Num documento da
reforma litúrgica que dá pelo nome de “Normas Gerais do Ano Litúrgico e do
Calendário Romano” lêem-se estas palavras: “O sagrado Tríduo da Paixão e Ressurreição do Senhor é o ponto culminante de
todo o ano litúrgico” (NGALC 18; EDREL 856). A este sagrado Tríduo chama-se também Tríduo Pascal:
“tríduo”, por abranger um período de três dias consecutivos; “pascal”, por
acontecer nas imediações da Páscoa de Jesus.
Afirmar que o Tríduo é
o ponto culminante do ano litúrgico equivale a dizer que ele é o verdadeiro
centro de toda a liturgia cristã. Ele não é uma simples festa, mas a festa das
festas; não é apenas uma grande solenidade, mas a solenidade das solenidades
cristãs (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1169). Não há, no decurso do ano
litúrgico, nada maior do que ele. Santo Agostinho chamava-lhe “Tríduo de Cristo
morto, sepultado e ressuscitado”.
Qual a razão desta
importância ímpar do Tríduo Pascal, perguntarão os nossos leitores? A resposta
volta a dá-la o documento já citado juntamente com a Constituição Litúrgica: “Porque a obra da redenção humana e da perfeita glorificação de
Deus foi realizada por Cristo especialmente no seu mistério pascal” (Ibidem), e porque “Cristo está
sempre presente na sua Igreja, especialmente nas acções litúrgicas” (SC 7). É esta presença de Cristo, particularmente nas celebrações do Tríduo
Pascal, que faz delas o ponto culminante da liturgia cristã.
Está quase a chegar o
Tríduo Pascal deste ano. O seu início vai acontecer «na Missa da Ceia do Senhor» (tarde de Quinta-Feira santa). Mas o Tríduo propriamente dito será a Sexta-Feira Santa (dia da paixão, morte e sepultura de
Jesus), o Sábado Santo (dia em que o corpo de Cristo repousou no sepulcro) e o Domingo (dia da ressurreição e das primeiras
aparições de Jesus). O coração pulsante do grande Mistério é a «Vigília Pascal, mãe de todas as santas vigílias» (NGALC 19.21; EDREL 857.859).
Bendito seja Deus pela
Liturgia destes três dias santíssimos. Não é para recordar factos do passado,
por mais importantes que sejam, que participamos nas celebrações do Tríduo, mas
para tornar presente um Mistério, cuja eficácia nos envolve e une a Cristo. O
Senhor da cruz, do túmulo e da ressurreição toca-nos naqueles ritos,
ilumina-nos nas palavras e cânticos que proferimos e escutamos. Não somos nós
que nos tornamos santos, mas é Cristo que nos santifica através da participação
viva, consciente e activa nestas celebrações.
Se já adquiriste o
hábito de não trocar a participação no Tríduo por outras ocupações da tua vida,
dá graças ao Senhor e continua a fazê-lo. Se, pelo contrário, nunca
participaste nas suas celebrações, deixa-me dizer-te que ainda não descobriste
o que é começar a ser cristão deveras. Se quiseres, aceita livremente o meu
convite: vem ao Tríduo. Nele encontrarás Cristo, e, se não Lhe opuseres
resistência, Ele transformará a tua vida.
Mais do que tu
próprio, por tuas orações e trabalhos, é Cristo, na Liturgia, que te torna
cristão a valer. O cristianismo não é um voluntarismo. É um DOM. Vem do Pai,
não nasce de ti, embora procure e suscite em ti a resposta da tua liberdade.
Pela Liturgia da terra participa desde já, cristão, na Liturgia celeste que
eternamente é celebrada no seio da Santíssima Trindade.
P. José de Leão Cordeiro
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