Retalhos Como Francisco e Clara de Assis, a Fraternidade a todos saúda em Paz e Bem!Retalhos

4 de abril de 2017

As sete palavras de Cristo na Cruz


3 de abril de 2017

Retiro Quaresmal - 2017

Fraternidade de S. Francisco à Luz
Seminário da Luz
Largo da Luz nº 11
LISBOA
Crónicas da vida da Fraternidade



RETIRO QUARESMAL (dia da reunião mensal da Fraternidade)
Lisboa,18 de março de 2017
Local: Convento da Imaculada Conceição – Sala dos Santos Mártires de Marrocos
Pregador: Frei Albertino Rodrigues, OFM

10:00 – Acolhimento
10:30 – Recitação de Laudes
11:00 1ª Pregação – “A Misericórdia em S. Francisco”
12:00 – Adoração Eucarística na Capela da Imaculada Conceição
13:00 – Momento de Reflexão/Meditação/Silêncio
14:00 – 2ª Pregação – “As Quaresmas em S. Francisco”
15:00 – Momento de Reflexão/Meditação/Silêncio
16:00 – Eucaristia
17:00 – Encerramento




Com a participação de muitos Irmãos e a presença brilhante do “senhor irmão Sol”, fizemos uma pausa no nosso caminho e, em Fraternidade, vivemos um dia de reflexão.
Alguns Irmãos não puderam estar presentes. Todos justificaram essa ausência. Motivos imprevistos e situações de doença. Rezámos por eles. Estiveram no pensamento desta assembleia. Juntos em amor. Um dia de vivência fraterna. Um dia de Retiro.

Frei Albertino ajudou-nos a refletir. A vida de S. Francisco está impregnada de misericórdia. À semelhança de Jesus. Misericórdia para com os pobres, com os pecadores, com os seus frades e até para com todos os seres por Deus criados. Diz a Regra, caso seja necessário impôr uma penitência a algum irmão, que “se faça com misericórdia”. Na Carta aos fiéis (8,43) recomenda ao Superior que “use de misericórdia com eles (os Irmãos) como gostaria que com ele usassem, se estivesse no lugar deles”. Também nos avisos espirituais (27,6) se pode ler: ”onde há misericórdia  aí não há dureza de coração”.

É tão simples, mas ao mesmo tempo tão exigente, ser franciscano secular. Viver segundo o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo é o compromisso assumido no dia em que cada Irmão faz a sua profissão solene. Oração, penitência e humildade. Francisco não pede aos seus filhos nada que estes não possam fazer. 




 Querendo seguir fielmente o Senhor, Francisco preparava a grande Quaresma, com penitência e oração, para celebrar a Páscoa. Mas, também, antes de outras grandes solenidades da Igreja, ele refugiava-se nos eremitérios e aí permanecia durante quarenta dias em contemplação e jejuando.

Fazia cinco Quaresmas: A Grande Quaresma (preparação para a Páscoa), a Quaresma do Advento, a da Epifania, a dos Apóstolos e a de S. Miguel.
  
E continuando o nosso retiro em silêncio, tivemos o privilégio de poder adorar o Santíssimo Sacramento na pequenina, acolhedora e lindíssima Capela da Imaculada Conceição. Que paz! Apetecia dizer: “Senhor como é bom estarmos aqui…”. Quantas confidências com Jesus! Que intimidade! ELE estava ali. Tão próximo. Tão visível! Que doce tranquilidade!


Os Irmãos levaram a sua merenda. Recolhidos, sentados ou passeando por entre o arvoredo do jardim, cada um viveu a seu modo este dia. Tempo de encontro pessoal, de interiorização… tempo de pensar que uso se faz do “tempo” que o Senhor nos dá.
Decerto que Ele deixou nos corações de todos alguma mensagem. Qual foi a minha? Qual foi a tua?

No fim da tarde a Eucaristia. A Capela estava repleta. Frei Albertino celebrou, cantou e viveu connosco este momento. As suas palavras foram de incentivo e de perseverança. Como cristãos, como franciscanos, temos que dar testemunho de misericórdia. Mensageiros de paz e de Misericórdia. Misericórdia para com todos. Misericórdia, também, com cada um de nós.
  
Foi um dia lindo. Tranquilo. Rostos sorridentes neste final de tarde. S. Francisco esteve ali connosco.  Despediram-se os Irmãos com com gestos de carinho. Com saudações de Paz e Bem. É tão bom e enriquecedor, saborear os momentos que nos são dados para viver em fraternidade!

Que Francisco continue a caminhar ao nosso lado, fortalecendo a nossa fé e ensinando-nos o que é a “verdadeira alegria” que encheu a sua vida.  Que neste entusiasmo que inunda as nossas almas, robustecido neste dia de meditação, cresça em nós, verdadeiramente, o amor a Deus. Que possamos dizer como ele:” meu Senhor e meu Deus, meu Deus e meu tudo”.

“Altíssimo, Omnipotente e Bom Senhor…”
maria clara, ofs
Lisboa, 18 de março de 2017

5º Domingo da Quaresma

Cúpula do Batistério da Basílica de S. João de Latrão
GENS SACRANDA POLIS HIC SEMINE NASCITVR ALMO
QVAM FECVNDATIS SPIRITVS EDIT AQVIS
VIRGINEO FETV GENITRIX ECCLESIA NATOS
QVOS SPIRANTE DEO CONCIPIT AMNE PARIT
COELORVM REGNVM SPERATE HOC FONTE RENATI
NON RECIPIT FELIX VITA SEMEL GENITOS
FONS HIC EST VITAE QVI TOTVM DILVIT ORBEM
SVMENS DE CHRISTI VVLNERE PRINCIPIVM
MERGERE PECCATOR SACRO PVRGANTE FLVENTO
QVEM VETEREM ACCIPIET PROFERET VNDA NOVVM
INSONS ESSE VOLENS ISTO MVNDARE LAVACRO
SEV PATRIO PREMERIS CRIMINE SEV PROPRIO
NVLLA RENASCENTVM EST DISTANTIA QVOS FACIT VNVM
VNVS FONS VNVS SPIRITVS VNA FIDES
NEC NVMERVS QVEMQVAM SCELERVM NEC FORMA SVORVM
TERREAT HOC NATVS FLVMINE SANCTVS ERIT
Aqui nasce um povo de nobre estirpe destinado ao Céu,
que o Espírito gera nas águas fecundadas.
A Mãe Igreja dá à luz na água, com um parto virginal
os que concebeu por obra do Espírito divino.
Esperai o reino dos céus, os renascidos nesta fonte:
a vida feliz não acolhe os nascidos uma só vez.
Aqui está a fonte da vida, que lava toda a terra,
que tem o seu princípio nas chagas de Cristo.
Submerge-te, pecador, nesta corrente sagrada e purificadora,
cujas ondas, a quem recebem envelhecido, devolverão renovado.
Se queres ser inocente, lava-te nestas águas,
tanto se te oprime o pecado herdado como o próprio.
Nada separa já os que renasceram, feitos um
por uma só fonte batismal, um só Espírito, uma só fé.
A nenhum aterrorize o número ou a gravidade dos seus pecados:
o que nasceu desta água viva será santo.
Introdução à Liturgia:
Nos domingos anteriores, a liturgia convidou-nos a reestruturar a nossa caminhada quaresmal a partir da ‘água viva’ e da ‘Luz’ que é Cristo. Neste 5º Domingo da Quaresma, a liturgia apresenta-nos Jesus como a vida nova, a vida em plenitude, uma vida que ultrapassa definitivamente a vida biológica: é a vida definitiva que supera a morte. Ele é a fonte dessa vida que nos leva à eternidade.

Introdução às Leituras:
Na primeira leitura, Yahwé oferece ao seu Povo, exilado na Babilónia, desesperado e sem futuro, uma vida nova. Abre-se para este povo uma porta de esperança. Essa vida nova vem pelo Espírito, que irá recriar o coração do Povo e inseri-lo numa dinâmica de escuta e de amor a Deus e aos irmãos.

O Evangelho garante-nos que Jesus veio realizar o desígnio de Deus e dar aos homens a vida definitiva. Ser “amigo” de Jesus é aderir à sua proposta; é entrar na vida definitiva de comunhão com Ele. Os crentes que vivem nesta relação de comunhão experimentam a morte física, mas não estão mortos: vivem para sempre em Deus.


A segunda leitura lembra aos cristãos que, no dia do seu Baptismo, optaram por Cristo e pela vida nova que Ele veio oferecer. Convida-os, portanto, a ser coerentes com essa escolha, a fazerem as obras de Deus e a viverem “segundo o Espírito”.
Padre João Lourenço, OFM

24 de março de 2017

4º Domingo da Quaresma

Tu és a nossa  Luz!

Introdução à Liturgia:
As leituras deste Domingo colocam-nos perante o tema da “luz” como sendo um desafio que é apresentado e proposto a todo o homem. Sempre na vida buscamos uma luz que nos oriente, que nos permita ter horizonte e que alimente a nossa esperança na caminhada que fazemos. A Quaresma é este tempo de encontrar a Luz que é Cristo e de nos abrirmos à sua claridade. Os textos de hoje definem a experiência cristã como um “viver na luz” que é Cristo.

.Introdução às Leituras:
A primeira Leitura não se refere directamente ao tema da “luz” - o tema central na liturgia deste domingo. No entanto, conta a eleição de David para rei de Israel e a sua unção: é uma óptima motivação para reflectirmos sobre a unção que recebemos no dia do nosso Baptismo e que nos constituiu testemunhas da “luz” de Deus no mundo.

No Evangelho, Jesus apresenta-se como “a luz do mundo”; a sua missão é libertar os homens das trevas do egoísmo, do orgulho e da auto-suficiência, da vaidade pessoal e do exibicionismo, pecados estes que obscurecem a Luz de Cristo em nós. Aderir à proposta de Jesus é enveredar por um caminho de liberdade e de realização que conduz à vida plena.

Na segunda Leitura, Paulo propõe aos cristãos de Éfeso que recusem viver à margem de Deus, nas trevas, mas que escolham a “luz”. Em concreto, para Paulo, viver na “luz” é praticar as obras de Deus que são bondade, justiça, verdade, sinceridade, connosco, com Deus e com os Irmãos.
Padre João Lourenço, OFM

20 de março de 2017

3º Domingo da Quaresma

Jesus Salvador da Humanidade

Introdução à Liturgia:
A liturgia quaresmal convida-nos a olhar a vida nos seus ritmos do quotidiano e a questionar aquilo que ela comporta de menos bom em ordem a uma nova etapa que seja marcada pela ressurreição do Senhor. A Palavra de Deus que hoje nos é proposta mostra que o nosso Deus está sempre presente ao longo da nossa caminhada pela história, mesmo no meio das maiores vicissitudes, e que só Ele nos pode oferecer um horizonte de plenitude e de esperança.

Introdução às Leituras:
A primeira leitura mostra como Yahwé acompanha a caminhada do povo de Israel no deserto do Sinai e como, nos momentos de crise, responde às necessidades do seu Povo. O texto mostra-nos a proximidade de Deus e dá-nos a chave para entender a lógica de Deus, manifestada em cada passo da história da salvação.
A segunda leitura repete, noutros termos, o ensinamento da primeira: Deus acompanha o seu Povo em marcha pela história; e, apesar do pecado e da infidelidade, insiste em oferecer ao seu Povo – de forma gratuita e incondicional – a salvação.

O Evangelho fala-nos do encontro de Jesus com a Samaritana, à qual oferece o dom da ‘água viva’ que mata a sede que cada homem tem de infinito e de salvação. Como ao tempo de Jesus, hoje todos somos um pouco a imagem da Samaritana, buscando novas fontes e procurando saciar a sede de salvação. Mais uma vez, através da sua Palavra, Jesus promete àqueles que o procuram essa vida nova que Ele veio anunciar.
Padre João Lourenço, OFM

10 de março de 2017

2º Domingo da Quaresma

Tu és o Senhor dos Passos!
Introdução à Liturgia:
O tempo da quaresma é apresentado na liturgia como um caminho, como uma caminhada que cada crente é convidado a fazer, seguindo os passos de Cristo. Neste segundo Domingo, a Palavra de Deus define o caminho que o verdadeiro discípulo deve seguir: é o caminho da escuta atenta aos apelos de Deus em ordem à realização dos seus projectos, numa entrega radical e comprometida com os planos do Pai.
Introdução às Leituras:
A primeira leitura apresenta-se um dos grandes momentos da História da Salvação: O chamamento de Abraão, “Deixa a tua terra e parte”. Abraão é o homem de fé, que vive numa constante escuta de Deus, que sabe ler os seus sinais, que aceita os apelos de Deus e Lhe responde com a obediência total, numa entrega confiada. Nesta perspectiva, ele é o modelo do crente que percebe o projecto de Deus e o segue de todo o coração.

O Evangelho relata a transfiguração de Jesus. Recorrendo a elementos simbólicos do Antigo Testamento, o autor apresenta-nos uma catequese sobre Jesus, o Filho amado de Deus, que vai concretizar o seu projecto libertador em favor dos homens através do dom da vida. Aos discípulos, desanimados e assustados, Jesus diz: o caminho do dom da vida não conduz ao fracasso, mas à vida plena e definitiva. Segui-o, vós também.

Na segunda leitura, há um apelo aos seguidores de Jesus, no sentido de que sejam, de forma verdadeira, empenhada e coerente, as testemunhas do projecto de Deus no mundo. Nada – muito menos o medo, o comodismo e a instalação – pode distrair o discípulo dessa responsabilidade e desviá-los desta caminhada.
Padre João Lourenço, OFM

9 de março de 2017

A Palavra é um dom. O outro é um dom

Publicamos a seguir o texto integral da Mensagem do Santo Padre Francisco para a Quaresma 2017, sobre o tema "A Palavra é um dom. O outro é um dom":
A Palavra é um dom. O outro é um dom.

Amados irmãos e irmãs!
A Quaresma é um novo começo, uma estrada que leva a um destino seguro: a Páscoa de Ressurreição, a vitória de Cristo sobre a morte. E este tempo não cessa de nos dirigir um forte convite à conversão: o cristão é chamado a voltar para Deus «de todo o coração» (Jl 2, 12), não se contentando com uma vida medíocre, mas crescendo na amizade do Senhor. Jesus é o amigo fiel que nunca nos abandona, pois, mesmo quando pecamos, espera pacientemente pelo nosso regresso a Ele e, com esta espera, manifesta a sua vontade de perdão (cf. Homilia na Santa Missa, 8 de janeiro de 2016).
A Quaresma é o momento favorável para intensificarmos a vida espiritual através dos meios santos que a Igreja nos propõe: o jejum, a oração e a esmola. Na base de tudo isto, porém, está a Palavra de Deus, que somos convidados a ouvir e meditar com maior assiduidade neste tempo. Aqui queria deter-me, em particular, na parábola do homem rico e do pobre Lázaro (cf. Lc 16, 19-31). Deixemo-nos inspirar por esta página tão significativa, que nos dá a chave para compreender como temos de agir para alcançarmos a verdadeira felicidade e a vida eterna, incitando-nos a uma sincera conversão.
1. O outro é um dom
A parábola inicia com a apresentação dos dois personagens principais, mas quem aparece descrito de forma mais detalhada é o pobre: encontra-se numa condição desesperada e sem forças para se solevar, jaz à porta do rico na esperança de comer as migalhas que caem da mesa dele, tem o corpo coberto de chagas, que os cães vêm lamber (cf. vv. 20-21). Enfim, o quadro é sombrio, com o homem degradado e humilhado.
A cena revela-se ainda mais dramática, quando se considera que o pobre se chama Lázaro, um nome muito promissor pois significa, literalmente, «Deus ajuda». Não se trata duma pessoa anónima; antes, tem traços muito concretos e aparece como um indivíduo a quem podemos atribuir uma história pessoal. Enquanto Lázaro é como que invisível para o rico, a nossos olhos aparece como um ser conhecido e quase de família, torna-se um rosto; e, como tal, é um dom, uma riqueza inestimável, um ser querido, amado, recordado por Deus, apesar da sua condição concreta ser a duma escória humana (cf. Homilia na Santa Missa, 8 de janeiro de 2016).
Lázaro ensina-nos que o outro é um dom. A justa relação com as pessoas consiste em reconhecer, com gratidão, o seu valor. O próprio pobre à porta do rico não é um empecilho fastidioso, mas um apelo a converter-se e mudar de vida. O primeiro convite que nos faz esta parábola é o de abrir a porta do nosso coração ao outro, porque cada pessoa é um dom, seja ela o nosso vizinho ou o pobre desconhecido. A Quaresma é um tempo propício para abrir a porta a cada necessitado e nele reconhecer o rosto de Cristo. Cada um de nós encontra-o no próprio caminho. Cada vida que se cruza connosco é um dom e merece aceitação, respeito, amor. A Palavra de Deus ajuda-nos a abrir os olhos para acolher a vida e amá-la, sobretudo quando é frágil. Mas, para se poder fazer isto, é necessário tomar a sério também aquilo que o Evangelho nos revela a propósito do homem rico.
2. O pecado cega-nos
A parábola põe em evidência, sem piedade, as contradições em que vive o rico (cf. v. 19). Este personagem, ao contrário do pobre Lázaro, não tem um nome, é qualificado apenas como «rico». A sua opulência manifesta-se nas roupas, de um luxo exagerado, que usa. De facto, a púrpura era muito apreciada, mais do que a prata e o ouro, e por isso se reservava para os deuses (cf. Jr 10, 9) e os reis (cf. Jz 8, 26). O linho fino era um linho especial que ajudava a conferir à posição da pessoa um caráter quase sagrado. Assim, a riqueza deste homem é excessiva, inclusive porque exibida habitualmente: «Fazia todos os dias esplêndidos banquetes» (v. 19). Entrevê-se nele, dramaticamente, a corrupção do pecado, que se realiza em três momentos sucessivos: o amor ao dinheiro, a vaidade e a soberba (cf. Homilia na Santa Missa, 20 de setembro de 2013).
O apóstolo Paulo diz que «a raiz de todos os males é a ganância do dinheiro» (1 Tm 6, 10). Esta é o motivo principal da corrupção e uma fonte de invejas, contendas e suspeitas. O dinheiro pode chegar a dominar-nos até ao ponto de se tornar um ídolo tirânico (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 55). Em vez de instrumento ao nosso dispor para fazer o bem e exercer a solidariedade com os outros, o dinheiro pode-nos subjugar, a nós e ao mundo inteiro, numa lógica egoísta que não deixa espaço ao amor e dificulta a paz.
Depois, a parábola mostra-nos que a ganância do rico fá-lo vaidoso. A sua personalidade vive de aparências, fazendo ver aos outros aquilo que se pode permitir. Mas a aparência serve de máscara para o seu vazio interior. A sua vida está prisioneira da exterioridade, da dimensão mais superficial e efémera da existência (cf. ibid., 62).
O degrau mais baixo desta deterioração moral é a soberba. O homem veste-se como se fosse um rei, simula a posição dum deus, esquecendo-se que é um simples mortal. Para o homem corrompido pelo amor das riquezas, nada mais existe além do próprio eu e, por isso, as pessoas que o rodeiam não caiem sob a alçada do seu olhar. Assim o fruto do apego ao dinheiro é uma espécie de cegueira: o rico não vê o pobre esfomeado, chagado e prostrado na sua humilhação.
Olhando para esta figura, compreende-se por que motivo o Evangelho é tão claro ao condenar o amor ao dinheiro: «Ninguém pode servir a dois senhores: ou não gostará de um deles e estimará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro» (Mt 6, 24).
3. A Palavra é um dom
O Evangelho do homem rico e do pobre Lázaro ajuda a prepararmo-nos bem para a Páscoa que se aproxima. A liturgia de Quarta-Feira de Cinzas convida-nos a viver uma experiência semelhante à que faz de forma tão dramática o rico. Quando impõe as cinzas sobre a cabeça, o sacerdote repete estas palavras: «Lembra-te, homem, que és pó da terra e à terra hás de voltar». De facto, tanto o rico como o pobre morrem, e a parte principal da parábola desenrola-se no Além. Dum momento para o outro, os dois personagens descobrem que nós «nada trouxemos ao mundo e nada podemos levar dele» (1 Tm 6, 7).
Também o nosso olhar se abre para o Além, onde o rico tece um longo diálogo com Abraão, a quem trata por «pai» (Lc 16, 24.27), dando mostras de fazer parte do povo de Deus. Este detalhe torna ainda mais contraditória a sua vida, porque até agora nada se disse da sua relação com Deus. Com efeito, na sua vida, não havia lugar para Deus, sendo ele mesmo o seu único deus.
Só no meio dos tormentos do Além é que o rico reconhece Lázaro e queria que o pobre aliviasse os seus sofrimentos com um pouco de água. Os gestos solicitados a Lázaro são semelhantes aos que o rico poderia ter feito, mas nunca fez. Abraão, porém, explica-lhe: «Recebeste os teus bens na vida, enquanto Lázaro recebeu somente males. Agora, ele é consolado, enquanto tu és atormentado» (v. 25). No Além, restabelece-se uma certa equidade, e os males da vida são contrabalançados pelo bem.
Mas a parábola continua, apresentando uma mensagem para todos os cristãos. De facto o rico, que ainda tem irmãos vivos, pede a Abraão que mande Lázaro avisá-los; mas Abraão respondeu: «Têm Moisés e os Profetas; que os oiçam» (v. 29). E, à sucessiva objeção do rico, acrescenta: «Se não dão ouvidos a Moisés e aos Profetas, tão-pouco se deixarão convencer, se alguém ressuscitar dentre os mortos» (v. 31).
Deste modo se patenteia o verdadeiro problema do rico: a raiz dos seus males é não dar ouvidos à Palavra de Deus; isto levou-o a deixar de amar a Deus e, consequentemente, a desprezar o próximo. A Palavra de Deus é uma força viva, capaz de suscitar a conversão no coração dos homens e orientar de novo a pessoa para Deus. Fechar o coração ao dom de Deus que fala, tem como consequência fechar o coração ao dom do irmão.
Amados irmãos e irmãs, a Quaresma é o tempo favorável para nos renovarmos, encontrando Cristo vivo na sua Palavra, nos Sacramentos e no próximo. O Senhor – que, nos quarenta dias passados no deserto, venceu as ciladas do Tentador – indica-nos o caminho a seguir. Que o Espírito Santo nos guie na realização dum verdadeiro caminho de conversão, para redescobrirmos o dom da Palavra de Deus, sermos purificados do pecado que nos cega e servirmos Cristo presente nos irmãos necessitados. Encorajo todos os fiéis a expressar esta renovação espiritual, inclusive participando nas Campanhas de Quaresma que muitos organismos eclesiais, em várias partes do mundo, promovem para fazer crescer a cultura do encontro na única família humana. Rezemos uns pelos outros para que, participando na vitória de Cristo, saibamos abrir as nossas portas ao frágil e ao pobre. Então poderemos viver e testemunhar em plenitude a alegria da Páscoa.
Vaticano, 18 de outubro de 2016.

Festa do Evangelista São Lucas
Francisco

5 de março de 2017

1º Domingo da Quaresma

24 horas para o Senhor
   Introdução à Liturgia:
    Quarta-feira, com a imposição das cinzas, demos início à nossa caminhada quaresmal, que nos leva à Páscoa do Senhor. Ao longo desta caminhada a Igreja convida-nos a alimentar a nossa vida cristã com a Oração, com a Palavra de Deus e com a prática da caridade. É o grande convite à “conversão” – isto é, a recolocar Deus no centro da nossa existência, a aceitar a comunhão com Ele, a escutar as suas propostas, a concretizar no mundo – com fidelidade – os seus projectos.

    Introdução às Leituras:

    A primeira leitura afirma que Deus criou o homem para a felicidade e para a vida plena. Quando escutamos as propostas de Deus, conhecemos a vida e a felicidade; mas, sempre que prescindimos de Deus e nos fechamos em nós próprios, inventamos esquemas de egoísmo, de orgulho e de prepotência e construímos caminhos de sofrimento e de morte.
   A segunda leitura, por sua vez, propõe-nos dois exemplos: Adão e Jesus. Adão representa o homem que escolhe ignorar as propostas de Deus e decide, por si só, os caminhos de uma pretensa salvação que não tem sentido. Por seu lado, Jesus é o homem que escolhe viver na obediência às propostas de Deus, de acordo com os projectos do Pai. O esquema de Adão gera egoísmo, sofrimento e morte; a proposta de Jesus gera vida plena e definitiva.
   O Evangelho apresenta, de forma mais clara, o exemplo de Jesus. Ele recusou – de forma absoluta – uma vida vivida à margem de Deus e dos seus projetos. A Palavra de Deus garante que, na perspetiva cristã, uma vida que ignora os projetos do Pai e se fecha em esquemas de realização pessoal é uma vida perdida e sem sentido. Toda a tentação de ignorar Deus e as suas propostas é uma tentação diabólica e que o cristão deve rejeitar, resistindo àquilo que são as tentações da modernidade que se ficam pelo dinheiro, pelo prazer fácil e pelo culto de si próprio.
Padre João Lourenço, OFM

3 de março de 2017

Quarta-feira de cinzas

Passo a passo
Neste mundo belo, vamos tendo ao longo do ano etapas diferentes. A natureza em cada uma delas veste-se de modo diferente. Deslumbrante com o calor do verão, mais tranquila com as folhas douradas do outono; aconchegante no inverno e sonhadora na primavera.
Também na nossa busca constante da verdadeira felicidade, acontece algo que me parece idêntico.
O Natal já passou. Toda a alegria que vivemos dará agora os seus frutos na Quaresma que hoje começa. Não são tempos separados. É como se fizéssemos uma pausa e de novo recomeçássemos com vigor, a seguir as pegadas de Jesus. Precisamos de estímulos, de entusiasmo verdadeiro, para chegarmos à terra prometida.
O objetivo é a conversão, reconhecer que somos frágeis, que precisamos de ajuda e que essa ajuda nos vem do Pai que nos ama infinitamente.
Mas não nos devemos ficar só por palavras. Cada um deve estar atento aquilo que o Senhor sugere. O modo como poderemos ser luz para quem vive na escuridão, como poderemos secar as lágrimas de quem sofre, como poderemos fazer renascer a esperança em corações desesperados…
Vamos em frente. Caminhemos em direção à Páscoa, de coração purificado, confiantes na misericórdia do Senhor e levando a nossa cruz. Não O deixemos só. A cruz que Ele carrega não traduz medo. É um sinal de Amor. Amor por toda a humanidade. Amor por cada um de nós.
Cheios de fé iniciemos este percurso. E comecemos por pedir ao nosso pai S. Francisco que nos acompanhe e nos ajude a viver estes dias com intensidade, arrependimento e aceitando o AMOR de Jesus. Ele é a nossa força. Com Ele somos mais felizes.
Passo a passo, sentindo esta Quaresma com espírito de humildade e desejo de conversão, chegaremos ao domingo da Ressurreição, com alegria renovada, podendo, então, exclamar e passar a boa nova: o Senhor Ressuscitou, Aleluia!
maria clara, ofs
1março2017

24 de fevereiro de 2017

8º Domingo do Tempo Comum

Introdução à Eucaristia:
A vida, muitas vezes, é feita de tensões, desânimos e dificuldades. É-nos pedida uma grande energia e força de vontade para levar avante o nosso projeto. A fé é, certamente, um dos fatores que mais contribui para reforçar em nós o entusiasmo, a alegria e a esperança. É ela que alimenta a nossa caminhada e, por isso, nos congregamos aqui para a celebrar em comunidade, colocando a nossa confiança nesse Deus que cuida dos seus filhos com a solicitude de um pai e o amor gratuito e incondicional de uma mãe.
Introdução às Leituras:
Em frases muito breves, a 1ª leitura reflete a experiência da vida que um povo experimenta e cuja experiência o leva a aprender, pouco a pouco, que Deus está presente, mesmo quando parece que Ele não se faz sentir. Ele está ao nosso lado e sempre nos acompanha. Este é o sentido da Aliança.

O Evangelho faz-nos o convite para buscarmos e procurarmos o essencial (o “Reino”) por entre a enorme bateria de coisas secundárias que, dia a dia, ocupam o nosso interesse. Garante-nos, igualmente, que escolher o essencial não é negligenciar o resto: o nosso Deus é um pai cheio de solicitude pelos seus filhos, que provê com amor às suas necessidades.

Na segunda leitura, Paulo convida os cristãos de Corinto a fixarem o seu olhar no essencial e não no acessório; a não emitirem juízos sobre os outros nem sobre aquilo que parece, já que só Deus julga e só Ele nos conhece plenamente.
Padre João Lourenço, OFM 

 
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