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27 de outubro de 2013

Sobe ao Alverne - PVA 2013/2014


Plano de Vida e Ação 2013/2014
TEMA: ERAM ASSÍDUOS AO ENSINO DOS APÓSTOLOS (At 2,42)
 
Subtema: “Sobe ao Alverne e experimenta a intimidade com o Senhor”
 
Redescobrir a nossa espiritualidade Franciscana Secular
Perguntar pela espiritualidade franciscana equivale a fazê-lo sobre a essência do dom que o Espírito Santo quis fazer à Igreja, para sua edificação e aperfeiçoamento, através de S. Francisco. Antes de tudo temos de a considerar como vivência peculiar do evangelho, que manifesta «um aspeto universal da Igreja» (Paulo VI, Alocução de 19 de julho de 1967) e responde, como testemunha o Magistério, a uma perene necessidade da própria Igreja. Tratando-se de uma vivência social e prolongada no tempo, há que procurar as suas características não só na vida e no pensamento do seu iniciador (com os seus elementos primordiais e determinantes) mas também naqueles que perpetuam o carisma na Igreja vivendo-o conforme as diferentes modalidades, cujas coincidências permitem determinar, com outras tantas constantes históricas os seus elementos essenciais.
O carisma franciscano é de tipo nitidamente profético. S. Francisco apenas se “descreveu”; ele realizou com uma notável riqueza de ações simbólicas. Alguns dos seus discípulos contentaram-se em imitar os diversos aspetos da sua personalidade; outros refletiram acerca dela e elevaram-na a teoria, elaboraram intelectualmente o gesto profético, cada um conforme a sua própria índole e circunstância. O carácter peculiar do franciscanismo explica tanto a dificuldade de o reduzir a um sistema de formulações abstratas, tal como a possibilidade de que nele caibam diversas posturas e formulações, tanto vitais como intelectuais. Contento-me aqui a descrever esta espiritualidade, sem a definir, pondo de relevo os seus elementos permanentes, que se encontram em grau eminente em S. Francisco o qual validou a tradição daqueles cristãos (leigos e religiosos) que viram nele o seu modelo e seguiram o seu ideal.
A missão carismática do franciscanismo apresenta-se-nos desde o seu Fundador como a exigência de uma renovação interior da Igreja mediante uma conversão contínua (penitência), como uma reforma da mesma caracterizada pelo regresso aos aspetos vitais, essenciais, do evangelho (profetismo renovador) e realizada (o qual convém ao carisma profético) na fidelidade à norma eclesial da fé e em submissão ativa às diretivas do carisma ministerial e hierárquico , personificado no Papa e nos bispos, com carácter de ajuda, de revivificação e suplência, mais com o testemunho de vida do que com as palavras. S. Francisco tem o mérito de endereçar à Igreja por causas de unidade e ortodoxia, o potentíssimo movimento de reforma que partia da base da própria Igreja do século XII. Esta missão comportava a manifestação (profetismo testemunhal) do carácter sacramental da Igreja enquanto sinal da união mística com Cristo sacerdote e rei, mediante a comunhão ativa com os mistérios da sua paixão e ressurreição, e da união fraterna dos homens entre si e com Deus; da sua realidade como atuação de povo messiânico «pobre e humilde» (Sofonias 2,3; 3,12); do seu caráter de antecipação escatológica do homem novo que voltou a encontrar a harmonia perdida: interior, de perfeita subordinação a Deus; exterior, de redescoberta do sentido religioso do criado, de domínio fraterno sobre as criaturas (profetismo escatológico). Dentro de tais perspetivas podemos chegar a compreender os elementos essenciais do carisma.
Elementos essenciais do carisma franciscano: pobreza, humildade, amor
S. Francisco procura de todo o coração a entrega a Deus, a quem concebe principalmente como Bem supremo, Pai amoroso e providente, e Senhor magnânimo, mediante a conversão interior contínua, na oração incessante (de louvor, ação de graças, de júbilo, de amor) e por adesão amorosa a Cristo crucificado que o leva a identificar-se interiormente com Ele, a imitá-lo fielmente, à aceitação integral do seu evangelho como regra prática de vida, sem subtis distinções, ad litteram, sine glossa, como lhe é dado a entender pelo Espírito Santo e sob a guia da Igreja. S. Francisco incluiu especificamente para os seus irmãos as normas dadas por Cristo aos seus apóstolos quando os enviou a pregar (lc 9 e 10), que as ordens mendicantes quiseram perpetuar na Igreja.
O amor transformante a Jesus Cristo e a sua contemplação nos mistérios onde mais revela o seu amor aos homens (Belém, Eucaristia, Cruz) levam francisco à compreensão e vivência de três atitudes fundamentais, que constituem o cerne da sua resposta amorosa ao Crucificado: a pobreza, a humildade, e a caridade fraterna. Atitudes existenciais que por um lado são libertadoras da escravidão dos bens terrenos, da soberba, do egoísmo (dimensões capitais do homem velho); por outro, são crucificantes (supõem dor na renúncia) e assim assimilativas com Cristo, fazendo do franciscano um alter Christus crucificado (em S. Francisco a estigmatização do Alverne tem valor de símbolo profético, desvelador do mistério da sua vida); por último, estas atitudes escalonam-se e preparam-se uma à outra: a pobreza (desapego dos bens terrenos, que em S. Francisco chega a ser renúncia atual heróica) prepara à humildade (desprezo e esquecimento do eu pecador, submissão a toda a criatura) e ambas à caridade fraterna, que só é possível ao pobre e humilde e se dirige universalmente a toda a criatura com desinteresse absoluto. Finalmente constituem uma simbiose vital: pobreza e humildade quase se identificam; o amor é feito de pobreza e humildade e dirige-se preferentemente aos pobres e humildes; a pobreza e humildade encontram no amor a sua plena justificação e exercício.
Conceção de vida
Estas três virtudes cristiformes estão na raiz da conceção franciscana da vida: pobreza e humildade situam Deus como Ser supremo, transcendente, altíssimo, que se comunica às criaturas, essencialmente mendigas, por puro amor, manifestando-se assim como Pai de bondade infinita. O pecado é essencialmente uma falta de correspondência ao Amor «que não é amado», e um ato de apropriação indevida e orgulhosa. Cristo é o ideal da existência; o desejo supremo da alma é identificar-se com Ele por amor até chegar a participar, «quanto seja possível à humana criatura», da paixão que Ele abraçou «por nós, vilíssimos pecadores» (Flor. IV) atualizando visivelmente o destino cristão da participação na cruz. O franciscano sente-se «arauto do grande Rei» chamado a anunciá-lo a todos os homens com o testemunho da sua vida, que concebe sempre como empresa apostólica. Os homens são todos irmãos, filhos de Deus, pelos quais morreu Cristo, aos quais se dá o franciscano com absoluto desinteresse, na ação, na oração, na imolação; cuja salvação é suprema ânsia da sua alma. Todo o homem há de ser contemplado com humildade, com amor, por isso se há de respeitar a sua liberdade (de onde procede o amor) e a sua personalidade, sublinhando o sentido da responsabilidade pessoal: respeito face ao que pensa diversamente, face ao que erra. E os indivíduos livres e responsáveis não degeneram em anarquia porque o amor fraterno os unifica em Cristo e os leva a submeter-se uns aos outros. O binómio autoridade-obediência é concebido como serviço humilde por amor àquele que manda «os ministros sejam servos de todos», Reg. II, c. 10), e como um sacrifício feito a Deus da própria vontade, por amor a Cristo, a quem obedece.
Tal respeito feito à individualidade faz que o franciscano resista aos esquemas tanto sociais quanto individuais, aos sistemas preconcebidos, aos métodos rigorosos; fomenta personalidades intuitivas, voluntaristas, originais (mais de uma centena de santos canonizados); repugna os centralismos e autoritarismos de toda a classe que sufoquem a própria iniciativa, inclusive a prisão à verdade própria das «escolas», e o apego desordenado à própria mentalidade e cultura.
Simplicidade, abandono, alegria. Destas três virtudes destaca-se a simplicidade, que é candor sapiencial, sinceridade e retidão interiores para com Deus, o próximo e connosco mesmos. A simplicidade é desprezo da vanglória, ódio à simulação e hipocrisia; faz nascer a primazia do amor e da ação sobre o conhecimento: permite conhecer-se para amar e revela que tanto se sabe quanto se age. A purificação interior que causa a simplicidade e a iluminação amorosa com que conduz a Deus dá à alma um reto sentido da significação do universo criado e da atividade do homem nele mesmo: todas as criaturas são irmãs, vestígios da bondade e formusura divinas e todas servem de escala para conhecer e amar a Deus e de instrumentos para atingir o seu reino de amor fraterno na terra. O franciscano perfeito é como a realização do homem novo na sua dimensão escatológica, que mediante o despojamento (assimilação à morte de Cristo) e pelo amor toma o criado reduzindo-o em serviço e louvor a Deus, em fraterna e universal harmonia. De tudo o que foi dito derivam vários aspetos típicos da espiritualidade franciscana: o abandono e confiança absolutos na divina providência, base da sua pobreza; um sentimento de otimismo geral diante da vida que afugenta a tristeza; a proverbial «perfeita alegria» que se encontra inclusive na dor, une ao crucificado, e leva a acolher, cantando, a irmã morte corporal (2 Cel 162); um desejo de paz universal e um esforço perseverante por levá-la a todo o mundo; uma delicada sensibilidade para os valores estéticos; uma valorização positiva das criações humanas, todas provenientes de Deus e a Ele redutíveis quando o coração é puro; um sentido de concretude que olha para as coisas na sua realidade plástica, fugindo ao abstrato, à especulação pura, ao jogo de palavras ou de ideias, o «diletantismo»; uma mística onde o ato de contemplação é sabedoria que se resume em união de amor.
 
Oração e apostolado
A espiritualidade franciscana alimenta-se mediante uma oração de tipo mais afetivo, pessoal e livre. Cristo oferece-se como motivo de imitação e contemplação nos mistérios onde mais ressalta a sua pobreza, a sua humildade e o seu amor (presépio, eucaristia, via sacra). Ao lado de Cristo figura a virgem Maria, a quem S. Francisco saudou como mãe e perfeito exemplo do movimento franciscano (o qual por sua vez deu à Igreja o dogma da Imaculada Conceição).
A oração franciscana é essencialmente um encontro com Deus, fundamento e meta de toda a realização humana, é a que autentifica e define a Fraternidade como a humanidade nova, reunida em volta de Jesus, que conhece por experiência ao Pai e, em consequência, vive de forma coerente a sua relação fraterna com todos os homens.
Por isso, a Fraternidade Franciscana Secular é, antes de tudo, uma comunidade orante, que sabe da presença de Deus e procura por todos os meios responder-lhe de forma existencial, acolhendo essa Presença e fazendo-a frutificar em obras e ações de graças. Esta qualidade orante da Fraternidade não exime de forma irresponsável aos irmãos do seu encontro pessoal com o mistério. A Fraternidade é orante porque, ao mesmo tempo, os irmãos vivem e entendem-se a partir da oração, sentindo-se tocados pelo espírito para pôr em comum a decisão de procurar o rosto de Deus.
Francisco, e como ele os demais irmãos, também entendeu que o fundamental para todo o crente é o encontro com Deus. Por isso, construiu a sua vida em redor desta experiência, de modo que, para Celano, mais que ser um homem de oração, Francisco era a própria oração personificada (2 Cel 95). O apostolado franciscano é principalmente testemunho de presença e atualização de vida evangélica e dirige-se com preferência aos pobres e humildes, cuja sorte o franciscano compartilha vitalmente, pois deve ganhar-se a preferência aos pobres e humildes, cuja sorte o franciscano compartilha vitalmente, pois deve ganhar-se a vida com o trabalho humilde. A pregação é simples, sincera, direta. Ocupa lugar destacadíssimo o interesse pelas missões entre infiéis, nas quais o franciscano costuma ser missionário de vanguarda (como o comprova o franciscano secular do século XIII, o Beato Raimundo Lullo também designado por Doutor Iluminado) e para as quais se torna idóneo devido à grande mobilidade que brota do seu espírito de «estrangeiro e peregrino» e o seu desapego não só de casas, lugares e coisas, mas da própria bagagem cultural e intelectual, que lhe possibilita a compreensão e adaptação de outras realidades.
A espiritualidade franciscana secular pode dizer as seguintes coisas ao homem da nossa época: renovar nos homens a consciência do pecado, e na Igreja a da sua necessidade de se renovar e reformar mediante o regresso sincero ao evangelho; manifestar que o mundo se salva mediante a pobreza, humildade e o amor. Feito serviço; demonstrar que o profetismo reformista só é válido se é uma expressão de amor, de humildade, e em atitude de serviço e obediência à Igreja; ensinar que o individualismo, a liberdade, a responsabilidade pessoal há de contemplar-se em função de amor, solidariedade e obediência; dar sentido cristão ao trabalho, à técnica, à estética, à filosofia, unificando o saber, conjugando-o com a ação e levando-o a Deus; educar para o diálogo, que se funda no mútuo respeito, com crentes e não crentes; preparar e realizar a evangelização do mundo.
P. Paulo Ferreira OFM
Assistente Espiritual da Região Sul da Ordem Franciscana Secular

 
OBJETIVOS DESTE NOVO ANO PASTORAL
 
*      Como adoradores do Pai, façamos da oração e contemplação, a alma da nossa vida e ação (Regra 8), procurando:
v  Conhecer e compreender o valor e o sentido da oração;
v  Sentir a necessidade da oração na nossa vida.
*      Considerar a Oração Fraterna como primazia para viver a Fraternidade.

ALGUMAS LINHAS ORIENTATIVAS
 
*      Cristo no Alverne: Escutá-Lo no silêncio, Contemplá-lo na Sua e na minha Cruz;
*      Viver, com fé, na unidade e na partilha.
*      Manifestar, com alegria e simplicidade de coração, a presença de Cristo Ressuscitado.
*      Obedecer e seguir a Doutrina e Magistério da Igreja.