Leitores e Bar CCF 2022

6 de outubro de 2023

27.º Domingo do Tempo Comum - Homilia

 


Homilia de Frei Isidro Lamelas (27º Domingo do T. Comum) – Igreja do Seminário

«Que vos parece?

Mais uma parábola de Jesus, dita aos «chefes dos sacerdotes» e aos «anciãos» do povo.

Outra vez a imagem da vinha: da vida, do reino…

Outra vez o nosso testemunho e compromisso e vida a ser questionado: que vos parece?

Que fazemos da vida? Qual o nosso lugar, na Vinha, no mundo, na Igreja, no Reino?

1. Já o profeta Ezequiel nos convidava a assumir, com verdade e coerência, a nossa responsabilidade pelos nossos gestos de egoísmo e de auto-suficiência em relação a Deus e em relação aos irmãos. Muitas vezes “a culpa morre solteira”. Há homens e mulheres que não têm o mínimo para viver dignamente? A culpa é da conjuntura económica internacional; é do governo… ou até de Deus. Há guerras e violência; há injustiça? A culpa é dos tribunais, do sistema; talvez de Deus: A maneira de proceder do Senhor não é justa?. A minha comunidade cristã está dividida, e não testemunha suficientemente o amor de Jesus? A culpa é do Papa, ou do bispo, ou dos padres… se a culpa não é de Deus, é do diabo…

-E a minha culpa? O que é que eu faço? E as minhas omissões? Não terei, muitas vezes, a minha quota-parte de responsabilidades em tantas situações negativas com que, dia a dia, convivo pacificamente? Não precisarei de mudar, de me “converter”?

No Evangelho Jesus dirige-se, de novo aos chefes da religião e referências na vida pública, mas também aos “católicos praticantes” que dizem mas não fazem, que rezam mas não vivem; que pregam mas não dão exemplo.

Somos interpelados por Jesus: «Que vos parece?»; «Qual dos dois fez a vontade do Pai?».

Os fariseus aparecem no Evangelho de Mateus como aqueles que «dizem, mas não fazem» (Mt 23,3). É o farisaísmo… O «Fazer», em oposição a dizer, é um tema fundamental em Mateus, assim expresso por Jesus no discurso programático da Montanha: «Nem todo aquele que diz: “Senhor, Senhor” entrará no Reino dos Céus, mas aquele que faz a vontade do Meu Pai que está nos Céus» (Mt 7,21).

Mais ainda: neste Evangelho de Mateus, o verdadeiro «fazer» traduz-se em «dar fruto, fazer frutificar», como consequência da conversão ou mudança operada na nossa vida.

É agora mais fácil deixar entrar em nós a força da parábola de Jesus, contada a gente habituada apenas a dizer, dizer, dizer… Falam, falam… mas não vão para a Vinha. O homem e pai da parábola é Deus. A vinha é d´Ele, mas é também nossa. Nunca se fala nesta parábola, da «minha» vinha. A vinha é, portanto, campo aberto de alegria e de liberdade, onde todos os filhos de Deus podem encontrar um espaço novo, há sempre vagas… para a filialidade e fraternidade.

É dito que este Pai tem dois filhos, que são todos os Seus filhos, diferentes, nas reações e comportamentos. Somos todos nós, nas nossas semelhanças e diferenças. Ao primeiro, o Pai diz: «Filho, vai hoje trabalhar na vinha» (Mt 21,28). Note-se o termo carinhoso «filho»; e o imperativo da liberdade «vai»; A autoridade que falta aos pais…

Vai hoje: o HOJE requer resposta pronta e inadiável; não faças para amanhã o que podes e deve fazer hoje.

O primeiro filho dá uma resposta torta e dura: «Não quero», mas emendou: «Mas, depois, arrependeu-se e foi»; O segundo filho, depois de ter ouvido o mesmo convite do seu Pai : «Eu vou, Senhor», . Mas de facto, não foi.

Como se vê, todos os filhos de Deus-Pai ouvem o mesmo convite e são tratados como filhos, importantes no seu Reino. O que nos distingue é a resposta, dada em obras e não em meras palavras “para agradar”. O que importa é o que fazemos hoje, e não o que dissemos ontem, adiando a decisão, a ação. Fez a vontade do PAI, não o que disse que sim, mas só de palavras, mas o que nas obras mudou o não em SIM.

É aqui que aparecem os publicanos e as prostitutas:  Estes ouviram João e ouvem agora Jesus, e estão a mudar a sua vida (Mt 21,31-32: Asseguro-vos que os publicanos e as prostitutas entrarão antes que vós no reino de Deus».)! O Autor destas páginas deslumbrantes, Mateus, sabe do que fala, pois, era um publicano. E agora é um Apóstolo e Evangelista. E nós?

Padre Frei Isidro Lamelas, OFM 

Sem comentários:

Enviar um comentário