Homilia
de Frei Isidro Lamelas (27º Domingo do T. Comum) – Igreja do Seminário
«Que
vos parece?
Mais uma parábola de Jesus, dita aos «chefes dos
sacerdotes» e aos «anciãos» do povo.
Outra vez a imagem da vinha: da vida, do reino…
Outra vez o nosso testemunho e compromisso e vida a ser
questionado: que vos parece?
Que fazemos da vida? Qual o nosso lugar, na Vinha, no
mundo, na Igreja, no Reino?
1. Já
o profeta Ezequiel nos convidava a assumir, com verdade e coerência, a nossa
responsabilidade pelos nossos gestos de egoísmo e de auto-suficiência em
relação a Deus e em relação aos irmãos. Muitas vezes “a culpa morre solteira”.
Há homens e mulheres que não têm o mínimo para viver dignamente? A culpa é da
conjuntura económica internacional; é do governo… ou até de Deus. Há guerras e
violência; há injustiça? A culpa é dos tribunais, do sistema; talvez de Deus: A maneira de proceder do Senhor não é justa?.
A minha comunidade cristã está dividida, e não testemunha suficientemente o
amor de Jesus? A culpa é do Papa, ou do bispo, ou dos padres… se a culpa não é
de Deus, é do diabo…
-E a minha culpa? O que é que eu faço? E
as minhas omissões? Não terei, muitas vezes, a minha quota-parte de responsabilidades
em tantas situações negativas com que, dia a dia, convivo pacificamente? Não
precisarei de mudar, de me “converter”?
No Evangelho Jesus dirige-se, de novo aos chefes da
religião e referências na vida pública, mas também aos “católicos praticantes”
que dizem mas não fazem, que rezam mas não vivem; que pregam mas não dão
exemplo.
Somos interpelados por Jesus: «Que vos parece?»; «Qual dos dois fez a vontade do Pai?».
Os fariseus aparecem no Evangelho de Mateus como aqueles
que «dizem, mas não fazem» (Mt 23,3).
É o farisaísmo… O «Fazer», em
oposição a dizer, é um tema
fundamental em Mateus, assim expresso
por Jesus no discurso programático da Montanha: «Nem todo aquele que diz: “Senhor, Senhor” entrará no Reino dos Céus,
mas aquele que faz a vontade do Meu Pai que está nos Céus» (Mt 7,21).
Mais ainda: neste Evangelho de Mateus, o verdadeiro «fazer» traduz-se em «dar fruto, fazer frutificar», como
consequência da conversão ou mudança operada na nossa vida.
É agora mais fácil deixar entrar em nós a força da parábola
de Jesus, contada a gente habituada apenas a dizer, dizer, dizer… Falam, falam… mas não vão para a Vinha. O
homem e pai da parábola é Deus. A vinha é d´Ele, mas é também nossa. Nunca se fala nesta parábola, da
«minha» vinha. A vinha é, portanto, campo aberto de alegria e de liberdade,
onde todos os filhos de Deus podem
encontrar um espaço novo, há sempre vagas… para a filialidade e fraternidade.
É dito que este Pai tem dois filhos, que são todos os Seus
filhos, diferentes, nas reações e comportamentos. Somos todos nós, nas nossas
semelhanças e diferenças. Ao primeiro, o Pai diz: «Filho, vai hoje trabalhar na vinha» (Mt 21,28). Note-se o termo
carinhoso «filho»; e o imperativo da
liberdade «vai»; A autoridade que
falta aos pais…
Vai hoje: o HOJE requer
resposta pronta e inadiável; não faças para amanhã o que podes e deve fazer
hoje.
O primeiro filho dá uma resposta torta e dura: «Não quero»,
mas emendou: «Mas, depois, arrependeu-se e foi»; O segundo filho, depois de ter
ouvido o mesmo convite do seu Pai : «Eu vou, Senhor», . Mas de facto, não foi.
Como se vê, todos os
filhos de Deus-Pai ouvem o mesmo convite e são tratados como filhos,
importantes no seu Reino. O que nos distingue é a resposta, dada em obras e não
em meras palavras “para agradar”. O que importa é o que fazemos hoje, e não o
que dissemos ontem, adiando a decisão, a ação. Fez a vontade do PAI, não o que
disse que sim, mas só de palavras, mas o que nas obras mudou o não em SIM.
É aqui que aparecem os publicanos e as prostitutas: Estes ouviram João e ouvem agora Jesus, e
estão a mudar a sua vida (Mt 21,31-32: Asseguro-vos
que os publicanos e as prostitutas entrarão antes que vós no reino de Deus».)!
O Autor destas páginas deslumbrantes, Mateus, sabe do que fala, pois, era um
publicano. E agora é um Apóstolo e Evangelista. E nós?
Padre Frei Isidro Lamelas, OFM
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