Retalhos Como Francisco e Clara de Assis, a Fraternidade a todos saúda em Paz e Bem!Retalhos

27 de abril de 2013

Identidade Pascal - Leitura dos Salmos 137 e 126

Seminário Filosofia e Espiritualidade
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Leitura dos Salmos 137 e 126
"Da nostalgia do Exílio ao Júbilo do regresso"

Salmo 137
1*Junto aos rios da Babilónia nos sentámos a chorar,
recordando-nos de Sião.
2Nos salgueiros das suas margens pendurámos as nossas harpas.
3Os que nos levaram para ali cativos pediam-nos um cântico;
e os nossos opressores, uma canção de alegria: "Cantai-nos um cântico de Sião."
4Como poderíamos nós cantar um cântico do SENHOR,
estando numa terra estranha?
5Se me esquecer de ti, Jerusalém, fique ressequida a minha mão direita!
6Pegue-se-me a língua ao paladar, se eu não me lembrar de ti,
se não fizer de Jerusalém a minha suprema alegria!
7*Lembra-te, SENHOR, do que fizeram os filhos de Edom,
no dia de Jerusalém, quando gritavam: "Arrasai-a! Arrasai-a até aos alicerces!"
8*Cidade da Babilónia devastadora, feliz de quem te retribuir
com o mesmo mal que nos fizeste!
9*Feliz de quem agarrar nas tuas crianças e as esmagar contra as rochas!

WALL PLAQUE for the REMEMBRANCE of JERUSALEM Artist: Zalman Zwieg, c1910 From the Gross Family Collection, Israel

Salmo 126  
1*Cântico das peregrinações.
Quando o SENHOR mudou o destino de Sião, parecia-nos viver um sonho.
2A nossa boca encheu-se de sorrisos e a nossa língua de canções.
Dizia-se, então, entre os pagãos: "O SENHOR fez por eles grandes coisas!"
3Sim, o SENHOR fez por nós grandes coisas; por isso, exultamos de alegria.
4*Transforma, SENHOR, o nosso destino, como as chuvas transformam o deserto do Négueb.
5*Aqueles que semeiam com lágrimas,vão recolher com alegria.
6À ida vão a chorar,carregando e lançando as sementes;
no regresso cantam de alegria,transportando os feixes de espigas.

Comentário e enquadramento

Temos 2 Salmos que traduzem 2 sentimentos de alma que se contrapõem, mas que a História os torna complementares: são Salmos do Povo de Deus, são ecos da História e são expressão da vida de cada crente.

Sl 137:
É um grito de dor e de angústia do mais profundo que a poesia universal conhece e onde se condensam e adensam os sentimentos mais contrastantes do coração humano. Nele se revêm todas as tragédias humanas, sociais e pessoais. É um "código de leitura" não apenas da História de Israel, figurado depois ao longo dos tempos (Diáspora romana pelo mundo, conquistaárabe do séc. Vii, Inquisição, Holocausto, etc), mas também uma evocação de todas as batalhas e tragédias que ferem a mais densa e rica memória dos povos e dos corações: a Pátria ditosa (Sião-Jerusalém; a morada do eterno; o espaço do encontro e da memória; a ditosa esperança de uma terra-prometida; a herançla messiânica acreditada e ansiosamente esperada); a Promessa desfeita (a cidade abandonada e desmoronada; o culto sem espaço; o templo sem lugar santo; o sonho que já não tem vida). É uma lamentação que em hebraico se diz qînah e que expressa a nostalgia de uma mágoa sem consolação; tinha um ritmo e uma música.

Do Sl 137 ao texto de Lc 19, 41-44:
"41Quando se aproximou, ao ver a cidade, Jesus chorou sobre ela e disse: 42*«Se neste dia também tu tivesses conhecido o que te pode trazer a paz! Mas agora isto está oculto aos teus olhos. 43*Virão dias para ti, em que os teus inimigos te hão-de cercar de trincheiras, te sitiarão e te apertarão de todos os lados; 44hão-de esmagar-te contra o solo, assim como aos teus filhos que estiverem dentro de ti, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, por não teres reconhecido o tempo em que foste visitada."

Sl 126:
É um Hino à alegria, no regresso após a caminhada e a experiência de dor e de ausência no Exílio: depois das lágrimas, vem a alegria. Aqueles que eram libertados dos campos nazis, ao avistarem a costa palestinense e o monte Carmelo cantavam o Sl 126, tal como os prisioneiros de Sião quando voltavam à Pátria.
Uma das imagens mais velas do Salmo está no vers. 6: "à ida vão a chorar levando as sementes, à volta vêm a cantar trazendo os molhos de espigas". Esta dupla simbólica encerra em si uma dupla alegria e conjuga e dos fatores que mais simbolozam na experiência habraica: deixar Sião e regressar à Pátria (a memória permanente do exílio no tempo e da chegada à eterna morada de Deus) por um lado; por outro, as sementes, símbolo da esperança que não se deixa matar pela dor e os frutos da colheita, expressão da luta recompensada.
Temos também as diversas expressões da alegria e da paz que inuda o rosto dos regressados, tal como sucede com todos aqueles que vêm coroados os seus esforços, lutas e canseiras, que não se deixam abater pelo cansaço, nem pelo medo e, menos ainda, pelo desterro. na experiência prática da vida do crente, a identidade cristã é, em cada passo da História, a expressão do Sl 126: à volta vêm a cantar. Sempre este Cântico significa e se faz acompanhar pela alegria da colheita: os frutos da liberdade, da solidariedade, da comunhão fraterna, da alegria vivida e partilhada no serviço fraterno.
O Sl 126 é a melhor expressão da "identidade pascal" da nossa fé: "É pela fé na ressurreição de Cristo que a nossa face se alarga em sorrisos de esperanças e a nossa boca entoa loas de louvor e de alegria: "Ó Senhor fazei-nos regressar como as torrentes do Negev." São os caudais das águas das chuvas que inundam a terra e a preparam para as sementeiras do início da primavera.   
Lisboa, 8 de abril de 2013
Professor Padre João Lourenço, OFM



20 de abril de 2013

Abril - Mês da Família Franciscana Portuguesa


Dia Nacional

FAMÍLIA FRANCISCANA PORTUGUESA

16 de Abril de 2013

 ORAÇÃO DE LAUDES


Se acreditas (Mário Silva)

Se acreditas que Deus é pai Amigo
e vês em cada homem um irmão
anda cantar comigo a Paz e a salvação (bis).

1. O mandamento do amor atinge a terra e o céu:
Irei amar o Senhor nos irmãos que Deus me deu.

2. A todos sem excepção marca a lei da natureza;
de todos me sinto irmão na miséria e na grandeza.

3. O Senhor da imensidade mora no meu semelhante;
é sem medida a bondade e nunca se ama bastante.


Desde a aurora Vos procuro, meu Deus, para contemplar o vosso poder e a vossa glória. Aleluia.

Salmo 62 (63), 2-9 - Sede de Deus

2 Senhor, sois o meu Deus: desde a aurora Vos procuro. *
A minha alma tem sede de Vós.
Por Vós suspiro, *
como terra árida, sequiosa, sem água.
3 Quero contemplar-Vos no santuário, *
para ver o vosso poder e a vossa glória.
4 A vossa graça vale mais que a vida: *
por isso os meus lábios hão-de cantar-Vos louvores.
5 Assim Vos bendirei toda a minha vida *
e em vosso louvor levantarei as mãos.
6 Serei saciado com saborosos manjares *
e com vozes de júbilo Vos louvarei.
7 Quando no leito Vos recordo, *
passo a noite a pensar em Vós.
8 Porque Vos tornastes o meu refúgio, *
exulto à sombra das vossas asas.
9 Unido a Vós estou, Senhor, *
a vossa mão me serve de amparo.
Desde a aurora Vos procuro, meu Deus,
para contemplar o vosso poder e a vossa glória. Aleluia.

Desde a aurora Vos procuro, meu Deus, para contemplar o vosso poder e a vossa glória. Aleluia.

Exortação ao Louvor de Deus

Temei o Senhor e dai-lhe glória.
Digno é o Senhor de receber o louvor e honra.
Louvai o Senhor todos os que o temeis.
Salve Maria, cheia de graça, o Senhor está contigo.
Louvai-O, céus e terra.
Todos os rios, louvai o Senhor.
Filhos de Deus, bendizei o Senhor.
Este é o dia que o Senhor fez;
alegremo-nos e regozijemo-nos nele.
Aleluia! Aleluia! Aleluia! Rei de Israel!
Todo o espírito louve o Senhor.
Louvai o Senhor, porque é bom;
todos os que isto ledes, bendizei o Senhor.
Todas as criaturas, bendizei o Senhor.
Todas as aves do céu, louvai o Senhor.
Todos os meninos, louvai o Senhor.
Jovens e donzelas, louvai o Senhor.
Digno é o Cordeiro que foi imolado
de receber o louvor, a glória e a honra.
Bendita seja a santa Trindade e a indivisa Unidade.
S. Miguel Arcanjo, defende-nos na batalha.
(S. Francisco de Assis – ELD)

Jogral: Vocação de Francisco

1. Senhor, que queres que eu faça?
2. Senhor, que queres de mim?
3. Vai, Francisco, a repara a minha igreja,
que, como vês, ameaça ruir!
Todos: Vai, Francisco, e repara a minha igreja,
que, como vês, ameaça ruir!
4. Não uma igreja de pedras, mas uma igreja de irmãos,
unidos no mesmo ideal, no mesmo baptismo, no mesmo amor.
1. Senhor, que queres que eu faça?
1,2,3,4. Ergue-te e põe-te a caminho: sê instrumento de paz!
2. Há homens destroçados pelo ódio.
Todos: Vai levar-lhes amor!
3. Olha à tua volta, vê quanta ofensa!
Todos: Vai, sê tu o perdão!
4. No mundo reina a discórdia.
Todos: Sê tu sinal de união!
2. Há irmãos teus que vivem na dúvida.
Todos: É preciso que lhes leves a Fé!
3. No coração humano existe o erro.
Todos: É urgente dar-lhes a verdade!
4. Muita gente vive em desespero.
Todos: Sê mensageiro de esperança!
2. Há olhos inocentes chorando de tristeza.
Todos: Enxuga-os e dá-lhes alegria!
3. O mundo caminha nas trevas.
Todos: Preciso de ti, para que sejas luz!
1. Senhor, que queres que eu faça?
1. 2, 3, 4. Senhor, que queres de mim?
2. Vai, Francisco e repara a minha igreja, que, como vês ameaça ruir.
Todos: Vai, Francisco, e repara a minha igreja,
que como vês, ameaça ruir!
1. Ó Mestre, bom Mestre, faz que eu procure mais:
2. Consolar os que choram, sem esperar ser consolado.
3. Compreender os que me rodeiam, sem esperar ser compreendido.
4. Ó Mestre, bom Mestre, faz que eu procure mais:
5. Amar muito mais os irmãos, que querer ser amado.
Todos: Porque é dando a vida, que a vida recebemos.
Porque é perdoando aos irmãos,
que, por eles, somos perdoados.
Porque é morrendo para nós mesmos,
que ressuscitamos para uma nova vida.
1. Senhor, serei instrumento da Tua paz.
1, 2, 3. Contigo, Francisco, seremos, no mundo, instrumentos de paz!
Todos: Contigo, Francisco, seremos, no mundo,
instrumentos de paz!

Leituras:1C 31-32; 2C 16-17; LM III, 8-10; TC 46-52; AP 31-36

5 - Ajuda-nos, Francisco…

“Francisco, tu que tanto aproximaste Cristo da tua época,
ajuda-nos a aproximar Cristo da nossa época
e dos nosso difíceis e críticos tempos.
Ajuda-nos a aproximar a Igreja e o Mundo de hoje a Cristo.
Tu que transportaste no teu coração
as vicissitudes dos teus contemporâneos,
ajuda-nos, com o coração unido ao do Redentor,
a abraçar as inquietações dos homens nossos contemporâneos:
os difíceis problemas sociais, económicos, políticos,
os problemas da cultura e da civilização contemporânea;
todas as angústias do homem de hoje:
suas dúvidas e negações, suas desorientações e tensões,
seus complexos e inquietações. Ajuda-nos a traduzir tudo isto
em simples e fecunda linguagem do Evangelho.
Ajuda-nos a resolver tudo em chave evangélica,
para que o próprio Cristo possa ser caminho-verdade-vida
para os homens do nosso tempo”.
         (João Paulo II, Assis, 5 de Novembro de 1978)

(João Paulo II, Assis, 5 de Novembro de 1978)


ORAÇÃO DE VÉSPERAS


Louvado sejas no Irmão Francisco (M. Silva)


Louvado sejas no Irmão Francisco
Altíssimo Senhor Omnipotente (bis).

1. Louvado sejas no Irmão Francisco
que brilha como sol no firmamento
e faz surgir de novo sobre a terra
a viva imagem do Senhor Jesus.

2. Louvado sejas no Irmão Francisco
que tem nos modos o candor da lua
e no céu acendeu mais uma estrela
vivendo heroicamente o Evangelho.

3. Louvado sejas no Irmão Francisco
solo fecundo como terra-mãe
do qual nasceram três novas famílias
que projectam no mundo a sua imagem.

4. Louvado sejas no Irmão Francisco
que falava de paz e de perdão
cuja voz serenou ressentimentos
e cujas mãos serenavam os leprosos.

Salmo 140 (141), 1-9 - Oração na adversidade

Suba até Vós, Senhor, como incenso, a minha oração.

Senhor, a Vós clamo; socorrei-me sem demora, *
escutai a minha voz quando Vos invoco.
Suba até Vós a minha oração como incenso, *
elevem-se minhas mãos como oblação da tarde.
Guardai, Senhor, a minha boca, *
defendei a porta dos meus lábios.
Não deixeis meu coração inclinar-se para o mal, *
nem praticar a iniquidade com os malfeitores, †
nem tomar parte em seus lautos banquetes.
Castigue-me o justo *
e repreenda-me com misericórdia,
mas o óleo dos ímpios nunca me perfume a cabeça; *
enquanto fazem o mal, não deixarei de rezar.
Os seus chefes foram precipitados contra o rochedo *
e compreenderam como eram suaves as minhas palavras.
Tal como terra cavada e lavrada, *
foram seus ossos dispersos à boca do abismo.
Para Vós, Senhor Deus, se voltam os meus olhos; *
em Vós me refugio, não me desampareis.
Defendei-me do laço que me prepararam, *
defendei-me das ciladas dos malfeitores.
Glória ao Pai e ao Filho *
e ao Espírito Santo,
como era no princípio *
agora e sempre. Amen.

Suba até Vós, Senhor, como incenso, a minha oração.

Louvores a dizer antes de todos as Horas (LH)

TODOS: Santo, santo, santo é o Senhor Deus Omnipotente,
que era e que é, e que há-de vir.
Louvemo-lo e exaltemo-lo pelos séculos.

L – Tu, Senhor nosso Deus, és digno de receber louvor,
glória e honra e bênção.
T – Louvemo-lo e exaltemo-lo pelos séculos.
L – Digno é o Cordeiro que foi imolado,
de receber força e divindade
e sabedoria e fortaleza e honra e glória e bênção.
T – Louvemo-lo e exaltemo-lo pelos séculos.
L – Bendigamos o Pai e o Filho e o Espírito Santo.
T – Louvemo-lo e exaltemo-lo pelos séculos.
L – Bendizei ao Senhor, vós, todas as criaturas do Senhor.
T – Louvemo-lo e exaltemo-lo pelos séculos.
L – Louvai a Deus, vós todos que sois seus servos
e os que temeis a Deus, pequenos e grandes.
T – Louvemo-lo e exaltemo-lo pelos séculos.
L – Louvem-no a Ele, que é glorioso, os céus e a terra.
T – Louvemo-lo e exaltemo-lo pelos séculos.
L – E toda a criatura que está no céu
e sobre a terra e debaixo da terra,
o mar e tudo o que ele encerra.
T – Louvemo-lo e exaltemo-lo pelos séculos.
L – Glória ao pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
T – Louvemo-lo e exaltemo-lo pelos séculos.
L – Assim como era no principio e agora e sempre,
por todos os séculos dos séculos.
T – Louvemo-lo e exaltemo-lo pelos séculos.

Louvores de Deus (LD)

Tu és santo, Senhor Deus único, o que fazes maravilhas.
Tu és forte, tu és grande, tu és altíssimo,
tu és rei omnipotente, tu, Pai santo, rei do céu e da terra!
Tu és trino e uno, Senhor Deus, todo o bem.
Tu és bom, todo o bem, o soberano bem.
Senhor Deus, vivo ê verdadeiro!
Tu és caridade, amor! Tu és sabedoria!
Tu és humildade! Tu és paciência!
Tu és formosura! Tu és mansidão!
Tu és segurança! Tu és descanso!
Tu és gozo e alegria! Tu és a nossa esperança!
Tu és justiça e temperança!
Tu és toda a nossa riqueza e saciedade!
Tu és beleza! Tu és mansidão! Tu és o protector!
Tu és o nosso guarda e defensor! Tu és fortaleza!
Tu és consolação! Tu és a nossa esperança!
Tu és a nossa fé! Tu és a nossa caridade!
Tu és a nossa grande doçura.
Tu és a nossa vida eterna, o Senhor grande e admirável,
o Deus omnipotente, o misericordioso Salvador!

Leituras:1C 31-32; 2C 16-17; LM III, 8-10; TC 46-52; AP 31-36

Oração (S. Francisco de Assis: 1R 23,1-3)

“Omnipotente, santíssimo, altíssimo e soberano Deus, Pai santo e justo, Senhor rei do céu e da terra, por ti mesmo te rendemos graças, porque por tua santa vontade e pelo teu único Filho com o Espírito Santo, criaste todas as coisas espirituais e corporais, e a nós, feitos à tua imagem e semelhança, nos colocastes no paraíso, donde decaímos por culpa nossa. E te rendemos graças porque, como por teu Filho nos criaste, assim também pela verdadeira e santa caridade com que nos amaste, fizeste que Ele, o teu Filho, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, nascesse da gloriosa sempre Virgem a beatíssima santa Maria, e pela sua cruz e sangue e morte quiseste resgatar-nos, a nós que éramos cativos”.

Abril - Mês da Família Franciscana Portuguesa


Aprovação da Regra, segundo os Biógrafos de S. Francisco – 16 de Abril de 1209


Tomás de Celano – Vida Primeira CAPÍTULO XIII

 
31. 1 Por essa ocasião juntaram-se a eles outros quatro homens dignos e virtuosos e fizeram-se discípulos de Francisco67. 2 Isto ocasionou um maior interesse pelo movimento, e a fama do homem de Deus foi crescendo cada vez mais entre o povo. 3 Verdadeiramente, naquele tempo, Francisco e os companheiros experimentavam uma alegria e um gozo inexprimíveis sempre que alguém, fosse quem fosse, de qualquer proveniência ou condição – rico, pobre, nobre, plebeu, desprezível, estimado, sábio, simples, clérigo, sem cultura, leigo – aparecia a pedir o hábito da santa Religião, guiado pelo espírito de Deus.
Grande era também a admiração que todos suscitavam nos homens do mundo. O exemplo da sua humildade despertava neles o desejo de viverem melhor e de se penitenciarem dos seus pecados.
5 Nem a condição humilde nem a pobreza mais desvalida logravam impedir que fossem incorporados no edifício de Deus os que Deus nele desejava incorporar, pois Ele compraz-se em estar com os simples e os desprezados deste mundo.
Como, sendo já onze os Irmãos, escreveu a primeira Regra e o Papa Inocêncio III a aprovou

32. 1 Vendo o bem-aventurado Francisco que o Senhor lhe aumentava de dia para dia o número dos que o seguiam, escreveu para si e seus irmãos, presentes e futuros, com simplicidade e breves palavras68, uma norma de vida ou Regra, composta de expressões do Evangelho, a cuja perfeita observância aspirava de contínuo69. 2 Acrescentou, contudo, um número restrito de directivas indispensáveis e urgentes para um bom andamento da vida em comum. 3 Isto feito, dirigiu-se a Roma com todos os irmãos já mencionados, na ardente esperança de que o senhor papa Inocêncio III se dignaria confirmar-lhe o que havia escrito.
4 Encontrava-se por esses dias em Roma o venerando bispo de Assis, Guido, que nutria particular afecto e estima por Francisco e seus irmãos. 5 Perturbou-se não pouco o bispo, ao vê-los. Não sabendo o que ali os levava, receou quisessem deixar a sua terra, onde o Senhor, mercê desses seus servos, começava já a realizar coisas extraordinárias. 6 Muito lhe alegrava ter na diocese tantos homens como aqueles, já que de suas santas vidas muitos frutos seriam de esperar. 7 Porém, tanto que soube do motivo da viagem e dos propósitos que os animavam, deveras se alegrou no Senhor e ofereceu-se para os aconselhar e ajudar.
8 S. Francisco apresentou-se ainda ao bispo de Sabina, João de São Paulo, assaz conhecido de entre os príncipes e prelados da Cúria romana pela fama de desprezar as coisas terrenas e amar as celestes. 9 Recebeu-o benévola e caritativamente70 o prelado e louvou-lhe sobremaneira aquela determinação.

 
67 Eram João de São Constâncio, Bárbaro, um segundo Bernardo e Ângelo Tancredo.
68 São os termos com que Francisco, em seu testamento, qualifica esta primeira redacção.

 
Tomás de Celano – Vida Segunda CAPÍTULO XI

 
A parábola que ele contou ao senhor Papa
16. 1 Quando Francisco se apresentou com os seus ao papa Inocêncio para pedir a aprovação da sua regra de vida44 e este viu que o objectivo proposto excedia em muito as forças humanas, disse-lhe como homem de grande prudência: «Filho, pede a Cristo que, por teu intermédio, nos manifeste a Sua vontade. Conhecendo-a nós, com maior segurança te concederemos o que piedosamente nos pedes».
2 Obedece o Santo à ordem do Pastor supremo, recorre confiado a Cristo, ora com insistência e exorta os companheiros a implorarem também eles a luz de Deus. Assim orando e exorando, obtém finalmente resposta, sendo logo esta comunicada aos filhos. 3 Deste modo vieram eles a saber que, em ordem à sua salvação e em colóquio familiar com Francisco, mandara Cristo dizer ao Pontífice a seguinte parábola: 4 «Francisco, isto dirás tu ao Papa: ―Vivia num deserto uma mulher muito pobre, mas muito formosa. 5 Graças à sua muita formosura, dela se enamorou o rei. Em extremo aprazido, desposou-a o monarca e dela teve filhos belíssimos. 6 Já crescidos e educados com grande nobreza, disse-lhes a mãe: 7 ―Não vos envergonheis da vossa pobreza, filhos queridos, pois haveis de saber que todos sois filhos de um grande rei. 8 Ide confiados e alegres à sua corte e pedi-lhe o que vos aprouver. 9 Tão surpreendidos como radiantes com a notícia da sua linhagem real e dos seus direitos à herança, e já imaginando a sua pobreza transformada em opulência, 10 foram logo apresentar-se ao rei, confiantes e seguros, tanto mais que no rosto dele se reconheciam a si próprios. 11 Viu-se também o rei retratado neles e, surpreendido, perguntou-lhes de quem eram filhos. 12 E como eles asseverassem serem filhos de uma pobrezinha que vivia no deserto, abraçando-os, disse-lhes: ―Sois meus filhos e meus herdeiros, não temais! 13 Se estranhos comem à minha mesa, justo é que eu me desvele em alimentar os que são meus herdeiros de pleno direito‖. 14 E mandou recado à pobrezinha do deserto para que lhe enviasse também os restantes filhos dela gerados, a fim de os educar na corte».
15 Rejubila o Santo com a parábola e imediatamente leva ao Papa a resposta divina45.

17. 1 Esta mulher (em razão dos muitos filhos, e não da sua intimidade com o rei)46 simboliza Francisco. O deserto é este mundo, mundo bravio e estéril de virtudes; a prole abundante e formosa, a multidão dos irmãos, ricos de todos os bens espirituais; 2 o rei o Filho de Deus, a quem se assemelham pela santa pobreza todos os que, dela não se envergonhando, têm assento à sua mesa, felizes de imitarem a Cristo e viverem de esmolas47, pois os anima a certeza de alcançarem a bem-aventurança mediante o desprezo do mundo.
3 Deveras maravilhado o senhor Papa com a parábola transmitida, reconheceu sem a mínima hesitação que pela boca daquele homem lhe falava Cristo. 4 Recordou-se de um sonho que tivera poucos dias antes e, iluminado pelo Espírito Santo, afirmou ser precisamente neste homem que o veria plenamente realizado. 5 Sonhara ele, com efeito, ter visto a basílica de Latrão prestes a desabar e um religioso, franzino e de aspecto mesquinho, a escorá-la com os ombros, evitando-lhe a queda. 6 «Aqui está, pensou, quem por suas obras e ensinamentos há-de sustentar a Igreja de Cristo».
7 Eis porque este nobre senhor acedeu com tanta benevolência aos rogos de Francisco e porque, a partir desse momento, lhe votou a entranhada afeição que jamais desmentiria. 8 Não só lhe outorgou prontamente o que havia solicitado, como prometeu contemplá-lo mais ainda no futuro.
9 Desde então, alentado com as faculdades concedidas48, começou Francisco a espalhar com maior fervor a semente da virtude por cidades e povoações.
44 Ad petendam regulam; Francisco não pediu uma Regra; pediu, sim, a aprovação da Regra já composta. O verbo petere tem aqui sentido jurídico: pedir o reconhecimento de um direito.
45 Nem o episódio nem a parábola se encontram em 1C. São, no entanto, anteriores, pois os consigna Odon de Chériton (condado de Kent) na sua colecção de sermões para os evangelhos dominicais, composto em 1219. Cf. BIHL, Sancti Francisci parabola: AFH 22 (1929) p. 584-586.
46 Non factorum molitie, no texto original. Celano sente-se no dever de elimi-nar explicitamente uma certa conotação que só muito dificilmente nos acudiria ao espírito. Importa saber, no entanto, que as Etimologias de Santo Isidoro de Sevilha, assiduamente usadas na Idade Média, povoavam a memória de todo o bom letrado. Cf. GILSON: Michel Menot et la technique du sérmon médiéval. Aqui se diz pe-remptoriamente: Mulier vem de molities, mollis quasi mulier emolliatur. (Mulher vem de molícia ou moleza, porque da moleza, como da mulher, é que vem o rela-xamento, a efeminação).
47 Chamava-se esmola, eleemosyna, ao alimento dado aos pobres, tirado dos restos das mesas dos ricos. Cf. GUILLAUME DE NANGIS, Vie de Saint Louis, ed. Lespinasse, Bruxelas, 1895, p. 246.

 
Legenda Maior – Capítulo III

8. 1 Vendo assim a aumentar pouco a pouco o número dos Irmãos, resolveu o servo de Deus escrever, para si e para eles, em termos muito simples, um programa de vida que tivesse como elemento fundamental e indiscutível a observância do Evangelho, acrescentando apenas alguns pequenos pormenores necessários a uma uniformidade de vida. 2 Também queria que esse programa de vida fosse aprovado pelo Sumo Pontífice97. Nesse intuito, confiado apenas na direcção da Providência, resolveu dirigir-se pessoalmente à Santa Sé, em companhia do seu grupo de Irmãos. 3 Do alto dos Céus Deus via com bondade este desejo98; mas como os irmãos se mostravam extremamente perturbados na sua simplicidade, o mesmo Senhor lhes deu coragem com uma visão que proporcionou a S. Francisco. 4 Ia ele por um caminho, quando deparou com uma árvore duma altura extraordinária. 5 Aproximou-se para melhor contemplar aquela planta gigantesca. E sentiu-se de repente a ser elevado ao alto, por uma força divina, de modo que com toda a facilidade pôde chegar ao cimo dessa árvore e vergá-la até ao chão. 6 Cheio do espírito de Deus como era, compreendeu Francisco que esta visão era um presságio da condescendência da Sé Apostólica. Ficou radiante, foi contar isto aos Irmãos para os encorajar no Senhor, e pôs-se a caminho com eles.

9. 1 Tendo chegado à Cúria Romana, foi apresentado ao Sumo Pontífice, a quem expôs o seu propósito, e pediu-lhe, humilde e instantemente, se dignasse aprovar a mencionada Regra de vida99. 2 Era Vigário de Cristo o Senhor papa Inocêncio III. Inteligente e perspicaz, não tardou a descobrir a pureza de intenção desse homem simples, o fervor do seu empenho santo, a constância do seu propósito. E mostrou-se disposto a conceder a aprovação solicitada. 3 No entanto, achou mais prudente adiar o despacho, porque alguns Cardeais eram de opinião que o tal programa de vida, além de um tanto ou quanto insólito, era duro demais para as forças humanas. 4 Aconteceu, porém, que entre os Cardeais presentes estava um muito venerável, que apreciava imenso toda e qualquer manifestação de santidade e ajudava a todos os pobres de Cristo: era o Senhor D. João de S. Paulo, bispo de Sabina. Inflamado pelo Espírito divino, tomou a palavra e disse ao Sumo Pontífice e aos seus Irmãos100: 5 «Este pobrezinho só vem pedir que lhe confirmem uma forma de vida evangélica. Se rejeitamos o seu pedido, sob pretexto de ser inédito ou difícil de cumprir, podemos ir contra o Evangelho de Cristo. 6 Afirmar que em praticar a perfeição evangélica há qualquer coisa de inédito, ou de extravagante, ou de impossível, é blasfemar contra Cristo, autor do Evangelho»101.
7 Então o sucessor de Pedro voltou-se para o pobre de Cristo e disse-lhe:
– Vai, meu filho, pedir a Cristo que por teu intermédio me mostre a sua vontade. Quando eu a conhecer, anuirei aos teus piedosos desejos.

10. 1 Embrenhou-se então todo em oração o servo do Omnipotente, e por meio de piedosas preces conseguiu saber o que ele mesmo havia de dizer e o que o Papa havia de sentir. 2 Pôs-se a contar, como Deus mesmo lhe ensinara, a parábola de um rei muito rico que casara com uma mulher extremamente bela mas muito pobre, e cujos filhos eram tão parecidos com o pai, que este decidiu que fossem educados no seu palácio. 3 E acrescentou: «Não há que recear que morram de fome os filhos e herdeiros do Rei Eterno! Tal como Cristo Rei, que nasceu de uma Mãe pobre por obra do Espírito Santo, também eles vão ser gerados numa Ordem pobre pelo espírito de pobreza . 4 Se o Rei dos Céus prometeu um reino eterno102 àqueles que o imitam, como não há-de ele dar-lhes essas coisas banais que dá a bons e maus?103»
5 O Vigário de Cristo prestou toda a atenção à parábola e à sua interpretação; ficou surpreendido e não duvidou de que era Cristo quem falava pela boca daquele homem. 6 Também ele nessa altura tinha tido uma visão do céu, e agora compreendia, por inspiração do Espírito Santo, que ela devia dizer respeito exactamente àquele homem. 7 Vira em sonhos a Basílica de Latrão a ameaçar ruína, e um pobrezito, pequeno e de aspecto miserável, deitando-lhe os ombros para que não caísse104.
– 8 Ora aqui está, – diz ele – aquele que pela sua acção e pela sua doutrina irá sustentar a Igreja de Cristo.
9 E com todo o gosto acedeu a quanto Francisco suplicava, além de lhe dedicar daí em diante uma afeição muito especial. Não só lhe concedeu tudo o que fora pedido, mas prometeu conceder--lhe ainda muito mais. 10 Aprovou-lhe a Regra, deu-lhe o mandato de pregar a penitência, e mandou fazer a coroa a todos os Irmãos leigos que tinham acompanhado Francisco, a fim de poderem pregar a palavra de Deus livremente105.

94 Sl 54, 23.

95 Act 1, 1.

96 Sl 146, 2.

97 Mais uma atitude que distingue bem Francisco dos contestatários de então.

98 Lc 1, 78.

99 Ao texto de S. Boaventura foi aqui acrescentado mais um parágrafo por Fr. Jerónimo de Ascoli, Ministro Geral da Ordem e mais tarde Papa, sob o nome de Nicolau IV, que do que narra recebera notícia do Cardeal Ricardo de Annibaldis, parente de Inocêncio III. Diz assim: «Chegado a Roma, Francisco foi admitido à presença do Sumo Pontífice. Encontrava-se o Vigário de Cristo no palácio de Latrão, na sala dita do Espelho, mergulhado em profunda reflexão. Aborrecido, despachou bruscamente o servo de Deus a quem não conhecia. Saiu este humilde-mente. Na noite seguinte teve o Pontífice uma visão: via nascer dentre os seus pés um arbusto que crescia, crescia e se tornava uma árvore lindíssima. Dava voltas ao pensamento para descobrir o sentido da visão, quando Deus lhe veio em auxílio, fixando-lhe na ideia que aquele arbusto era o tal pobre que no dia anterior repelira. Na manhã seguinte manda os seus criados à cidade à procura do pobrezinho, a quem foram encontrar perto de Latrão, no hospital de Santo Antão. Fá-lo introduzir imediatamente…» (Segue o texto como no início do nº 9: Tendo chegado, etc). O hospital de Santo Antão encontrava-se entre o aqueduto e a actual igreja de S. Pedro e Marcelino.

100 Isto é, aos outros cardeais.

101 A Regra franciscana começa precisamente com as palavras: «A regra e vida dos frades menores é esta: observar o Santo Evangelho de N. S. Jesus Cristo…» e, no Testamento, o santo diz: «O mesmo Altíssimo me revelou que devia viver segundo a forma do Santo Evangelho» (T 14).

Legenda dos Três Companheiros CAPÍTULO XII

Como o Bem-aventurado Francisco, com seus onze companheiros, se dirigiu à corte do Papa, para lhe apresentar o seu projecto e lhe pedir a aprovação da regra que escrevera

46. 1 S. Francisco via aumentar os seus irmãos, por graça divina, em número e em méritos. Eram agora doze, de coragem provada, sendo ele, o duodécimo, seu chefe e Pai.
Disse um dia aos seus onze companheiros: «Irmãos, vejo que o Senhor, na sua misericórdia, quer aumentar o nosso grupo. 2 Vamos, portanto, ao encontro da nossa mãe, a Santa Igreja Romana; demos a conhecer ao Soberano Pontífice o que o Senhor operou, servindo-se de nós, para prosseguirmos, segundo a sua vontade e as suas ordens, a obra começada».
3 A ideia do Pai agradou aos irmãos. Quando partiram com ele para Roma, disse-lhes: 4 «Tomemos um de nós por chefe; consideremo-lo como Vigário de Jesus Cristo; quando ele quiser andar, andamos; cada vez que queira fazer uma paragem, nós nos deteremos». 5 Escolheram o irmão Bernardo, o primeiro depois do bem--aventurado Francisco, e agiram como o Pai lhes dissera. 6 Iam alegres, não tendo nos lábios senão as palavras do Senhor, não ousando falar além do que respeitava ao louvor e glória de Deus e ao bem da sua alma; e oravam com frequência.
7 O Senhor proporcionou-lhes sempre hospitalidade e fez com que lhes servissem o que era necessário.

 
47. 1 Chegados a Roma, encontraram lá o bispo de Assis que os recebeu com grande alegria. Tinha particular estima e afeição pelo bem-aventurado Francisco e seus irmãos. 2 Mas, ignorando o motivo da sua vinda, ficou inquieto: temia que tivessem intenção de deixar a sua terra natal, onde o Senhor já se servira deles para operar maravilhas. 3 Estava muito satisfeito por ter na sua diocese tais homens, cuja vida e exemplo lhe davam as maiores esperanças. 4 Quando conheceu a razão de tal viagem e ficou ao corrente dos seus projectos, foi grande a sua alegria e prometeu aos irmãos o seu auxílio e protecção.
5 O Bispo era amigo do Cardeal João de S. Paulo, Bispo de Sabina, homem realmente cheio da graça divina, que amava muito os servos de Deus. 6 Desde que o Bispo de Assis lhe dera a conhecer a vida de Francisco e seus irmãos, desejava vivamente ver o homem de Deus e alguns dos seus companheiros. 7 Sabendo que estavam em Roma, mandou chamá-los e acolheu-os, cheio de benevolência e devoção.

48. 1 Durante os dias que ficaram com ele, edificaram-no tanto com a santidade da sua conversação e o seu exemplo que, vendo brilhar realmente na sua vida o que lhe haviam contado, se recomendou às suas orações, com humildade e devoção. Pediu-lhes mesmo, como favor especial, que daí em diante fosse considerado como um dos seus irmãos. 2 Por fim, interrogou o bem-aventurado Francisco sobre o motivo da sua viagem. Posto ao corrente do seu projecto e desejo, ofereceu-se para lhe servir de procurador na Corte Pontifícia.
3 O Cardeal dirigiu-se à residência papal e disse ao senhor Papa Inocêncio III: «Encontrei um homem de grande virtude que quer viver segundo o ideal do santo Evangelho e observar em todas as coisas a perfeição evangélica. Creio que o Senhor quer servir-se dele para reavivar no mundo a fé da Santa Igreja». 4 Estas palavras surpreenderam o Papa, que ordenou ao Cardeal que lhe levasse o bem-aventurado Francisco.

49. 1 No dia seguinte, o homem de Deus foi apresentado pelo Cardeal ao Soberano Pontífice, a quem revelou os seus projectos. 2 O Papa, homem de grande prudência, achou bem os desejos do santo, fazendo-lhe, a ele e aos seus irmãos, muitas recomendações; deu-lhes a bênção e acrescentou: «Irmãos, que o Senhor vos acompanhe e, conforme a inspiração com que se dignar favorecer--vos, pregai a penitência a toda a gente. 3 Quando o Deus todo--poderoso vos tiver multiplicado, em número e em graça, voltai a informar-nos; então vos concederemos largamente tudo o que pedirdes e vos confiaremos, com mais segurança, coisas mais importantes».
4 O Senhor Papa queria que os privilégios que lhe concedera e viria a conceder fossem conforme a vontade de Deus. No momento 42 em que o bem-aventurado Francisco ia a retirar-se com os seus companheiros, disse-lhes: 5 «Caros filhos, o vosso modo de vida parece-nos muito duro e difícil. O vosso fervor, estou certo, é tão grande que de vós não é possível duvidar. Mas devemos pensar nos que virão depois de vós e tomar cuidado, para que o vosso caminho não lhes pareça austero demais». 6 Vendo, porém, a sua fé, firmeza e esperança, tão solidamente fundadas em Cristo, que nada queriam abandonar da sua fervorosa regra, disse ao bem--aventurado Francisco: 7 «Vai, filho, e pede a Deus que te revele se o vosso pedido procede da sua vontade. Isso nos permitirá, quando conhecermos a vontade do Senhor, aceder aos teus desejos».

 
50. 1 Pouco depois, orava o homem de Deus, seguindo o conselho do Senhor Papa, quando Deus lhe falou interiormente sob a forma de parábola: «Havia num deserto uma mulher muito pobre e bela. Enamorado dos seus encantos, um grande rei quis desposá-la, esperando que lhe desse belos filhos. Realizou-se a união e dela nasceram numerosos filhos. Quando cresceram, a sua mãe falou--lhes assim: 2 «Meus filhos, não vos envergonheis da vossa condição, porque sois filhos do rei. 3 Ide, portanto, à sua corte e ele vos concederá tudo o que vos for necessário». 4 Tendo chegado à corte, o rei admirou-se da sua beleza; e, descobrindo-lhes no rosto os seus próprios traços, perguntou-lhes: «De quem sois filhos?» 5 Eles responderam que eram filhos duma pobre mulher que vivia no deserto. O rei, cheio de alegria, abraçou-os e disse: «Não temais, sois meus filhos. 6 Se alimento à minha mesa estranhos, com maior razão cuidarei de vós, que sois meus próprios filhos». 7 O rei ordenou então à mulher que mandasse para a corte, para ali serem educados, todos os filhos que dele tivera».
8 O bem-aventurado Francisco reflectiu sobre esta visão que contemplara durante a oração e compreendeu que era ele a mulher pobre.

 
51. 1 Terminada a oração, foi de novo apresentar-se ao Soberano Pontífice e contou-lhe detalhadamente a visão simbólica com que o Senhor o honrara: 2 «Santíssimo Padre, disse, eu sou a mulher pobre, que o Senhor, por seu amor e misericórdia, fez bela e de quem quis ter muitos filhos. 3 O Rei dos reis prometeu-me alimentar todos os filhos que lhe der; porque, se trata bem os estranhos, melhor cuidará dos seus próprios filhos. 4 Se Deus dá os bens temporais aos pecadores, porque ama e quer alimentar todos os seus filhos, com maior razão os concederá aos homens evangélicos, que disso são verdadeiramente dignos».
5 A estas palavras, o Senhor Papa ficou muito admirado, tanto mais que, antes da chegada de S. Francisco, vira, em sonhos, a igreja de São João de Latrão ameaçar ruína e um religioso, débil e sem aparência, sustentá-la com os seus ombros. 6 Ao acordar, cheio de espanto e assombro, usara toda a sua sabedoria e perspicácia para descobrir o que significava esta visão.
7 E eis que, pouco depois, o bem-aventurado Francisco vinha ter com ele, apresentava-lhe o seu projecto e lhe pedia que confirmasse a regra que escrevera em termos tão simples, servindo-se das mesmas palavras do Evangelho, cuja observância perfeita era toda a aspiração da sua alma.
8 O Senhor Papa, vendo o seu fervor no serviço de Deus e comparando o seu sonho com a visão simbólica contada pelo bem--aventurado, disse para si: «Em verdade, é este o homem piedoso e santo que erguerá e sustentará a Igreja de Deus».
9 Abraçou-o, aprovou a regra escrita pelo homem de Deus e concedeu-lhe autorização de pregar, por toda a parte, a penitência; depois deu-a também aos irmãos, com uma condição: necessitavam, para irem pregar, da permissão do bem-aventurado Francisco.
10 Todos estes privilégios foram em seguida confirmados em consistório.

 
52. 1 Obtida a concessão do Papa, S. Francisco deu graças a Deus. Em seguida, de joelhos, prometeu ao Senhor Papa obediência e reverência, com humildade e devoção. 2 Os outros irmãos, em conformidade com a ordem do Senhor Papa, prometeram também obediência e reverência ao bem-aventurado Francisco.
3 Recebida a bênção do Soberano Pontífice, visitaram os túmulos dos Apóstolos. Depois o Cardeal mandou dar a tonsura a S. Francisco e aos outros irmãos, pois assim tinha providenciado, querendo que os doze fossem clérigos.

 
Anónimo Perusino CAPÍTULO VII

 
Como os irmãos foram a Roma e o Senhor Papa lhes concedeu uma Regra e autorização de pregar

31. 1 Vendo, o bem-aventurado Francisco que, pela graça do Salvador, os irmãos iam crescendo em número e méritos, disse--lhes: «Vejo, irmãos, que o Senhor quer fazer de nós uma grande congregação. 2 Vamos, pois, à nossa Madre Igreja Romana e informemos o Sumo Pontífice de quanto Deus opera por nosso intermédio, para prosseguirmos a obra começada com a sua aprovação e mandato». 3 Tendo a proposta agradado, tomou consigo doze irmãos e partiu com eles para Roma.
4 Durante a viagem disse-lhes: «Nomeemos um de nós nosso guia e seja para nós como que o vigário de Jesus Cristo. 5 Seguiremos o caminho que ele nos indicar e pararemos para repousar, quando ele assim o entender». 6 Escolheram o irmão Bernardo, que tinha sido o primeiro a ser recebido pelo bem--aventurado Francisco, e ativeram-se ao que fora combinado.
7 Caminhavam alegres e a sua conversação tinha por tema as palavras do Senhor. Nenhum deles ousava dizer nada que não fosse em louvor e glória de Deus ou em proveito de suas almas. Também se entregavam à oração. 8 O Senhor, no devido tempo preparava-lhes a hospedagem e o alimento necessário.

32. 1 Tendo chegado a Roma, visitaram o Bispo de Assis, que nessa ocasião se encontrava na Cidade Eterna. 2 Ao vê-los, acolheu-os com uma alegria imensa. 3 O Bispo era conhecido de certo cardeal, chamado João de S. Paulo, varão probo e religioso, que muito amava os servos do Senhor. 4 O Bispo pô-lo ao corrente do projecto e forma de vida do bem-aventurado Francisco e de seus irmãos. 5 Depois de ouvir a informação, o cardeal manifestou intenso desejo de conhecer pessoalmente o bem-aventurado Francisco e alguns dos seus irmãos. 6 Informado de que estavam em 25 Roma, mandou chamá-los à sua presença e recebeu-os com devoção e amor.

33. 1 Passaram alguns dias na companhia do cardeal que, comprovando que nas obras dos irmãos resplandecia o que da sua vida tinha ouvido dizer, chegou a professar-lhes profunda afeição. 2 E disse ao bem-aventurado Francisco: «Encomendo-me às vossas orações e quero que doravante me considereis como um dos vossos irmãos. 3 Agora dizei-me: o que vos trouxe a Roma?» Então o bem-aventurado Francisco revelou-lhe plenamente o seu propósito e disse-lhe que queria falar com o Senhor Apostólico22 para prosseguir, com a sua aprovação e mandato, o que tinha empreendido. 4 O cardeal respondeu-lhe: «Quero ser o vosso procurador na Cúria do Senhor Papa».
5 Acorreu, pois, à Cúria e fez a seguinte exposição ao Senhor Papa Inocêncio III: «Encontrei um homem de grande perfeição, que quer viver segundo a forma do santo Evangelho e praticar a perfeição evangélica. 6 Estou convencido de que o Senhor quer, por seu intermédio, renovar totalmente a sua Igreja no mundo inteiro». Tendo-o ouvido, o Santo Padre ficou maravilhado e disse-lhe: «Trazei-mo cá».

 
34. 1 No dia seguinte, o cardeal levou Francisco à presença do Papa. 2 O bem-aventurado Francisco expôs claramente todo o seu propósito ao Senhor Papa, tal como o tinha feito antes ao cardeal.
3 O Senhor Papa observou-lhe: «Demasiado dura e austera é a vossa vida se, querendo formar uma congregação, vos propondes nada possuir neste mundo. 4 Donde vos virá o necessário para viver?» 5 Respondeu-lhe o bem-aventurado Francisco: «Senhor, confio em meu Senhor Jesus Cristo, pois quem se comprometeu a dar-nos vida e glória no céu não nos faltará, no tempo devido, com aquilo de que carecem os nossos corpos na terra». 6 Respondeu o Papa: «É bem verdade o que dizes, filho; mas a natureza humana é frágil e nunca persevera no mesmo sentir. 7 Vai e pede com todo o coração ao Senhor que se digne manifestar-te objectivos mais sensatos e proveitosos para as vossas almas. Quando voltares, comunica-mos e então aprová-los-ei».

 
35. 1 O bem-aventurado Francisco retirou-se para rezar e, com pureza de coração, pediu ao Senhor que, por sua inefável bondade, se dignasse manifestar-lhos. 2 Depois de prolongada oração e com todo o seu coração concentrado no Senhor, ouviu interiormente a sua voz, que lhe falou em forma de parábola: 3 «No reino de certo rei poderoso havia uma mulher em extremo pobre, mas formosa. O rei enamorou-se da mulher e teve dela muitos filhos. 4 Um dia, esta mulher pôs-se a pensar e a dizer consigo mesma: «Que vou eu fazer, pobrezinha como sou, com tantos filhos e sem posses para os manter?» 5 Quando revolvia tais pensamentos em sua mente e o seu semblante se tornava melancólico com tantas preocupações, chegou o rei, que lhe disse: «Que tens, pois te vejo tão pensativa e aflita?» Ela contou-lhe todas as suas preocupações. 6 O rei serenou--a com estas palavras: «Não te assustes com a tua excessiva pobreza, nem temas pelos filhos que tens nem pelos muitos que virás a ter. 7 Pois, se a minha numerosa criadagem tem pão de sobra no meu palácio, não posso permitir que os meus filhos morram de fome. Antes que aos outros, que lhes sobre a eles».
8 Compreendeu logo o homem de Deus, Francisco, que aquela pobríssima mulher o representava a ele. Daqui saiu fortalecido o seu propósito de observar sempre a santíssima pobreza.

 
36. 1 Levantou-se e foi imediatamente ter com o Senhor Apostólico, para lhe comunicar quanto Deus lhe tinha revelado. 2 Ao ouvi-lo, o Senhor Papa ficou muito admirado de que o Senhor manifestasse a sua vontade a um homem tão simples. 3 E reconheceu que esse homem não se movia guiado pela sabedoria humana, mas pela inspiração e poder do Espírito23.
4 Em seguida, o bem-aventurado Francisco inclinou-se e prometeu ao Senhor Papa obediência e reverência com tão grande humildade como devoção. 5 E, como os outros irmãos ainda não tinham prometido obediência, logo ali professaram obediência e reverência ao bem-aventurado Francisco, em conformidade com a ordem do Senhor Papa.
6 O Senhor Papa concedeu-lhe a Regra, a ele e aos irmãos presentes e futuros. 7 E deu-lhe autorização de pregar em toda a parte, conforme lhe fosse concedida a graça do Espírito Santo. Também os outros irmãos poderiam pregar, desde que o bem-aventurado Francisco lhes confiasse o ofício da pregação.
8 Desde então, o bem-aventurado Francisco começou a pregar ao povo pelas cidades e castelos, segundo lhe inspirava o Espírito Santo. O Senhor pôs em seus lábios palavras tão dignas, suaves e dulcíssimas que dificilmente alguém se cansaria de as ouvir.
9 O mencionado cardeal, levado pela dedicação que tinha ao Irmão24, mandou conferir a tonsura a todos os doze irmãos.
10 Mais tarde, o bem-aventurado Francisco mandou que se celebrasse Capítulo duas vezes ao ano: no Pentecostes e na Festa de S. Miguel, no mês de Setembro.





Abril - Mês da Família Franciscana Portuguesa




16 DE ABRIL

DIA NACIONAL DA FAMÍLIA FRANCISCANA PORTUGUESA

MENSAGEM DO PRESIDENTE

O Senhor vos dê a Paz.

Como é de conhecimento geral, o dia 16 de abril é celebrado como Dia da Família Franciscana Portuguesa, em comemoração da data de aprovação da Regra, em 1209. É um dia importante para a nossa família comum que importa valorizar e vivenciar adequadamente. Na verdade, celebrar a Regra comum é celebrar e dar vigor ao sagrado vínculo da maravilhosa vocação franciscana na forma de vida e de Regra que todos, e cada um de nós, tivemos a graça e o privilégio de abraçar, na providencial diversidade de dons e de carismas de cada Instituto.
Como Francisco e Clara de Assis, e como Beatriz da Silva e todos os fundadores e fundadoras das várias sensibilidades desta grande família, proclamemos: «Louvado sejas, meu Senhor, pois me deste Irmãos e Irmãs», e celebremos este dia como festa de família e de vocação franciscana.
Uma vez que, em assembleia-geral da Família Franciscana Portuguesa, foi deliberado que neste ano de 2013, em razão da crise geral e da concorrência de outras celebrações - como o Ano da Fé e o Cinquentenário do Concílio Vaticano II - a comemoração deste Dia fosse promovida mais a nível local (nos mosteiros, conventos, fraternidades e obras) do que por alguma iniciativa de âmbito nacional, convido todos os responsáveis dos Institutos e das Entidades a organizarem localmente o Dia Nacional como celebração festiva da Regra e da Família Franciscana.
Entre outras iniciativas, a que a criatividade de cada Entidade certamente saberá dar vida, foi sugerido na assembleia-geral da Família Franciscana Portuguesa que, nesse dia 16 de abril, sejam recitadas Laudes e Vésperas segundo um modelo comum, a fornecer pelo Centro de Franciscanismo, com tema inspirado na aprovação da Regra. Assim recomendo que se faça.

Em prol da vitalidade e visibilidade do nosso ideal comum,

a todos desejo um FELIZ DIA NACIONAL e BOAS FESTAS franciscanamente pascais!

Lisboa, 25 de março de 2013

Anunciação e Incarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo

Frei Vítor Melícias, ofm

Presidente

1 de abril de 2013

Santa Páscoa 2013

Comemoramos a Páscoa do Senhor,
ouvindo a sua palavra e celebrando os seus mistérios,
na esperança de participar no seu triunfo sobre a morte
e de viver com Ele para sempre junto de Deus.
 

 
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