Retalhos Como Francisco e Clara de Assis, a Fraternidade a todos saúda em Paz e Bem!Retalhos

28 de agosto de 2016

Domingo XXII do Tempo Comum

EVANGELHO Lc 14, 1.7-14 
"Amigo, sobe mais para cima".

Altar no interior da Basílica do Monte Alverne, com um relevo de Della Robbia

18 de agosto de 2016

Munificentissimus Deus (1-11-1950) | PIO XII


Munificentissimus Deus (1° de novembro de 1950) | PIO XII

11 de agosto de 2016

11 de agosto - Santa Clara de Assis

Clara põe a correr os inimigos mostrando um ostensório de marfim contendo o Corpo do Senhor,  
(Mosteiro de Santa Clara, Cortona, Itália), 2013.

ANUNCIAR A VERDADE
DA RESSURREIÇÃO



Queridas Irmãs,

o Senhor lhes dê a sua paz!

A cada ano, ao aproximar-se o mês de agosto me pergunto o que nosso Pai São Francisco quer que eu diga a vocês, que ele amava chamar “Damas Pobres”. Ele nunca cobiçou pregar a vocês, como sabem, pois confiava no empenho de vocês com o Evangelho como também na capacidade de guia de Santa Clara e quer unir-se a vocês para honrar esta grande mulher. Gostaria de iniciar com a carta que o Santo Padre Francisco, nosso Papa jesuíta-franciscano, escreveu para a abertura do Jubileu extraordinário da misericórdia. Nesta carta ele nos recorda o chamado contínuo à conversão feito pelo Pai das Misericórdias. Este chamado ressoa para nós na descrição que Santa Clara nos deixou de sua vocação como iluminação a fazer penitência seguindo o exemplo e os ensinamentos de nosso seráfico pai São Francisco (cf RgCl 6,1). Ela foi tão fiel à sua vocação que mesmo na hora da morte pode dizer a Frei Rinaldo: “Irmão querido, desde que conheci a graça de meu Senhor Jesus Cristo por meio do seu servo Francisco, nunca mais pena alguma me foi molesta, nenhuma penitência foi pesada, doença alguma foi dura” (LSCl 44); ainda hoje a fonte dinâmica da nossa vida, como seguidores de Francisco e Clara, é a consciência da graça e da misericórdia de Deus.

Este Ano da Misericórdia tem outra ressonância especial para nós, pois cai no VIII centenário do Perdão de Assis, que o pai São Francisco obteve do Papa Honório III em 1216. Ele o pediu porque a Virgem Maria lhe tinha sugerido – não por nada – mas porque partilhava o imenso desejo de Deus de reunir a todos com Ele na sua alegria. O desejo de partilhar a misericórdia de Deus ainda está vivo no coração da Igreja, como este Ano jubilar nos demonstra. E não mudou nada do nosso empenho desdobrado em realizar o desejo de Francisco que todos possam ir ao paraíso. O Papa Francisco nos solicita para sermos missionários da misericórdia aprofundando a nossa vocação e colocando a serviço de todos os dons recebidos do Pai das Misericórdias.

Neste contexto, não será inútil recordar a relação entre justiça e misericórdia. Não são dois aspectos em contraste entre si, mas duas dimensões duma única realidade que se desenvolve gradualmente até atingir o seu clímax na plenitude do amor... Seria preciso lembrar que, na Sagrada Escritura, a justiça é concebida essencialmente como um abandonar-se confiante à vontade de Deus”. (MV 20)

Francisco entendeu completamente esta concepção da justiça como entrega de si e na Regra não Bulada chega inclusive a afirmar que “a esmola é a herança e o justo direito devido aos pobres” (RnB IX,8). Clara também compreendeu isto e, em sua busca pela justiça, não só deu a sua herança (e uma parte da herança de sua irmã) aos pobres, mas também deu passos radicais para seguir Cristo indo viver em São Damião e partilhando a pobreza, a vulnerabilidade e a fragilidade dos pobres. Se estivesse ainda viva, estamos certos, teria plena consciência da situação do mundo e uma escuta corajosa da palavra do Senhor.

Queridas irmãs, como estamos vivendo hoje a justiça desta entrega de si mesmo à vontade de Deus em um mundo onde os custos do poder e da riqueza são levados nas costas sobretudo pelos pobres? O que diria Clara a vocês, suas filhas amadas, às quais confiou o carisma da vida evangélica em fraternidade sine proprio? Como se poderia conduzir pelo caminho uma vida de minoridade sempre mais radical, tendo em vista a realidade de nossos tempos? Como poderíamos conduzir todos nós àquele lugar do coração humano e do mundo onde permanece escondido o tesouro (3CtIn 7)? O nosso mundo está atravessando uma profunda crise, seja espiritual que material. Os cristãos ainda são perseguidos em muitos países, o extremismo e o fanatismo estão emação, milhões de pessoas precisam fugir por causa da guerra, do terrorismo e da opressão. A necessidade de contemplação é mais urgente que nunca; e eis porque Clara continua a dizer-nos: “Medita e contempla e deseja imitá-lo” (2CtIn 20). Sem a graça da contemplação que nutre o nosso mundo, seria fácil cair no desespero enquanto os problemas são de fato imensos e fora do nosso alcance.

Há ainda uma outra dor. O nosso belíssimo planeta está sofrendo incomensuravelmente. Nos últimos cinquenta anos foram extintos um grande número de espécies, outras foram reduzidas em número devido à perda do seu habitat. O nosso clima perdeu o seu tradicional equilíbrio e isto causa inundação ou seca, enquanto globalmente se registra uma falta de água, realidade essencial para todas as formas de vida sobre o planeta. Todos estes fatores têm efeitos intensos sobre as plantas, sobre os pássaros, sobre os insetos, sobre os animais assim como sobre os seres humanos. A necessidade de mostrar misericórdia à “nossa Irmã Mãe Terra” nunca esteve tão urgente. Há pouco mais e um ano o Papa Francisco escreveu ao mundo a encíclica Laudato si’, sublinhando e enfatizando o fato de que a nossa mãe terra também deve ser considerada entre os pobres a quem se deve justiça. Ele afirma:

 “Esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. A violência, que está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbrase nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos. Por isso, entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada, que ‘geme e sofre as dores do parto’ (Rm 8, 22). Esquecemo-nos de que nós mesmos somos terra (cf. Gn 2, 7). O nosso corpo é constituído pelos elementos do planeta; o seu ar permite-nos respirar, e a sua água vivifica-nos e restaura-nos” (LS 2).

Diante deste cenário, o Papa Francisco nos mostra que “a crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior” (LS 217) e nos mostra o caminho simples através do qual se pode responder a ambas crises:

 “Este é o momento favorável para mudar de vida!... Basta acolher o convite à conversão e submeter-se à justiça, enquanto a Igreja oferece a misericórdia” (MV 19).

Como modelo de conversão ele nos ofereceu a santa amada por todos os franciscanos, Santa Maria Madalena, elevando a celebração de sua memória a festa. Sabemos que em muitas fraternidades franciscanas das origens existia uma capela dedicada a Maria Madalena, pois a reconheciam como um paradigma da conversão, um verdadeiro speculum, o espelho de uma pessoa que doou-se inteiramente no amor, como o Senhor mesmo testemunha.

Nos é dito que Madalena, porque recebeu misericórdia, amou muito. Ela teve “a honra de ser a primeira ‘testemunha’ da ressurreição do Senhor” e tornou-se “ ‘apostolorum apostola’, pois anuncia aos apóstolos aquilo que por sua vez, eles anunciarão ao mundo inteiro”. Por isso, pode-se considerá-la de fato como primeira testemunha da Misericórdia divina. Mulher do coração grande, às vezes também imprudente, “mostrou um grande amor a Cristo e foi tão amada por Ele” (cf Apostolorum apostola – Artigo de S.E. Dom Arthur Roche, Secretário da Congregação para o Culto Divino). A misericórdia que ela recebeu deu fruto quando ela testemunhou a ressurreição e tornou-se apóstola dos apóstolos.

Aliás, o amor nunca poderia ser uma palavra abstrata. Por sua própria natureza, é vida concreta: intenções, atitudes, comportamentos que se verificam na atividade de todos os dias” (MV 9).

Podemos dizer que Maria Madalena acompanhou Clara na noite do Domingo de Ramos na qual ela decidiu unir-se aos frades. Eles tinham já recitado as laudes da segunda-feira da Semana Santa, lendo o texto relativo a Maria de Betânia que unge os pés de Jesus e enxuga-os com os seus cabelos – preanunciando assim, como diz Jesus, a unção para a sepultura (cf Jo 12,1-8). Deve-se dizer também que Maria de Betânia, mesmo não sendo, na época era muitas vezes identificada com Maria Madalena. Com as velas daquela liturgia ainda acesas, os frades cortam os cabelos de Clara e consagram-na ao Senhor. Parafraseando a Carta aos hebreus, em um certo sentido, Clara “saiu – de casa – para unir-se a ele fora do acampamento e partilhar o seu opróbrio” (cf Hb 13,13; LSC 7). “Veja que Ele por ti se fez objeto de desprezo, e segue o seu exemplo tornando-se, por amor a Ele, desprezível neste mundo” (2CtIn 19), diz Clara a Inês de Praga alguns anos depois. Desde o início, a vocação de Clara foi marcada pelo amor àquele “cuja beleza todos os batalhões bem-aventurados dos céus admiram sem cessar, cuja afeição apaixona, cuja contemplação restaura, cuja bondade nos sacia, cuja suavidade preenche, cuja lembrança ilumina suavemente, cujo perfume dará vida aos mortos” (4CtIn 10-13).

A influência de Maria Madalena se pode notar no belíssimo crucifixo conservado na basílica dedicada a Santa Clara, comissionado pela Irmã Benedita, a abadessa sucessora de Santa Clara. Nele, Clara, Benedita e Francisco choram aos pés de Jesus, como a mulher que lavou-lhe os pés com suas lágrimas e ajudou a prepará-lo para a sepultura. Clara e a Igreja esperam de nós que nos doemos ao serviço do Senhor, fiéis até o fim e capazes de anunciar a verdade da ressurreição. Clara solicita a vocês de serem cheias “de coragem no santo serviço que iniciaram pelo ardente desejo do Crucificado pobre” (1CtIn 13) para serem “modelo, exemplo e espelho” (Test 19).

Em nosso mundo sob pressão, onde inclusive a Mãe terra sofre, como nós, Frades Menores e Irmãs Menores, podemos viver os valores do Evangelho em um contexto onde uma pessoa a cada cento e treze é um refugiado e onde “os desertos exteriores se multiplicam no mundo, porque os desertos interiores tornaram-se tão amplos” (LS 217)? Este é o desafio sério para nós hoje. A humanidade sofredora, o nosso planeta que combate e a Família Franciscana inteira estão pedindo às filhas de Santa Clara para ajudar-nos a abrir o coração para poder submeter-nos à justiça neste tempo de misericórdia. “É o momento de ouvir o pranto das pessoas inocentes espoliadas dos bens, da dignidade, dos afetos, da própria vida” (MV 19). Precisamos do coração compassivo e contemplativo do movimento franciscano que nos ajuda a escutar o grito dos pobres e aquele da Mãe Terra. Maria Madalena encontrou o Senhor ressuscitado em um jardim. Muitos de nós temos um jardim, grande ou pequeno, e como irmão solicito vivamente a continuar no empenho de trabalhar pela criação, a fim de que cada ser vivo que tem uma casa sobre este jardim partilhado seja acolhido com respeito como irmão e irmã, mesmo tendo a consciência de que depois da queda original o trabalho para os jardineiros tornou-se cada vez mais difícil!

A criação não está à nossa disposição, mas existe para a glória de Deus e nós seres humanos somos apenas os seus guardas. Ajudem-nos a não ser como aquele tal da parábola que teve sua grande dívida perdoada mas que não mostrou misericórdia alguma para com o outro. Precisamos que vocês continuem a mostrar-nos como vive quem ama de fato o Senhor, dando-nos um exemplo de respeito à Mãe Terra, diante de tantas ações que exploram-na e ferem-na para ganhar dinheiro ou para a própria conveniência. Somos todos chamados a mudar, e falo em nome de todos os franciscanos quando digo que nós olhamos para vocês, Irmãs Pobres, e lhes pedimos para ajudar-nos. Clara não temeu “nenhuma pobreza, fatiga, tribulação, humilhação e desprezo do mundo” (RgC 6,2), tudo coisa que, ao contrário, o mundo hoje teme muito. As palavras ditas a propósito de Maria Madalena aplicam-se de fato também a Clara: pertencia ao grupo dos seguidores de Jesus, acompanhou-o até os pés da cruz e, no jardim onde o encontrou perto do túmulo, foi a primeira testemunha da misericórdia divina (cf Apostolorum apostola – Artigo de S.E. Dom Arthur Roche, Secretário da Congregação para o Culto Divino).

Nós olhamos para vocês que nos testemunham “centelhas ardentes da fornalha do fervoroso coração (LSC 45).

Em nome de todos os Irmãos, desejo a vocês todas as bênçãos e graças e partilho o sábio desejo do Papa Francisco dirigido às nossas Irmãs do Protomosteiro:

O Senhor lhes conceda uma grande humanidade para serem pessoas que saibam reconhecer os problemas humanos, que saibam como perdoar, que saibam como pedir ao Senhor em nome do povo”.

Desejo-lhes uma grande alegria para a celebração da festa da santa Mãe Clara. Como todos os irmãos, sempre recordo-me de vocês na oração e peço que se recordem de mim e de toda a Ordem na oração de vocês.


Roma, 15 de julho de 2016 Festa de São Boaventura, Doutor da Igreja
Frei Michael Anthony Perry, ofm
Ministro Geral e Servo

1 de agosto de 2016

Centenário do Perdão de Assis

Carta dos Ministros Gerais pelo VIII Centenário do Perdão de Assis

A INDULGENCIA DA PORCIÚNCULA E O JUBILEU DA MISERICÓRDIA



En 2016 coinciden dos fechas: el aniversario de la indulgencia de la Porciúncula, querida por san Francisco para “mandar al paraíso a todos”, y el jubileo de la misericordia, querido por un Papa que de Francisco lleva el nombre. Dejando a los historiadores la profundización de su debate sobre la indulgencia de la Porciúncula, queremos aprovechar la ocasión de esta coincidencia de fechas que nos invita a profundizar el gran tema de la misericordia y del perdón en relación con nuestra tradición espiritual franciscana.
Misericordia es una palabra cara a san Francisco, que la usa a menudo en sus Escritos y que la utiliza igualmente en dos direcciones que remiten al actuar de Dios misericordioso y a nuestro actuar hacia los hermanos con misericordia. Esto nos recuerda la frase evangélica que ha propuesto el Papa como “lema” de este año jubilar: “Sed misericordiosos como es misericordioso vuestro Padre” (Lc 6,36). La misericordia que podemos tener en nuestras relaciones con los demás está estrechamente ligada con la misericordia que tiene Dios para con nosotros: el amor de Dios es la fuente inagotable de la cual podemos sacar la misericordia que hemos de usar para con nuestro prójimo. Todos sabemos que logramos amar en la medida en que descubramos que somos amados por Aquel que es la fuente de todo bien.
Lo que generalmente decimos del amor es igualmente verdadero para aquella forma especial de misericordia que es el perdón. La parábola que narra Jesús para responder a la pregunta de Pedro “¿Cuántas veces debo perdonar?”, condena el comportamiento del siervo que no condona la pequeña deuda a su compañero, después de que el patrón le ha perdonado a él una deuda grandísima. También en este caso la razón para perdonar a los demás es que nosotros mismos hemos sido perdonados por Dios, como decimos en el Padre nuestro, en donde pedimos “perdónanos nuestras deudas (ofensas) como también nosotros perdonamos a nuestros deudores (quienes nos ofenden)”. Aquel “como” más que indicar una igualdad, indica la motivación profunda por la cual hay que perdonar a los demás: a partir de la certeza de que Dios me perdona, nace la exigencia de perdonar “como” él. Es otra manera de decir que debemos ser misericordiosos “como” el Padre celestial.
Si todo esto es cierto, descubrimos que se nos indica un camino para hacernos más capaces de misericordia: crecer en nuestra conciencia de ser nosotros mismos amados por Dios. Se trata de la relación que hay entre el don recibido de Dios y el don ofrecido a los hermanos que es tan característico de la experiencia espiritual franciscana. En la medida en que nosotros, como Francisco, descubrimos que Dios “es el bien, todo bien, y que él es el solo bueno”, se hace fuerte en nosotros la exigencia de corresponder a este bien que recibimos, dando el bien de que somos capaces.
Y ya que para llegar a ser más consciente del amor que Dios me tiene debo detenerme un momento a reflexionar, nos damos cuenta de que una vez más, somos invitados a cultivar el espíritu de oración y devoción, para unir contemplación y acción, si queremos encontrar la verdadera fuente de nuestro compromiso y del amor para con el prójimo, para encontrar la fuerza y la energía para gastar toda nuestra vida al servicio de los hermanos y para generar a nuestro alrededor paz y reconciliación, que son los frutos del amor contemplado.
Con su petición al Papa de una indulgencia extraordinaria para la pequeña iglesita de la porciúncula, Francisco inventó una nueva manera de celebrar la sobreabundancia de perdón y de misericordia por parte de Dios para con nosotros. Podemos retomar y profundizar la bella definición de indulgencia que el Papa Francisco nos ha ofrecido en la Misericordiae vultus, definiéndola como “indulgencia del Padre que a través de la Esposa de Cristo alcanza al pecador perdonado y lo libra de todo resto de las consecuencias del pecado, habilitándolo para actuar con caridad, a crecer en el amor en vez de recaer en el pecado” (MV 22). Cada vez que recibimos esta indulgencia extraordinaria del Padre a través de la Iglesia, también nosotros experimentamos la abundancia de misericordia sobre nosotros para hacernos capaces de misericordia y de reconciliación para con los demás en las situaciones concretas de la vida.
San Francisco nos muestra ejemplos espléndidos de esta capacidad creativa de promover paz y reconciliación. Pensemos simplemente en el episodio del final de su vida, cuando él reconcilia al podestá con el Obispo de Asís haciendo cantar su Cántico del hermano Sol con la adición de la estrofa del perdón.
El antiguo biógrafo, al comienzo de esta narración, nos dice que Francisco dijo a sus compañeros: “Grande vergüenza es para nosotros, siervos de Dios, que el obispo y el podestá se odien tanto el uno al otro, y nadie se ponga en el trabajo de ponerlos en paz y concordia” (Compilatio Assisiensis 84). Francisco no piensa que se trate de una cuestión que no tiene que ver con él y siente vergüenza por el hecho de que nadie se preocupe por devolverles la paz. Me pregunto ¿Cuánta vergüenza sentimos nosotros cuando nadie interviene para sanar los conflictos de nuestro tiempo? ¿Qué tan responsables nos sentimos, como Francisco, de devolver la paz y la reconciliación, ante todo en nuestras mismas fraternidades, cuando hay divisiones, como también en las luchas políticas, religiosas, económicas, sociales de nuestro tiempo?
Semejante compromiso tan activo y militante, nace de la profundidad de la contemplación del amor de Dios para conmigo. Precisamente porque me siento tocado personalmente por la indulgencia del Padre, nace en mí la fuerza, el valor, la espléndida “locura” de intervenir, como puede hacerlo un enamorado de Dios con el canto, no con un solemne discurso y tanto menos con la fuerza. Francisco, con su inteligente simplicidad, no convoca al Obispo y al Podestá para tratar de resolver sus disputas. Francisco bien sabe que este no es su camino: él en cambio los convoca para escuchar un canto, porque solo apuntando la mirada más arriba, hacia la belleza de Dios, sobre las alas de la música, los dos contendientes podrán encontrar las razones más altas para la paz. Nosotros franciscanos, en el mundo de hoy probablemente a menudo no estamos llamados a enfrentar y resolver los complejos problemas del mundo ofreciendo soluciones técnicas o entrando en el campo de difíciles cuestiones, que a menudo nos quedan grandes; pero sí estamos llamados a encontrar los caminos para animar a los hombres a la reconciliación y a la paz tocándoles el corazón con el testimonio de la simplicidad, de la belleza y del canto, de la verdad de relaciones fraternas e inmediatas que llevan a lo esencial, que hacen comprender a los hombres de hoy, como al Podestá y al Obispo de Asís, que vale la pena vivir en la paz, relativizando los problemas concretos y optando por el camino del perdón.
Hablando de indulgencia y misericordia hemos partido de una mirada a la indulgencia del Padre y a su misericordia para con nosotros y hemos llegado a hablar de la intervención en la realidad conflictiva del mundo de hoy. Podría también hacerse el recorrido inverso: comenzando a hablar del perdón y la reconciliación con los hermanos para llegar a hablar de la misericordia de Dios, como hace Francisco en el Testamento. Lo que importa es que no separemos nunca estos dos elementos, porque Jesús en el evangelio enseña que el primer mandamiento habla al mismo tiempo del amor de Dios y del prójimo, que no pueden ser separados.
Que este centenario nos ayude a sentir una saludable vergüenza porque nadie parece preocuparse por poner paz y concordia en la realidad conflictiva en que vivimos y nos haga crecer en la capacidad creativa de encontrar maneras nuevas para cantar un canto comprensible a los hombres y a las mujeres de nuestro tiempo. Sea nuestra vida ese canto que en la medida en que es alabanza viviente a aquel Dios de quien proviene todo amor, se hace provocación eficaz para construir paz y reconciliación.

Roma, 23 de julio de 2016, fiesta de S. Brígida, patrona de Europa


Fr. Michael Anthony Perry, OFM

Ministro General


Fr. Marco Tasca, OFMConv

Ministro General


Fr. Mauro Jöhri, OFMCap

Ministro General


Fr. Nicholas Polichnowski, TOR

Ministro General

Presidente CFF


Tibor Kauser, OFS

Ministro Generale


Sr. Deborah Lockwood, OSF

Ministra Generale

 
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