Retalhos Como Francisco e Clara de Assis, a Fraternidade a todos saúda em Paz e Bem!Retalhos

11 de setembro de 2018

Crónicas - Encontro Nacional de Fraternidades


 Crónicas da Vida da Fraternidade


OFS – Encontro Nacional

Lisboa,1 de julho de 2018
Local: Externato da Luz (ao lado do Convento da OFM)
Organização: Conselho Executivo Nacional Conselho Executivo da Região Sul
Fraternidade de São Francisco à Luz



O Encontro Nacional de Fraternidades este ano teve lugar em Lisboa. Mais propriamente no Externato da Luz. A Fraternidade de S. Francisco à Luz foi a anfitriã. E saiu-se muito bem.

No sábado, 30 de junho, começaram os preparativos. Depois de uma breve reunião com o Conselho Executivo Regional, todos deitaram mãos à obra. As equipas de trabalho, previamente escolhidas, executaram as suas funções. Por fim, à medida que os Irmãos estavam disponíveis, iam-se juntando aos grupos que necessitavam de auxílio. Foi muito bonita esta interajuda.
Temos que salientar aqui, a colaboração preciosa do Frei Silvestre, OFM. Vimo-lo arregaçar as mangas (do hábito), não se poupou a sacrifícios e foi incansável. Muito discreto, trabalhou junto de nós, disponibilizando tudo aquilo que podia contribuir para o embelezamento do espaço onde iria decorrer o Encontro. Todos os Irmãos presentes, apreciaram a sua gentileza. Obrigada Frei Silvestre. Que S. Francisco o abençoe.

No domingo, bem cedo, já a Fraternidade de S. Francisco à Luz, estava preparada para acolher de braços abertos os Irmãos de outras Fraternidades, de norte a sul do país. E eles foram chegando.


Paz e Bem! A saudação andava de boca em boca. Não era necessária qualquer identificação. Com “Paz e Bem” todos se reconheciam como “irmãos” e os sorrisos exprimiam sentimentos fraternos. E, como o almoço seria partilhado, foram-se dirigindo para o local onde deixavam os saquinhos com os mantimentos para a refeição.

O salão que, com muito carinho, foi transformado em sítio acolhedor e confortável, começava a encher-se. Na tribuna as figuras de S. Francisco e de Santa Clara, tinham ao lado Santa Isabel da Hungria e São Luís Rei de França. Uma família perfeita. A simplicidade e o ideal da vida franciscana, estavam ali diante dos olhos de cada um. E não faltou também o Cristo de São Damião. O seu olhar profundo, lembrando o diálogo com Francisco, pedia aos seus filhos da OFS, ali presentes, que O interrogassem do mesmo modo: “Senhor, que quereis que eu faça?

E o Encontro começou. O Ministro Nacional, irmão Rui Silva, saudou a assembleia, com palavras de boas vindas. De seguida o irmão Luís Topa, Ministro da Fraternidade de S. Francisco à Luz, mostrou o seu regozijo pelo privilégio que a nossa Fraternidade teve, de se realizar aqui, no espaço franciscano que nos é “cedido”, o Encontro Nacional de Fraternidades e deu a conhecer, em breves palavras, a história do Convento e da Igreja dos Frades Menores e também deste local de Lisboa, Luz e Carnide. 

Várias figuras de relevo ocupavam a primeira fila. Entre outras, o senhor D. António Montes Moreira, Frei Armindo, provincial dos Frades Menores, Frei Cabecinhas, provincial do Frades Capuchinhos, os Assistentes Espirituais Nacionais Frei Álvaro Silva, Frei José Augusto e Frei Luís Leitão, os Assistentes Espirituais de algumas Fraternidades da OFS, os anteriores Ministros Nacionais da OFS e a Dra. Manuela Silva.

Frei João Lourenço, guardião do Convento da Imaculada Conceição, apresentou a Dra. Manuela Silva, que falou sobre a “Carta Encíclica do Papa Francisco – LAUDATO SI”. Laudato Si, mi`Signore, exclamava S. Francisco com grande entusiasmo. A nossa ilustre convidada, lembrou-nos como é urgente tomar consciência que todos se devem empenhar neste trabalho. Trata-se da “casa comum”, como diz o Papa Francisco. E nós, franciscanos, devemos estar atentos, empenhados mesmo, na conservação deste espaço maravilhoso.

E chegou a hora da refeição que se queria partilhada. Neste ponto poderia ter sido melhor. A confraternização entre Fraternidades não foi muito grande. Notou-se uma tendência para grupos fechados. Uma vontade forte de não saírem do conforto do seu núcleo. Mas este aspeto irá melhorar no futuro.

A seguir ao almoço tivemos ainda uma reflexão proferida pelo Senhor D. António Montes Moreira, sobre os quarenta anos da aprovação da nossa Regra atual, tendo feito um enquadramento da OFS no seio da Família Franciscana e na Igreja.   

Já na igreja, pudemos assistir a um momento cultural que deliciou os nossos sentidos. Dois jovens. O André dominando o órgão com a perícia de quem sabe e sente cada som. A Jacinta… que maravilha! Cantou e a sua voz, que tinha qualquer coisa de celestial, não só agradou como entrou no coração dos Irmãos.

Encerrou-se este dia com a parte mais importante. A Eucaristia. Foi na Igreja do Seminário. Um momento belissimo. O coro esteve muito bem. Vozes bonitas e bem conduzidas. Pena que a homilia do Senhor Bispo não se tivesse ouvido nas melhores condições.

Foi comovente a entrega da REGRA ao Ministro Nacional. O seu gesto de a receber ajoelhado, não passou despercebido. A postura lembra que a humildade deve ser um adorno de todo o franciscano. O irmão Rui é o rosto da Ordem Franciscana Secular em Portugal e, como tal, recebeu-a como um tesouro precioso para todos nós que professámos na terceira Ordem de S. Francisco. O Papa Paulo VI adaptou-a aos nossos dias, mas, a base, saiu do coração do nosso Pai Francisco. É consolador pensar nisto. É reconfortante interiorizar a bênção que nos deixou.
“E todo aquele que estas coisas observar, no Céu seja cheio da bênção do Altíssimo Pai celeste e na terra seja cheio da bênção de seu Amado Filho e do Espírito Santo Consolador” (Bênção de S. Francisco – Testamento)

Por fim fez-se a “Renovação da Profissão”. A uma só voz. Com a emoção daquele dia em que solenemente nos comprometemos junto ao altar, perante um sacerdote e um representante da OFS, a seguir o caminho para Jesus ao lado de S. Francisco.
RENOVAÇÃO DA PROFISSÃO
Senhor, nós vos damos graças pela vocação à Ordem Franciscana Secular.
Pedimos-vos perdão por todas as nossas deficiências, fragilidades e transgressões contra o nosso propósito de vida evangélica e contra a Regra.
Concedei-nos, vos pedimos, que experimentemos o fervor e a prontidão do nosso primeiro dia, quando ingressamos na Fraternidade.
Renovamos o nosso propósito de vida evangélica segundo a Regra da Ordem Franciscana Secular até ao fim dos nossos dias.
Concedei-nos, também, que vivamos sempre em harmonia com os nossos irmãos e que demos testemunho aos mais novos deste tão grande Dom de Vós recebido – DOM da vocação franciscana.
Assim nos tornaremos testemunhas e instrumentos da missão da Igreja, no meio dos homens, anunciando Cristo com a vida e a palavra.
Amém.

Foi um dia de alegria. Um dia vivido em Paz e Bem.
Podemos cantar como S. Francisco
“Glória ao Altíssimo, Omnipotente e Bom Senhor…”
maria clara, ofs
Lisboa, 1 de julho de 2018

7 de setembro de 2018

23º Domingo do Tempo Comum



(9.9.2018)

Introdução à Liturgia:

Marcados pelo sentido comum do quotidiano e ocupados pelas muitas tarefas do dia a dia, nem sempre na vida damos destaque à esperança que, sendo uma das virtudes cristãs mais importantes, deve emprestar um ritmo de alegria e de confiança à nossa vivência quotidiana. A esperança do Reino de Deus é algo que começa já hoje em cada um de nós e nos anima na caminhada ao encontro do Pai.  

Introdução às Leituras:
Na primeira leitura, o profeta Isaías apresenta-nos um cântico de alegria que ele quer partilhar com o povo de Deus, apesar da situação deste não ser, naquele momento, a melhor. Todavia, o que alimenta a fé do Profeta é a certeza que Deus está connosco e nos fortalece na nossa caminhada.

A segunda leitura, da Carta de São Tiago, recorda-nos a nossa condição de Irmãos, pela qual devemos confiar uns nos outros, já que o Senhor nos congrega na mesma comunhão. Diante de Deus, não contam as riquezas materiais, mas apenas e só a riqueza do nosso amor.

No Evangelho, Marcos situa Jesus em terras pagãs que não pertenciam ao povo de Deus. Ele aí vai para congregar e reunir à sua volta todos aqueles que acolhem a sua mensagem e se unem na mesma fraternidade, independentemente da sua origem, raça ou condição social. Jesus é assim a esperança que a todos congrega na mesma comunhão.
Padre João Lourenço, OFM

31 de agosto de 2018

Assis - 1ª Oração Ecuménica pela Criação


Iniciativa quer incentivar sociedade a agir contra «a delapidação atual do ambiente e dos recursos naturais»

Saint Gallen, Suíça, 30 ago 2018 (Ecclesia) – Os responsáveis pelas Igrejas cristãs da Europa vão encontrar-se na região italiana de Assis, para uma iniciativa ecuménica de oração inserida na comemoração do Dia de Oração pelo Cuidado com a Criação.
Numa mensagem conjunta de vídeo, o Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE), do qual faz parte a Igreja Católica em Portugal, e a Conferência das Igrejas Europeias (CEC) salientam a “mesma responsabilidade” que abrange “toda a família humana” e os mais de 2,2 mil milhões de cristãos em todo o mundo.
Localidade de Assis, em Itália, acolhe encontro ecuménico de oração pela Criação
A missão de trabalhar na defesa de uma “ecologia integral” que signifique não só a preservação do meio ambiente e de todos os seus recursos mas também “o respeito pela dignidade de toda a vida humana, da vida em todas as suas formas, desde o início da sua conceção até à morte natural”.
“Todos os cristãos – e é por isso que o encontro de Assis é tão significativo e expressivo – partilham a mesma fé e a mesma missão (…) Falar e olhar com amor e cuidar de cada pessoa, povo, nação dentro de um contexto universal”, salienta o presidente do CCEE, o cardeal Angelo Bagnasco.
“Num contexto em que a crise ambiental se agrava de dia para dia, com consequências para os mais vulneráveis e para os nossos irmãos e irmãs em humanidade, os cristãos são chamados a testemunhar, em palavras, em ações e na oração, a sua fé em Deus como Criador”, realça o presidente da CEC, padre Christian Krieger.
O mesmo responsável aponta ainda a importância de manifestar perante Deus e o mundo “a mágoa” que decorre da “delapidação atual do ambiente e dos recursos naturais”.
No horizonte dos responsáveis cristãos está também a próxima Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP24), que vai ter lugar em Katowice (Polónia), entre os dias 3 e 14 de dezembro.
Um relatório da ONU sobre a ação climática global frisa que esta será a última oportunidade que os países terão para se posicionarem no caminho certo, no que toca à emissão de gases com efeitos nocivos para o meio-ambiente.
A iniciativa ecuménica de oração em Assis será o primeiro evento do género desde que o Papa Francisco lançou o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado com a Criação, em 2015.
Esta grande vigília tem início previsto para a tarde desta sexta-feira.
Os responsáveis cristãos irão emitir uma declaração ecuménica conjunta sobre a Criação, no dia 1 de setembro, diante da Basílica de São Francisco, como parte integrante da iniciativa de oração.
Uma mensagem que irá desafiar todos os cristãos e todas as pessoas de boa vontade a associarem-se a esta Jornada pela Criação e a promoverem ações concretas a favor do ambiente.
JCP

29 de agosto de 2018

CARTA DO PAPA FRANCISCO AO POVO DE DEUS


«Um membro sofre? Todos os outros membros sofrem com ele» (1 Co 12, 26). Estas palavras de São Paulo ressoam com força no meu coração ao constatar mais uma vez o sofrimento vivido por muitos menores por causa de abusos sexuais, de poder e de consciência cometidos por um número notável de clérigos e pessoas consagradas. Um crime que gera profundas feridas de dor e impotência, em primeiro lugar nas vítimas, mas também em suas famílias e na inteira comunidade, tanto entre os crentes como entre os não-crentes. Olhando para o passado, nunca será suficiente o que se faça para pedir perdão e procurar reparar o dano causado. Olhando para o futuro, nunca será pouco tudo o que for feito para gerar uma cultura capaz de evitar que essas situações não só não aconteçam, mas que não encontrem espaços para serem ocultadas e perpetuadas. A dor das vítimas e das suas famílias é também a nossa dor, por isso é preciso reafirmar mais uma vez o nosso compromisso em garantir a protecção de menores e de adultos em situações de vulnerabilidade.
1. Um membro sofre?
Nestes últimos dias, um relatório foi divulgado detalhando aquilo que vivenciaram pelo menos 1.000 sobreviventes, vítimas de abuso sexual, de poder e de consciência, nas mãos de sacerdotes por aproximadamente setenta anos. Embora seja possível dizer que a maioria dos casos corresponde ao passado, contudo, ao longo do tempo, conhecemos a dor de muitas das vítimas e constamos que as feridas nunca desaparecem e nos obrigam a condenar veementemente essas atrocidades, bem como unir esforços para erradicar essa cultura da morte; as feridas “nunca prescrevem”. A dor dessas vítimas é um gemido que clama ao céu, que alcança a alma e que, por muito tempo, foi ignorado, emudecido ou silenciado. Mas seu grito foi mais forte do que todas as medidas que tentaram silenciá-lo ou, inclusive, que procuraram resolvê-lo com decisões que aumentaram a gravidade caindo na cumplicidade. Clamor que o Senhor ouviu, demonstrando, mais uma vez, de que lado Ele quer estar. O cântico de Maria não se equivoca e continua a se sussurrar ao longo da história, porque o Senhor se lembra da promessa que fez a nossos pais: «dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias» (Lc 1, 51-53), e sentimos vergonha quando percebemos que o nosso estilo de vida contradisse e contradiz aquilo que proclamamos com a nossa voz.
Com vergonha e arrependimento, como comunidade eclesial, assumimos que não soubemos estar onde deveríamos estar, que não agimos a tempo para reconhecer a dimensão e a gravidade do dano que estava sendo causado em tantas vidas. Nós negligenciamos e abandonamos os pequenos. Faço minhas as palavras do então Cardeal Ratzinger quando, na Via Sacra escrita para a Sexta-feira Santa de 2005, uniu-se ao grito de dor de tantas vítimas, afirmando com força: «Quanta sujeira há na Igreja, e precisamente entre aqueles que, no sacerdócio, deveriam pertencer completamente a Ele! Quanta soberba, quanta autossuficiência!... A traição dos discípulos, a recepção indigna do seu Corpo e do seu Sangue é certamente o maior sofrimento do Redentor, o que Lhe trespassa o coração. Nada mais podemos fazer que dirigir-Lhe, do mais fundo da alma, este grito: Kyrieeleison – Senhor, salvai-nos (cf. Mt 8, 25)» (Nona Estação).
2. Todos os outros membros sofrem com ele.
A dimensão e a gravidade dos acontecimentos obrigam a assumir esse facto de maneira global e comunitária. Embora seja importante e necessário em qualquer caminho de conversão tomar conhecimento do que aconteceu, isso, em si, não basta. Hoje, como Povo de Deus, somos desafiados a assumir a dor de nossos irmãos feridos na sua carne e no seu espírito. Se no passado a omissão pôde tornar-se uma forma de resposta, hoje queremos que seja a solidariedade, entendida no seu sentido mais profundo e desafiador, a tornar-se o nosso modo de fazer a história do presente e do futuro, num âmbito onde os conflitos, tensões e, especialmente, as vítimas de todo o tipo de abuso possam encontrar uma mão estendida que as proteja e resgate da sua dor (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 228). Essa solidariedade exige que, por nossa vez, denunciemos tudo o que possa comprometer a integridade de qualquer pessoa. Uma solidariedade que exige a luta contra todas as formas de corrupção, especialmente a espiritual «porque trata-se duma cegueira cómoda e autossuficiente, em que tudo acaba por parecer lícito: o engano, a calúnia, o egoísmo e muitas formas subtis de autorreferencialidade, já que “também Satanás se disfarça em anjo de luz” (2 Cor 11, 14)» (Exort. ap. Gaudete et exultate, 165). O chamado de Paulo para sofrer com quem sofre é o melhor antídoto contra qualquer tentativa de continuar reproduzindo entre nós as palavras de Caim: «Sou, porventura, o guardião do meu irmão?» (Gn 4, 9).
Reconheço o esforço e o trabalho que são feitos em diferentes partes do mundo para garantir e gerar as mediações necessárias que proporcionem segurança e protejam a integridade de crianças e de adultos em situação de vulnerabilidade, bem como a implementação da “tolerância zero” e de modos de prestar contas por parte de todos aqueles que realizem ou acobertem esses crimes. Tardamos em aplicar essas medidas e sanções tão necessárias, mas confio que elas ajudarão a garantir uma maior cultura do cuidado no presente e no futuro.
Juntamente com esses esforços, é necessário que cada batizado se sinta envolvido na transformação eclesial e social de que tanto necessitamos. Tal transformação exige conversão pessoal e comunitária, e nos leva dirigir os olhos na mesma direção do olhar do Senhor. São João Paulo II assim o dizia: «se verdadeiramente partimos da contemplação de Cristo, devemos saber vê-Lo sobretudo no rosto daqueles com quem Ele mesmo Se quis identificar» (Carta ap. Novo millennio ineunte, 49). Aprender a olhar para onde o Senhor olha, estar onde o Senhor quer que estejamos, converter o coração na Sua presença. Para isso nos ajudarão a oração e a penitência. Convido todo o Povo Santo fiel de Deus ao exercício penitencial da oração e do jejum, seguindo o mandato do Senhor[1], que desperte a nossa consciência, a nossa solidariedade e o compromisso com uma cultura do cuidado e o “nunca mais” a qualquer tipo e forma de abuso.
É impossível imaginar uma conversão do agir eclesial sem a participação activa de todos os membros do Povo de Deus. Além disso, toda vez que tentamos suplantar, silenciar, ignorar, reduzir em pequenas elites o povo de Deus, construímos comunidades, planos, ênfases teológicas, espiritualidades e estruturas sem raízes, sem memória, sem rostos, sem corpos, enfim, sem vidas[2]. Isto se manifesta claramente num modo anômalo de entender a autoridade na Igreja - tão comum em muitas comunidades onde ocorreram as condutas de abuso sexual, de poder e de consciência - como é o clericalismo, aquela «atitude que não só anula a personalidade dos cristãos, mas tende também a diminuir e a subestimar a graça batismal que o Espírito Santo pôs no coração do nosso povo»[3]. O clericalismo, favorecido tanto pelos próprios sacerdotes como pelos leigos, gera uma ruptura no corpo eclesial que beneficia e ajuda a perpetuar muitos dos males que denunciamos hoje. Dizer não ao abuso, é dizer energicamente não a qualquer forma de clericalismo.
É sempre bom lembrar que o Senhor, «na história da salvação, salvou um povo. Não há identidade plena, sem pertença a um povo. Por isso, ninguém se salva sozinho, como indivíduo isolado, mas Deus atrai-nos tendo em conta a complexa rede de relações interpessoais que se estabelecem na comunidade humana: Deus quis entrar numa dinâmica popular, na dinâmica dum povo» (Exort. ap. Gaudete et exultate, 6). Portanto, a única maneira de respondermos a esse mal que prejudicou tantas vidas é vivê-lo como uma tarefa que nos envolve e corresponde a todos como Povo de Deus. Essa consciência de nos sentirmos parte de um povo e de uma história comum nos permitirá reconhecer nossos pecados e erros do passado com uma abertura penitencial capaz de se deixar renovar a partir de dentro. Tudo o que for feito para erradicar a cultura do abuso em nossas comunidades, sem a participação activa de todos os membros da Igreja, não será capaz de gerar as dinâmicas necessárias para uma transformação saudável e realista. A dimensão penitencial do jejum e da oração ajudar-nos-á, como Povo de Deus, a nos colocar diante do Senhor e de nossos irmãos feridos, como pecadores que imploram o perdão e a graça da vergonha e da conversão e, assim, podermos elaborar acções que criem dinâmicas em sintonia com o Evangelho. Porque «sempre que procuramos voltar à fonte e recuperar o frescor original do Evangelho, despontam novas estradas, métodos criativos, outras formas de expressão, sinais mais eloquentes, palavras cheias de renovado significado para o mundo actual» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 11).
É imperativo que nós, como Igreja, possamos reconhecer e condenar, com dor e vergonha, as atrocidades cometidas por pessoas consagradas, clérigos, e inclusive por todos aqueles que tinham a missão de assistir e cuidar dos mais vulneráveis. Peçamos perdão pelos pecados, nossos e dos outros. A consciência do pecado nos ajuda a reconhecer os erros, delitos e feridas geradas no passado e permite nos abrir e nos comprometer mais com o presente num caminho de conversão renovada.
Da mesma forma, a penitência e a oração nos ajudarão a sensibilizar os nossos olhos e os nossos corações para o sofrimento alheio e a superar o afã de domínio e controle que muitas vezes se torna a raiz desses males. Que o jejum e a oração despertem os nossos ouvidos para a dor silenciada em crianças, jovens e pessoas com necessidades especiais. Jejum que nos dá fome e sede de justiça e nos encoraja a caminhar na verdade, dando apoio a todas as medidas judiciais que sejam necessárias. Um jejum que nos sacuda e nos leve ao compromisso com a verdade e na caridade com todos os homens de boa vontade e com a sociedade em geral, para lutar contra qualquer tipo de abuso de poder, sexual e de consciência.
Desta forma, poderemos tornar transparente a vocação para a qual fomos chamados a ser «um sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano» (Conc. Ecum. Vat. II, Lumen gentium, 1).
«Um membro sofre? Todos os outros membros sofrem com ele», disse-nos São Paulo. Através da atitude de oração e penitência, poderemos entrar em sintonia pessoal e comunitária com essa exortação, para que cresça em nós o dom da compaixão, justiça, prevenção e reparação. Maria soube estar ao pé da cruz de seu Filho. Não o fez de uma maneira qualquer, mas permaneceu firme de pé e ao seu lado. Com essa postura, Ela manifesta o seu modo de estar na vida. Quando experimentamos a desolação que nos produz essas chagas eclesiais, com Maria nos fará bem «insistir mais na oração» (cf. S. Inácio de Loiola, Exercícios Espirituais, 319), procurando crescer mais no amor e na fidelidade à Igreja. Ela, a primeira discípula, nos ensina a todos os discípulos como somos convidados a enfrentar o sofrimento do inocente, sem evasões ou pusilanimidade. Olhar para Maria é aprender a descobrir onde e como o discípulo de Cristo deve estar.
Que o Espírito Santo nos dê a graça da conversão e da unção interior para poder expressar, diante desses crimes de abuso, a nossa compunção e a nossa decisão de lutar com coragem.
Francisco
Cidade do Vaticano, 20 de Agosto de 2018.


[1] «Esta espécie de demónios não se expulsa senão à força de oração e de jejum» Mt 17, 21.
[2] Cf. Carta do Santo Padre Francisco ao Povo de Deus que peregrina no Chile, 31 de Maio de 2018.


25 de agosto de 2018

21º DOMINGO DO TEMPO COMUM


(26.08.2018)
Introdução à Liturgia:
A escuta da Palavra de Deus não pode ser pensada como uma atitude passiva ou fácil; as suas exigências são, por vezes, dramáticas e implicam uma opção de vida, uma decisão ou um corte nos processos da nossa vida e nos hábitos que assumimos. Hoje, a nossa Eucaristia mostra-nos que O Senhor exige de nós opções e que, perante a sua palavra, não podemos manter-nos indiferentes.

Introdução às Leituras:
A primeira leitura, do livro de Josué, mostra-nos que ser crente significa deixar-se envolver e comprometer com a sua mensagem. Impõe-se a busca do sentido autêntico do religioso, combatendo a indiferença tão própria do nosso tempo, onde tudo é apresentado sem ser assumido. Ter fé, é assumir-se e afirmar-se.

Na segunda leitura, continuando a refletir sobre a Carta aos Efésios, tal como nos domingos anteriores, fala-nos hoje de um tema que não é pacífico na nossa sociedade, como é o da relação entre o Homem e a Mulher, entre o Marido e a Esposa. Paulo recorre a uma comparação teológica, entre Cristo e a Igreja, procurando assim conferir uma dimensão que vai para além da mera sensibilidade humana.

Na parte final do seu discurso sobre o Pão da Vida, como é aquela que hoje lemos, Jesus apresenta algumas interrogações e desafios àqueles que o acompanham. Parece uma provocação que Ele quer fazer para que aqueles que O seguem se deixem motivar pela sua mensagem e assumam a sua nova condição de verdadeiros discípulos.
Padre João Lourenço, OFM

18 de agosto de 2018

20º DOMINGO DO TEMPO COMUM



(19.08.2018)
Introdução à Liturgia:
Nestes domingos em que lemos o capítulo 6º do Evangelho de S. João, como sucede hoje, refletimos sobre as diversas dimensões do pão que é Jesus Cristo e do alimento que por Ele Deus nos oferece. O pão de Deus é também sabedoria do ‘Alto’ que nos abre caminhos de vida nova, e nos prepara e fortalece para olhar a vida com redobrada esperança.

Introdução às Leituras:
A primeira leitura, tomada do livro dos Provérbios, fala-nos da Sabedoria em termos humanos, apresentando-a como um banquete ou uma casa bem construída. Jesus retoma algumas destas imagens e apresenta-nos também a sua mensagem como uma construção sólida, bem assente, que guia o crente até ao coração de Deus.

Na segunda leitura, da Carta aos Efésios, São Paulo desafia os cristãos ao discernimento. Seguir Jesus, significa adotar formas de vida corretas e deixar-se guiar pelo Espírito Santo, não segundo os critérios do mundo, mas pautando a vida pela mensagem de Jesus.

No Evangelho, continuamos a escutar o discurso de Jesus na Sinagoga de Cafarnaúm sobre o Pão da Vida. As palavras de Jesus, tanto no passado como hoje, não são fáceis e, muitas vezes, provocam ruturas de vida. O convite da nossa Eucaristia passa por acolher a Palavra de Jesus e fazer dela o alimento que nos fortalece para a vida eterna.
Padre João Lourenço, OFM


17 de agosto de 2018

Capítulo Electivo Extraordinário do CRS




 
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