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8 de dezembro de 2012

A santidade do leigo à luz do Concílio Vaticano II




No dia 17 de novembro de 2012 e integrada no programa da Festa de Santa Isabel da Hungria o Padre Joaquim Carreira das Neves brindou os participantes com uma conferência notável sobre “A santidade do leigo à luz do Concílio Vaticano II”. Começou por interrogar a assembleia sobre o que é isto de ser santo, o que é a santidade e por responder que todos queremos ser santos, todos procuramos a felicidade, a santidade e que esta tem a ver com quem tem fé. Avançou, afirmando que numa sociedade secularizada ser santo é reconhecer-se, perante os não crentes, “bicho raro”, é respeitar a secularidade com os seus valores, é perceber que diante de Deus somos o que somos e é aceitar todos na globalidade, na aldeia global em que vivemos. Prosseguiu, afirmando que há muito híper fenómeno do fenómeno, que se consubstancia nas religiões. Segundo S. Francisco de Assis a santidade é o específico do ser cristão, a santidade é uma posição de alegria e de esperança, a santidade não é pessimista.

Nesta linha, afirmou que os documentos principais do Concílio Vaticano II sobre a santidade dos leigos, são a “Lumen Gentium” (LG) e a “Dei Verbum” (DV) e que estes documentos, que não são um credo, mas que traçam orientações, apresentam o sacramento – como dom de Deus, graça de Deus, veículo da graça, presença real e arquitetura da graça de Deus - do matrimónio, a união esponsal de Cristo com a sua a Igreja, como modelo de santidade para todos os estados de vida: dos casados, sacerdotes, religiosos, viúvos, celibatários, divorciados, operários, pobres e sofredores, fundados na Palavra de Deus concretamente em Gén 2, 24 - “Por esse motivo, o homem deixará o pai e a mãe, para se unir à sua mulher; e os dois serão uma só carne” e carne significa uma só pessoa, sublinhou e em Ef 5,32 - “Grande é este mistério; mas eu interpreto-o em relação a Cristo e à Igreja.

Seguindo de perto LG 41 afirmou que a santidade é a mesma, é igual, para todos e procede da graça do Espírito Santo que pela Palavra se recebe no Batismo. Não há medidas de santidade, ou santidades mais altas, há vocações à perfeição, à santidade do Pai. Os esposos auxiliam-se mutuamente para a santidade, dentro do sacramento do matrimónio, na graça, na vida conjugal, na procriação, exemplo da fecundidade da Igreja - a redução demográfica tem implicações gravíssimas na cultura - e na educação dos filhos, favorecendo a vocação própria de cada um. E corroborou, que a prole é o melhor de uma família. Quanto aos viúvos, celibatários, trabalhadores e sofredores, afirmou que, cada um, segundo o seu estado de vida, tem um dom próprio no Povo de Deus e deve proceder conforme o dom que Deus lhe deu, contribuindo, assim e muito, para a santificação da Igreja. Cristo em união com o Pai continuamente atua para a santificação de todos. E prosseguiu, afirmando que cada um deve progredir pelo caminho da fé, sem desfalecimento, pela fé viva que atua pela caridade, na certeza de que por detrás da Palavra está a “performence” do Espírito Santo. E citou: “Desejaria que todos os homens fossem como eu, mas cada um recebe de Deus o seu próprio carisma, um de uma maneira, outro de outra.”(1 Cor 7,7). E concluiu esta parte afirmando que a caridade, o martírio dos cristãos nos países muçulmanos, os conselhos evangélicos e a santidade no próprio estado de vida favorecem a santidade na Igreja.
Quanto às questões do pecado original e do céu, do inferno e do purgatório, afirmou que como criaturas a questão não reside em ser anjo ou diabo em ir para o céu ou para o inferno, mas na liberdade do Homem. Afirmou que Deus fez-nos na nossa liberdade e esta é que faz a grandeza do Homem. Somos chamados à dimensão espiritual do matrimónio, o que pressupõe a ternura, o afeto, a alegria, a gratidão, o amor indissolúvel que excluiu qualquer espécie de adultério e divórcio. E referiu que é necessário implicar a questão dos divorciados dentro da Igreja. Aliás, citando GS 43, alertou para a necessidade de tomarmos consciência das infidelidades ao Espírito de Deus por parte de membros da Igreja, clérigos ou leigos, e de as combater de modo a que não sejam obstáculo à difusão do Evangelho. E adiantou que os pobres, os que sofrem estão agarrados à cruz de Cristo. Depois de se sofrer um pouco não há ninguém que não esteja agarrado à cruz de Cristo. Todos nos santificamos segundo as condições e circunstâncias da nossa vida. Segundo a atividade temporal de cada um: no trabalho, a operosidade temporal é semente de santidade, na família, onde nasce e prospera a santidade, na amável cooperação entre pais e filhos, na assistência na solidão da velhice e da viuvez, no amor casto dos noivos e no amor indiviso dos esposos, citando GS 49.

Finalmente, reportando-se à ajuda que a Igreja recebe do mundo e não já à ajuda que a Igreja oferece ao mundo e dado o adiantado da hora, afirmou que a Igreja é enriquecida ou santificada com a evolução da vida social (GS 44), concretamente por um intercâmbio, que permite que o anúncio da Palavra de Deus se adapte mais convenientemente aos nossos tempos. E poderia rematar, se o tempo o permitisse, citando GS 44 “Na realidade, todos os que, de acordo com a vontade de Deus, promovem a comunidade humana no plano familiar, cultural, da vida económica e social e também política, seja nacional ou internacional, prestam não pequena ajuda à comunidade eclesial, na medida em que esta depende das realidades exteriores.”

A título de eco da conferência fica-nos a certeza de que “a santidade é possuir o Espírito do Senhor e a sua santa operação”, é a "performence" do Espírito Santo (Rb, 10, 9). Por esta conferência e por tudo, bem - haja, Sr. Padre Joaquim Carreira das Neves.

Após a refeição que se seguiu à conferência e depois da representação da peça “Santa Clara” pela Escola Jacques Ballet, no CCF, a quem agradecemos na pessoa da sua Professora Isabel Jacques, concluímos a Festa com a Eucaristia, cume e fonte da santidade da Igreja, celebrada pelo Assistente da Fraternidade, Padre Domingos Casal de Martins, concelebrada pelo Padre Rui Grácio e pelo Diácono Carlos Miranda, que contou com a presença de numerosos irmãos das Fraternidades Franciscanas Seculares da OFS de Lisboa.

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