(17.05.2020)
O espírito da Liturgia de hoje:
Um dos temas
sempre presente na liturgia, porque faz parte integrante da Palavra de Deus, é
a questão da ‘verdade’. Para vivê-la e testemunhá-la, Jesus promete aos seus
discípulos o envio, o dom do ‘Espírito da verdade’ que é apresentado como o
Defensor dos crentes, daqueles que seguem a mensagem do Mestre. O Espírito da
verdade é o ‘Defensor’ e é também Aquele que não nos deixa órfãos, mas nos
assiste e acompanha nos caminhos da vida. Como afirmamos nos dons do Espírito
Santo, além da verdade, Ele é também presença consoladora, presença
acompanhante nos caminhos da vida para nos fortalecer e nos ajudar a caminhar
em frente, tal como fortaleceu os Apóstolos e os levou a viver e a anunciar a ‘Boa-Nova’
do Reino, por todo o mundo.
Num tempo de
tantas fragilidades, pessoais e sociais, resultantes das dificuldades da vida e
também do ambiente social em que nos encontramos, pedir a força do Espírito e
saber que Ele está connosco é certamente consolador e também é uma forma de O
fazer nosso ‘Defensor’, tal como o foi para a Comunidade cristã das origens.
O Evangelho da
liturgia de hoje já faz parte daquela longa narrativa do Evangelho de S. João,
que podemos classificar como o “testamento” de Jesus, deixado aos Seus
discípulos na Última Ceia, no Cenáculo, nas vésperas da Sua morte. Aos
discípulos, inquietos e assustados, porventura desanimados naquele momento,
Jesus promete o “Paráclito, o Espírito Santo”. Será Ele a conduzir a comunidade
cristã em direcção à verdade; e levá-la-á a uma comunhão cada vez mais íntima
com Jesus e com o Pai. E, dessa forma, a comunidade será a “morada de Deus” no
mundo e dará testemunho da salvação que Deus quer oferecer a todos os homens.
Acolhendo
o ‘Espírito da Verdade’, o discípulo de Jesus torna-se também ele um construtor
da verdade e sua testemunha. Não há hoje, no meu pobre sentir, um qualquer
outro desafio, tão urgente e tão necessário, como é o da ‘construção da verdade’.
A nossa sociedade deixa-se, cada vez mais, pautar pelas construções artificiais
de vidas que assentam na mentira e na superficialidade, que é outra forma de
mentira, embora disfarçada. Todos temos a sensação que são poucos os que lutam
pela verdade consistente, transparente, e muitos os que se afadigam em
construir, apenas e só, o parecer e não o ser, a imagem e não a verdade, a
banalidade disfarçante que encobre e entorpece e não a verdade que liberta e
reconcilia. As formas de manipulação política, social, de opinião disfarçada em
pressupostos de autonomia, até mesmo em formas religiosas, nunca teve um
alcance e uma aceitação tão acomodada como hoje sucede. Os silêncios cúmplices,
o ocultamento dos erros e das mentiras, são hoje as formas aceites e
acreditadas para ocultar a verdade, para mutilar a verdade, para menosprezar a
verdade, para manipular a verdade. As ‘centrais’ da informação manipulada são
hoje, e cada vez mais, instrumentos ao serviço dos interesses ocultos dos
grupos, das associações, e por vezes até das comunidades, enquanto tais.
Ora,
nada disto é conciliável com a verdade que o Espírito Santo nos propõe. Por
isso, Jesus reforça a ideia que temos ‘de conhecer o Espírito’ que Ele nos dá,
que Ele envia àqueles que O seguem. E como podemos conhecer esse Espírito?
Guardando e pondo em prática os ‘Seus mandamentos’ e esses mandamentos tem um
centro: é o próprio Jesus: ‘amai-vos uns aos outros como Eu vos amei’.
Padre João Lourenço, OFM
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