Leitores e Bar CCF 2022

21 de maio de 2023

6º DOMINGO DA PÁSCOA – Ano A

 

(14.05.2023)

      Introdução à Liturgia

      Aproximando-se o fim do tempo pascal, as leituras da eucaristia orientam-nos para o tema do Espírito Santo e também para o testemunho que os discípulos devem dar acerca do Mestre. Este testemunho passa, essencialmente, pelo anúncio da mensagem e pela manifestação da fé. É na ação missionária que a comunidade apostólica, tanto no espaço da Palestina como nas diversas paragens do Império, dá o sinal da sua fé e da força do Espírito que os envia a anunciar.

     Introdução às Leituras

        A 1ª Leitura, tomada dos Atos dos Apóstolos, fala-nos da evangelização da Samaria. Todos sabemos como a situação entre judeus e samaritanos, ao tempo de Jesus, era tensa. Jesus abre a porta aos Samaritanos, através do Evangelho de S. João e da Parábola do Bom Samaritano no Evangelho de S. Lucas, mostrando que ele vem para congregar a todos no amor do Pai. Os apóstolos, conscientes disso mesmo, lançam a 1ª semente da Boa-Nova. 

          A 2ª leitura, da 1ª Carta de Pedro, mostra-nos que o anúncio do Evangelho deve ser acompanhado por uma nova prática de vida, por novas formas e atitudes da parte daqueles que aderem à fé. Esta Carta de S. Pedro que temos vindo a ler ao longo destes domingos pascais é toda ela uma espécie de nova ordem vivencial, de uma nova identidade cristã.

           O Evangelho, texto que faz parte do longo discurso da Última Ceia, confirma os discípulos na certeza de que o Senhor continua junto deles e que a força do Espírito os acompanha no testemunho que eles são chamados a dar ao mundo. Esse testemunho ganhará autenticidade na prática do amor.

Padre João Lourenço, OFM

6º DOMINGO DO TEMPO PASCAL

(14 de Maio de 2023)

 

          Com o aproximar do fim do tempo pascal, as leituras das nossas eucaristias orientam-nos agora para o tema do Espírito Santo, para a festa do Pentecostes e da ação do Espírito no coração dos crentes. Além disso, ao longo destes domingos pascais fomos acompanhando a ação missionária da comunidade apostólica, tanto no espaço da Palestina como nas diversas paragens do Império. São textos que nos mostram como a expansão da Igreja aconteceu pela ação do Espírito Santo, mas também pelo grande dinamismo dos apóstolos, tocando realidades que por vezes nos parecem até estranhas. Por outro lado, sentimos que estas leituras prolongam o ‘eco’ da Páscoa que se estende ao longo de todos estes domingos e que nós celebramos através do livro dos Atos dos Apóstolos e pelas narrativas do Evangelho, a vida da comunidade cristã que se fortalece e se afirma a partir desta certeza: Deus ressuscitou Jesus Cristo; esta era a certeza dos Apóstolos, o fundamento da sua fé e é também a nossa certeza. É nessa certeza que se fundamenta a nova Comunidade, nascida da intimidade profunda com Cristo e também do testemunho do Ressuscitado. Trata-se de uma Comunidade de fé e de vida. Para os primeiros crentes, tal como sucedia no judaísmo do tempo, Fé e Vida faziam um todo, não havendo por isso qualquer dicotomia entre o que se acredita e o que se vive.

     Vejamos então os textos:

           1ª Leitura: Atos – A evangelização da Samaria

          Sabemos qual era a situação ao tempo do Novo Testamento entre Judeus e Samaritanos. O Evangelho de S. João alude a isso, no célebre encontro entre Jesus e a Samaritana; a Parábola do Bom Samaritano é também um eco dessa relação tensa no seio do povo Eleito, já que as tribos dos Norte, base do povo e do credo samaritano, também eram uma porção do povo eleito. Há muitos outros acontecimentos históricos que marcam o período intertestamentário e que nos mostram como a rutura era total. Por isso, o acolhimento dispensado pela região da Samaria foi certamente um estímulo e um sinal encorajador para a Igreja da Palestina, mormente para a Igreja de Jerusalém que conheceu, como todos sabemos momentos muito difíceis e dolorosos. Neste sentido, creio que é importante valorizar esta dimensão do anúncio da Palavra de Deus: em Cristo ela é capaz de levar à superação dos ódios e criar uma nova relação com Deus, de reconciliar os homens e de abrir horizontes para além daquilo que por vezes nos pode parecer quase impossível. Temos aqui um bom exemplo disso e creio que devemos aceitar este texto como expressão dessa realidade. Aliás, a importância de S. Justino, Mártir e grande apologista da Fé cristã é disso um belo eco e testemunho.

           2ª leitura: 1 Pd 3,15-18

          O anúncio do Evangelho é acompanhado também por uma prática nova de vida, por novas formas e atitudes por partes daqueles que aderem à fé. Esta Carta de S. Pedro que temos vindo a ler ao longo destes domingos pascais é toda ela uma espécie de nova ordem vivencial, de nova identidade cristã. Não se trata de um código de comportamentos, nem de uma espécie de nova ordem ‘educacional’. Nada disso; trata-se sim de tomar o exemplo de Jesus e apresentá-lo aos crentes como o grande modelo de vida. De Jesus, Pedro realça a sua entrega, o seu mistério pascal. Também aqui, nas nossas atitudes vivenciais, Cristo é o grande exemplo e pena é que por vezes pensemos que a exemplaridade de Cristo se fica apenas pelas dimensões teológicas, esquecendo os aspetos práticos e existenciais que o texto desta leitura realça.

           Evangelho: Jo 14,15-21:

          Temos um texto que é já parte do longo discurso da Última Ceia. O tema central é a unidade, a intimidade entre Jesus e os discípulos. Estes não ficaram órfãos, pois Jesus Cristo e o Espírito consolador permanecem para sempre na sua Igreja. É interessante verificar como através deste texto Jesus procura mostrar aos discípulos que eles, ao contrário de Israel que se lamentava que Deus o tinha abandonado, que o deixara ‘orfão’ entre as nações, aos discípulos Jesus promete estar presente, numa relação de comunhão e de intimidade, tal como eles já tinham experimentado ao longo da sua caminhada pelas terras da Palestina. Partindo de uma situação vivida, Jesus aponta para o tempo pós-pascal, para o tempo da vivência da Igreja. Tudo isto de fundamenta numa relação mais profunda e que S. João coloca em realce ao longo do seu evangelho: a identidade entre o Pai e o Filho, entre Deus e Jesus que é o seu rosto humano, o seu rosto presente no mundo. A vivência da fé não é uma especulação abstrata, mas sim uma experiência concreta, uma experiência a partir de Jesus e em comunhão com os Irmão. É assim que se prepara a festa do Pentecostes e com ela se dá início à Igreja enquanto comunhão de crentes.

          Creio que o tempo que estamos a viver precisa de sentir esta proximidade de Jesus, esta partilha e esta intimidade com Deus, pois só assim seremos capazes de poder dar resposta a tantas situações trágicas que vão explodindo um pouco por toda a parte. Para além da fé, o nosso tempo carece desta experiência, desta proximidade de que Jesus se faz eco ao dirigir-se aos discípulos.

Padre João Lourenço, OFM


 

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