. Muito jovem ainda, foi dada em casamento a Luís IV da Turíngia, florescendo entre ambos um amor sincero, animado pela fé e pelo desejo de cumprir a vontade de Deus. Decidida a seguir Cristo pobre e crucificado, presente nos pobres, Isabel praticava assídua e pessoalmente as obras de misericórdia. Foram acusá-la ao marido de assim gastar os bens do condado; ele respondeu: «Desde que não me venda o castelo, não me importa!». Uma vez ela levava o avental cheio de pão para os pobres, quando se cruzou com o marido que lhe perguntou que levava. Isabel abriu o avental; mas, em vez de pão, apareceram magníficas rosas. É o conhecido milagre do pão transformado em rosas, que aparece muitas vezes reproduzido na imagem desta grande Santa da caridade. 

Amados fiéis brasileiros da paróquia São Pedro Apóstolo de Pato Branco e todos os peregrinos de língua portuguesa, agradeço a vossa visita e de coração vos saúdo, desejando que esta peregrinação a Roma deixe a vida de cada um iluminada pelo sentido e pelo amor de Deus e do próximo. Sobre as vossas famílias e comunidades cristãs, desçam abundantes favores divinos, que sobre todos invoco ao abençoar-vos em nome do Senhor.
[Tradução: Aline Banchieri.
©Libreria Editrice Vaticana]

7 de novembro de 2011

25º Aniversário do «Espírito de Assis» - 1986-2011



Assis, Caminho de Paz

Em 27 de Outubro de 1986 realizou-se o primeiro Encontro Inter-Religioso de Oração pela Paz querido por João Paulo II na cidade de Assis que juntou dezenas de representantes das diversas igrejas e tradições religiosas: 124 participantes oficiais de 62 igrejas cristãs e 62 membros de outras tradições (religiões tradicionais da Ásia, da África e da América). Mais de 200 lideres religiosos de todo o mundo…

Porquê Assis e não Jerusalém, Roma, Constantinopla, Meca?
Só Assis tinha, tem a capacidade de se transformar em «parábola de Paz»

Ai viveu S. Francisco, aí aprendeu e ensinou que só temos um Pai e somos todos irmãos. Em Assis viveu e está presente o «irmão universal», o «profeta da paz».
Em 1219, quando os cristãos combatiam os muçulmanos com as Cruzadas, Francisco vai ao encontro destes irmãos: «sou cristão; levai-me ao vosso chefe».

1 - A singularidade do evento

A importância e novidade do evento de Assis foi expressa tanto pelos participantes como pelos observadores e analistas. Representou, de fato, uma novidade e uma iniciativa histórica de grande alcance. e ultrapassando o seu invólucro empírico, O evento de Assis, superando a intenção de seus protagonistas representa um "gesto sem precedente", um acontecimento extraordinário e único, que carrega consigo um explosivo poder simbólico. A jornada de Assis significou para o Cardeal Willebrands, então presidente do Secretariado para a Unidade dos Cristãos, "o evento ecuménico mais marcante depois do Concílio Vaticano II". Inaugurava-se um "ecumenismo planetário", expressão cunhada pelo teólogo dominicano Marie-Dominique Chenu, em sua reflexão sobre o encontro. (O Paradigma de Assis, in revista Concilium 3/2001 do Prof. Faustino Teixeira - PPCIR-UFJF / Iser-Assesoria).
O Encontro de Assis de 1986 constitui um marco fundamental no campo do diálogo inter-religioso. O encontro de Assis significou um avanço ainda maior do que aquele expresso no Vaticano II, no Decreto sobre a liberdade religiosa. Pela primeira vez na história, inúmeras lideranças religiosas mundiais encontram-se para juntos rezar e testemunhar a natureza transcendente da paz.
Houve a preocupação dos organizadores de evitar qualquer forma de sincretismo religioso manifesto na forma "juntos para rezar" e não "rezar juntos".

2 - As religiões no "Espírito de Assis"

A vida habitual de uma sociedade, no passado, decorria dentro da própria cultura e religião, embora se soubesse da existência de outras culturas e religiões. Hoje temos não apenas a convivência física – pacífica ou conflituosa – entre pessoas de diferentes religiões, mas também a convivência ao nível de conhecimento. As tecnologias da informação e da comunicação, a globalização e a emigração criaram a possibilidade de um encontro inter-religioso universal.
Somos a primeira geração em toda a história da humanidade que se encontra num ambiente cultural e religioso realmente plural. O contacto vivo entre as diversas religiões torna-nos mais conscientes de que a vivência religiosa se encontra em uma situação nova e, em alguns aspectos, radicalmente nova.

3 - Um fenómeno novo (desafios)

Esta situação coloca profundos desafios, sobretudo à geração nascida numa época de sociedades de uma só religião. Hoje entramos todos facilmente em contacto com outras perspectivas, outra escala de valores e outras normas. A filosofia ocidental converte-se numa corrente de pensamento entre outras, como a muçulmana, a hindu, a chinesa, etc.
A realidade da qual temos de partir é esta: estamos diante de um fenómeno novo, de uma mudança substancial. Somos suas testemunhas e não podemos fechar-nos à mudança.
Hoje todos temos uma certa noção de pluralismo e tolerância mas a história da qual viemos é de séculos e até milénios de atitudes contrárias ao pluralismo, na tradição católica e noutras religiões.

A religião só pode ser portadora de paz.
Peregrinos da verdade, peregrinos da paz.

«O Senhor vos dê a sua paz».
Daniel Teixeira, OFM




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Vejamos alguns momentos simbolicamente importantes da experiência cristã.
1 - Antigo Testamento

Os textos do AT referentes às divindades dos povos vizinhos de Israel qualificam-nos depreciativamente como ídolos: obras de mãos humanas, coisas mortas (Sab 13, 10), nada (Is 44, 9), vazio (Jr 2, 5; 16, 19), mentira (Jr 10, 14; Am 2, 4; Br 6, 50), demónios (Dt 32, 17; Br 4, 7). Só Javé seria um Deus verdadeiro (Jr 10, 10). Em contrapartida, o povo hebreu tinha a convicção de ser um povo diferente, o povo de Deus, o eleito, que deveria viver separado dos gentios e não misturado com eles (Dt 7, 1-2a). Israel devia destruir sem compaixão os altares e imagens dos povos derrotados e expulsos, e não fazer aliança nem aparentar-se com eles. O Israel do Deuteronómio tem a convicção de ser o povo eleito, o santo diante dos demais povos que adorariam ídolos vãos.

2 - O Concílio de Florença (1452)

No séc. XV outro ponto culminante dessa mentalidade é o Concílio de Florença que declarou firmemente crer, professar e ensinar que nenhum daqueles que se encontram fora da Igreja Católica – não somente os pagãos, mas também os judeus, os hereges e os cismáticos – poderão participar da vida eterna. Irão ao fogo eterno que foi preparado para o diabo e seus anjos, a menos que antes do término da sua vida sejam incorporados na Igreja… Ninguém, por grandes que sejam suas esmolas, ou ainda que derrame o sangue por Cristo, poderá salvar-se se não permanecer no seio e na unidade da Igreja Católica (DS 1351).
Durante séculos se pregou e viveu a convicção de que «fora da Igreja não há salvação». Todos os que morressem fora da comunhão da Igreja Católica não poderiam participar da vida eterna e iriam para o fogo eterno.

3 - No século XIX

Gregório IX, na Encíclica Mirari Vos de (1832) afirmou: Outra coisa que tem produzido muitos dos males que afligem a Igreja é o indiferentismo, ou seja, aquela perversa teoria apresentada em toda a parte, tão favorável ao engano dos ímpios, que ensina que se pode conseguir a vida eterna em qualquer religião, contanto que haja rectidão e honradez nos costumes… Desta barrenta fonte do indiferentismo mana aquela absurda e errónea sentença ou, melhor dizendo, loucura, que afirma e defende a todo o custo e para todos a liberdade de consciência (nn. 9-10).
Esta é apenas uma das rejeições que os Papas daquele tempo lançaram solenemente contra os «erros da época»: o pensamento moderno, as liberdades sociais, a democracia, o que hoje reconhecemos como direitos humanos… Neste texto, que ainda não tem dois séculos, nega-se frontalmente e com ostensivo desprezo a liberdade de consciência, a liberdade religiosa e o pluralismo religioso, com toda a solenidade do magistério pontifício.

4 - Concilio Vaticano II (1962-1965)

Este Concílio declara que a pessoa humana tem direito há liberdade religiosa. Esta liberdade consiste em que todos os seres humanos devem estar imunes de coacção, tanto por parte de pessoas particulares como de grupos sociais e de qualquer poder humano, e isso de tal maneira que em matéria religiosa nem se obrigue a ninguém a agir contra a sua consciência, nem se lhe impeça que aja conforme a ela em âmbito privado ou público, só ou associado com outros, dentro dos devidos limites. Declara, ademais, que o direito à liberdade religiosa se funda realmente na dignidade própria à pessoa humana, tal como é conhecida pela palavra revelada de Deus e pela própria razão (DH 2).

A Igreja Católica nada rejeita daquilo que nas religiões não cristãs há de verdadeiro e santo. Considera com sincero respeito os modos de agir e viver, os preceitos e doutrinas, que, ainda que discrepem em muitos pontos do que ela confessa e ensina, não poucas vezes reflectem um lampejo daquela Verdade que ilumina a todos os seres humanos (NAe 2).

Foram praticamente vinte séculos de exclusivismo cristão, quase dois mil anos em que o cristianismo pensou ser a única religião verdadeira, enquanto todas as outras religiões seriam falsas, invenções humanas ou simples preparação para o Evangelho; ou, na melhor das hipóteses, teriam participação na revelação cristã.
A mudança de mentalidade, no mundo católico, deu-se há uns 60 anos, pelo Vaticano II, o que significa que começou na actual geração e ainda não terá tido tempo para se difundir e criar raízes. A posição teológica de que Deus se revela em todas as religiões, sem descriminação por parte de Deus, ainda suscita surpresa e incompreensão, embora sempre tenha havido no cristianismo outra face, uma atitude mais tolerante e pluralista, mas foram sempre uma excepção.
O Concílio Vaticano II foi para a Igreja Católica uma aceitação de boa parte da crítica da cultura moderna às atitudes integristas da Igreja nos últimos séculos. Foi também uma actualização e uma reconciliação com o mundo moderno. Mas logo se tornou evidente que essa renovação não bastava e em seguida aconteceu na Igreja Católica uma involução, e a doutrina oficial ficou para trás em relação á teologia.

5 - As religiões e a Paz

As perguntas em relação à Salvação partem da suposição de que a salvação está reservada apenas ao «povo eleito», ao Povo de Israel. Este sente-se o único povo eleito por Deus. Convém clarificar que uma coisa é ser o povo eleito e outra o único povo eleito.
Na mente e coração de Jesus, Aquele que nos revela o coração e o projecto do nosso Deus para a humanidade, está subentendida a ideia da salvação universal (Mt 22, 1-14).
Coloquemos algumas perguntas:
Senhor, são poucos os que se salvam? (Lc 13, 23).
Todos são chamados a salvar-se, mas salvam-se realmente todos?
Deus pode chamar uns à salvação e outros não? Ler Lc 13, 22-30; Is 13, 22-30

Deus quer que todos os homens se salvem, sem excepção. Todos recebem o chamamento por igual. Onde está então a diferença? Há diferença nos meios e nos caminhos que Deus oferece a seus filhos para a salvação que é sempre iniciativa de Deus e tarefa do homem. Ao homem é impossível salvar-se por si mesmo. É Deus quem salva. Porém, Deus não impõe a salvação mas oferece-a: é dom absolutamente gratuito.
As religiões são diferentes caminhos através dos quais o homem procura chegar a Deus. Mas esses caminhos-religiões não são todos iguais, não possuem todos a verdade nem o mesmo grau de verdade. Por isso a porta para entrar no Reino é estreita mas Ele abre-a a todos. A porta da resposta depende da liberdade humana, e nem todos estão dispostos a entrar por ela porque tentam entrar com muita coisa, “gordos”, cheios de auto-suficiência, da sua verdade.
Porém, importa ter em conta que as religiões são pessoas crentes e não teorias. Todos o Homem busca a verdade e cada religião é possuidora de parte de verdade (todas são verdadeiras) mas nenhuma possui a verdade total já que há nelas também uma dimensão humana e, portanto, imperfeita (todas são falsas-imperfeitas). Se falámos então de pessoas em busca da Verdade falámos de toda a humanidade que Deus quer em comunhão com ele e que busca Deus.
Celebrar 25 anos do "Espírito de Assis" é tomar consciência desta caminhada comum, no respeito pelos diversos caminhos, ou seja pelos crentes todos, o que não é o mesmo que dizer que todas as religiões são iguais ou igualmente boas. Mas o reconhecimento da diferença não pode significar nunca exclusão dos que vivem uma fé diferente da nossa. Somos irmãos em busca do Pai comum e por isso todos empenhados na construção da Paz que nenhuma barreira religiosa deve impedir.

Daniel Teixeira, OFM

1 de novembro de 2011

XIII Capítulo Geral da OFS - 22 a 29/10/2011 - Brasil

http://www.ciofs.org/en.htm

 
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