VIDA DOS BEATOS LUQUÉSIO E BUONADONNA
Decorria o ano de 1181, (ano de nascimento de S. Francisco) em Gaggiano, comuna da região da Lombardia, província de Milão, quando nasceu um menino, de nome Luquésio.
Como outros jovens da sua idade, sonhava com armas e glória militar;começou por militar no partido do Imperador; mais tarde, por interesses comerciais, passou para o partido da Papa.
Nestas suas andanças, conheceu uma jovem de Poggibonzi, Buonadonna, com a qual casou, tendo vindo a morar, na mesma terra.
Ambos eram apegados ao dinheiro, e aos bens materiais. Trabalhavam no comércio; emprestavam dinheiro aos ricos e nobres e fizeram fortuna. Mas esta ilusão do luxo, do conforto e dos bens temporais, resultou no afastamento das coisas de Deus, e nem sempre esses negócios eram honestos.
Aconteceu uma crise de víveres e Luquésio prevendo-a, comprou todo o stock de trigo, e como único possuidor do produto, elevou os preços e teve lucros extraordinários.
Por essa altura, S. Francisco, andava na zona de Arezzo a pregar; sendo filho de Pedro Bernardone, conhecido de Luquésio, do mundo dos negócios, e que como se falava na época, tinha abandonado a sua vida de burguesia, pregando e fazendo penitência, Luquésio decidiu ouvi-lo.
De tão eloquentes e santas palavras, tirou o rico e abastado Luquésio, uma lição de humildade, e fraternidade para com os pobres e desfavorecidos, mudando radicalmente a sua vida, devolvendo tudo, o que por meios menos próprios, foi conseguindo e dividindo, com os pobres a sua riqueza.
Nesta altura, sua esposa Buonadonna, ainda não tinha sido iluminada, pelo espírito de Francisco, pois questionava as opções do marido, duvidando até da sua capacidade mental, o qual, com muita paciência, rezava para a sua conversão.
Certo dia, estava discutindo com o esposo, a mania de dar pão a todos tinha esvaziado a arca do pão e não tinha sobrado nada e meigamente Luquésio lhe lembra Daquele que com 5 pães e 2 peixes matou a fome a cinco mil e ainda sobraram doze cestos: com estas palavras a esposa reflectiu. Quando ao abrir de novo a arca a encontrou cheia de pão fresco, a divina luz de Deus a iluminou a sua mente.
Tendo perdido os seus dois filhos, o casal dedicou a sua vida a Deus e ao próximo. Sabendo que S. Francisco, andava pelos campos ali próximo, muitos leigos, pedem a sua adesão á causa franciscana e entre eles estão, o casal (conhecidos como os Bem-Casados), Luquésio e Buonadonna, propondo Luquésio a S. Francisco a entrada no convento e a entrada de Buonadonna para o convento de S. Damião juntando-se a Santa Clara. De pronto Francisco contrariou estas ideias dizendo: “Vocês são casados e vão continuar a viver juntos, mas vou dar-lhes uma regra de vida para se tornarem perfeitos. “Eles vestiram a túnica de cor cinza e foram cingidos com um fio dizendo: “Vocês vivem no mundo de frades penitentes, mas pertencem ao mu
ndo” para fazer boas obras, jejuar e pregar a paz.
S. Francisco, pensava,já havia tempo que numa instituição que agrupasse também pessoas leigas, homens e mulheres casados e trabalhadores, que devido ao seu estado não podiam sujeitar-se aos três clássicos votos, de castidade, pobreza e obediência; aproveitou esta altura e compôs e enviou ao casal a regra da chamada Ordem Terceira da Penitência considerada e definida como “medula do Evangelho” que foi aprovada pelo Papa Nicolau IV em 1221.
Seguindo as regras da nova vida, Luquésio vendeu a sua casa e todos os seus bens, entregou o dinheiro, para o hospital S. John e o casal, ficou a morar numa pequena casa, perto de um campo, onde Luquésio, cultivava produtos, para seu sustento e dos pobres.
Certa vez um padre, passando junto ao campo de Luquésio, vendo que havia cebolas, pediu algumas e Luquésio deu-lhe tantas, que poucas ficaram. Então Luquésio pediu ao padre para as abençoar e logo elas se multiplicaram.
Já na sua renovada vida de bem-fazer passando á oração e penitência, havia perto de sua casa o ermitério de S. Maria em Camaldo, onde Luquésio e a sua mulher se deslocavam muitas vezes para rezar; aí em contemplação o seu corpo se elevava no ar.
Luquésio recolhia muitas vezes doentes e levava-os para onde podiam ser tratados. Quando uma vez estava a levar um doente, um rapaz lembrou-se de o humilhar e Luquésio respondeu: “ Eu carrego comigo o sofrimento de Cristo”, e como punição divina, o jovem tornou-se mudo, mas Luquésio, intercedeu por ele em oração, e a palavra foi-lhe devolvida.
Em 26 de Abril de 1260 Luquésio e Buonadonna, unidos pelo amor na terra, foram também juntos chamados á casa do Senhor. Luquésio teve de ficar de cama, quando de repente Buonadonna, também febril e sentiu-se tão mal que pediu ao marido para chamar o seu confessor frei Hildebrando, para este lhe administrar o sacramento dos doentes. Então Luquésio, vendo a esposa muito mal, pegou-lhe delicadamente na mão e disse: “Querida, já que tanto nos amámos em vida, porque não vamos juntos para a pátria eterna? Por isso espera-me por favor”.
Tinha acabado, frei Hildebrando de lhes administrar, o sacramento dos doentes, Luquésio, vendo a esposa a morrer fez o sinal da cruz, pediu a intervenção da Virgem Maria e de S. Francisco, e os dois de mãos dadas, entregaram, com poucas horas de diferença, as suas almas a Deus.
O povo, que lhes nutria muito amor e admiração não regateou esforços, para louvar e bendizer, este casal abençoado por Deus e não demorou a narrar lendas piedosas e episódios prodigiosos e edificantes.
Na morte, como na vida, a sua santidade foi manifestada logo no seu funeral, quando, caindo um grande aguaceiro sobre a terra, a chuva não molhou nem os caixões nem o cortejo funerário.
Mais milagres lhe são atribuídos pelo povo, como por exemplo, o irmão de frei Hildebrando de nome Tebaldo, foi atingido com uma doença cancerosa no estômago: quando ao tocar no corpo de Luquésio ficou curado imediatamente.
Havia um pobre homem, a quem Luquésio tinha ajudado em vida, pois tinha muitos filhos e mal os podia sustentar; quis a má sorte que fosse preso, mas, ao pedir a intercessão de Luquésio para ajudar os seus filhos, sentiu imediatamente abrir-se-lhe as correntes e viu-se fora da prisão; caminhando, em poucas horas chegou a casa distando 50 km antes de sua esposa e filhos darem pela sua falta.
Algumas pessoas, pedindo a intervenção de Luquésio, viram os seus pedidos atendidos e converteram-se; um cego que se ajoelhou no seu túmulo, recuperou a vista.
Uma vez, uma criança caiu a um poço; as gentes aterrorizadas pediram a intervenção de Luquésio e de imediato viram a criança sentada na água segura pela mão invisível do santo. Também uma criança com um defeito de nascença viu a sua deficiência desaparecer, passando na igreja dos monges junto ao túmulo de Luquésio.
Em 1319, frei Bartolomeu de Tolomei, regressando de um capítulo em Marselha, encontrou-se num navio, que estava prestes a naufragar, mas evocando o nome de Luquésio, aplacou-se imediatamente, a fúria dos ventos e o mar acalmou.
Em 1274 o Papa Gregório X, ia a caminho de Lyons; parando em Poggibonsi e ouvindo as lendas de Luquésio resolveu fazer um teste radical para testar a sua veracidade: mandou atirar a cabeça de Luquésio, ás chamas de um braseiro. Conta o povo que a cabeça saltou para fora do braseiro e veio descansar em
cima dos joelhos da Papa. Após este milagre foi autorizado o culto a Luquésio.
Todos os anos, a 28 de Abril em Poggibonsi, realiza-se uma grande procissão, em honra do beato, com as relíquias do padroeiro e sua esposa, que repousam numa grande Basílica, construída em sua honra nesta cidade.
BASÍLICA DE S. LUQUÉSIO Poggibonsi