Retalhos Como Francisco e Clara de Assis, a Fraternidade a todos saúda em Paz e Bem!Retalhos

20 de abril de 2013

Abril - Mês da Família Franciscana Portuguesa


Aprovação da Regra, segundo os Biógrafos de S. Francisco – 16 de Abril de 1209


Tomás de Celano – Vida Primeira CAPÍTULO XIII

 
31. 1 Por essa ocasião juntaram-se a eles outros quatro homens dignos e virtuosos e fizeram-se discípulos de Francisco67. 2 Isto ocasionou um maior interesse pelo movimento, e a fama do homem de Deus foi crescendo cada vez mais entre o povo. 3 Verdadeiramente, naquele tempo, Francisco e os companheiros experimentavam uma alegria e um gozo inexprimíveis sempre que alguém, fosse quem fosse, de qualquer proveniência ou condição – rico, pobre, nobre, plebeu, desprezível, estimado, sábio, simples, clérigo, sem cultura, leigo – aparecia a pedir o hábito da santa Religião, guiado pelo espírito de Deus.
Grande era também a admiração que todos suscitavam nos homens do mundo. O exemplo da sua humildade despertava neles o desejo de viverem melhor e de se penitenciarem dos seus pecados.
5 Nem a condição humilde nem a pobreza mais desvalida logravam impedir que fossem incorporados no edifício de Deus os que Deus nele desejava incorporar, pois Ele compraz-se em estar com os simples e os desprezados deste mundo.
Como, sendo já onze os Irmãos, escreveu a primeira Regra e o Papa Inocêncio III a aprovou

32. 1 Vendo o bem-aventurado Francisco que o Senhor lhe aumentava de dia para dia o número dos que o seguiam, escreveu para si e seus irmãos, presentes e futuros, com simplicidade e breves palavras68, uma norma de vida ou Regra, composta de expressões do Evangelho, a cuja perfeita observância aspirava de contínuo69. 2 Acrescentou, contudo, um número restrito de directivas indispensáveis e urgentes para um bom andamento da vida em comum. 3 Isto feito, dirigiu-se a Roma com todos os irmãos já mencionados, na ardente esperança de que o senhor papa Inocêncio III se dignaria confirmar-lhe o que havia escrito.
4 Encontrava-se por esses dias em Roma o venerando bispo de Assis, Guido, que nutria particular afecto e estima por Francisco e seus irmãos. 5 Perturbou-se não pouco o bispo, ao vê-los. Não sabendo o que ali os levava, receou quisessem deixar a sua terra, onde o Senhor, mercê desses seus servos, começava já a realizar coisas extraordinárias. 6 Muito lhe alegrava ter na diocese tantos homens como aqueles, já que de suas santas vidas muitos frutos seriam de esperar. 7 Porém, tanto que soube do motivo da viagem e dos propósitos que os animavam, deveras se alegrou no Senhor e ofereceu-se para os aconselhar e ajudar.
8 S. Francisco apresentou-se ainda ao bispo de Sabina, João de São Paulo, assaz conhecido de entre os príncipes e prelados da Cúria romana pela fama de desprezar as coisas terrenas e amar as celestes. 9 Recebeu-o benévola e caritativamente70 o prelado e louvou-lhe sobremaneira aquela determinação.

 
67 Eram João de São Constâncio, Bárbaro, um segundo Bernardo e Ângelo Tancredo.
68 São os termos com que Francisco, em seu testamento, qualifica esta primeira redacção.

 
Tomás de Celano – Vida Segunda CAPÍTULO XI

 
A parábola que ele contou ao senhor Papa
16. 1 Quando Francisco se apresentou com os seus ao papa Inocêncio para pedir a aprovação da sua regra de vida44 e este viu que o objectivo proposto excedia em muito as forças humanas, disse-lhe como homem de grande prudência: «Filho, pede a Cristo que, por teu intermédio, nos manifeste a Sua vontade. Conhecendo-a nós, com maior segurança te concederemos o que piedosamente nos pedes».
2 Obedece o Santo à ordem do Pastor supremo, recorre confiado a Cristo, ora com insistência e exorta os companheiros a implorarem também eles a luz de Deus. Assim orando e exorando, obtém finalmente resposta, sendo logo esta comunicada aos filhos. 3 Deste modo vieram eles a saber que, em ordem à sua salvação e em colóquio familiar com Francisco, mandara Cristo dizer ao Pontífice a seguinte parábola: 4 «Francisco, isto dirás tu ao Papa: ―Vivia num deserto uma mulher muito pobre, mas muito formosa. 5 Graças à sua muita formosura, dela se enamorou o rei. Em extremo aprazido, desposou-a o monarca e dela teve filhos belíssimos. 6 Já crescidos e educados com grande nobreza, disse-lhes a mãe: 7 ―Não vos envergonheis da vossa pobreza, filhos queridos, pois haveis de saber que todos sois filhos de um grande rei. 8 Ide confiados e alegres à sua corte e pedi-lhe o que vos aprouver. 9 Tão surpreendidos como radiantes com a notícia da sua linhagem real e dos seus direitos à herança, e já imaginando a sua pobreza transformada em opulência, 10 foram logo apresentar-se ao rei, confiantes e seguros, tanto mais que no rosto dele se reconheciam a si próprios. 11 Viu-se também o rei retratado neles e, surpreendido, perguntou-lhes de quem eram filhos. 12 E como eles asseverassem serem filhos de uma pobrezinha que vivia no deserto, abraçando-os, disse-lhes: ―Sois meus filhos e meus herdeiros, não temais! 13 Se estranhos comem à minha mesa, justo é que eu me desvele em alimentar os que são meus herdeiros de pleno direito‖. 14 E mandou recado à pobrezinha do deserto para que lhe enviasse também os restantes filhos dela gerados, a fim de os educar na corte».
15 Rejubila o Santo com a parábola e imediatamente leva ao Papa a resposta divina45.

17. 1 Esta mulher (em razão dos muitos filhos, e não da sua intimidade com o rei)46 simboliza Francisco. O deserto é este mundo, mundo bravio e estéril de virtudes; a prole abundante e formosa, a multidão dos irmãos, ricos de todos os bens espirituais; 2 o rei o Filho de Deus, a quem se assemelham pela santa pobreza todos os que, dela não se envergonhando, têm assento à sua mesa, felizes de imitarem a Cristo e viverem de esmolas47, pois os anima a certeza de alcançarem a bem-aventurança mediante o desprezo do mundo.
3 Deveras maravilhado o senhor Papa com a parábola transmitida, reconheceu sem a mínima hesitação que pela boca daquele homem lhe falava Cristo. 4 Recordou-se de um sonho que tivera poucos dias antes e, iluminado pelo Espírito Santo, afirmou ser precisamente neste homem que o veria plenamente realizado. 5 Sonhara ele, com efeito, ter visto a basílica de Latrão prestes a desabar e um religioso, franzino e de aspecto mesquinho, a escorá-la com os ombros, evitando-lhe a queda. 6 «Aqui está, pensou, quem por suas obras e ensinamentos há-de sustentar a Igreja de Cristo».
7 Eis porque este nobre senhor acedeu com tanta benevolência aos rogos de Francisco e porque, a partir desse momento, lhe votou a entranhada afeição que jamais desmentiria. 8 Não só lhe outorgou prontamente o que havia solicitado, como prometeu contemplá-lo mais ainda no futuro.
9 Desde então, alentado com as faculdades concedidas48, começou Francisco a espalhar com maior fervor a semente da virtude por cidades e povoações.
44 Ad petendam regulam; Francisco não pediu uma Regra; pediu, sim, a aprovação da Regra já composta. O verbo petere tem aqui sentido jurídico: pedir o reconhecimento de um direito.
45 Nem o episódio nem a parábola se encontram em 1C. São, no entanto, anteriores, pois os consigna Odon de Chériton (condado de Kent) na sua colecção de sermões para os evangelhos dominicais, composto em 1219. Cf. BIHL, Sancti Francisci parabola: AFH 22 (1929) p. 584-586.
46 Non factorum molitie, no texto original. Celano sente-se no dever de elimi-nar explicitamente uma certa conotação que só muito dificilmente nos acudiria ao espírito. Importa saber, no entanto, que as Etimologias de Santo Isidoro de Sevilha, assiduamente usadas na Idade Média, povoavam a memória de todo o bom letrado. Cf. GILSON: Michel Menot et la technique du sérmon médiéval. Aqui se diz pe-remptoriamente: Mulier vem de molities, mollis quasi mulier emolliatur. (Mulher vem de molícia ou moleza, porque da moleza, como da mulher, é que vem o rela-xamento, a efeminação).
47 Chamava-se esmola, eleemosyna, ao alimento dado aos pobres, tirado dos restos das mesas dos ricos. Cf. GUILLAUME DE NANGIS, Vie de Saint Louis, ed. Lespinasse, Bruxelas, 1895, p. 246.

 
Legenda Maior – Capítulo III

8. 1 Vendo assim a aumentar pouco a pouco o número dos Irmãos, resolveu o servo de Deus escrever, para si e para eles, em termos muito simples, um programa de vida que tivesse como elemento fundamental e indiscutível a observância do Evangelho, acrescentando apenas alguns pequenos pormenores necessários a uma uniformidade de vida. 2 Também queria que esse programa de vida fosse aprovado pelo Sumo Pontífice97. Nesse intuito, confiado apenas na direcção da Providência, resolveu dirigir-se pessoalmente à Santa Sé, em companhia do seu grupo de Irmãos. 3 Do alto dos Céus Deus via com bondade este desejo98; mas como os irmãos se mostravam extremamente perturbados na sua simplicidade, o mesmo Senhor lhes deu coragem com uma visão que proporcionou a S. Francisco. 4 Ia ele por um caminho, quando deparou com uma árvore duma altura extraordinária. 5 Aproximou-se para melhor contemplar aquela planta gigantesca. E sentiu-se de repente a ser elevado ao alto, por uma força divina, de modo que com toda a facilidade pôde chegar ao cimo dessa árvore e vergá-la até ao chão. 6 Cheio do espírito de Deus como era, compreendeu Francisco que esta visão era um presságio da condescendência da Sé Apostólica. Ficou radiante, foi contar isto aos Irmãos para os encorajar no Senhor, e pôs-se a caminho com eles.

9. 1 Tendo chegado à Cúria Romana, foi apresentado ao Sumo Pontífice, a quem expôs o seu propósito, e pediu-lhe, humilde e instantemente, se dignasse aprovar a mencionada Regra de vida99. 2 Era Vigário de Cristo o Senhor papa Inocêncio III. Inteligente e perspicaz, não tardou a descobrir a pureza de intenção desse homem simples, o fervor do seu empenho santo, a constância do seu propósito. E mostrou-se disposto a conceder a aprovação solicitada. 3 No entanto, achou mais prudente adiar o despacho, porque alguns Cardeais eram de opinião que o tal programa de vida, além de um tanto ou quanto insólito, era duro demais para as forças humanas. 4 Aconteceu, porém, que entre os Cardeais presentes estava um muito venerável, que apreciava imenso toda e qualquer manifestação de santidade e ajudava a todos os pobres de Cristo: era o Senhor D. João de S. Paulo, bispo de Sabina. Inflamado pelo Espírito divino, tomou a palavra e disse ao Sumo Pontífice e aos seus Irmãos100: 5 «Este pobrezinho só vem pedir que lhe confirmem uma forma de vida evangélica. Se rejeitamos o seu pedido, sob pretexto de ser inédito ou difícil de cumprir, podemos ir contra o Evangelho de Cristo. 6 Afirmar que em praticar a perfeição evangélica há qualquer coisa de inédito, ou de extravagante, ou de impossível, é blasfemar contra Cristo, autor do Evangelho»101.
7 Então o sucessor de Pedro voltou-se para o pobre de Cristo e disse-lhe:
– Vai, meu filho, pedir a Cristo que por teu intermédio me mostre a sua vontade. Quando eu a conhecer, anuirei aos teus piedosos desejos.

10. 1 Embrenhou-se então todo em oração o servo do Omnipotente, e por meio de piedosas preces conseguiu saber o que ele mesmo havia de dizer e o que o Papa havia de sentir. 2 Pôs-se a contar, como Deus mesmo lhe ensinara, a parábola de um rei muito rico que casara com uma mulher extremamente bela mas muito pobre, e cujos filhos eram tão parecidos com o pai, que este decidiu que fossem educados no seu palácio. 3 E acrescentou: «Não há que recear que morram de fome os filhos e herdeiros do Rei Eterno! Tal como Cristo Rei, que nasceu de uma Mãe pobre por obra do Espírito Santo, também eles vão ser gerados numa Ordem pobre pelo espírito de pobreza . 4 Se o Rei dos Céus prometeu um reino eterno102 àqueles que o imitam, como não há-de ele dar-lhes essas coisas banais que dá a bons e maus?103»
5 O Vigário de Cristo prestou toda a atenção à parábola e à sua interpretação; ficou surpreendido e não duvidou de que era Cristo quem falava pela boca daquele homem. 6 Também ele nessa altura tinha tido uma visão do céu, e agora compreendia, por inspiração do Espírito Santo, que ela devia dizer respeito exactamente àquele homem. 7 Vira em sonhos a Basílica de Latrão a ameaçar ruína, e um pobrezito, pequeno e de aspecto miserável, deitando-lhe os ombros para que não caísse104.
– 8 Ora aqui está, – diz ele – aquele que pela sua acção e pela sua doutrina irá sustentar a Igreja de Cristo.
9 E com todo o gosto acedeu a quanto Francisco suplicava, além de lhe dedicar daí em diante uma afeição muito especial. Não só lhe concedeu tudo o que fora pedido, mas prometeu conceder--lhe ainda muito mais. 10 Aprovou-lhe a Regra, deu-lhe o mandato de pregar a penitência, e mandou fazer a coroa a todos os Irmãos leigos que tinham acompanhado Francisco, a fim de poderem pregar a palavra de Deus livremente105.

94 Sl 54, 23.

95 Act 1, 1.

96 Sl 146, 2.

97 Mais uma atitude que distingue bem Francisco dos contestatários de então.

98 Lc 1, 78.

99 Ao texto de S. Boaventura foi aqui acrescentado mais um parágrafo por Fr. Jerónimo de Ascoli, Ministro Geral da Ordem e mais tarde Papa, sob o nome de Nicolau IV, que do que narra recebera notícia do Cardeal Ricardo de Annibaldis, parente de Inocêncio III. Diz assim: «Chegado a Roma, Francisco foi admitido à presença do Sumo Pontífice. Encontrava-se o Vigário de Cristo no palácio de Latrão, na sala dita do Espelho, mergulhado em profunda reflexão. Aborrecido, despachou bruscamente o servo de Deus a quem não conhecia. Saiu este humilde-mente. Na noite seguinte teve o Pontífice uma visão: via nascer dentre os seus pés um arbusto que crescia, crescia e se tornava uma árvore lindíssima. Dava voltas ao pensamento para descobrir o sentido da visão, quando Deus lhe veio em auxílio, fixando-lhe na ideia que aquele arbusto era o tal pobre que no dia anterior repelira. Na manhã seguinte manda os seus criados à cidade à procura do pobrezinho, a quem foram encontrar perto de Latrão, no hospital de Santo Antão. Fá-lo introduzir imediatamente…» (Segue o texto como no início do nº 9: Tendo chegado, etc). O hospital de Santo Antão encontrava-se entre o aqueduto e a actual igreja de S. Pedro e Marcelino.

100 Isto é, aos outros cardeais.

101 A Regra franciscana começa precisamente com as palavras: «A regra e vida dos frades menores é esta: observar o Santo Evangelho de N. S. Jesus Cristo…» e, no Testamento, o santo diz: «O mesmo Altíssimo me revelou que devia viver segundo a forma do Santo Evangelho» (T 14).

Legenda dos Três Companheiros CAPÍTULO XII

Como o Bem-aventurado Francisco, com seus onze companheiros, se dirigiu à corte do Papa, para lhe apresentar o seu projecto e lhe pedir a aprovação da regra que escrevera

46. 1 S. Francisco via aumentar os seus irmãos, por graça divina, em número e em méritos. Eram agora doze, de coragem provada, sendo ele, o duodécimo, seu chefe e Pai.
Disse um dia aos seus onze companheiros: «Irmãos, vejo que o Senhor, na sua misericórdia, quer aumentar o nosso grupo. 2 Vamos, portanto, ao encontro da nossa mãe, a Santa Igreja Romana; demos a conhecer ao Soberano Pontífice o que o Senhor operou, servindo-se de nós, para prosseguirmos, segundo a sua vontade e as suas ordens, a obra começada».
3 A ideia do Pai agradou aos irmãos. Quando partiram com ele para Roma, disse-lhes: 4 «Tomemos um de nós por chefe; consideremo-lo como Vigário de Jesus Cristo; quando ele quiser andar, andamos; cada vez que queira fazer uma paragem, nós nos deteremos». 5 Escolheram o irmão Bernardo, o primeiro depois do bem--aventurado Francisco, e agiram como o Pai lhes dissera. 6 Iam alegres, não tendo nos lábios senão as palavras do Senhor, não ousando falar além do que respeitava ao louvor e glória de Deus e ao bem da sua alma; e oravam com frequência.
7 O Senhor proporcionou-lhes sempre hospitalidade e fez com que lhes servissem o que era necessário.

 
47. 1 Chegados a Roma, encontraram lá o bispo de Assis que os recebeu com grande alegria. Tinha particular estima e afeição pelo bem-aventurado Francisco e seus irmãos. 2 Mas, ignorando o motivo da sua vinda, ficou inquieto: temia que tivessem intenção de deixar a sua terra natal, onde o Senhor já se servira deles para operar maravilhas. 3 Estava muito satisfeito por ter na sua diocese tais homens, cuja vida e exemplo lhe davam as maiores esperanças. 4 Quando conheceu a razão de tal viagem e ficou ao corrente dos seus projectos, foi grande a sua alegria e prometeu aos irmãos o seu auxílio e protecção.
5 O Bispo era amigo do Cardeal João de S. Paulo, Bispo de Sabina, homem realmente cheio da graça divina, que amava muito os servos de Deus. 6 Desde que o Bispo de Assis lhe dera a conhecer a vida de Francisco e seus irmãos, desejava vivamente ver o homem de Deus e alguns dos seus companheiros. 7 Sabendo que estavam em Roma, mandou chamá-los e acolheu-os, cheio de benevolência e devoção.

48. 1 Durante os dias que ficaram com ele, edificaram-no tanto com a santidade da sua conversação e o seu exemplo que, vendo brilhar realmente na sua vida o que lhe haviam contado, se recomendou às suas orações, com humildade e devoção. Pediu-lhes mesmo, como favor especial, que daí em diante fosse considerado como um dos seus irmãos. 2 Por fim, interrogou o bem-aventurado Francisco sobre o motivo da sua viagem. Posto ao corrente do seu projecto e desejo, ofereceu-se para lhe servir de procurador na Corte Pontifícia.
3 O Cardeal dirigiu-se à residência papal e disse ao senhor Papa Inocêncio III: «Encontrei um homem de grande virtude que quer viver segundo o ideal do santo Evangelho e observar em todas as coisas a perfeição evangélica. Creio que o Senhor quer servir-se dele para reavivar no mundo a fé da Santa Igreja». 4 Estas palavras surpreenderam o Papa, que ordenou ao Cardeal que lhe levasse o bem-aventurado Francisco.

49. 1 No dia seguinte, o homem de Deus foi apresentado pelo Cardeal ao Soberano Pontífice, a quem revelou os seus projectos. 2 O Papa, homem de grande prudência, achou bem os desejos do santo, fazendo-lhe, a ele e aos seus irmãos, muitas recomendações; deu-lhes a bênção e acrescentou: «Irmãos, que o Senhor vos acompanhe e, conforme a inspiração com que se dignar favorecer--vos, pregai a penitência a toda a gente. 3 Quando o Deus todo--poderoso vos tiver multiplicado, em número e em graça, voltai a informar-nos; então vos concederemos largamente tudo o que pedirdes e vos confiaremos, com mais segurança, coisas mais importantes».
4 O Senhor Papa queria que os privilégios que lhe concedera e viria a conceder fossem conforme a vontade de Deus. No momento 42 em que o bem-aventurado Francisco ia a retirar-se com os seus companheiros, disse-lhes: 5 «Caros filhos, o vosso modo de vida parece-nos muito duro e difícil. O vosso fervor, estou certo, é tão grande que de vós não é possível duvidar. Mas devemos pensar nos que virão depois de vós e tomar cuidado, para que o vosso caminho não lhes pareça austero demais». 6 Vendo, porém, a sua fé, firmeza e esperança, tão solidamente fundadas em Cristo, que nada queriam abandonar da sua fervorosa regra, disse ao bem--aventurado Francisco: 7 «Vai, filho, e pede a Deus que te revele se o vosso pedido procede da sua vontade. Isso nos permitirá, quando conhecermos a vontade do Senhor, aceder aos teus desejos».

 
50. 1 Pouco depois, orava o homem de Deus, seguindo o conselho do Senhor Papa, quando Deus lhe falou interiormente sob a forma de parábola: «Havia num deserto uma mulher muito pobre e bela. Enamorado dos seus encantos, um grande rei quis desposá-la, esperando que lhe desse belos filhos. Realizou-se a união e dela nasceram numerosos filhos. Quando cresceram, a sua mãe falou--lhes assim: 2 «Meus filhos, não vos envergonheis da vossa condição, porque sois filhos do rei. 3 Ide, portanto, à sua corte e ele vos concederá tudo o que vos for necessário». 4 Tendo chegado à corte, o rei admirou-se da sua beleza; e, descobrindo-lhes no rosto os seus próprios traços, perguntou-lhes: «De quem sois filhos?» 5 Eles responderam que eram filhos duma pobre mulher que vivia no deserto. O rei, cheio de alegria, abraçou-os e disse: «Não temais, sois meus filhos. 6 Se alimento à minha mesa estranhos, com maior razão cuidarei de vós, que sois meus próprios filhos». 7 O rei ordenou então à mulher que mandasse para a corte, para ali serem educados, todos os filhos que dele tivera».
8 O bem-aventurado Francisco reflectiu sobre esta visão que contemplara durante a oração e compreendeu que era ele a mulher pobre.

 
51. 1 Terminada a oração, foi de novo apresentar-se ao Soberano Pontífice e contou-lhe detalhadamente a visão simbólica com que o Senhor o honrara: 2 «Santíssimo Padre, disse, eu sou a mulher pobre, que o Senhor, por seu amor e misericórdia, fez bela e de quem quis ter muitos filhos. 3 O Rei dos reis prometeu-me alimentar todos os filhos que lhe der; porque, se trata bem os estranhos, melhor cuidará dos seus próprios filhos. 4 Se Deus dá os bens temporais aos pecadores, porque ama e quer alimentar todos os seus filhos, com maior razão os concederá aos homens evangélicos, que disso são verdadeiramente dignos».
5 A estas palavras, o Senhor Papa ficou muito admirado, tanto mais que, antes da chegada de S. Francisco, vira, em sonhos, a igreja de São João de Latrão ameaçar ruína e um religioso, débil e sem aparência, sustentá-la com os seus ombros. 6 Ao acordar, cheio de espanto e assombro, usara toda a sua sabedoria e perspicácia para descobrir o que significava esta visão.
7 E eis que, pouco depois, o bem-aventurado Francisco vinha ter com ele, apresentava-lhe o seu projecto e lhe pedia que confirmasse a regra que escrevera em termos tão simples, servindo-se das mesmas palavras do Evangelho, cuja observância perfeita era toda a aspiração da sua alma.
8 O Senhor Papa, vendo o seu fervor no serviço de Deus e comparando o seu sonho com a visão simbólica contada pelo bem--aventurado, disse para si: «Em verdade, é este o homem piedoso e santo que erguerá e sustentará a Igreja de Deus».
9 Abraçou-o, aprovou a regra escrita pelo homem de Deus e concedeu-lhe autorização de pregar, por toda a parte, a penitência; depois deu-a também aos irmãos, com uma condição: necessitavam, para irem pregar, da permissão do bem-aventurado Francisco.
10 Todos estes privilégios foram em seguida confirmados em consistório.

 
52. 1 Obtida a concessão do Papa, S. Francisco deu graças a Deus. Em seguida, de joelhos, prometeu ao Senhor Papa obediência e reverência, com humildade e devoção. 2 Os outros irmãos, em conformidade com a ordem do Senhor Papa, prometeram também obediência e reverência ao bem-aventurado Francisco.
3 Recebida a bênção do Soberano Pontífice, visitaram os túmulos dos Apóstolos. Depois o Cardeal mandou dar a tonsura a S. Francisco e aos outros irmãos, pois assim tinha providenciado, querendo que os doze fossem clérigos.

 
Anónimo Perusino CAPÍTULO VII

 
Como os irmãos foram a Roma e o Senhor Papa lhes concedeu uma Regra e autorização de pregar

31. 1 Vendo, o bem-aventurado Francisco que, pela graça do Salvador, os irmãos iam crescendo em número e méritos, disse--lhes: «Vejo, irmãos, que o Senhor quer fazer de nós uma grande congregação. 2 Vamos, pois, à nossa Madre Igreja Romana e informemos o Sumo Pontífice de quanto Deus opera por nosso intermédio, para prosseguirmos a obra começada com a sua aprovação e mandato». 3 Tendo a proposta agradado, tomou consigo doze irmãos e partiu com eles para Roma.
4 Durante a viagem disse-lhes: «Nomeemos um de nós nosso guia e seja para nós como que o vigário de Jesus Cristo. 5 Seguiremos o caminho que ele nos indicar e pararemos para repousar, quando ele assim o entender». 6 Escolheram o irmão Bernardo, que tinha sido o primeiro a ser recebido pelo bem--aventurado Francisco, e ativeram-se ao que fora combinado.
7 Caminhavam alegres e a sua conversação tinha por tema as palavras do Senhor. Nenhum deles ousava dizer nada que não fosse em louvor e glória de Deus ou em proveito de suas almas. Também se entregavam à oração. 8 O Senhor, no devido tempo preparava-lhes a hospedagem e o alimento necessário.

32. 1 Tendo chegado a Roma, visitaram o Bispo de Assis, que nessa ocasião se encontrava na Cidade Eterna. 2 Ao vê-los, acolheu-os com uma alegria imensa. 3 O Bispo era conhecido de certo cardeal, chamado João de S. Paulo, varão probo e religioso, que muito amava os servos do Senhor. 4 O Bispo pô-lo ao corrente do projecto e forma de vida do bem-aventurado Francisco e de seus irmãos. 5 Depois de ouvir a informação, o cardeal manifestou intenso desejo de conhecer pessoalmente o bem-aventurado Francisco e alguns dos seus irmãos. 6 Informado de que estavam em 25 Roma, mandou chamá-los à sua presença e recebeu-os com devoção e amor.

33. 1 Passaram alguns dias na companhia do cardeal que, comprovando que nas obras dos irmãos resplandecia o que da sua vida tinha ouvido dizer, chegou a professar-lhes profunda afeição. 2 E disse ao bem-aventurado Francisco: «Encomendo-me às vossas orações e quero que doravante me considereis como um dos vossos irmãos. 3 Agora dizei-me: o que vos trouxe a Roma?» Então o bem-aventurado Francisco revelou-lhe plenamente o seu propósito e disse-lhe que queria falar com o Senhor Apostólico22 para prosseguir, com a sua aprovação e mandato, o que tinha empreendido. 4 O cardeal respondeu-lhe: «Quero ser o vosso procurador na Cúria do Senhor Papa».
5 Acorreu, pois, à Cúria e fez a seguinte exposição ao Senhor Papa Inocêncio III: «Encontrei um homem de grande perfeição, que quer viver segundo a forma do santo Evangelho e praticar a perfeição evangélica. 6 Estou convencido de que o Senhor quer, por seu intermédio, renovar totalmente a sua Igreja no mundo inteiro». Tendo-o ouvido, o Santo Padre ficou maravilhado e disse-lhe: «Trazei-mo cá».

 
34. 1 No dia seguinte, o cardeal levou Francisco à presença do Papa. 2 O bem-aventurado Francisco expôs claramente todo o seu propósito ao Senhor Papa, tal como o tinha feito antes ao cardeal.
3 O Senhor Papa observou-lhe: «Demasiado dura e austera é a vossa vida se, querendo formar uma congregação, vos propondes nada possuir neste mundo. 4 Donde vos virá o necessário para viver?» 5 Respondeu-lhe o bem-aventurado Francisco: «Senhor, confio em meu Senhor Jesus Cristo, pois quem se comprometeu a dar-nos vida e glória no céu não nos faltará, no tempo devido, com aquilo de que carecem os nossos corpos na terra». 6 Respondeu o Papa: «É bem verdade o que dizes, filho; mas a natureza humana é frágil e nunca persevera no mesmo sentir. 7 Vai e pede com todo o coração ao Senhor que se digne manifestar-te objectivos mais sensatos e proveitosos para as vossas almas. Quando voltares, comunica-mos e então aprová-los-ei».

 
35. 1 O bem-aventurado Francisco retirou-se para rezar e, com pureza de coração, pediu ao Senhor que, por sua inefável bondade, se dignasse manifestar-lhos. 2 Depois de prolongada oração e com todo o seu coração concentrado no Senhor, ouviu interiormente a sua voz, que lhe falou em forma de parábola: 3 «No reino de certo rei poderoso havia uma mulher em extremo pobre, mas formosa. O rei enamorou-se da mulher e teve dela muitos filhos. 4 Um dia, esta mulher pôs-se a pensar e a dizer consigo mesma: «Que vou eu fazer, pobrezinha como sou, com tantos filhos e sem posses para os manter?» 5 Quando revolvia tais pensamentos em sua mente e o seu semblante se tornava melancólico com tantas preocupações, chegou o rei, que lhe disse: «Que tens, pois te vejo tão pensativa e aflita?» Ela contou-lhe todas as suas preocupações. 6 O rei serenou--a com estas palavras: «Não te assustes com a tua excessiva pobreza, nem temas pelos filhos que tens nem pelos muitos que virás a ter. 7 Pois, se a minha numerosa criadagem tem pão de sobra no meu palácio, não posso permitir que os meus filhos morram de fome. Antes que aos outros, que lhes sobre a eles».
8 Compreendeu logo o homem de Deus, Francisco, que aquela pobríssima mulher o representava a ele. Daqui saiu fortalecido o seu propósito de observar sempre a santíssima pobreza.

 
36. 1 Levantou-se e foi imediatamente ter com o Senhor Apostólico, para lhe comunicar quanto Deus lhe tinha revelado. 2 Ao ouvi-lo, o Senhor Papa ficou muito admirado de que o Senhor manifestasse a sua vontade a um homem tão simples. 3 E reconheceu que esse homem não se movia guiado pela sabedoria humana, mas pela inspiração e poder do Espírito23.
4 Em seguida, o bem-aventurado Francisco inclinou-se e prometeu ao Senhor Papa obediência e reverência com tão grande humildade como devoção. 5 E, como os outros irmãos ainda não tinham prometido obediência, logo ali professaram obediência e reverência ao bem-aventurado Francisco, em conformidade com a ordem do Senhor Papa.
6 O Senhor Papa concedeu-lhe a Regra, a ele e aos irmãos presentes e futuros. 7 E deu-lhe autorização de pregar em toda a parte, conforme lhe fosse concedida a graça do Espírito Santo. Também os outros irmãos poderiam pregar, desde que o bem-aventurado Francisco lhes confiasse o ofício da pregação.
8 Desde então, o bem-aventurado Francisco começou a pregar ao povo pelas cidades e castelos, segundo lhe inspirava o Espírito Santo. O Senhor pôs em seus lábios palavras tão dignas, suaves e dulcíssimas que dificilmente alguém se cansaria de as ouvir.
9 O mencionado cardeal, levado pela dedicação que tinha ao Irmão24, mandou conferir a tonsura a todos os doze irmãos.
10 Mais tarde, o bem-aventurado Francisco mandou que se celebrasse Capítulo duas vezes ao ano: no Pentecostes e na Festa de S. Miguel, no mês de Setembro.





Abril - Mês da Família Franciscana Portuguesa




16 DE ABRIL

DIA NACIONAL DA FAMÍLIA FRANCISCANA PORTUGUESA

MENSAGEM DO PRESIDENTE

O Senhor vos dê a Paz.

Como é de conhecimento geral, o dia 16 de abril é celebrado como Dia da Família Franciscana Portuguesa, em comemoração da data de aprovação da Regra, em 1209. É um dia importante para a nossa família comum que importa valorizar e vivenciar adequadamente. Na verdade, celebrar a Regra comum é celebrar e dar vigor ao sagrado vínculo da maravilhosa vocação franciscana na forma de vida e de Regra que todos, e cada um de nós, tivemos a graça e o privilégio de abraçar, na providencial diversidade de dons e de carismas de cada Instituto.
Como Francisco e Clara de Assis, e como Beatriz da Silva e todos os fundadores e fundadoras das várias sensibilidades desta grande família, proclamemos: «Louvado sejas, meu Senhor, pois me deste Irmãos e Irmãs», e celebremos este dia como festa de família e de vocação franciscana.
Uma vez que, em assembleia-geral da Família Franciscana Portuguesa, foi deliberado que neste ano de 2013, em razão da crise geral e da concorrência de outras celebrações - como o Ano da Fé e o Cinquentenário do Concílio Vaticano II - a comemoração deste Dia fosse promovida mais a nível local (nos mosteiros, conventos, fraternidades e obras) do que por alguma iniciativa de âmbito nacional, convido todos os responsáveis dos Institutos e das Entidades a organizarem localmente o Dia Nacional como celebração festiva da Regra e da Família Franciscana.
Entre outras iniciativas, a que a criatividade de cada Entidade certamente saberá dar vida, foi sugerido na assembleia-geral da Família Franciscana Portuguesa que, nesse dia 16 de abril, sejam recitadas Laudes e Vésperas segundo um modelo comum, a fornecer pelo Centro de Franciscanismo, com tema inspirado na aprovação da Regra. Assim recomendo que se faça.

Em prol da vitalidade e visibilidade do nosso ideal comum,

a todos desejo um FELIZ DIA NACIONAL e BOAS FESTAS franciscanamente pascais!

Lisboa, 25 de março de 2013

Anunciação e Incarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo

Frei Vítor Melícias, ofm

Presidente

1 de abril de 2013

Santa Páscoa 2013

Comemoramos a Páscoa do Senhor,
ouvindo a sua palavra e celebrando os seus mistérios,
na esperança de participar no seu triunfo sobre a morte
e de viver com Ele para sempre junto de Deus.
 

25 de março de 2013

Semana Santa - Concerto

AS SETE PALAVRAS DE JESUS CRISTO NA CRUZ
DE
HEINRICH SCHÜTZ(1585-1672)
IGREJA DO SEMINÁRIO-DIA 25 DE MARÇO,SEGUNDA-FEIRA ÁS 21.30 –LARGO DA LUZ -LISBOA
 
Palavras de vida
na proximidade da morte

23 de março de 2013

Domingo de Ramos- Jesus entra em Jerusalém


Entrada triunfal de Jesus em Jerusalém.1320. Fresco por Pietro Lorenzetti na Basílica de São Francisco em Assis, na Itália

14 de março de 2013

Habemus Papam - Papa Francisco I



O Senhor o abençoe e o guarde.


7 de março de 2013

7 de março - S. Pedro Sukeyiro, terceiro franciscano, mártir, +1597

S. Pedro Sukeyiro, terceiro franciscano, mártir, +1597


S. Pedro Sukeyiro


Pedro Sukeyiro havia se tornado cristão e franciscano secular em Meaco, com os missionários franciscanos, aos quais tinha prestado toda a colaboração na qualidade de catequista para a instrução e formação dos neófitos, na assistência aos enfermos nos hospitais da missão e na educação dos meninos das diversas escolas.
Quando em 1596 desencadeou-se a perseguição de Hideyoshi que, como furacão, se abateu sobre homens e instituições, tudo destruindo, os missionários e os terciários japoneses de Meaco e Osaka foram aprisionados e levados a Nagasaki a fim de serem crucificados.
Durante a viagem Pedro Sukeyiro e Francisco Fahelante, dois cristãos originários de Meaco, a quem os missionários tinham como colaboradores inscritos na Ordem Terceira de São Francisco, quiseram acompanhar os prisioneiros para servi-los e apoia-los, ajudando-os nas dificuldades do caminho.
Ocupados com esse serviço voluntário, fizeram-no tão perfeitamente, que impressionaram um dos guardas, que exclamou: "Os cristãos são realmente valentes, unidos entre si com laços de verdadeira caridade e fraternidade".
Em vista de sua persistência neste serviço, também a eles foi decretada a ordem de captura.
E dessa maneira foram associados aos outros prisioneiros e martirizados com eles.
Na manhã de 5 de fevereiro de 1597 os santos mártires chegaram a Nagasaki.
Escolheu-se como lugar de suplício uma parte plana de uma colina próxima do mar, que se parece muito com o Calvário, tanto na forma como nas sendas tortuosas por onde se chega a ela e de onde se pode ver a cidade.
O governador tinha feito levantar 26 cruzes: as seis do meio para os franciscanos e as outras para os japoneses. Daquele dia em diante o local passou a ser chamado "Monte dos Mártires" ou "Colina Santa", pelo sangue de cristãos derramado por quase meio século.
Nas primeiras horas da noite Fazamburo tinha publicado um edito no qual anunciava a execução dos mártires e se proibia a todos, sob pena de morte sair da cidade para acompanhar os condenados.
Nas portas da cidade foram colocados soldados com a ordem de não deixar passar ninguém. Precauções inúteis!
Quando se soube que os condenados estavam chegando, todos, cristãos e pagãos, precipitaram-se até as portas da cidade e como torrente envolveram os guardas, precipitando-se para os mátires, a fim de acompanhá-los ao local do suplício.
Pedro Sukeyiro e os demais companheiros, na manhã de 5 de fevereiro de 1597, como invictos heróis, cantando, sofreram o martírio da crucifixão. (http://evangelhoquotidiano.org/main.php?language=PT&module=saintfeast&localdate=20130307&id=12287&fd=0)

5 de março de 2013

Ano C - 3º Domingo da Quaresma (Lc 13, 1-9)


28 de fevereiro de 2013

Obrigado Padre David de Azevedo





Padre Frei David de Azevedo faleceu pelas 06H00 deste dia 27 de fevereiro 2013, na Enfermaria Provincial do Convento da Imaculada Conceição, em Lisboa. Tinha 90 anos de idade, 72 de profissão religiosa e 66 de sacerdócio.
No dia 27, pelas 11H00, foi celebrada Missa de Corpo Presente na igreja do Convento da Imaculada Conceição (Luz, Lisboa), tendo sido, depois, transladado para a igreja do Convento de Santo António de Varatojo, onde, hoje, dia 28, pelas 10H30 será celebrada Missa Exequial. Seguidamente irá a sepultar no Cemitério de Torres Vedras. (http://www.ofm.org.pt/component/k2/item/196-faleceu-frei-david-de-azevedo.html).

Em homenagem a tão Eminente Franciscano transcrevemos um excerto da sua obra "Os mil sinos do mar - sons de amor no mistério das coisas", Editorial Franciscana 2002, pág. 111 a 113 

"O ESPÍRITO DO SENHOR 
Acabámos de celebrar a Ressurreição do Senhor e preparamo-nos para viver a festa do Pentecostes. presença grande - talvez não suficientemente compreendida pelos intérpretes, presos por demais às tradições jurídicas - teve o Espírito Santo na vida de S. Francisco. Que significa a expressão "ter o Espírito do Senhor" inserida - e com que força! - numa passagem culminante da Regra, que é a exortação do capítulo décimo  (2R. 10, 7-10): "Atendam antes ao que acima de todas as coisas devem desejar: ter o Espírito do Senhor e a sua santa obra: orar sempre a Deus com um coração puro, ter humildade e paciência nas perseguições e enfermidades e amar os que nos perseguem, insultam e acusam"" (2R 10, 8-9)? Que significa o requisito "por divina inspiração" que a Regra impõe em dois momentos cruciais da vocação franciscana, a entrada na Ordem e a ida para entre os moutros e outros infiéis?...
Um dado muito importante para se compreender a experiência religiosa de Francisco é a sua maneira de contemplar a Santíssima Trindade. Como já dissemos não é na eternidade mas na história que o mistério trinitário encanta o Pobrezinho de Assis. Isto é, não interessam a Francisco as relações entre as três pessoas divinas que os teólogos descobrem: geração ativa, geração passiva, processões, missões e outras que existam. o que o encanta e arrebata é que o Pai altíssimo lhe tenha dado nada mais nada menos que o Seu Filho bendito e glorioso, amável e mais que tudo desejável. Que esse Filho bendito se lhe tivesse oferecido como dileto menino no presépio de Belém, e por ele tivesse morrido no patíbulo da Cruz, e para ele tivesse ficado - aparência de pão - na Eucaristia. E que o divino Espírito Santo não descansa enquanto não haja metido tudo isto no coração dos homens. Tudo isto é história. Acontecimento. Não arrazoado teológico.
Nesta maneira de ver, a Trindade é uma força infinita, activa, incontível. Nada a detém. nada a faz parar - nem que seja preciso passar por cima do cadáver do Filho morto - enquanto não realizar a sua decisão de divinizar os homens, enquanto o homem não compreender e, compreendendo, participar da Sua vida e felicidade. Sua, deles: do Pai, do Filho e do Espírito Santo. E se o homem é duro de cabeça!...
"Ter o Espírito do Senhor" é ser apanhado por esta força. Entrar no coração de Deus. Querer o que Deus quer e com a mesma força com que Deus quer. "Por divina inspiração" significa isso. Meter-se no grandioso projecto de Deus e levá-lo para a frente, custe o que custar, nem que seja preciso o martírio. Levá-lo para a frente sempre e só com as forças de Deus: a verdade e o amor ou por outras palavras: um amor forte, desejoso de evangelizar a todos e, ao mesmo tempo, um respeito total pela liberdade de cada um. Paixão de se unir e, ao mesmo tempo, não-violência.
Por isso o martírio pode vir a ser a síntese real desse amor e desse respeito. É a lógica do Espírito Santo. Ser franciscano é ser evangelizador. Com esta força e desta maneira...
Abril 1993
Frei David de Azevedo"

25 de fevereiro de 2013

Obrigado Bento XVI

2 de fevereiro de 2013

Retiro Quaresmal - 23 de Fevereiro

21 de janeiro de 2013

A Alegria de Acreditar no Evangelho


Alegria de acreditar no Evangelho

Cremos que o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo é o “sumo bem, o bem eterno, donde procede todo o bem, e sem o qual não há bem algum.” (PPN). A alegria de acreditar e de viver o Evangelho é dom de Deus ao Homem que O procura e encontra. O Evangelho capacita o Homem a seguir em frente e contra tudo e todos é rosa-dos-ventos, estrela polar, sol sem ocaso e porto seguro. Podem vir os ventos, as chuvas e as marés que nada podem contra o Homem que habita o Evangelho, “o sumo bem, o bem completo.” (LH). A ninguém é recusado o Evangelho, a todos se oferece, mas poucos o vivem. O Evangelho só se encontra no Evangelho. O poder, o ter e o prazer do mundo não é o acesso a seguir até ao Evangelho. Há quem esmole o Evangelho. Há quem venda o Evangelho. Há quem cometa homicídios, roubos e toda a espécie de crimes por causa do Evangelho. Há quem compre o Evangelho. Mas o que se compra e vende e rouba e espolia não é o Evangelho. O Evangelho não se pode vender, nem roubar e muito menos espoliar porque o Evangelho é “a plenitude do bem, todo o bem, o bem completo, o verdadeiro e sumo bem" (1R). O Evangelho não se dá entre nós, os soberbos, ladrões, gananciosos, adúlteros e miseráveis. O Evangelho dá-O Deus, pela caridade, aos Felizes. O Evangelho é esperança que não engana é bondade que recria. É rocha em que assenta a vida em plenitude. É vento fecundo. É Espirito que sopra onde e como quer. O Evangelho escapa à realidade porque está para além dela. O Evangelho promete e realiza todos os bens porque é “a plenitude do bem, todo o bem, o bem completo, o verdadeiro e sumo bem" (1R). O Evangelho dá-se, acolhe-se, sofre-se, aceita-se, professa-se, celebra-se e anuncia-se porque no e no antes e depois do mundo o Evangelho vive-se em Igreja, em Fraternidade, na unidade da Trindade.

Este texto é um eco do encontro da Fraternidade do mês de janeiro subordinado ao tema “Vocação Franciscana” e ao Plano de Vida e Ação para o corrente ano pastoral, “Professar, celebrar, viver e rezar a fé no Evangelho”. Ilustra-se o mesmo com um texto belíssimo da Legenda Perusina (LP) sobre a doação de uma Bíblia para venda, ordenada por S. Francisco, para prover às necessidades de uma mãe que desejava viver o Evangelho.

Na Porciúncula, manda dar uma Bíblia à mãe de dois frades que veio pedir-lhe esmola


56. 1 Outra vez, estando em Santa Maria da Porciúncula, uma pobre mulher idosa que tinha dois filhos na Ordem, veio ao con-vento pedir esmola ao bem-aventurado Francisco, porque nesse ano ela não tinha de que viver. 2 O Santo perguntou a Frei Pedro Catânio, que era então Ministro Geral: «Podemos encontrar alguma coisa para esta nossa mãe?» 3 Ele dizia que a mãe dum frade era mãe dele e de todos os frades da Ordem.


4 Frei Pedro respondeu: «Em casa não temos nada para lhe dar, sobretudo porque é necessário esmola considerável para a livrar das suas dificuldades. 5 Na igreja temos só um Novo Testamento, por onde lemos as lições de matinas». 6 Naquele tempo os frades não tinham breviários; e saltérios, apenas alguns.


7 «Pois bem, replicou o bem-aventurado Francisco, dá à nossa mãe o Novo Testamento; que o venda, para prover às suas necessidades. Estou certo que dá-lo é mais do agrado do Senhor e da Santíssima Virgem, do que lê-lo». E deram-Ihe o livro.


Do bem-aventurado Francisco pode-se dizer e escrever o que se diz de Job: «Desde o ventre de minha mãe, nasceu e cresceu comigo a caridade».

9 A nós, que vivemos com ele, ser-nos-ia difícil escrever e narrar, não só o que nos foi contado por outros, como o que vimos com os nossos olhos, no que respeita à sua bondade para com os pobres.

9 de janeiro de 2013

Semana de Oração pela Vocação Franciscana 2013


"Alegria de Acreditar"



Publica-se a mensagem que recebemos da FRAJUVOC por ocasião da Semana de Oração pela Vocação Franciscana 2013.


"Estimadas Irmãs e Irmãos da Família Franciscana Portuguesa,


Em pleno espírito celebrativo do Ano da Fé, iniciamos a Semana de oração pela Vocação Franciscana, que inicia no dia 9 e termina a 16 de janeiro.
A alegria do Senhor é a nossa força (Ne 8, 10) e fonte da nossa alegria é o Senhor, para Quem “caminhamos firmes na fé, alegres na esperança e perseverantes na oração (cf. Rom 12, 12).
Que em cada fraternidade, comunidade, grupos ou movimentos que assistimos se criem espaços de oração,
que favoreçam o verdadeiro clima de partilha, para que a nossa vocação seja celebrada e partilhada num afectuoso clima de amor fraterno (cf. Rom 12, 10).


“Caminhamos pela fé” (2Cor 5, 7) como peregrinos e estrangeiros neste mundo (cf. Rb 6 e T 24),
chamados a fixar os nossos olhos em Cristo, espelho onde se reflecte o esplendor da eternidade (cf 3CCL).
Este ano, propomos algumas propostas celebrativas ou simples esquemas de oração que, individual ou em grupo/comunidade, nos poderão ajudar a rezar a alegria de sermos irmãos.


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LEITURA ORANTE DA PALAVRA ║



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Leitura Orante da Palavra em chave franciscana - "A Palavra, alimento da Vocação"


– É UMA PROPOSTA de LECTIO DIVINA que podes realizar individualmente ou em grupo comunidade todos os dias durante a Semana:


◈VÊ: [Podes fazer Download e Imprimires, basta tomares atenção aos ícones no lado inferior direito da pag.]




▼DOWNLOAD & ♬ESCUTA No caso de estares só ou ser difícil de escolher músicas para acompanhares o teu/vosso momento de leitura orante da Palavra de Deus podes sempre fazer o Download das músicas que encontras no final deste caderno neste link:




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MARCADOR DIÁRIO ║



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Marcador Diário -“Caminhamos na fé”


- É UMA PROPOSTA DE SIMPLES ORAÇÕES à luz das Exortações de S. Francisco para serem rezadas individualmente ou comunitariamente nas fraternidades, comunidades, grupos ou movimentos no início do dia, (Ofício de Leituras / Laudes), no inicio da refeição ou num momento de descanso no trabalho.


◈VÊ: [Podes fazer Download e Imprimires, basta tomares atenção aos ícones no lado inferior direito da pag.]




“Caminhamos pela fé” (2Cor 5, 7) como peregrinos e estrangeiros neste mundo (cf. Rb 6 e T 24),
chamados a fixar os nossos olhos em Cristo, espelho onde se reflecte o esplendor da eternidade (cf 3CCL).


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VIGÍLIA VOCACIONAL ║


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Vigília Vocacional – “Permanecer na Alegria


– É UMA PROPOSTA DE UMA VIGÍLIA a realizares com a tua fraternidade, comunidade,
grupo ou movimento num dia a acertarem durante a SOVF’13.


◈VÊ: [Podes fazer Download e Imprimires, basta tomares atenção aos ícones no lado inferior direito da pag.]




▼DOWNLOAD & ♬ESCUTA No caso de ser difícil cantar ou tenham dificuldades em encontrar cânticos


podes sempre fazer Download das músicas indicadas no esquema da Vigília neste link:




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ORAÇÃO VOCACIONAL ║



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Pagela com a Oração Vocacional ‘2013.


◈VÊ: [Podes fazer Download e Imprimires, basta tomares atenção aos ícones no lado inferior direito da pag.]




Que a Oração, acto que fortalece a experiência pessoal e comunitária de fé , como dom do Espírito Santo,
seja húmus nas nossas relações fraternas e se torne num instrumento favorável no «cuidar da própria vocação» e no carinho que manifestamos para com as vocações que o Senhor continua hoje a enviar-nos.


Com os melhores cumprimentos, nos despedimos com votos de paz e bem!


Leiria, 07 de Janeiro 2013


FRAJUVOC
________________________________________________________

:::: SEMANA de ORAÇÃO pela VOCAÇÃO FRANCISCANA ::::

3 de janeiro de 2013

2013 - Mensagem de Ano Novo de Bento XVI

Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa Paz!




MENSAGEM DE SUA SANTIDADE

BENTO XVI

PARA A CELEBRAÇÃO DO

XLVI DIA MUNDIAL DA PAZ

1 DE JANEIRO DE 2013



BEM-AVENTURADOS OS OBREIROS DA PAZ

1. Cada ano novo traz consigo a expectativa de um mundo melhor. Nesta perspectiva, peço a Deus, Pai da humanidade, que nos conceda a concórdia e a paz a fim de que possam tornar-se realidade, para todos, as aspirações duma vida feliz e próspera.

À distância de 50 anos do início do Concílio Vaticano II, que permitiu dar mais força à missão da Igreja no mundo, anima constatar como os cristãos, Povo de Deus em comunhão com Ele e caminhando entre os homens, se comprometem na história compartilhando alegrias e esperanças, tristezas e angústias,[1] anunciando a salvação de Cristo e promovendo a paz para todos.

Na realidade o nosso tempo, caracterizado pela globalização, com seus aspectos positivos e negativos, e também por sangrentos conflitos ainda em curso e por ameaças de guerra, requer um renovado e concorde empenho na busca do bem comum, do desenvolvimento de todo o homem e do homem todo.

Causam apreensão os focos de tensão e conflito causados por crescentes desigualdades entre ricos e pobres, pelo predomínio duma mentalidade egoísta e individualista que se exprime inclusivamente por um capitalismo financeiro desregrado. Além de variadas formas de terrorismo e criminalidade internacional, põem em perigo a paz aqueles fundamentalismos e fanatismos que distorcem a verdadeira natureza da religião, chamada a favorecer a comunhão e a reconciliação entre os homens.

E no entanto as inúmeras obras de paz, de que é rico o mundo, testemunham a vocação natural da humanidade à paz. Em cada pessoa, o desejo de paz é uma aspiração essencial e coincide, de certo modo, com o anelo por uma vida humana plena, feliz e bem sucedida. Por outras palavras, o desejo de paz corresponde a um princípio moral fundamental, ou seja, ao dever-direito de um desenvolvimento integral, social, comunitário, e isto faz parte dos desígnios que Deus tem para o homem. Na verdade, o homem é feito para a paz, que é dom de Deus.

Tudo isso me sugeriu buscar inspiração, para esta Mensagem, às palavras de Jesus Cristo: «Bem-aventurados os obreiros da paz, porque serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 9).

A bem-aventurança evangélica

2. As bem-aventuranças proclamadas por Jesus (cf. Mt 5, 3-12; Lc 6, 20-23) são promessas. Com efeito, na tradição bíblica, a bem-aventurança é um género literário que traz sempre consigo uma boa nova, ou seja um evangelho, que culmina numa promessa. Assim, as bem-aventuranças não são meras recomendações morais, cuja observância prevê no tempo devido – um tempo localizado geralmente na outra vida – uma recompensa, ou seja, uma situação de felicidade futura; mas consistem sobretudo no cumprimento duma promessa feita a quantos se deixam guiar pelas exigências da verdade, da justiça e do amor. Frequentemente, aos olhos do mundo, aqueles que confiam em Deus e nas suas promessas aparecem como ingénuos ou fora da realidade; ao passo que Jesus lhes declara que já nesta vida – e não só na outra – se darão conta de serem filhos de Deus e que, desde o início e para sempre, Deus está totalmente solidário com eles. Compreenderão que não se encontram sozinhos, porque Deus está do lado daqueles que se comprometem com a verdade, a justiça e o amor. Jesus, revelação do amor do Pai, não hesita em oferecer-Se a Si mesmo em sacrifício. Quando se acolhe Jesus Cristo, Homem-Deus, vive-se a jubilosa experiência de um dom imenso: a participação na própria vida de Deus, isto é, a vida da graça, penhor duma vida plenamente feliz. De modo particular, Jesus Cristo dá-nos a paz verdadeira, que nasce do encontro confiante do homem com Deus.

A bem-aventurança de Jesus diz que a paz é, simultaneamente, dom messiânico e obra humana. Na verdade, a paz pressupõe um humanismo aberto à transcendência; é fruto do dom recíproco, de um mútuo enriquecimento, graças ao dom que provém de Deus e nos permite viver com os outros e para os outros. A ética da paz é uma ética de comunhão e partilha. Por isso, é indispensável que as várias culturas de hoje superem antropologias e éticas fundadas sobre motivos teorico-práticos meramente subjectivistas e pragmáticos, em virtude dos quais as relações da convivência se inspiram em critérios de poder ou de lucro, os meios tornam-se fins, e vice-versa, a cultura e a educação concentram-se apenas nos instrumentos, na técnica e na eficiência. Condição preliminar para a paz é o desmantelamento da ditadura do relativismo e da apologia duma moral totalmente autónoma, que impede o reconhecimento de quão imprescindível seja a lei moral natural inscrita por Deus na consciência de cada homem. A paz é construção em termos racionais e morais da convivência, fundando-a sobre um alicerce cuja medida não é criada pelo homem, mas por Deus. Como lembra o Salmo 29, « o Senhor dá força ao seu povo; o Senhor abençoará o seu povo com a paz » (v. 11).

A paz: dom de Deus e obra do homem

3. A paz envolve o ser humano na sua integridade e supõe o empenhamento da pessoa inteira: é paz com Deus, vivendo conforme à sua vontade; é paz interior consigo mesmo, e paz exterior com o próximo e com toda a criação. Como escreveu o Beato João XXIII na Encíclica Pacem in terris – cujo cinquentenário terá lugar dentro de poucos meses –, a paz implica principalmente a construção duma convivência humana baseada na verdade, na liberdade, no amor e na justiça.[2] A negação daquilo que constitui a verdadeira natureza do ser humano, nas suas dimensões essenciais, na sua capacidade intrínseca de conhecer a verdade e o bem e, em última análise, o próprio Deus, põe em perigo a construção da paz. Sem a verdade sobre o homem, inscrita pelo Criador no seu coração, a liberdade e o amor depreciam-se, a justiça perde a base para o seu exercício.

Para nos tornarmos autênticos obreiros da paz, são fundamentais a atenção à dimensão transcendente e o diálogo constante com Deus, Pai misericordioso, pelo qual se implora a redenção que nos foi conquistada pelo seu Filho Unigénito. Assim o homem pode vencer aquele germe de obscurecimento e negação da paz que é o pecado em todas as suas formas: egoísmo e violência, avidez e desejo de poder e domínio, intolerância, ódio e estruturas injustas.

A realização da paz depende sobretudo do reconhecimento de que somos, em Deus, uma úni-ca família humana. Esta, como ensina a Encíclica Pacem in terris, está estruturada mediante relações interpessoais e instituições sustentadas e anima¬das por um «nós» comunitário, que implica uma ordem moral, interna e externa, na qual se reconheçam sinceramente, com verdade e justiça, os próprios direitos e os próprios deveres para com os demais. A paz é uma ordem de tal modo vivificada e integrada pelo amor, que se sentem como próprias as necessidades e exigências alheias, que se fazem os outros comparticipantes dos próprios bens e que se estende sempre mais no mundo a comunhão dos valores espirituais. É uma ordem realizada na liberdade, isto é, segundo o modo que corresponde à dignidade de pessoas que, por sua própria natureza racional, assumem a responsabilidade do próprio agir.[3]

A paz não é um sonho, nem uma utopia; a paz é possível. Os nossos olhos devem ver em profundidade, sob a superfície das aparências e dos fenómenos, para vislumbrar uma realidade positiva que existe nos corações, pois cada homem é criado à imagem de Deus e chamado a crescer contribuindo para a edificação dum mundo novo. Na realidade, através da encarnação do Filho e da redenção por Ele operada, o próprio Deus entrou na história e fez surgir uma nova criação e uma nova aliança entre Deus e o homem (cf. Jr 31, 31-34), oferecendo-nos a possibilidade de ter « um coração novo e um espírito novo » (cf. Ez 36, 26).

Por isso mesmo, a Igreja está convencida de que urge um novo anúncio de Jesus Cristo, primeiro e principal factor do desenvolvimento integral dos povos e também da paz. Na realidade, Jesus é a nossa paz, a nossa justiça, a nossa reconciliação (cf. Ef 2, 14; 2 Cor 5, 18). O obreiro da paz, segundo a bem-aventurança de Jesus, é aquele que procura o bem do outro, o bem pleno da alma e do corpo, no tempo presente e na eternidade.

A partir deste ensinamento, pode-se deduzir que cada pessoa e cada comunidade – religiosa, civil, educativa e cultural – é chamada a trabalhar pela paz. Esta consiste, principalmente, na realização do bem comum das várias sociedades, primárias e intermédias, nacionais, internacionais e a mundial. Por isso mesmo, pode-se supor que os caminhos para a implementação do bem comum sejam também os caminhos que temos de seguir para se obter a paz.

Obreiros da paz são aqueles que amam, defendem e promovem a vida na sua integridade

4. Caminho para a consecução do bem comum e da paz é, antes de mais nada, o respeito pela vida humana, considerada na multiplicidade dos seus aspectos, a começar da concepção, passando pelo seu desenvolvimento até ao fim natural. Assim, os verdadeiros obreiros da paz são aqueles que amam, defendem e promovem a vida humana em todas as suas dimensões: pessoal, comunitária e transcendente. A vida em plenitude é o ápice da paz. Quem deseja a paz não pode tolerar atentados e crimes contra a vida.

Aqueles que não apreciam suficientemente o valor da vida humana, chegando a defender, por exemplo, a liberalização do aborto, talvez não se dêem conta de que assim estão a propor a prossecução duma paz ilusória. A fuga das responsabilidades, que deprecia a pessoa humana, e mais ainda o assassinato de um ser humano indefeso e inocente nunca poderão gerar felicidade nem a paz. Na verdade, como se pode pensar em realizar a paz, o desenvolvimento integral dos povos ou a própria salvaguarda do ambiente, sem estar tutelado o direito à vida dos mais frágeis, a começar pelos nascituros? Qualquer lesão à vida, de modo especial na sua origem, provoca inevitavelmente danos irreparáveis ao desenvolvimento, à paz, ao ambiente. Tão-pouco é justo codificar ardilosamente falsos direitos ou opções que, baseados numa visão redutiva e relativista do ser humano e com o hábil recurso a expressões ambíguas tendentes a favorecer um suposto direito ao aborto e à eutanásia, ameaçam o direito fundamental à vida.

Também a estrutura natural do matrimónio, como união entre um homem e uma mulher, deve ser reconhecida e promovida contra as tentativas de a tornar, juridicamente, equivalente a formas radicalmente diversas de união que, na realidade, a prejudicam e contribuem para a sua desestabilização, obscurecendo o seu carácter peculiar e a sua insubstituível função social.

Estes princípios não são verdades de fé, nem uma mera derivação do direito à liberdade religiosa; mas estão inscritos na própria natureza humana – sendo reconhecíveis pela razão – e consequentemente comuns a toda a humanidade. Por conseguinte, a acção da Igreja para os promover não tem carácter confessional, mas dirige-se a todas as pessoas, independentemente da sua filiação religiosa. Tal acção é ainda mais necessária quando estes princípios são negados ou mal entendidos, porque isso constitui uma ofensa contra a verdade da pessoa humana, uma ferida grave infligida à justiça e à paz.

Por isso, uma importante colaboração para a paz é dada também pelos ordenamentos jurídicos e a administração da justiça quando reconhecem o direito ao uso do princípio da objecção de consciência face a leis e medidas governamentais que atentem contra a dignidade humana, como o aborto e a eutanásia.

Entre os direitos humanos basilares mesmo para a vida pacífica dos povos, conta-se o direito dos indivíduos e comunidades à liberdade religiosa. Neste momento histórico, torna-se cada vez mais importante que este direito seja promovido não só negativamente, como liberdade de – por exemplo, de obrigações e coacções quanto à liberdade de escolher a própria religião –, mas também positivamente, nas suas várias articulações, como liberdade para: por exemplo, para testemunhar a própria religião, anunciar e comunicar a sua doutrina; para realizar actividades educativas, de beneficência e de assistência que permitem aplicar os preceitos religiosos; para existir e actuar como organismos sociais, estruturados de acordo com os princípios doutrinais e as finalidades institucionais que lhe são próprias. Infelizmente vão-se multiplicando, mesmo em países de antiga tradição cristã, os episódios de intolerância religiosa, especialmente contra o cristianismo e aqueles que se limitam a usar os sinais identificadores da própria religião.

O obreiro da paz deve ter presente também que as ideologias do liberalismo radical e da tecnocracia insinuam, numa percentagem cada vez maior da opinião pública, a convicção de que o crescimento económico se deve conseguir mesmo à custa da erosão da função social do Estado e das redes de solidariedade da sociedade civil, bem como dos direitos e deveres sociais. Ora, há que considerar que estes direitos e deveres são fundamentais para a plena realização de outros, a começar pelos direitos civis e políticos.

E, entre os direitos e deveres sociais actualmente mais ameaçados, conta-se o direito ao trabalho. Isto é devido ao facto, que se verifica cada vez mais, de o trabalho e o justo reconhecimento do estatuto jurídico dos trabalhadores não serem adequadamente valorizados, porque o crescimento económico dependeria sobretudo da liberdade total dos mercados. Assim o trabalho é considerado uma variável dependente dos mecanismos económicos e financeiros. A propósito disto, volto a afirmar que não só a dignidade do homem mas também razões económicas, sociais e políticas exigem que se continue « a perseguir como prioritário o objectivo do acesso ao trabalho para todos, ou da sua manutenção ».[4] Para se realizar este ambicioso objectivo, é condição preliminar uma renovada apreciação do trabalho, fundada em princípios éticos e valores espirituais, que revigore a sua concepção como bem fundamental para a pessoa, a família, a sociedade. A um tal bem corresponde um dever e um direito, que exigem novas e ousadas políticas de trabalho para todos.

Construir o bem da paz através de um novo modelo de desenvolvimento e de economia

5. De vários lados se reconhece que, hoje, é necessário um novo modelo de desenvolvimento e também uma nova visão da economia. Quer um desenvolvimento integral, solidário e sustentável, quer o bem comum exigem uma justa escala de bens-valores, que é possível estruturar tendo Deus como referência suprema. Não basta ter à nossa disposição muitos meios e muitas oportunidades de escolha, mesmo apreciáveis; é que tanto os inúmeros bens em função do desenvolvimento como as oportunidades de escolha devem ser empregues de acordo com a perspectiva duma vida boa, duma conduta recta, que reconheça o primado da dimensão espiritual e o apelo à realização do bem comum. Caso contrário, perdem a sua justa valência, acabando por erguer novos ídolos.

Para sair da crise financeira e económica actual, que provoca um aumento das desigualdades, são necessárias pessoas, grupos, instituições que promovam a vida, favorecendo a criatividade humana para fazer da própria crise uma ocasião de discernimento e de um novo modelo económico. O modelo que prevaleceu nas últimas décadas apostava na busca da maximização do lucro e do consumo, numa óptica individualista e egoísta que pretendia avaliar as pessoas apenas pela sua capacidade de dar resposta às exigências da competitividade. Olhando de outra perspectiva, porém, o sucesso verdadeiro e duradouro pode ser obtido com a dádiva de si mesmo, dos seus dotes intelectuais, da própria capacidade de iniciativa, já que o desenvolvimento económico suportável, isto é, autenticamente humano tem necessidade do princípio da gratuidade como expressão de fraternidade e da lógica do dom. [5] Concretamente na actividade económica, o obreiro da paz aparece como aquele que cria relações de lealdade e reciprocidade com os colaboradores e os colegas, com os clientes e os usuários. Ele exerce a actividade económica para o bem comum, vive o seu compromisso como algo que ultrapassa o interesse próprio, beneficiando as gerações presentes e futuras. Deste modo sente-se a trabalhar não só para si mesmo, mas também para dar aos outros um futuro e um trabalho dignos.

No âmbito económico, são necessárias – especialmente por parte dos Estados – políticas de desenvolvimento industrial e agrícola que tenham a peito o progresso social e a universalização de um Estado de direito e democrático. Fundamental e imprescindível é também a estruturação ética dos mercados monetário, financeiro e comercial; devem ser estabilizados e melhor coordenados e controlados, de modo que não causem dano aos mais pobres. A solicitude dos diversos obreiros da paz deve ainda concentrar-se – com mais determinação do que tem sido feito até agora – na consideração da crise alimentar, muito mais grave do que a financeira. O tema da segurança das provisões alimentares voltou a ser central na agenda política internacional, por causa de crises relacionadas, para além do mais, com as bruscas oscilações do preço das matérias-primas agrícolas, com comportamentos irresponsáveis por parte de certos agentes económicos e com um controle insuficiente por parte dos Governos e da comunidade internacional. Para enfrentar semelhante crise, os obreiros da paz são chamados a trabalhar juntos em espírito de solidariedade, desde o nível local até ao internacional, com o objectivo de colocar os agricultores, especialmente nas pequenas realidades rurais, em condições de poderem realizar a sua actividade de modo digno e sustentável dos pontos de vista social, ambiental e económico.

Educação para uma cultura da paz: o papel da família e das instituições

6. Desejo veementemente reafirmar que os diversos obreiros da paz são chamados a cultivar a paixão pelo bem comum da família e pela justiça social, bem como o empenho por uma válida educação social.

Ninguém pode ignorar ou subestimar o papel decisivo da família, célula básica da sociedade, dos pontos de vista demográfico, ético, pedagógico, económico e político. Ela possui uma vocação natural para promover a vida: acompanha as pessoas no seu crescimento e estimula-as a enriquecerem-se entre si através do cuidado recíproco. De modo especial, a família cristã guarda em si o primordial projecto da educação das pessoas segundo a medida do amor divino. A família é um dos sujeitos sociais indispensáveis para a realização duma cultura da paz. É preciso tutelar o direito dos pais e o seu papel primário na educação dos filhos, nomeadamente nos âmbitos moral e religioso. Na família, nascem e crescem os obreiros da paz, os futuros promotores duma cultura da vida e do amor. [6]

Nesta tarefa imensa de educar para a paz, estão envolvidas de modo particular as comunidades dos crentes. A Igreja toma parte nesta grande responsabilidade através da nova evangelização, que tem como pontos de apoio a conversão à verdade e ao amor de Cristo e, consequentemente, o renascimento espiritual e moral das pessoas e das sociedades. O encontro com Jesus Cristo plasma os obreiros da paz, comprometendo-os na comunhão e na superação da injustiça.

Uma missão especial em prol da paz é desempenhada pelas instituições culturais, escolásticas e universitárias. Delas se requer uma notável contribuição não só para a formação de novas gerações de líderes, mas também para a renovação das instituições públicas, nacionais e internacionais. Podem também contribuir para uma reflexão científica que radique as actividades económicas e financeiras numa sólida base antropológica e ética. O mundo actual, particularmente o mundo da política, necessita do apoio dum novo pensamento, duma nova síntese cultural, para superar tecnicismos e harmonizar as várias tendências políticas em ordem ao bem comum. Este, visto como conjunto de relações interpessoais e instituições positivas ao serviço do crescimento integral dos indivíduos e dos grupos, está na base de toda a verdadeira educação para a paz.

Uma pedagogia do obreiro da paz

7. Concluindo, há necessidade de propor e promover uma pedagogia da paz. Esta requer uma vida interior rica, referências morais claras e válidas, atitudes e estilos de vida adequados. Com efeito, as obras de paz concorrem para realizar o bem co¬mum e criam o interesse pela paz, educando para ela. Pensamentos, palavras e gestos de paz criam uma mentalidade e uma cultura da paz, uma atmos¬fera de respeito, honestidade e cordialidade. Por isso, é necessário ensinar os homens a amarem-se e educarem-se para a paz, a viverem mais de benevolência que de mera tolerância. Incentivo fundamental será « dizer não à vingança, reconhecer os próprios erros, aceitar as desculpas sem as buscar e, finalmente, perdoar »,[7] de modo que os erros e as ofensas possam ser verdadeiramente reconhecidos a fim de caminhar juntos para a reconciliação. Isto requer a difusão duma pedagogia do perdão. Na realidade, o mal vence-se com o bem, e a justiça deve ser procurada imitando a Deus Pai que ama todos os seus filhos (cf. Mt 5, 21-48). É um trabalho lento, porque supõe uma evolução espiritual, uma educação para os valores mais altos, uma visão nova da história humana. É preciso renunciar à paz falsa, que prometem os ídolos deste mundo, e aos perigos que a acompanham; refiro-me à paz que torna as consciências cada vez mais insensíveis, que leva a fechar-se em si mesmo, a uma existência atrofiada vivida na indiferença. Ao contrário, a pedagogia da paz implica serviço, compaixão, solidariedade, coragem e perseverança.

Jesus encarna o conjunto destas atitudes na sua vida até ao dom total de Si mesmo, até «perder a vida» (cf. Mt 10, 39; Lc 17, 33; Jo 12, 25). E promete aos seus discípulos que chegarão, mais cedo ou mais tarde, a fazer a descoberta extraordinária de que falamos no início: no mundo, está presente Deus, o Deus de Jesus Cristo, plenamente solidário com os homens. Neste contexto, apraz-me lembrar a oração com que se pede a Deus para fazer de nós instrumentos da sua paz, a fim de levar o seu amor onde há ódio, o seu perdão onde há ofensa, a verdadeira fé onde há dúvida. Por nossa vez pedimos a Deus, juntamente com o Beato João XXIII, que ilumine os responsáveis dos povos para que, junto com a solicitude pelo justo bem-estar dos próprios concidadãos, garantam e defendam o dom precioso da paz; inflame a vontade de todos para superarem as barreiras que dividem, reforçarem os vínculos da caridade mútua, compreenderem os outros e perdoarem aos que lhes tiverem feito injúrias, de tal modo que, em virtude da sua acção, todos os povos da terra se tornem irmãos e floresça neles e reine para sempre a tão suspirada paz.[8]

Com esta invocação, faço votos de que todos possam ser autênticos obreiros e construtores da paz, para que a cidade do homem cresça em concórdia fraterna, na prosperidade e na paz.

Vaticano, 8 de Dezembro de 2012.



BENEDICTUS PP XVI



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[1] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 1.4

[2] Cf. Carta enc. Pacem in terris (11 de Abril de 1963): AAS 55 (1963), 265-266.7

[3] Cf. ibidem: o. c., 266.9

[4] Bento XVI, Carta enc. Caritas in veritate (29 de Junho de 2009), 32: AAS 101 (2009), 666-667.13

[5] Cf. ibid., 34.36: o. c., 668-670.671-672.15

[6] Cf. João Paulo II, Mensagem para o Dia Mundial da paz de 1994 (8 de Dezembro de 1993): AAS 86 (1994), 156-162.17

[7] Bento XVI, Discurso por ocasião do Encontro com os membros do Governo, das instituições da República, com o Corpo Diplomático, os líderes religiosos e representantes do mundo da cultura (Baabda-Líbano, 15 de Setembro de 2012): L’Osservatore Romano (ed. port. de 23/IX/ 2012), 7.18

[8] Cf. Carta enc. Pacem in terris (11 de Abril de 1963): AAS 55 (1963), 304.19





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