Plano
de Vida e Ação 2013/2014
Subtema:
“Sobe ao Alverne e experimenta a intimidade com o Senhor”
Perguntar pela espiritualidade
franciscana equivale a fazê-lo sobre a essência do dom que o Espírito Santo
quis fazer à Igreja, para sua edificação e aperfeiçoamento, através de S.
Francisco. Antes de tudo temos de a considerar como vivência peculiar do
evangelho, que manifesta «um aspeto universal da Igreja» (Paulo VI, Alocução de
19 de julho de 1967) e responde, como testemunha o Magistério, a uma perene
necessidade da própria Igreja. Tratando-se de uma vivência social e prolongada
no tempo, há que procurar as suas características não só na vida e no
pensamento do seu iniciador (com os seus elementos primordiais e determinantes)
mas também naqueles que perpetuam o carisma na Igreja vivendo-o conforme as
diferentes modalidades, cujas coincidências permitem determinar, com outras
tantas constantes históricas os seus elementos essenciais.
O carisma franciscano é de tipo
nitidamente profético. S. Francisco apenas se “descreveu”; ele realizou com uma
notável riqueza de ações simbólicas. Alguns dos seus discípulos contentaram-se
em imitar os diversos aspetos da sua personalidade; outros refletiram acerca
dela e elevaram-na a teoria, elaboraram intelectualmente o gesto profético,
cada um conforme a sua própria índole e circunstância. O carácter peculiar do
franciscanismo explica tanto a dificuldade de o reduzir a um sistema de
formulações abstratas, tal como a possibilidade de que nele caibam diversas
posturas e formulações, tanto vitais como intelectuais. Contento-me aqui a
descrever esta espiritualidade, sem a definir, pondo de relevo os seus
elementos permanentes, que se encontram em grau eminente em S. Francisco o qual
validou a tradição daqueles cristãos (leigos e religiosos) que viram nele o seu
modelo e seguiram o seu ideal.
A missão carismática do franciscanismo
apresenta-se-nos desde o seu Fundador como a exigência de uma renovação
interior da Igreja mediante uma conversão contínua (penitência), como uma reforma
da mesma caracterizada pelo regresso aos aspetos vitais, essenciais, do
evangelho (profetismo renovador) e realizada (o qual convém ao carisma
profético) na fidelidade à norma eclesial da fé e em submissão ativa às
diretivas do carisma ministerial e hierárquico , personificado no Papa e nos
bispos, com carácter de ajuda, de revivificação e suplência, mais com o
testemunho de vida do que com as palavras. S. Francisco tem o mérito de
endereçar à Igreja por causas de unidade e ortodoxia, o potentíssimo movimento
de reforma que partia da base da própria Igreja do século XII. Esta missão
comportava a manifestação (profetismo testemunhal) do carácter sacramental da
Igreja enquanto sinal da união mística com Cristo sacerdote e rei, mediante a
comunhão ativa com os mistérios da sua paixão e ressurreição, e da união
fraterna dos homens entre si e com Deus; da sua realidade como atuação de povo
messiânico «pobre e humilde» (Sofonias 2,3; 3,12); do seu caráter de
antecipação escatológica do homem novo que voltou a encontrar a harmonia
perdida: interior, de perfeita subordinação a Deus; exterior, de redescoberta do
sentido religioso do criado, de domínio fraterno sobre as criaturas (profetismo
escatológico). Dentro de tais perspetivas podemos chegar a compreender os
elementos essenciais do carisma.
Elementos
essenciais do carisma franciscano: pobreza, humildade, amor
O
amor transformante a Jesus Cristo e a sua contemplação nos mistérios onde mais
revela o seu amor aos homens (Belém, Eucaristia, Cruz) levam francisco à compreensão
e vivência de três atitudes fundamentais, que constituem o cerne da sua
resposta amorosa ao Crucificado: a pobreza, a humildade, e a caridade fraterna. Atitudes existenciais que por um lado
são libertadoras da escravidão dos
bens terrenos, da soberba, do egoísmo (dimensões capitais do homem velho); por
outro, são crucificantes (supõem dor
na renúncia) e assim assimilativas com Cristo, fazendo do franciscano um alter Christus crucificado (em S. Francisco a estigmatização do
Alverne tem valor de símbolo profético, desvelador do mistério da sua vida);
por último, estas atitudes escalonam-se e preparam-se uma à outra: a pobreza
(desapego dos bens terrenos, que em S. Francisco chega a ser renúncia atual heróica)
prepara à humildade (desprezo e esquecimento do eu pecador, submissão a toda a
criatura) e ambas à caridade fraterna, que só é possível ao pobre e humilde e
se dirige universalmente a toda a criatura com desinteresse absoluto.
Finalmente constituem uma simbiose vital: pobreza e humildade quase se identificam;
o amor é feito de pobreza e humildade e dirige-se preferentemente aos pobres e
humildes; a pobreza e humildade encontram no amor a sua plena justificação e
exercício.
Conceção
de vida
Estas três virtudes cristiformes estão na
raiz da conceção franciscana da vida: pobreza e humildade situam Deus como Ser supremo, transcendente,
altíssimo, que se comunica às criaturas, essencialmente mendigas, por puro
amor, manifestando-se assim como Pai de bondade infinita. O pecado é
essencialmente uma falta de correspondência ao Amor «que não é amado», e um ato
de apropriação indevida e orgulhosa. Cristo é o ideal da existência; o desejo
supremo da alma é identificar-se com Ele por amor até chegar a participar,
«quanto seja possível à humana criatura», da paixão que Ele abraçou «por nós,
vilíssimos pecadores» (Flor. IV) atualizando visivelmente o destino cristão da
participação na cruz. O franciscano sente-se «arauto do grande Rei» chamado a
anunciá-lo a todos os homens com o testemunho da sua vida, que concebe sempre
como empresa apostólica. Os homens são todos irmãos, filhos de Deus, pelos
quais morreu Cristo, aos quais se dá o franciscano com absoluto desinteresse,
na ação, na oração, na imolação; cuja salvação é suprema ânsia da sua alma. Todo o homem há de ser contemplado com
humildade, com amor, por isso se há de respeitar a sua liberdade (de onde
procede o amor) e a sua personalidade, sublinhando o sentido da
responsabilidade pessoal: respeito face ao que pensa diversamente, face ao que
erra. E os indivíduos livres e responsáveis não degeneram em anarquia porque o
amor fraterno os unifica em Cristo e os leva a submeter-se uns aos outros. O
binómio autoridade-obediência é concebido como serviço humilde por amor àquele
que manda «os ministros sejam servos de todos», Reg. II, c. 10), e como um
sacrifício feito a Deus da própria vontade, por amor a Cristo, a quem obedece.
Tal respeito feito à individualidade faz
que o franciscano resista aos esquemas tanto sociais quanto individuais, aos
sistemas preconcebidos, aos métodos rigorosos; fomenta personalidades
intuitivas, voluntaristas, originais (mais de uma centena de santos
canonizados); repugna os centralismos e autoritarismos de toda a classe que
sufoquem a própria iniciativa, inclusive a prisão à verdade própria das
«escolas», e o apego desordenado à própria mentalidade e cultura.
Simplicidade, abandono, alegria. Destas
três virtudes destaca-se a simplicidade, que é candor sapiencial, sinceridade e
retidão interiores para com Deus, o próximo e connosco mesmos. A simplicidade é
desprezo da vanglória, ódio à simulação e hipocrisia; faz nascer a primazia do
amor e da ação sobre o conhecimento: permite conhecer-se para amar e revela que
tanto se sabe quanto se age. A purificação interior que causa a simplicidade e
a iluminação amorosa com que conduz a Deus dá à alma um reto sentido da
significação do universo criado e da atividade do homem nele mesmo: todas as
criaturas são irmãs, vestígios da bondade e formusura divinas e todas servem de
escala para conhecer e amar a Deus e de instrumentos para atingir o seu reino
de amor fraterno na terra. O franciscano perfeito é como a realização do homem
novo na sua dimensão escatológica, que mediante o despojamento (assimilação à
morte de Cristo) e pelo amor toma o criado reduzindo-o em serviço e louvor a
Deus, em fraterna e universal harmonia. De
tudo o que foi dito derivam vários aspetos típicos da espiritualidade
franciscana: o abandono e confiança absolutos na divina providência, base da
sua pobreza; um sentimento de otimismo geral diante da vida que afugenta a
tristeza; a proverbial «perfeita alegria» que se encontra inclusive na dor, une
ao crucificado, e leva a acolher, cantando, a irmã morte corporal (2 Cel 162);
um desejo de paz universal e um esforço perseverante por levá-la a todo o
mundo; uma delicada sensibilidade para os valores estéticos; uma valorização
positiva das criações humanas, todas provenientes de Deus e a Ele redutíveis
quando o coração é puro; um sentido de concretude que olha para as coisas na
sua realidade plástica, fugindo ao abstrato, à especulação pura, ao jogo de
palavras ou de ideias, o «diletantismo»; uma mística onde o ato de contemplação
é sabedoria que se resume em união de amor.
Oração
e apostolado
A espiritualidade franciscana alimenta-se
mediante uma oração de tipo mais afetivo, pessoal e livre. Cristo oferece-se
como motivo de imitação e contemplação nos mistérios onde mais ressalta a sua
pobreza, a sua humildade e o seu amor (presépio, eucaristia, via sacra). Ao
lado de Cristo figura a virgem Maria, a quem S. Francisco saudou como mãe e
perfeito exemplo do movimento franciscano (o qual por sua vez deu à Igreja o
dogma da Imaculada Conceição).
Por isso, a Fraternidade Franciscana
Secular é, antes de tudo, uma comunidade orante, que sabe da presença de Deus e
procura por todos os meios responder-lhe de forma existencial, acolhendo essa
Presença e fazendo-a frutificar em obras e ações de graças. Esta qualidade
orante da Fraternidade não exime de forma irresponsável aos irmãos do seu
encontro pessoal com o mistério. A Fraternidade é orante porque, ao mesmo
tempo, os irmãos vivem e entendem-se a partir da oração, sentindo-se tocados
pelo espírito para pôr em comum a decisão de procurar o rosto de Deus.
Francisco, e como ele os demais irmãos,
também entendeu que o fundamental para todo o crente é o encontro com Deus. Por
isso, construiu a sua vida em redor desta experiência, de modo que, para
Celano, mais que ser um homem de oração, Francisco era a própria oração
personificada (2 Cel 95). O apostolado franciscano é principalmente testemunho
de presença e atualização de vida evangélica e dirige-se com preferência aos
pobres e humildes, cuja sorte o franciscano compartilha vitalmente, pois deve
ganhar-se a preferência aos pobres e humildes, cuja sorte o franciscano
compartilha vitalmente, pois deve ganhar-se a vida com o trabalho humilde. A
pregação é simples, sincera, direta. Ocupa lugar destacadíssimo o interesse
pelas missões entre infiéis, nas quais o franciscano costuma ser missionário de
vanguarda (como o comprova o franciscano secular do século XIII, o Beato Raimundo Lullo também designado
por Doutor Iluminado) e para as quais se torna idóneo devido à grande
mobilidade que brota do seu espírito de «estrangeiro e peregrino» e o seu
desapego não só de casas, lugares e coisas, mas da própria bagagem cultural e
intelectual, que lhe possibilita a compreensão e adaptação de outras
realidades.
A
espiritualidade franciscana secular pode dizer as seguintes coisas ao homem da
nossa época: renovar nos homens a consciência do pecado, e na Igreja a da sua
necessidade de se renovar e reformar mediante o regresso sincero ao evangelho;
manifestar que o mundo se salva mediante a pobreza, humildade e o amor. Feito
serviço; demonstrar que o profetismo reformista só é válido se é uma expressão
de amor, de humildade, e em atitude de serviço e obediência à Igreja; ensinar
que o individualismo, a liberdade, a responsabilidade pessoal há de
contemplar-se em função de amor, solidariedade e obediência; dar sentido
cristão ao trabalho, à técnica, à estética, à filosofia, unificando o saber,
conjugando-o com a ação e levando-o a Deus; educar para o diálogo, que se funda
no mútuo respeito, com crentes e não crentes; preparar e realizar a
evangelização do mundo.
P.
Paulo Ferreira OFM
Assistente
Espiritual da Região Sul da Ordem Franciscana Secular
OBJETIVOS
DESTE NOVO ANO PASTORAL
Como
adoradores do Pai, façamos da oração e contemplação, a alma da nossa vida e
ação (Regra 8), procurando:
v
Conhecer
e compreender o valor e o sentido da oração;
v
Sentir
a necessidade da oração na nossa vida.
Considerar
a Oração Fraterna como primazia para viver a Fraternidade.
ALGUMAS LINHAS ORIENTATIVAS
Cristo
no Alverne: Escutá-Lo no silêncio, Contemplá-lo na Sua e na minha Cruz;
Viver,
com fé, na unidade e na partilha.
Manifestar,
com alegria e simplicidade de coração, a presença de Cristo Ressuscitado.
Obedecer
e seguir a Doutrina e Magistério da Igreja.