13 de abril de 2017
11 de abril de 2017
Domingo de Ramos
Introdução
à Liturgia:
Com a liturgia deste domingo damos
início à celebração da ‘grande semana’ da nossa redenção, acompanhando Jesus
nos últimos passos da sua vida e nos momentos mais significativos da sua
entrega total por nós. A cruz, que a liturgia deste domingo coloca no horizonte
próximo de Jesus, apresenta-nos a lição suprema do seu amor, o último passo
desse caminho de vida nova que, em Jesus, Deus nos propõe: a doação da vida por
amor.
Introdução
às Leituras:
A primeira leitura apresenta-nos um
profeta anónimo que, à maneira de Isaías, é chamado por Deus a testemunhar no
meio das nações a Palavra da salvação. Apesar do sofrimento e da perseguição, o
profeta confiou em Deus e concretizou, com plena fidelidade, o projecto que
Deus lhe havia confiado. Os primeiros cristãos viram neste “servo” a figura de
Jesus.
A segunda leitura apresenta-nos o
exemplo de Cristo. Ele prescindiu do orgulho e da arrogância, para escolher a
obediência ao Pai e o serviço aos homens, até ao dom da vida. É esse mesmo
caminho de vida que a Palavra de Deus nos propõe.
O Evangelho narra-nos a paixão de S.
Mateus: é o momento supremo de uma vida feita dom e serviço, a fim de libertar
os homens de tudo aquilo que gera egoísmo e escravidão. Na cruz, revela-se o amor
de Deus – esse amor que não guarda nada para si, mas que se faz dom total.
Padre João Lourenço, OFM
Publicada por OFS LUZ à(s) 09:17:00 0 comentários
4 de abril de 2017
3 de abril de 2017
Retiro Quaresmal - 2017
Fraternidade
de S. Francisco à Luz
Seminário da Luz
Largo da Luz nº 11
LISBOA
Crónicas da vida da Fraternidade
RETIRO QUARESMAL (dia da
reunião mensal da Fraternidade)
Lisboa,18 de março de 2017
Local:
Convento da Imaculada Conceição – Sala dos Santos Mártires de Marrocos
Pregador:
Frei Albertino Rodrigues, OFM
10:00 – Acolhimento
10:30 – Recitação de Laudes
11:00 – 1ª Pregação – “A Misericórdia em S.
Francisco”
12:00 – Adoração Eucarística na Capela da
Imaculada Conceição
13:00 – Momento de
Reflexão/Meditação/Silêncio
14:00 – 2ª Pregação – “As
Quaresmas em S. Francisco”
15:00 – Momento de
Reflexão/Meditação/Silêncio
16:00 – Eucaristia
17:00 – Encerramento
Com a participação de muitos Irmãos e a presença brilhante
do “senhor irmão Sol”, fizemos uma pausa no nosso caminho e, em Fraternidade,
vivemos um dia de reflexão.
Alguns Irmãos não puderam estar presentes. Todos
justificaram essa ausência. Motivos imprevistos e situações de doença. Rezámos
por eles. Estiveram no pensamento desta assembleia. Juntos em amor. Um dia de
vivência fraterna. Um dia de Retiro.
Frei Albertino ajudou-nos a refletir. A vida de S.
Francisco está impregnada de misericórdia. À semelhança de Jesus. Misericórdia para com os
pobres, com os pecadores, com os seus frades e até para com todos os seres por
Deus criados. Diz a Regra, caso
seja necessário impôr uma penitência a algum irmão, que “se faça com
misericórdia”. Na Carta aos fiéis
(8,43) recomenda ao Superior que “use de misericórdia com eles (os
Irmãos) como gostaria que com ele usassem, se estivesse no lugar deles”. Também
nos avisos espirituais (27,6)
se pode ler: ”onde há misericórdia aí
não há dureza de coração”.
É
tão simples, mas ao mesmo tempo tão exigente, ser franciscano secular. Viver
segundo o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo é o compromisso assumido no
dia em que cada Irmão faz a sua profissão solene. Oração, penitência e
humildade. Francisco não pede aos seus filhos nada que estes não possam fazer.
Querendo
seguir fielmente o Senhor, Francisco preparava a grande Quaresma, com
penitência e oração, para celebrar a Páscoa. Mas, também, antes de outras
grandes solenidades da Igreja, ele refugiava-se nos eremitérios e aí permanecia
durante quarenta dias em contemplação e jejuando.
Fazia
cinco Quaresmas: A Grande Quaresma (preparação para a Páscoa), a Quaresma do
Advento, a da Epifania, a dos Apóstolos e a de S. Miguel.
E
continuando o nosso retiro em silêncio, tivemos o privilégio de poder adorar o
Santíssimo Sacramento na pequenina, acolhedora e lindíssima Capela da Imaculada
Conceição. Que paz! Apetecia dizer: “Senhor como é bom estarmos aqui…”. Quantas
confidências com Jesus! Que intimidade! ELE estava ali. Tão próximo. Tão
visível! Que doce tranquilidade!
Os
Irmãos levaram a sua merenda. Recolhidos, sentados ou passeando por entre o
arvoredo do jardim, cada um viveu a seu modo este dia. Tempo de encontro
pessoal, de interiorização… tempo de pensar que uso se faz do “tempo” que o
Senhor nos dá.
Decerto
que Ele deixou nos corações de todos alguma mensagem. Qual foi a minha? Qual foi a tua?
No
fim da tarde a Eucaristia. A Capela estava repleta. Frei Albertino celebrou,
cantou e viveu connosco este momento. As suas palavras foram de incentivo e de perseverança.
Como cristãos, como franciscanos, temos que dar testemunho de misericórdia.
Mensageiros de paz e de Misericórdia. Misericórdia para com todos. Misericórdia,
também, com cada um de nós.
Foi
um dia lindo. Tranquilo. Rostos sorridentes neste final de tarde. S. Francisco
esteve ali connosco. Despediram-se os
Irmãos com com gestos de carinho. Com saudações de Paz e Bem. É tão bom e
enriquecedor, saborear os momentos que nos são dados para viver em
fraternidade!
Que
Francisco continue a caminhar ao nosso lado, fortalecendo a nossa fé e
ensinando-nos o que é a “verdadeira alegria” que encheu a sua vida. Que neste entusiasmo que inunda as nossas
almas, robustecido neste dia de meditação, cresça em nós, verdadeiramente, o amor a Deus. Que possamos dizer como ele:” meu
Senhor e meu Deus, meu Deus e meu tudo”.
“Altíssimo, Omnipotente
e Bom Senhor…”
maria
clara, ofs
Lisboa,
18 de março de 2017
Publicada por OFS LUZ à(s) 22:27:00 0 comentários
5º Domingo da Quaresma
Introdução à Liturgia:
Nos domingos anteriores, a liturgia
convidou-nos a reestruturar a nossa caminhada quaresmal a partir da ‘água viva’
e da ‘Luz’ que é Cristo. Neste 5º Domingo da Quaresma, a liturgia apresenta-nos
Jesus como a vida nova, a vida em plenitude, uma vida que ultrapassa
definitivamente a vida biológica: é a vida definitiva que supera a morte. Ele é
a fonte dessa vida que nos leva à eternidade.
Introdução às Leituras:
Na primeira leitura, Yahwé oferece ao
seu Povo, exilado na Babilónia, desesperado e sem futuro, uma vida nova.
Abre-se para este povo uma porta de esperança. Essa vida nova vem pelo
Espírito, que irá recriar o coração do Povo e inseri-lo numa dinâmica de escuta
e de amor a Deus e aos irmãos.
O Evangelho garante-nos que Jesus veio
realizar o desígnio de Deus e dar aos homens a vida definitiva. Ser “amigo” de
Jesus é aderir à sua proposta; é entrar na vida definitiva de comunhão com Ele.
Os crentes que vivem nesta relação de comunhão experimentam a morte física, mas
não estão mortos: vivem para sempre em Deus.
A segunda leitura lembra aos cristãos
que, no dia do seu Baptismo, optaram por Cristo e pela vida nova que Ele veio
oferecer. Convida-os, portanto, a ser coerentes com essa escolha, a fazerem as
obras de Deus e a viverem “segundo o Espírito”.
Padre João Lourenço, OFM
Publicada por OFS LUZ à(s) 21:34:00 0 comentários
24 de março de 2017
4º Domingo da Quaresma
Tu és a nossa Luz! |
Introdução à Liturgia:
As leituras deste Domingo colocam-nos
perante o tema da “luz” como sendo um desafio que é apresentado e proposto a
todo o homem. Sempre na vida buscamos uma luz que nos oriente, que nos permita
ter horizonte e que alimente a nossa esperança na caminhada que fazemos. A
Quaresma é este tempo de encontrar a Luz que é Cristo e de nos abrirmos à sua
claridade. Os textos de hoje definem a experiência cristã como um “viver na luz”
que é Cristo.
.Introdução às Leituras:
A primeira Leitura não se refere
directamente ao tema da “luz” - o tema central na liturgia deste domingo. No
entanto, conta a eleição de David para rei de Israel e a sua unção: é uma
óptima motivação para reflectirmos sobre a unção que recebemos no dia do nosso
Baptismo e que nos constituiu testemunhas da “luz” de Deus no mundo.
No Evangelho, Jesus apresenta-se como “a
luz do mundo”; a sua missão é libertar os homens das trevas do egoísmo, do
orgulho e da auto-suficiência, da vaidade pessoal e do exibicionismo, pecados
estes que obscurecem a Luz de Cristo em nós. Aderir à proposta de Jesus é
enveredar por um caminho de liberdade e de realização que conduz à vida plena.
Na segunda Leitura, Paulo propõe aos
cristãos de Éfeso que recusem viver à margem de Deus, nas trevas, mas que
escolham a “luz”. Em concreto, para Paulo, viver na “luz” é praticar as obras
de Deus que são bondade, justiça, verdade, sinceridade, connosco, com Deus e
com os Irmãos.
Padre João Lourenço, OFM
Publicada por OFS LUZ à(s) 15:56:00 0 comentários
20 de março de 2017
3º Domingo da Quaresma
Jesus Salvador da Humanidade |
Introdução
à Liturgia:
A liturgia quaresmal convida-nos a olhar
a vida nos seus ritmos do quotidiano e a questionar aquilo que ela comporta de
menos bom em ordem a uma nova etapa que seja marcada pela ressurreição do
Senhor. A Palavra de Deus que hoje nos é proposta mostra que o nosso Deus está
sempre presente ao longo da nossa caminhada pela história, mesmo no meio das
maiores vicissitudes, e que só Ele nos pode oferecer um horizonte de plenitude
e de esperança.
Introdução
às Leituras:
A primeira leitura mostra como Yahwé
acompanha a caminhada do povo de Israel no deserto do Sinai e como, nos
momentos de crise, responde às necessidades do seu Povo. O texto mostra-nos a
proximidade de Deus e dá-nos a chave para entender a lógica de Deus,
manifestada em cada passo da história da salvação.
A segunda leitura repete, noutros
termos, o ensinamento da primeira: Deus acompanha o seu Povo em marcha pela
história; e, apesar do pecado e da infidelidade, insiste em oferecer ao seu
Povo – de forma gratuita e incondicional – a salvação.
O Evangelho fala-nos do encontro de
Jesus com a Samaritana, à qual oferece o dom da ‘água viva’ que mata a sede que
cada homem tem de infinito e de salvação. Como ao tempo de Jesus, hoje todos
somos um pouco a imagem da Samaritana, buscando novas fontes e procurando
saciar a sede de salvação. Mais uma vez, através da sua Palavra, Jesus promete
àqueles que o procuram essa vida nova que Ele veio anunciar.
Padre João Lourenço, OFM
Publicada por OFS LUZ à(s) 09:50:00 0 comentários
10 de março de 2017
2º Domingo da Quaresma
Tu és o Senhor dos Passos! |
Introdução à Liturgia:
O tempo
da quaresma é apresentado na liturgia como um caminho, como uma caminhada que
cada crente é convidado a fazer, seguindo os passos de Cristo. Neste segundo
Domingo, a Palavra de Deus define o caminho que o verdadeiro discípulo deve
seguir: é o caminho da escuta atenta aos apelos de Deus em ordem à realização
dos seus projectos, numa entrega radical e comprometida com os planos do Pai.
Introdução às Leituras:
A
primeira leitura apresenta-se um dos grandes momentos da História da Salvação:
O chamamento de Abraão, “Deixa a tua terra e parte”. Abraão é o homem de fé,
que vive numa constante escuta de Deus, que sabe ler os seus sinais, que aceita
os apelos de Deus e Lhe responde com a obediência total, numa entrega confiada.
Nesta perspectiva, ele é o modelo do crente que percebe o projecto de Deus e o
segue de todo o coração.
O
Evangelho relata a transfiguração de Jesus. Recorrendo a elementos simbólicos
do Antigo Testamento, o autor apresenta-nos uma catequese sobre Jesus, o Filho
amado de Deus, que vai concretizar o seu projecto libertador em favor dos
homens através do dom da vida. Aos discípulos, desanimados e assustados, Jesus
diz: o caminho do dom da vida não conduz ao fracasso, mas à vida plena e definitiva.
Segui-o, vós também.
Na segunda leitura, há um apelo aos seguidores de Jesus, no sentido de que sejam, de forma verdadeira, empenhada e coerente, as testemunhas do projecto de Deus no mundo. Nada – muito menos o medo, o comodismo e a instalação – pode distrair o discípulo dessa responsabilidade e desviá-los desta caminhada.
Na segunda leitura, há um apelo aos seguidores de Jesus, no sentido de que sejam, de forma verdadeira, empenhada e coerente, as testemunhas do projecto de Deus no mundo. Nada – muito menos o medo, o comodismo e a instalação – pode distrair o discípulo dessa responsabilidade e desviá-los desta caminhada.
Padre João Lourenço, OFM
Publicada por OFS LUZ à(s) 19:53:00 0 comentários
9 de março de 2017
A Palavra é um dom. O outro é um dom
Publicamos a seguir o texto integral da Mensagem do
Santo Padre Francisco para a Quaresma 2017, sobre o tema "A Palavra é um dom. O
outro é um dom":
A Palavra é um dom. O outro é um dom. |
Amados irmãos e irmãs!
A Quaresma é um novo começo, uma estrada que leva a
um destino seguro: a Páscoa de Ressurreição, a vitória de Cristo sobre a morte.
E este tempo não cessa de nos dirigir um forte convite à conversão: o cristão é
chamado a voltar para Deus «de todo o coração» (Jl 2, 12), não se contentando
com uma vida medíocre, mas crescendo na amizade do Senhor. Jesus é o amigo fiel
que nunca nos abandona, pois, mesmo quando pecamos, espera pacientemente pelo
nosso regresso a Ele e, com esta espera, manifesta a sua vontade de perdão (cf.
Homilia na Santa Missa, 8 de janeiro de 2016).
A Quaresma é o momento favorável para
intensificarmos a vida espiritual através dos meios santos que a Igreja nos
propõe: o jejum, a oração e a esmola. Na base de tudo isto, porém, está a
Palavra de Deus, que somos convidados a ouvir e meditar com maior assiduidade
neste tempo. Aqui queria deter-me, em particular, na parábola do homem rico e do
pobre Lázaro (cf. Lc 16, 19-31). Deixemo-nos inspirar por esta página tão
significativa, que nos dá a chave para compreender como temos de agir para
alcançarmos a verdadeira felicidade e a vida eterna, incitando-nos a uma sincera
conversão.
1. O outro é um dom
A parábola inicia com a apresentação dos dois
personagens principais, mas quem aparece descrito de forma mais detalhada é o
pobre: encontra-se numa condição desesperada e sem forças para se solevar, jaz à
porta do rico na esperança de comer as migalhas que caem da mesa dele, tem o
corpo coberto de chagas, que os cães vêm lamber (cf. vv. 20-21). Enfim, o quadro
é sombrio, com o homem degradado e humilhado.
A cena revela-se ainda mais dramática, quando se
considera que o pobre se chama Lázaro, um nome muito promissor pois significa,
literalmente, «Deus ajuda». Não se trata duma pessoa anónima; antes, tem traços
muito concretos e aparece como um indivíduo a quem podemos atribuir uma história
pessoal. Enquanto Lázaro é como que invisível para o rico, a nossos olhos
aparece como um ser conhecido e quase de família, torna-se um rosto; e, como
tal, é um dom, uma riqueza inestimável, um ser querido, amado, recordado por
Deus, apesar da sua condição concreta ser a duma escória humana (cf. Homilia na
Santa Missa, 8 de janeiro de 2016).
Lázaro ensina-nos que o outro é um dom. A justa
relação com as pessoas consiste em reconhecer, com gratidão, o seu valor. O
próprio pobre à porta do rico não é um empecilho fastidioso, mas um apelo a
converter-se e mudar de vida. O primeiro convite que nos faz esta parábola é o
de abrir a porta do nosso coração ao outro, porque cada pessoa é um dom, seja
ela o nosso vizinho ou o pobre desconhecido. A Quaresma é um tempo propício para
abrir a porta a cada necessitado e nele reconhecer o rosto de Cristo. Cada um de
nós encontra-o no próprio caminho. Cada vida que se cruza connosco é um dom e
merece aceitação, respeito, amor. A Palavra de Deus ajuda-nos a abrir os olhos
para acolher a vida e amá-la, sobretudo quando é frágil. Mas, para se poder
fazer isto, é necessário tomar a sério também aquilo que o Evangelho nos revela
a propósito do homem rico.
2. O pecado cega-nos
A parábola põe em evidência, sem piedade, as
contradições em que vive o rico (cf. v. 19). Este personagem, ao contrário do
pobre Lázaro, não tem um nome, é qualificado apenas como «rico». A sua opulência
manifesta-se nas roupas, de um luxo exagerado, que usa. De facto, a púrpura era
muito apreciada, mais do que a prata e o ouro, e por isso se reservava para os
deuses (cf. Jr 10, 9) e os reis (cf. Jz 8, 26). O linho fino era um linho
especial que ajudava a conferir à posição da pessoa um caráter quase sagrado.
Assim, a riqueza deste homem é excessiva, inclusive porque exibida
habitualmente: «Fazia todos os dias esplêndidos banquetes» (v. 19). Entrevê-se
nele, dramaticamente, a corrupção do pecado, que se realiza em três momentos
sucessivos: o amor ao dinheiro, a vaidade e a soberba (cf. Homilia na Santa
Missa, 20 de setembro de 2013).
O apóstolo Paulo diz que «a raiz de todos os males
é a ganância do dinheiro» (1 Tm 6, 10). Esta é o motivo principal da corrupção e
uma fonte de invejas, contendas e suspeitas. O dinheiro pode chegar a
dominar-nos até ao ponto de se tornar um ídolo tirânico (cf. Exort. ap.
Evangelii gaudium, 55). Em vez de instrumento ao nosso dispor para fazer o bem e
exercer a solidariedade com os outros, o dinheiro pode-nos subjugar, a nós e ao
mundo inteiro, numa lógica egoísta que não deixa espaço ao amor e dificulta a
paz.
Depois, a parábola mostra-nos que a ganância do
rico fá-lo vaidoso. A sua personalidade vive de aparências, fazendo ver aos
outros aquilo que se pode permitir. Mas a aparência serve de máscara para o seu
vazio interior. A sua vida está prisioneira da exterioridade, da dimensão mais
superficial e efémera da existência (cf. ibid., 62).
O degrau mais baixo desta deterioração moral é a
soberba. O homem veste-se como se fosse um rei, simula a posição dum deus,
esquecendo-se que é um simples mortal. Para o homem corrompido pelo amor das
riquezas, nada mais existe além do próprio eu e, por isso, as pessoas que o
rodeiam não caiem sob a alçada do seu olhar. Assim o fruto do apego ao dinheiro
é uma espécie de cegueira: o rico não vê o pobre esfomeado, chagado e prostrado
na sua humilhação.
Olhando para esta figura, compreende-se por que
motivo o Evangelho é tão claro ao condenar o amor ao dinheiro: «Ninguém pode
servir a dois senhores: ou não gostará de um deles e estimará o outro, ou se
dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro» (Mt
6, 24).
3. A Palavra é um dom
O Evangelho do homem rico e do pobre Lázaro ajuda a
prepararmo-nos bem para a Páscoa que se aproxima. A liturgia de Quarta-Feira de
Cinzas convida-nos a viver uma experiência semelhante à que faz de forma tão
dramática o rico. Quando impõe as cinzas sobre a cabeça, o sacerdote repete
estas palavras: «Lembra-te, homem, que és pó da terra e à terra hás de voltar».
De facto, tanto o rico como o pobre morrem, e a parte principal da parábola
desenrola-se no Além. Dum momento para o outro, os dois personagens descobrem
que nós «nada trouxemos ao mundo e nada podemos levar dele» (1 Tm 6, 7).
Também o nosso olhar se abre para o Além, onde o
rico tece um longo diálogo com Abraão, a quem trata por «pai» (Lc 16, 24.27),
dando mostras de fazer parte do povo de Deus. Este detalhe torna ainda mais
contraditória a sua vida, porque até agora nada se disse da sua relação com
Deus. Com efeito, na sua vida, não havia lugar para Deus, sendo ele mesmo o seu
único deus.
Só no meio dos tormentos do Além é que o rico
reconhece Lázaro e queria que o pobre aliviasse os seus sofrimentos com um pouco
de água. Os gestos solicitados a Lázaro são semelhantes aos que o rico poderia
ter feito, mas nunca fez. Abraão, porém, explica-lhe: «Recebeste os teus bens na
vida, enquanto Lázaro recebeu somente males. Agora, ele é consolado, enquanto tu
és atormentado» (v. 25). No Além, restabelece-se uma certa equidade, e os males
da vida são contrabalançados pelo bem.
Mas a parábola continua, apresentando uma mensagem
para todos os cristãos. De facto o rico, que ainda tem irmãos vivos, pede a
Abraão que mande Lázaro avisá-los; mas Abraão respondeu: «Têm Moisés e os
Profetas; que os oiçam» (v. 29). E, à sucessiva objeção do rico, acrescenta: «Se
não dão ouvidos a Moisés e aos Profetas, tão-pouco se deixarão convencer, se
alguém ressuscitar dentre os mortos» (v. 31).
Deste modo se patenteia o verdadeiro problema do
rico: a raiz dos seus males é não dar ouvidos à Palavra de Deus; isto levou-o a
deixar de amar a Deus e, consequentemente, a desprezar o próximo. A Palavra de
Deus é uma força viva, capaz de suscitar a conversão no coração dos homens e
orientar de novo a pessoa para Deus. Fechar o coração ao dom de Deus que fala,
tem como consequência fechar o coração ao dom do irmão.
Amados irmãos e irmãs, a Quaresma é o tempo
favorável para nos renovarmos, encontrando Cristo vivo na sua Palavra, nos
Sacramentos e no próximo. O Senhor – que, nos quarenta dias passados no deserto,
venceu as ciladas do Tentador – indica-nos o caminho a seguir. Que o Espírito
Santo nos guie na realização dum verdadeiro caminho de conversão, para
redescobrirmos o dom da Palavra de Deus, sermos purificados do pecado que nos
cega e servirmos Cristo presente nos irmãos necessitados. Encorajo todos os
fiéis a expressar esta renovação espiritual, inclusive participando nas
Campanhas de Quaresma que muitos organismos eclesiais, em várias partes do
mundo, promovem para fazer crescer a cultura do encontro na única família
humana. Rezemos uns pelos outros para que, participando na vitória de Cristo,
saibamos abrir as nossas portas ao frágil e ao pobre. Então poderemos viver e
testemunhar em plenitude a alegria da Páscoa.
Vaticano, 18 de outubro de 2016.
Festa do Evangelista São Lucas
Francisco
Publicada por OFS LUZ à(s) 22:50:00 0 comentários
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