Retalhos Como Francisco e Clara de Assis, a Fraternidade a todos saúda em Paz e Bem!Retalhos

21 de janeiro de 2013

A Alegria de Acreditar no Evangelho


Alegria de acreditar no Evangelho

Cremos que o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo é o “sumo bem, o bem eterno, donde procede todo o bem, e sem o qual não há bem algum.” (PPN). A alegria de acreditar e de viver o Evangelho é dom de Deus ao Homem que O procura e encontra. O Evangelho capacita o Homem a seguir em frente e contra tudo e todos é rosa-dos-ventos, estrela polar, sol sem ocaso e porto seguro. Podem vir os ventos, as chuvas e as marés que nada podem contra o Homem que habita o Evangelho, “o sumo bem, o bem completo.” (LH). A ninguém é recusado o Evangelho, a todos se oferece, mas poucos o vivem. O Evangelho só se encontra no Evangelho. O poder, o ter e o prazer do mundo não é o acesso a seguir até ao Evangelho. Há quem esmole o Evangelho. Há quem venda o Evangelho. Há quem cometa homicídios, roubos e toda a espécie de crimes por causa do Evangelho. Há quem compre o Evangelho. Mas o que se compra e vende e rouba e espolia não é o Evangelho. O Evangelho não se pode vender, nem roubar e muito menos espoliar porque o Evangelho é “a plenitude do bem, todo o bem, o bem completo, o verdadeiro e sumo bem" (1R). O Evangelho não se dá entre nós, os soberbos, ladrões, gananciosos, adúlteros e miseráveis. O Evangelho dá-O Deus, pela caridade, aos Felizes. O Evangelho é esperança que não engana é bondade que recria. É rocha em que assenta a vida em plenitude. É vento fecundo. É Espirito que sopra onde e como quer. O Evangelho escapa à realidade porque está para além dela. O Evangelho promete e realiza todos os bens porque é “a plenitude do bem, todo o bem, o bem completo, o verdadeiro e sumo bem" (1R). O Evangelho dá-se, acolhe-se, sofre-se, aceita-se, professa-se, celebra-se e anuncia-se porque no e no antes e depois do mundo o Evangelho vive-se em Igreja, em Fraternidade, na unidade da Trindade.

Este texto é um eco do encontro da Fraternidade do mês de janeiro subordinado ao tema “Vocação Franciscana” e ao Plano de Vida e Ação para o corrente ano pastoral, “Professar, celebrar, viver e rezar a fé no Evangelho”. Ilustra-se o mesmo com um texto belíssimo da Legenda Perusina (LP) sobre a doação de uma Bíblia para venda, ordenada por S. Francisco, para prover às necessidades de uma mãe que desejava viver o Evangelho.

Na Porciúncula, manda dar uma Bíblia à mãe de dois frades que veio pedir-lhe esmola


56. 1 Outra vez, estando em Santa Maria da Porciúncula, uma pobre mulher idosa que tinha dois filhos na Ordem, veio ao con-vento pedir esmola ao bem-aventurado Francisco, porque nesse ano ela não tinha de que viver. 2 O Santo perguntou a Frei Pedro Catânio, que era então Ministro Geral: «Podemos encontrar alguma coisa para esta nossa mãe?» 3 Ele dizia que a mãe dum frade era mãe dele e de todos os frades da Ordem.


4 Frei Pedro respondeu: «Em casa não temos nada para lhe dar, sobretudo porque é necessário esmola considerável para a livrar das suas dificuldades. 5 Na igreja temos só um Novo Testamento, por onde lemos as lições de matinas». 6 Naquele tempo os frades não tinham breviários; e saltérios, apenas alguns.


7 «Pois bem, replicou o bem-aventurado Francisco, dá à nossa mãe o Novo Testamento; que o venda, para prover às suas necessidades. Estou certo que dá-lo é mais do agrado do Senhor e da Santíssima Virgem, do que lê-lo». E deram-Ihe o livro.


Do bem-aventurado Francisco pode-se dizer e escrever o que se diz de Job: «Desde o ventre de minha mãe, nasceu e cresceu comigo a caridade».

9 A nós, que vivemos com ele, ser-nos-ia difícil escrever e narrar, não só o que nos foi contado por outros, como o que vimos com os nossos olhos, no que respeita à sua bondade para com os pobres.

9 de janeiro de 2013

Semana de Oração pela Vocação Franciscana 2013


"Alegria de Acreditar"



Publica-se a mensagem que recebemos da FRAJUVOC por ocasião da Semana de Oração pela Vocação Franciscana 2013.


"Estimadas Irmãs e Irmãos da Família Franciscana Portuguesa,


Em pleno espírito celebrativo do Ano da Fé, iniciamos a Semana de oração pela Vocação Franciscana, que inicia no dia 9 e termina a 16 de janeiro.
A alegria do Senhor é a nossa força (Ne 8, 10) e fonte da nossa alegria é o Senhor, para Quem “caminhamos firmes na fé, alegres na esperança e perseverantes na oração (cf. Rom 12, 12).
Que em cada fraternidade, comunidade, grupos ou movimentos que assistimos se criem espaços de oração,
que favoreçam o verdadeiro clima de partilha, para que a nossa vocação seja celebrada e partilhada num afectuoso clima de amor fraterno (cf. Rom 12, 10).


“Caminhamos pela fé” (2Cor 5, 7) como peregrinos e estrangeiros neste mundo (cf. Rb 6 e T 24),
chamados a fixar os nossos olhos em Cristo, espelho onde se reflecte o esplendor da eternidade (cf 3CCL).
Este ano, propomos algumas propostas celebrativas ou simples esquemas de oração que, individual ou em grupo/comunidade, nos poderão ajudar a rezar a alegria de sermos irmãos.


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LEITURA ORANTE DA PALAVRA ║



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Leitura Orante da Palavra em chave franciscana - "A Palavra, alimento da Vocação"


– É UMA PROPOSTA de LECTIO DIVINA que podes realizar individualmente ou em grupo comunidade todos os dias durante a Semana:


◈VÊ: [Podes fazer Download e Imprimires, basta tomares atenção aos ícones no lado inferior direito da pag.]




▼DOWNLOAD & ♬ESCUTA No caso de estares só ou ser difícil de escolher músicas para acompanhares o teu/vosso momento de leitura orante da Palavra de Deus podes sempre fazer o Download das músicas que encontras no final deste caderno neste link:




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MARCADOR DIÁRIO ║



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Marcador Diário -“Caminhamos na fé”


- É UMA PROPOSTA DE SIMPLES ORAÇÕES à luz das Exortações de S. Francisco para serem rezadas individualmente ou comunitariamente nas fraternidades, comunidades, grupos ou movimentos no início do dia, (Ofício de Leituras / Laudes), no inicio da refeição ou num momento de descanso no trabalho.


◈VÊ: [Podes fazer Download e Imprimires, basta tomares atenção aos ícones no lado inferior direito da pag.]




“Caminhamos pela fé” (2Cor 5, 7) como peregrinos e estrangeiros neste mundo (cf. Rb 6 e T 24),
chamados a fixar os nossos olhos em Cristo, espelho onde se reflecte o esplendor da eternidade (cf 3CCL).


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VIGÍLIA VOCACIONAL ║


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Vigília Vocacional – “Permanecer na Alegria


– É UMA PROPOSTA DE UMA VIGÍLIA a realizares com a tua fraternidade, comunidade,
grupo ou movimento num dia a acertarem durante a SOVF’13.


◈VÊ: [Podes fazer Download e Imprimires, basta tomares atenção aos ícones no lado inferior direito da pag.]




▼DOWNLOAD & ♬ESCUTA No caso de ser difícil cantar ou tenham dificuldades em encontrar cânticos


podes sempre fazer Download das músicas indicadas no esquema da Vigília neste link:




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ORAÇÃO VOCACIONAL ║



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Pagela com a Oração Vocacional ‘2013.


◈VÊ: [Podes fazer Download e Imprimires, basta tomares atenção aos ícones no lado inferior direito da pag.]




Que a Oração, acto que fortalece a experiência pessoal e comunitária de fé , como dom do Espírito Santo,
seja húmus nas nossas relações fraternas e se torne num instrumento favorável no «cuidar da própria vocação» e no carinho que manifestamos para com as vocações que o Senhor continua hoje a enviar-nos.


Com os melhores cumprimentos, nos despedimos com votos de paz e bem!


Leiria, 07 de Janeiro 2013


FRAJUVOC
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:::: SEMANA de ORAÇÃO pela VOCAÇÃO FRANCISCANA ::::

3 de janeiro de 2013

2013 - Mensagem de Ano Novo de Bento XVI

Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa Paz!




MENSAGEM DE SUA SANTIDADE

BENTO XVI

PARA A CELEBRAÇÃO DO

XLVI DIA MUNDIAL DA PAZ

1 DE JANEIRO DE 2013



BEM-AVENTURADOS OS OBREIROS DA PAZ

1. Cada ano novo traz consigo a expectativa de um mundo melhor. Nesta perspectiva, peço a Deus, Pai da humanidade, que nos conceda a concórdia e a paz a fim de que possam tornar-se realidade, para todos, as aspirações duma vida feliz e próspera.

À distância de 50 anos do início do Concílio Vaticano II, que permitiu dar mais força à missão da Igreja no mundo, anima constatar como os cristãos, Povo de Deus em comunhão com Ele e caminhando entre os homens, se comprometem na história compartilhando alegrias e esperanças, tristezas e angústias,[1] anunciando a salvação de Cristo e promovendo a paz para todos.

Na realidade o nosso tempo, caracterizado pela globalização, com seus aspectos positivos e negativos, e também por sangrentos conflitos ainda em curso e por ameaças de guerra, requer um renovado e concorde empenho na busca do bem comum, do desenvolvimento de todo o homem e do homem todo.

Causam apreensão os focos de tensão e conflito causados por crescentes desigualdades entre ricos e pobres, pelo predomínio duma mentalidade egoísta e individualista que se exprime inclusivamente por um capitalismo financeiro desregrado. Além de variadas formas de terrorismo e criminalidade internacional, põem em perigo a paz aqueles fundamentalismos e fanatismos que distorcem a verdadeira natureza da religião, chamada a favorecer a comunhão e a reconciliação entre os homens.

E no entanto as inúmeras obras de paz, de que é rico o mundo, testemunham a vocação natural da humanidade à paz. Em cada pessoa, o desejo de paz é uma aspiração essencial e coincide, de certo modo, com o anelo por uma vida humana plena, feliz e bem sucedida. Por outras palavras, o desejo de paz corresponde a um princípio moral fundamental, ou seja, ao dever-direito de um desenvolvimento integral, social, comunitário, e isto faz parte dos desígnios que Deus tem para o homem. Na verdade, o homem é feito para a paz, que é dom de Deus.

Tudo isso me sugeriu buscar inspiração, para esta Mensagem, às palavras de Jesus Cristo: «Bem-aventurados os obreiros da paz, porque serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 9).

A bem-aventurança evangélica

2. As bem-aventuranças proclamadas por Jesus (cf. Mt 5, 3-12; Lc 6, 20-23) são promessas. Com efeito, na tradição bíblica, a bem-aventurança é um género literário que traz sempre consigo uma boa nova, ou seja um evangelho, que culmina numa promessa. Assim, as bem-aventuranças não são meras recomendações morais, cuja observância prevê no tempo devido – um tempo localizado geralmente na outra vida – uma recompensa, ou seja, uma situação de felicidade futura; mas consistem sobretudo no cumprimento duma promessa feita a quantos se deixam guiar pelas exigências da verdade, da justiça e do amor. Frequentemente, aos olhos do mundo, aqueles que confiam em Deus e nas suas promessas aparecem como ingénuos ou fora da realidade; ao passo que Jesus lhes declara que já nesta vida – e não só na outra – se darão conta de serem filhos de Deus e que, desde o início e para sempre, Deus está totalmente solidário com eles. Compreenderão que não se encontram sozinhos, porque Deus está do lado daqueles que se comprometem com a verdade, a justiça e o amor. Jesus, revelação do amor do Pai, não hesita em oferecer-Se a Si mesmo em sacrifício. Quando se acolhe Jesus Cristo, Homem-Deus, vive-se a jubilosa experiência de um dom imenso: a participação na própria vida de Deus, isto é, a vida da graça, penhor duma vida plenamente feliz. De modo particular, Jesus Cristo dá-nos a paz verdadeira, que nasce do encontro confiante do homem com Deus.

A bem-aventurança de Jesus diz que a paz é, simultaneamente, dom messiânico e obra humana. Na verdade, a paz pressupõe um humanismo aberto à transcendência; é fruto do dom recíproco, de um mútuo enriquecimento, graças ao dom que provém de Deus e nos permite viver com os outros e para os outros. A ética da paz é uma ética de comunhão e partilha. Por isso, é indispensável que as várias culturas de hoje superem antropologias e éticas fundadas sobre motivos teorico-práticos meramente subjectivistas e pragmáticos, em virtude dos quais as relações da convivência se inspiram em critérios de poder ou de lucro, os meios tornam-se fins, e vice-versa, a cultura e a educação concentram-se apenas nos instrumentos, na técnica e na eficiência. Condição preliminar para a paz é o desmantelamento da ditadura do relativismo e da apologia duma moral totalmente autónoma, que impede o reconhecimento de quão imprescindível seja a lei moral natural inscrita por Deus na consciência de cada homem. A paz é construção em termos racionais e morais da convivência, fundando-a sobre um alicerce cuja medida não é criada pelo homem, mas por Deus. Como lembra o Salmo 29, « o Senhor dá força ao seu povo; o Senhor abençoará o seu povo com a paz » (v. 11).

A paz: dom de Deus e obra do homem

3. A paz envolve o ser humano na sua integridade e supõe o empenhamento da pessoa inteira: é paz com Deus, vivendo conforme à sua vontade; é paz interior consigo mesmo, e paz exterior com o próximo e com toda a criação. Como escreveu o Beato João XXIII na Encíclica Pacem in terris – cujo cinquentenário terá lugar dentro de poucos meses –, a paz implica principalmente a construção duma convivência humana baseada na verdade, na liberdade, no amor e na justiça.[2] A negação daquilo que constitui a verdadeira natureza do ser humano, nas suas dimensões essenciais, na sua capacidade intrínseca de conhecer a verdade e o bem e, em última análise, o próprio Deus, põe em perigo a construção da paz. Sem a verdade sobre o homem, inscrita pelo Criador no seu coração, a liberdade e o amor depreciam-se, a justiça perde a base para o seu exercício.

Para nos tornarmos autênticos obreiros da paz, são fundamentais a atenção à dimensão transcendente e o diálogo constante com Deus, Pai misericordioso, pelo qual se implora a redenção que nos foi conquistada pelo seu Filho Unigénito. Assim o homem pode vencer aquele germe de obscurecimento e negação da paz que é o pecado em todas as suas formas: egoísmo e violência, avidez e desejo de poder e domínio, intolerância, ódio e estruturas injustas.

A realização da paz depende sobretudo do reconhecimento de que somos, em Deus, uma úni-ca família humana. Esta, como ensina a Encíclica Pacem in terris, está estruturada mediante relações interpessoais e instituições sustentadas e anima¬das por um «nós» comunitário, que implica uma ordem moral, interna e externa, na qual se reconheçam sinceramente, com verdade e justiça, os próprios direitos e os próprios deveres para com os demais. A paz é uma ordem de tal modo vivificada e integrada pelo amor, que se sentem como próprias as necessidades e exigências alheias, que se fazem os outros comparticipantes dos próprios bens e que se estende sempre mais no mundo a comunhão dos valores espirituais. É uma ordem realizada na liberdade, isto é, segundo o modo que corresponde à dignidade de pessoas que, por sua própria natureza racional, assumem a responsabilidade do próprio agir.[3]

A paz não é um sonho, nem uma utopia; a paz é possível. Os nossos olhos devem ver em profundidade, sob a superfície das aparências e dos fenómenos, para vislumbrar uma realidade positiva que existe nos corações, pois cada homem é criado à imagem de Deus e chamado a crescer contribuindo para a edificação dum mundo novo. Na realidade, através da encarnação do Filho e da redenção por Ele operada, o próprio Deus entrou na história e fez surgir uma nova criação e uma nova aliança entre Deus e o homem (cf. Jr 31, 31-34), oferecendo-nos a possibilidade de ter « um coração novo e um espírito novo » (cf. Ez 36, 26).

Por isso mesmo, a Igreja está convencida de que urge um novo anúncio de Jesus Cristo, primeiro e principal factor do desenvolvimento integral dos povos e também da paz. Na realidade, Jesus é a nossa paz, a nossa justiça, a nossa reconciliação (cf. Ef 2, 14; 2 Cor 5, 18). O obreiro da paz, segundo a bem-aventurança de Jesus, é aquele que procura o bem do outro, o bem pleno da alma e do corpo, no tempo presente e na eternidade.

A partir deste ensinamento, pode-se deduzir que cada pessoa e cada comunidade – religiosa, civil, educativa e cultural – é chamada a trabalhar pela paz. Esta consiste, principalmente, na realização do bem comum das várias sociedades, primárias e intermédias, nacionais, internacionais e a mundial. Por isso mesmo, pode-se supor que os caminhos para a implementação do bem comum sejam também os caminhos que temos de seguir para se obter a paz.

Obreiros da paz são aqueles que amam, defendem e promovem a vida na sua integridade

4. Caminho para a consecução do bem comum e da paz é, antes de mais nada, o respeito pela vida humana, considerada na multiplicidade dos seus aspectos, a começar da concepção, passando pelo seu desenvolvimento até ao fim natural. Assim, os verdadeiros obreiros da paz são aqueles que amam, defendem e promovem a vida humana em todas as suas dimensões: pessoal, comunitária e transcendente. A vida em plenitude é o ápice da paz. Quem deseja a paz não pode tolerar atentados e crimes contra a vida.

Aqueles que não apreciam suficientemente o valor da vida humana, chegando a defender, por exemplo, a liberalização do aborto, talvez não se dêem conta de que assim estão a propor a prossecução duma paz ilusória. A fuga das responsabilidades, que deprecia a pessoa humana, e mais ainda o assassinato de um ser humano indefeso e inocente nunca poderão gerar felicidade nem a paz. Na verdade, como se pode pensar em realizar a paz, o desenvolvimento integral dos povos ou a própria salvaguarda do ambiente, sem estar tutelado o direito à vida dos mais frágeis, a começar pelos nascituros? Qualquer lesão à vida, de modo especial na sua origem, provoca inevitavelmente danos irreparáveis ao desenvolvimento, à paz, ao ambiente. Tão-pouco é justo codificar ardilosamente falsos direitos ou opções que, baseados numa visão redutiva e relativista do ser humano e com o hábil recurso a expressões ambíguas tendentes a favorecer um suposto direito ao aborto e à eutanásia, ameaçam o direito fundamental à vida.

Também a estrutura natural do matrimónio, como união entre um homem e uma mulher, deve ser reconhecida e promovida contra as tentativas de a tornar, juridicamente, equivalente a formas radicalmente diversas de união que, na realidade, a prejudicam e contribuem para a sua desestabilização, obscurecendo o seu carácter peculiar e a sua insubstituível função social.

Estes princípios não são verdades de fé, nem uma mera derivação do direito à liberdade religiosa; mas estão inscritos na própria natureza humana – sendo reconhecíveis pela razão – e consequentemente comuns a toda a humanidade. Por conseguinte, a acção da Igreja para os promover não tem carácter confessional, mas dirige-se a todas as pessoas, independentemente da sua filiação religiosa. Tal acção é ainda mais necessária quando estes princípios são negados ou mal entendidos, porque isso constitui uma ofensa contra a verdade da pessoa humana, uma ferida grave infligida à justiça e à paz.

Por isso, uma importante colaboração para a paz é dada também pelos ordenamentos jurídicos e a administração da justiça quando reconhecem o direito ao uso do princípio da objecção de consciência face a leis e medidas governamentais que atentem contra a dignidade humana, como o aborto e a eutanásia.

Entre os direitos humanos basilares mesmo para a vida pacífica dos povos, conta-se o direito dos indivíduos e comunidades à liberdade religiosa. Neste momento histórico, torna-se cada vez mais importante que este direito seja promovido não só negativamente, como liberdade de – por exemplo, de obrigações e coacções quanto à liberdade de escolher a própria religião –, mas também positivamente, nas suas várias articulações, como liberdade para: por exemplo, para testemunhar a própria religião, anunciar e comunicar a sua doutrina; para realizar actividades educativas, de beneficência e de assistência que permitem aplicar os preceitos religiosos; para existir e actuar como organismos sociais, estruturados de acordo com os princípios doutrinais e as finalidades institucionais que lhe são próprias. Infelizmente vão-se multiplicando, mesmo em países de antiga tradição cristã, os episódios de intolerância religiosa, especialmente contra o cristianismo e aqueles que se limitam a usar os sinais identificadores da própria religião.

O obreiro da paz deve ter presente também que as ideologias do liberalismo radical e da tecnocracia insinuam, numa percentagem cada vez maior da opinião pública, a convicção de que o crescimento económico se deve conseguir mesmo à custa da erosão da função social do Estado e das redes de solidariedade da sociedade civil, bem como dos direitos e deveres sociais. Ora, há que considerar que estes direitos e deveres são fundamentais para a plena realização de outros, a começar pelos direitos civis e políticos.

E, entre os direitos e deveres sociais actualmente mais ameaçados, conta-se o direito ao trabalho. Isto é devido ao facto, que se verifica cada vez mais, de o trabalho e o justo reconhecimento do estatuto jurídico dos trabalhadores não serem adequadamente valorizados, porque o crescimento económico dependeria sobretudo da liberdade total dos mercados. Assim o trabalho é considerado uma variável dependente dos mecanismos económicos e financeiros. A propósito disto, volto a afirmar que não só a dignidade do homem mas também razões económicas, sociais e políticas exigem que se continue « a perseguir como prioritário o objectivo do acesso ao trabalho para todos, ou da sua manutenção ».[4] Para se realizar este ambicioso objectivo, é condição preliminar uma renovada apreciação do trabalho, fundada em princípios éticos e valores espirituais, que revigore a sua concepção como bem fundamental para a pessoa, a família, a sociedade. A um tal bem corresponde um dever e um direito, que exigem novas e ousadas políticas de trabalho para todos.

Construir o bem da paz através de um novo modelo de desenvolvimento e de economia

5. De vários lados se reconhece que, hoje, é necessário um novo modelo de desenvolvimento e também uma nova visão da economia. Quer um desenvolvimento integral, solidário e sustentável, quer o bem comum exigem uma justa escala de bens-valores, que é possível estruturar tendo Deus como referência suprema. Não basta ter à nossa disposição muitos meios e muitas oportunidades de escolha, mesmo apreciáveis; é que tanto os inúmeros bens em função do desenvolvimento como as oportunidades de escolha devem ser empregues de acordo com a perspectiva duma vida boa, duma conduta recta, que reconheça o primado da dimensão espiritual e o apelo à realização do bem comum. Caso contrário, perdem a sua justa valência, acabando por erguer novos ídolos.

Para sair da crise financeira e económica actual, que provoca um aumento das desigualdades, são necessárias pessoas, grupos, instituições que promovam a vida, favorecendo a criatividade humana para fazer da própria crise uma ocasião de discernimento e de um novo modelo económico. O modelo que prevaleceu nas últimas décadas apostava na busca da maximização do lucro e do consumo, numa óptica individualista e egoísta que pretendia avaliar as pessoas apenas pela sua capacidade de dar resposta às exigências da competitividade. Olhando de outra perspectiva, porém, o sucesso verdadeiro e duradouro pode ser obtido com a dádiva de si mesmo, dos seus dotes intelectuais, da própria capacidade de iniciativa, já que o desenvolvimento económico suportável, isto é, autenticamente humano tem necessidade do princípio da gratuidade como expressão de fraternidade e da lógica do dom. [5] Concretamente na actividade económica, o obreiro da paz aparece como aquele que cria relações de lealdade e reciprocidade com os colaboradores e os colegas, com os clientes e os usuários. Ele exerce a actividade económica para o bem comum, vive o seu compromisso como algo que ultrapassa o interesse próprio, beneficiando as gerações presentes e futuras. Deste modo sente-se a trabalhar não só para si mesmo, mas também para dar aos outros um futuro e um trabalho dignos.

No âmbito económico, são necessárias – especialmente por parte dos Estados – políticas de desenvolvimento industrial e agrícola que tenham a peito o progresso social e a universalização de um Estado de direito e democrático. Fundamental e imprescindível é também a estruturação ética dos mercados monetário, financeiro e comercial; devem ser estabilizados e melhor coordenados e controlados, de modo que não causem dano aos mais pobres. A solicitude dos diversos obreiros da paz deve ainda concentrar-se – com mais determinação do que tem sido feito até agora – na consideração da crise alimentar, muito mais grave do que a financeira. O tema da segurança das provisões alimentares voltou a ser central na agenda política internacional, por causa de crises relacionadas, para além do mais, com as bruscas oscilações do preço das matérias-primas agrícolas, com comportamentos irresponsáveis por parte de certos agentes económicos e com um controle insuficiente por parte dos Governos e da comunidade internacional. Para enfrentar semelhante crise, os obreiros da paz são chamados a trabalhar juntos em espírito de solidariedade, desde o nível local até ao internacional, com o objectivo de colocar os agricultores, especialmente nas pequenas realidades rurais, em condições de poderem realizar a sua actividade de modo digno e sustentável dos pontos de vista social, ambiental e económico.

Educação para uma cultura da paz: o papel da família e das instituições

6. Desejo veementemente reafirmar que os diversos obreiros da paz são chamados a cultivar a paixão pelo bem comum da família e pela justiça social, bem como o empenho por uma válida educação social.

Ninguém pode ignorar ou subestimar o papel decisivo da família, célula básica da sociedade, dos pontos de vista demográfico, ético, pedagógico, económico e político. Ela possui uma vocação natural para promover a vida: acompanha as pessoas no seu crescimento e estimula-as a enriquecerem-se entre si através do cuidado recíproco. De modo especial, a família cristã guarda em si o primordial projecto da educação das pessoas segundo a medida do amor divino. A família é um dos sujeitos sociais indispensáveis para a realização duma cultura da paz. É preciso tutelar o direito dos pais e o seu papel primário na educação dos filhos, nomeadamente nos âmbitos moral e religioso. Na família, nascem e crescem os obreiros da paz, os futuros promotores duma cultura da vida e do amor. [6]

Nesta tarefa imensa de educar para a paz, estão envolvidas de modo particular as comunidades dos crentes. A Igreja toma parte nesta grande responsabilidade através da nova evangelização, que tem como pontos de apoio a conversão à verdade e ao amor de Cristo e, consequentemente, o renascimento espiritual e moral das pessoas e das sociedades. O encontro com Jesus Cristo plasma os obreiros da paz, comprometendo-os na comunhão e na superação da injustiça.

Uma missão especial em prol da paz é desempenhada pelas instituições culturais, escolásticas e universitárias. Delas se requer uma notável contribuição não só para a formação de novas gerações de líderes, mas também para a renovação das instituições públicas, nacionais e internacionais. Podem também contribuir para uma reflexão científica que radique as actividades económicas e financeiras numa sólida base antropológica e ética. O mundo actual, particularmente o mundo da política, necessita do apoio dum novo pensamento, duma nova síntese cultural, para superar tecnicismos e harmonizar as várias tendências políticas em ordem ao bem comum. Este, visto como conjunto de relações interpessoais e instituições positivas ao serviço do crescimento integral dos indivíduos e dos grupos, está na base de toda a verdadeira educação para a paz.

Uma pedagogia do obreiro da paz

7. Concluindo, há necessidade de propor e promover uma pedagogia da paz. Esta requer uma vida interior rica, referências morais claras e válidas, atitudes e estilos de vida adequados. Com efeito, as obras de paz concorrem para realizar o bem co¬mum e criam o interesse pela paz, educando para ela. Pensamentos, palavras e gestos de paz criam uma mentalidade e uma cultura da paz, uma atmos¬fera de respeito, honestidade e cordialidade. Por isso, é necessário ensinar os homens a amarem-se e educarem-se para a paz, a viverem mais de benevolência que de mera tolerância. Incentivo fundamental será « dizer não à vingança, reconhecer os próprios erros, aceitar as desculpas sem as buscar e, finalmente, perdoar »,[7] de modo que os erros e as ofensas possam ser verdadeiramente reconhecidos a fim de caminhar juntos para a reconciliação. Isto requer a difusão duma pedagogia do perdão. Na realidade, o mal vence-se com o bem, e a justiça deve ser procurada imitando a Deus Pai que ama todos os seus filhos (cf. Mt 5, 21-48). É um trabalho lento, porque supõe uma evolução espiritual, uma educação para os valores mais altos, uma visão nova da história humana. É preciso renunciar à paz falsa, que prometem os ídolos deste mundo, e aos perigos que a acompanham; refiro-me à paz que torna as consciências cada vez mais insensíveis, que leva a fechar-se em si mesmo, a uma existência atrofiada vivida na indiferença. Ao contrário, a pedagogia da paz implica serviço, compaixão, solidariedade, coragem e perseverança.

Jesus encarna o conjunto destas atitudes na sua vida até ao dom total de Si mesmo, até «perder a vida» (cf. Mt 10, 39; Lc 17, 33; Jo 12, 25). E promete aos seus discípulos que chegarão, mais cedo ou mais tarde, a fazer a descoberta extraordinária de que falamos no início: no mundo, está presente Deus, o Deus de Jesus Cristo, plenamente solidário com os homens. Neste contexto, apraz-me lembrar a oração com que se pede a Deus para fazer de nós instrumentos da sua paz, a fim de levar o seu amor onde há ódio, o seu perdão onde há ofensa, a verdadeira fé onde há dúvida. Por nossa vez pedimos a Deus, juntamente com o Beato João XXIII, que ilumine os responsáveis dos povos para que, junto com a solicitude pelo justo bem-estar dos próprios concidadãos, garantam e defendam o dom precioso da paz; inflame a vontade de todos para superarem as barreiras que dividem, reforçarem os vínculos da caridade mútua, compreenderem os outros e perdoarem aos que lhes tiverem feito injúrias, de tal modo que, em virtude da sua acção, todos os povos da terra se tornem irmãos e floresça neles e reine para sempre a tão suspirada paz.[8]

Com esta invocação, faço votos de que todos possam ser autênticos obreiros e construtores da paz, para que a cidade do homem cresça em concórdia fraterna, na prosperidade e na paz.

Vaticano, 8 de Dezembro de 2012.



BENEDICTUS PP XVI



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[1] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 1.4

[2] Cf. Carta enc. Pacem in terris (11 de Abril de 1963): AAS 55 (1963), 265-266.7

[3] Cf. ibidem: o. c., 266.9

[4] Bento XVI, Carta enc. Caritas in veritate (29 de Junho de 2009), 32: AAS 101 (2009), 666-667.13

[5] Cf. ibid., 34.36: o. c., 668-670.671-672.15

[6] Cf. João Paulo II, Mensagem para o Dia Mundial da paz de 1994 (8 de Dezembro de 1993): AAS 86 (1994), 156-162.17

[7] Bento XVI, Discurso por ocasião do Encontro com os membros do Governo, das instituições da República, com o Corpo Diplomático, os líderes religiosos e representantes do mundo da cultura (Baabda-Líbano, 15 de Setembro de 2012): L’Osservatore Romano (ed. port. de 23/IX/ 2012), 7.18

[8] Cf. Carta enc. Pacem in terris (11 de Abril de 1963): AAS 55 (1963), 304.19





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25 de dezembro de 2012

Natal do Senhor

21 de dezembro de 2012

Encontro com Cristo, da Quaresma ao Advento

Encontro com Cristo - da Quaresma ao Advento e do Advento à Quaresma

É tempo de oração, de reflexão, de partilha, de dar espaço a Deus no mundo em que vivemos. De recomeço em recomeço é possível abrirmo-nos à dimensão espiritual da vida pessoal e fraterna e glorificar o Senhor, em Jesus Cristo, que incessantemente, como na ceia pascal, ensina-nos a acolhe-Lo na sua Encarnação diária e quotidiana e a servi-Lo nos irmãos. Publicam-se, em tempo de Advento,  as notas que registámos do retiro quaresmal da Fraternidade. À Glória de Cristo. Ámen.          





RETIRO QUARESMAL - Padre João Lourenço

1. Tempo de oração

Salmos 91 (Deus Criador) e 8 (A majestade do Senhor e a dignidade do homem).Testamento de S. Francisco.

1.1. Construir uma dimensão fraterna de vida. Esta dimensão faz-se por, com e em Cristo. É uma disponibilidade interior. E o empenho só será sério se nos levar ao encontro com Cristo Pascal. Viver segundo a forma do Santo Evangelho é um dinamismo de procura. A OFS não é um refúgio é uma procura. Um dinamismo de procura, de despojamento de se deixar encontrar pelo Evangelho de NSJC. É um momento de encontro connosco, com Deus e com os outros. Somos uma presença no mundo mas não vinculados ao mundo. A Quaresma é um tempo de encontro connosco, de nos refazermos, de tesourada, de poda, de desladroar. É assim um tempo de encontro connosco, com Deus e com os outros.

1.2. Procuramos o quê? O consumo? A facilidade?

1.3. Francisco encontrou na misericórdia de Deus, na dor com os outros, no sofrimento dos injustiçados o Evangelho de NSJC.

1.4. A Fraternidade é um ponto de chegada e não de partida depois do encontro consigo; com Deus e com os outros.

Preces: Socorrei-nos Senhor com a vossa graça

- Conservar sem mancha os nossos corpos para que sejam digna morada do Espírito Santo

- Despertai em nós, desde a manhã, o desejo de nos sacrificarmos pelos nossos irmãos e de cumprirmos a vossa vontade em todas as atividades deste dia.

- Ensinai-nos a procurar sempre o pão da vida eterna, que Vós ofereceis cada dia.

- Interceda por nós a Mãe Santíssima, refúgio dos pecadores, para alcançarmos o perdão dos nossos pecados.

2. Tempo de reflexão

a. 1º CONFERÊNCIA - Deixa a tua terra… e parte

Sacrifício de Isaac marca o início de uma caminhada de fé. É o texto da mudança de uma forma de ser e de estar. Marca o compromisso de uma vivência pessoal.

Deixa-te para seres uma pessoa nova, uma outra realidade. Parte e eu farei de ti um anúncio, um testemunho, uma nova fraternidade. O que significa partir? Ser peregrino, desinstalado. Partir para ouvir a voz de Deus. Capacidade permanente de procura de Deus, de renúncia. Não fugir, aceitar, acolher e pôr-se a caminho. Vai à procura de uma nova terra, dos outros, da fraternidade. Este chamamento é importante, pressupõe uma liberdade interior e disponibilidade do coração.

Os caminhos de Deus requerem aceitação querida (faça-se). Aceitar partir significa criar uma dimensão espiritual de vida. A gratuidade, a generosidade da nossa entrega é a nossa grandeza. Aqui encontramos a liberdade interior para um novo mundo: o da infinitude, de um horizonte largo.

“Farei de ti…” Força da fraternidade, sinal do Reino, para sermos nós. Fraternidade plena. Deixar para nos abrirmos a Deus, à sua força. Só com ele pode ser significativo construir algo significativo. Não existem certezas.

Que a nossa sombra não seja o limite de nós próprios. Saber escutar o apelo. Ir para além de nós próprios. Aceitar o desafio capacita-nos. Ousadia e atrevimento de nos deixarmos conduzir por algo.

Discípulos: “Vinde e farei de vós pescadores de homens.”Jovem rico. Parte. Deus dá-nos uma ordem. Não há lugar para recusas. Deus impõe-se de cima. A misericórdia de Deus está sempre associada ao chamamento. A certeza de Deus é o sustentáculo da nossa caminhada. “Ap. Estou à porta e chamo se me abrires a porta entrarei em tua casa e cearei contigo.”Aceitar a vontade de Deus porque Ele nos habilita para isso. Deus providenciará. Gratuidade e disponibilidade amorosa.

Não nos podemos recriar na nossa auto – suficiência, no consumo, na fantasia, no imediato, na nossa vontade (maior ídolo), na superficialidade e no endeusarmo-nos por nada, nos amigos (manipulação). Deixar a terra árida que somos e tornarmo-nos plenos de Deus. Nós somos o primeiro Deus de nós próprios. Não aceitamos que Deus nos mostre outra terra.

A verdadeira fé ouve os apelos de Deus a partir de fora.

b. 2ª Conferência - Vai e repara a minha Igreja

Acolher o apelo para partir é fazer a experiência da paternidade divina. Refazer a Igreja significa reconstruir algo de novo. Sentiu a sua Filialidade como dom da paternidade de Deus.

Em despojamento. Agora possa dizer verdadeiramente: Meu Pai! Intimidade profunda entre Deus e Francisco. Vive esta atitude de uma forma radical. Atitude de fé e entrega. Francisco vai traduzir a Fraternidade Universal pela experiência da paternidade divina e esta realidade faz com que todos sejam irmãos. É algo que assume sem reservas. È uma dimensão radical da vida. Vai e repara a minha Igreja. Reconstrução da comunhão fraterna, uma Igreja fraterna que passasse pelos corações. Este é um apelo para nós. Deus quer reconstruir esta casa de comunhão que nós chamamos fraternidade.

Deixar que este apelo entre nas nossas vidas. Tem de ser um apelo comunitário. O Senhor envolve-nos com os outros. Nova Terra – comunhão com o Senhor, com os outros. Francisco parte à procura de uma nova identidade fraterna. Confrontar esta realidade com a nova maneira de ser. Encontramo-nos numa sociedade ferida, como muralha impenetrável que faz com que nos ignoremos uns aos outros. As tecnologias isolam-nos, não nos fazem dialogar. Olhemos o isolamento em que vivemos. Gente que perdeu a capacidade de se relacionar. Fugimos do outro. A proximidade não é real. E o pior é que o isolamento se tornou normalidade.

A fraternidade universal é expressão da paternidade divina e faz com que todos sejam irmãos. Reconstrução da comunhão fraterna. Nova terra é uma nova identidade fraterna. O grave é que o isolamento tornou-se normalidade.

Que respostas temos para esta realidade? Como vivemos no meio do nosso mundo? Como reparamos?

Tudo o que não é construído em comunhão, em fraternidade é instável. Não é verdadeiramente uma casa.

Como podemos contribuir?

-Testemunho (experiência de vida maravilhosa);

- Fraternidade (é sinal visível?)

- Espaço de construção fraterna que possa acolher e deixar-se acolher.

- As nossas fraternidades têm a marca de Francisco de Assis? Acolhemos? Não somos todos reféns da situação que vivemos? Este testemunho não tem a vitalidade que devia ter porque não agimos em sintonia.

- Agir em sintonia

- Reconstruir a partilha e a comunhão em vez da proeminência. Como acolhemos este apelo? Construir comunidade de uma forma transparente (fugimos) temos pouca humildade para acolher as ideias dos outros. Isso não é uma dimensão fraterna.

- Pouca humildade para acolher as ideias dos outros. Somos peregrinos da verdade e não detentores da verdade. Assumir as nossas fragilidades e as dos outros. Soberba, vácua presunção da verdade. Fragilidade de quem procura e busca.

A nossa vocação só se realiza pela fraternidade. Viver o Evangelho em FRATERNIDADE.

A vocação da OFS é viver o Evangelho em Fraternidade.

QUAL O MEU CONTRIBUTO NA CONSTRUÇÃO DA FRATERNIDADE? COMO ME DOU?

Voltando-nos uns para os outros para mutuamente nos amarmos como disso nos deu o exemplo o Senhor). É O EXEMPLO.

As nossas Fraternidades são um espaço de encontro com Cristo?

O outro é um irmãos em Cristo? (refazer-se uns aos outros – Empenhar-se na descoberta de caminhos novos de comunhão /reencontrarmo-nos como irmãos para ir reconstruir a sua Igreja.

Como?

Estabelecer uma relação íntima com Deus. Partir sem olhar a medos mas em entrega. Deixar-se enamorar por Cristo como Francisco. Basta-te a minha graça.

Eco do apelo de Deus à comunhão fraterna: “Amarás.” Dimensão pessoal e fraterna

As nossas Fraternidades são um espaço de encontro com Cristo?

Por onde começar?

1. Recomeçar pela dimensão fraterna (Dinamismo – o individualismo é um esconderijo, um refúgio). Procurar a verdade fraterna. Só a verdade nos empenha/desprendimento/entrega/ empenho.

2. Partilha espiritual é fundamental (condição fraterna, abertura ao outro).
3. Luta contra a resignação – Alegria da Fraternidade.

4. Atitude dinâmica, oblativa, dinâmica.

5. Obra de todos, construída por todos e aberta a todos

6. A Fraternidade não é um património é uma vida constante.

7. Formação permanente – atitude de crescimento

8. Fazer da comunhão fraterna a reconstrução da Igreja.

9. Compromisso. Exigência. Renúncia

10. Restaurar a inquietação interior (novas formas de vida).

11. Cada um é um projeto de Fraternidade e é assim que temos de aparecer no mundo.

12. O paradigma da Comunhão Fraterna é Francisco de Assis

Basta-te a minha graça (S. Paulo)

8 de dezembro de 2012

Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria


Festa da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria


"Na sua Conceição Imaculada, Maria recebeu a benção do Senhor e a misericórdia de Deus seu Salvador.”

Em homenagem à Virgem Santa Maria e a Santa Clara, “Herdeiras de uma bênção”, transcreve-se o capítulo 17 da obra de Gadi Bosh Pons, OSC, “Chamo-me CLARA DE ASSIS”, Editorial Franciscana – 2011, págs. 103 a 107

"À medida que se aproxima o final da vida, queremos comunicar a experiência adquirida com o tempo. Desejamos manifestar aos que estão próximos o que dá sentido à nossa vida. E fazemo-lo com simplicidade e com a verdade que mana do mais profundo do coração. Quando este momento de verdade chegou à nossa irmã Clara, do seu coração brotou agradecimento e bênção: “o Senhor vos abençoe e vos guarde, vos mostre o seu roste e se compadeça de vós. Volte para vós a sua face e vos dê a paz…”, palavras ternas, impregnadas de orvalho bíblico. Esta Benção que nos legou foi estímulo e apoio para viver o dia-a-dia como dom de Deus e trabalho nosso.

A bênção é para a família franciscana uma maneira de responder e se dirigir ao irmão ou irmã de quem se gosta. A nossa irmã Clara dirigiu-a às irmãs presentes e às que viriam depois, quer dizer, a todas as clarissas do orbe. Com a bênção enlaça o passado, o presente e o futuro num único movimento que nasce de Deus, fonte de vida, sabendo que só Deus pode tornar fecundo qualquer gesto de fraternidade. O coração de Clara e das irmãs une-se ao Pai, ao Filho e ao Espírito, à Vida, à Luz e ao Amor. Se ela se considera a si mesma como a pequena planta de Francisco, irmã e mãe nossa, isso significa que tem consciência da sua missão de ser leito de bênção para os outros. Deseja que cheguem a todos as bençãos espirituais do Deus de entranhas de misericórdia que não cessa de nos abençoar desde a criação.

A bênção da nossa mãe é uma recordação amável e um olhar para o futuro. Orienta-nos através de três eixos fundamentais da fé: o amor, o compromisso e a fidelidade: “Amai sempre a Deus, a vossas almas e a vossas irmãs. Sede solícitas em cumprir o que prometestes ao Senhor”. Orienta-nos progressivamente para o nosso próprio coração, estando no mundo a partir da comunhão com Deus: “O Senhor esteja convosco e faça que vivais sempre em união com Ele. Ámen”.

Ser herdeiras de uma bênção introduz-nos na dinâmica da Ruah divina. Para nós, viver a espiritualidade da bênção significa avivar cada dia a adesão do coração a Jesus, renovar-se, abrir-se, celebrar, alegrar-se, comunicar, partilhar, compromisso com a vida, sensibilidade ecológica…

A adesão pessoal a Jesus é uma atração e uma chamada. Uma graça de Deus e um trabalho da nossa parte. Uma adesão que é amizade, um conhecimento que provém da experiência do trato, da confiança, da relação mantida com o Senhor mediante a oração, a leitura da Escritura, os sacramentos, em especial da participação na Eucaristia. E precisamente porque é uma adesão pessoal, consegue dar o passo de crer não unicamente porque os outros o dizem, nem porque seja favoráveis ou não as circunstâncias externas da sociedade ou da família. É uma adesão por amor, por um conhecimento pessoal de Jesus Ressuscitado que nasce de ter experimentado de alguma maneira a ação do Vivente na própria vida. O amor pessoal é que nos faz pessoas e o seguimento de Jesus arranca desta cordialidade. Seguir a jesus é identificar-se com ele através de um sentimento de pertença. Embora façamos parte de uma família, da Igreja, de um grupo, de uma associação…é a pertença fundamental ao Senhor que nos constitui.

A adesão a Jesus está unida ao acolhimento do outro, passa pelo diálogo. Aproximar-se do outro, passa pelo diálogo. Aproximar-se do outro sem querer ter o exclusivo da verdade, mas dialogando para aprender mutuamente a partir da convivência pacífica e respeitosa. Apesar de às vezes as crenças do outro poderem ser diferentes coincidimos em muitos valores que são património da humanidade.


Viver a espiritualidade da bênção torna-nos respeitosos com a criação. A espiritualidade e a ecologia estão estreitamente relacionadas, e tanto para Santa Clara como para São Francisco, a criação inteira é a casa de todos. Lugar de harmonia e de encontro com o Criador. E convertiam cada criatura em irmã. Louvavam a deus pela mãe terra, pelo sol e a lua, pelo fogo e a água, pelas flores e as estrelas, pelos frutos e a erva… e, sobretudo, pelo homem e a mulher, já que “pela graça de Deus, a alma fiel se torna a mais digna de todas as criaturas, mesmo maior que o Céu; já que os céus e as demais criaturas não podem conter o Criador, só a alma crente se transforma em sua mansão e seu trono pela caridade”.

Viver o dom e o trabalho da espiritualidade da bênção quer dizer também acompanhar os outros a fazer a experiência da fé, desejo positivo, encontro no simples; não apagar o pavio vacilante, viver a alegria do espírito; falar bem de Deus e do outro, escolher um valor que nos construa, um amor que nos dê sentido, um ideal que nos desperte o gosto pela vida…

Adeus, e como costumava dizer soror Clara, desejo-te boa saúde. E encomenda-nos ao Senhor nas tuas fervorosas orações, tanto a mim como a minhas irmãs, que muito nos alegramos, juntas, pelo bem que o senhor opera em ti pela sua graça.” (Gadi Bosh Pons, OSC, “Chamo-me CLARA DE ASSIS”, Editorial Franciscana – 2011, págs. 103 a 107).

 
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