A visitação
O passeio de Jesus sob o olhar de Maria, pórtico da vida (Jo 10, 22-30)
No cumprimento da Palavra e a favor da verdade, da vida e da fraternidade alteia-se o pórtico antigo e contempla-se o passeio de Jesus, sob o olhar de Maria, alegre, disponível e reconhecido, a oferecer-se ao homem peregrino e a consagrar-se ao mendigo, na unidade do conjunto edificado em que se integra, como revelação da origem, da identidade e do sentido de um Deus e de um povo que, no tempo e no espaço, é vestígio vivo, imagem nova e semelhança perfeita do ser para o outro.
Na paisagem urbana, o passeio decorre na frente de majestosos edifícios, públicos e privados, ornamentados com átrios e abóbadas sustentadas por colunas ou pilares, em que a beleza da arquitetura e da escultura revelam a origem da criação do universo e o sentido do ser para o além, em que se alicerça e projeta o edifício. Na ruralidade, decorre no espaço edificado pelo trabalho do homem em que os símbolos dos pórticos em madeira ou ferro forjado, que limitam e encimam os campos e os palácios, associam à largura, altura e profundidade do prédio, a excelência e a nobreza da família que o habita. E na história, a monumentalidade dos templos, das rosáceas, das torres e dos conjuntos arquitetónicos que os coroam, alguns dessacralizados, edificados e dedicados aos santos, aos anjos, aos arcanjos e à Virgem Maria e dos adros que os rodeiam evocam a presença da divindade altíssima e o destino do povo amado e consagrado no culto a Deus e no serviço ao Homem.
O pórtico alteado é, em si, a porta da esperança e nele e por ele estabelecem-se relações positivas, específicas e diferenciadoras entre quem, no viver, não se pensa e sabe dispensado de o passar e quem lhe pode dar passagem. O pórtico impõe-se ao transeunte. Há quem o reclame, o rejeite e o recuse. A porta, ao lado, a da fé, torna-se mais próxima e acessível, a quem não crê, ainda, ser possível.
O pórtico não se dissocia da porta e ambos do corpo edificado. E há pórticos e portas, estreitas e largas, e portas-vozes e serviços de entrega, porta a porta. O passeio quotidiano sob o pórtico da vida é caminho de transformação, de intercessão, de despojamento e de edificação da pobreza humana na e à consolação divina, selando-as a encarnação do humilde amor. O conjunto, por si e em si, encerra a verdade do encontro entre quem, no passeio, se cruza e permanece unido para sempre. A porta do fundo, a da caridade, é o convite explícito, acolhedor e transformador e sem ela o pórtico não tem sentido.
Há alguém ou alguma coisa que não seja, aparentemente, pórtico e que não deixe de ser, por isso, pórtico? Independentemente da imagem e da semelhança que se estabeleça e que existe, o pórtico será sempre o pórtico e aquilo que ele significa, especialmente na relação que cria com as portas do edifício, do templo ou da Igreja. Na verdade, o pórtico é único, possuiu uma identidade própria e abre-se a uma relação com o Homem que, na simplicidade do seu passear quotidiano, procura um primeiro e último sentido para a vida. É no Filho do Homem que se encontra esse sentido. O pórtico encima o passeio de Jesus, mas é Jesus que fixa o olhar no homem e o convida a entrar, por si e em si, na união do saber e da vontade do Pai. Motiva-o para o essencial e sustenta-o num campo de igualdade. O pórtico orienta o sentido dos seus passos, menoriza-o e glorifica-o para que o Homem tenha vida e a tenha em abundância.
Neste sentido, não há pórticos e pórticos. O pórtico por ser pórtico conduz, pela porta da morte, à vida eterna. O Homem não é livre e muito menos de escolher morrer ou viver, mas pode, desde já, na Trindade Santíssima e na condição de filho, de irmão e de esposo de Nosso Senhor Jesus Cristo, aspirar à liberdade eterna porque, pelo pórtico da vida, é isso que o espera. Que o Espírito Santo nos guie pelos passeios e pelas visitas da vida e nos inspire a viver, em Igreja, sob o pórtico de Maria, a infância, a juventude e a maturidade do nosso Deus Criador, Salvador e Redentor, que é Cristo Jesus.
31/05/2012
francisca
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