21 de abril de 2017
Tríduo da Paixão e Ressurreição do Senhor
Num documento da
reforma litúrgica que dá pelo nome de “Normas Gerais do Ano Litúrgico e do
Calendário Romano” lêem-se estas palavras: “O sagrado Tríduo da Paixão e Ressurreição do Senhor é o ponto culminante de
todo o ano litúrgico” (NGALC 18; EDREL 856). A este sagrado Tríduo chama-se também Tríduo Pascal:
“tríduo”, por abranger um período de três dias consecutivos; “pascal”, por
acontecer nas imediações da Páscoa de Jesus.
Afirmar que o Tríduo é
o ponto culminante do ano litúrgico equivale a dizer que ele é o verdadeiro
centro de toda a liturgia cristã. Ele não é uma simples festa, mas a festa das
festas; não é apenas uma grande solenidade, mas a solenidade das solenidades
cristãs (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1169). Não há, no decurso do ano
litúrgico, nada maior do que ele. Santo Agostinho chamava-lhe “Tríduo de Cristo
morto, sepultado e ressuscitado”.
Qual a razão desta
importância ímpar do Tríduo Pascal, perguntarão os nossos leitores? A resposta
volta a dá-la o documento já citado juntamente com a Constituição Litúrgica: “Porque a obra da redenção humana e da perfeita glorificação de
Deus foi realizada por Cristo especialmente no seu mistério pascal” (Ibidem), e porque “Cristo está
sempre presente na sua Igreja, especialmente nas acções litúrgicas” (SC 7). É esta presença de Cristo, particularmente nas celebrações do Tríduo
Pascal, que faz delas o ponto culminante da liturgia cristã.
Está quase a chegar o
Tríduo Pascal deste ano. O seu início vai acontecer «na Missa da Ceia do Senhor» (tarde de Quinta-Feira santa). Mas o Tríduo propriamente dito será a Sexta-Feira Santa (dia da paixão, morte e sepultura de
Jesus), o Sábado Santo (dia em que o corpo de Cristo repousou no sepulcro) e o Domingo (dia da ressurreição e das primeiras
aparições de Jesus). O coração pulsante do grande Mistério é a «Vigília Pascal, mãe de todas as santas vigílias» (NGALC 19.21; EDREL 857.859).
Bendito seja Deus pela
Liturgia destes três dias santíssimos. Não é para recordar factos do passado,
por mais importantes que sejam, que participamos nas celebrações do Tríduo, mas
para tornar presente um Mistério, cuja eficácia nos envolve e une a Cristo. O
Senhor da cruz, do túmulo e da ressurreição toca-nos naqueles ritos,
ilumina-nos nas palavras e cânticos que proferimos e escutamos. Não somos nós
que nos tornamos santos, mas é Cristo que nos santifica através da participação
viva, consciente e activa nestas celebrações.
Se já adquiriste o
hábito de não trocar a participação no Tríduo por outras ocupações da tua vida,
dá graças ao Senhor e continua a fazê-lo. Se, pelo contrário, nunca
participaste nas suas celebrações, deixa-me dizer-te que ainda não descobriste
o que é começar a ser cristão deveras. Se quiseres, aceita livremente o meu
convite: vem ao Tríduo. Nele encontrarás Cristo, e, se não Lhe opuseres
resistência, Ele transformará a tua vida.
Mais do que tu
próprio, por tuas orações e trabalhos, é Cristo, na Liturgia, que te torna
cristão a valer. O cristianismo não é um voluntarismo. É um DOM. Vem do Pai,
não nasce de ti, embora procure e suscite em ti a resposta da tua liberdade.
Pela Liturgia da terra participa desde já, cristão, na Liturgia celeste que
eternamente é celebrada no seio da Santíssima Trindade.
P. José de Leão Cordeiro
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15 de abril de 2017
Domingo de Páscoa
Introdução
à Liturgia:
Após termos celebrado a Vigília Pascal,
a liturgia deste domingo convida-nos a viver festivamente a ressurreição do
Senhor, centro da nossa fé e fundamento da nossa esperança. É no Ressuscitado
que reside a vida plena a que todos somos chamados. A ressurreição de Cristo é
o fundamento desta nossa esperança. Por isso, hoje, em comunhão com toda a
Igreja, proclamamos com os nossos cantos de aleluia a vitória de Cristo
ressuscitado.
Introdução
às Leituras:
A primeira leitura apresenta o exemplo
de Cristo que “passou pelo mundo fazendo o bem” e que, por amor, Se deu até à
morte; por isso, Deus ressuscitou-O. Os discípulos, testemunhas desta dinâmica,
anunciam este “caminho” a todos os homens.
A segunda leitura convida os cristãos,
revestidos de Cristo pelo baptismo, a continuarem a sua caminhada de vida nova
até à transformação plena que nos há-de levar a viver como mulheres e homens
ressuscitados. É esta a nossa identidade pascal.
O Evangelho coloca-nos diante de duas
atitudes face à ressurreição: a do discípulo obstinado, que se recusa a
aceitá-la porque, na sua lógica, o amor total e a doação da vida nunca podem
ser geradores de vida nova; e a do discípulo ideal, que ama Jesus e que, por
isso, entende o seu caminho e a sua proposta. É assim que da cruz se faz vida e
que o amor leva à comunhão.
Padre João Lourenço, OFM
Não precisamos de ir verificar
o túmulo vazio
nem inspeccionar as ligaduras dobradas
na pedra da sepultura
O túmulo está vazio
porque o coração está cheio - e para sempre! -
de todas as palavras que ouvimos na Galileia
de todos os gestos que nos convenceram da novidade
Não correremos atrás de aparições
porque acreditamos
firmemente
na Sua palavra: “eu estarei lá...
onde dois ou três
se reunirem em Meu nome”
Ressurreição
Não precisamos de ir verificar
o túmulo vazio
nem inspeccionar as ligaduras dobradas
na pedra da sepultura
Não necessitamos de terramoto
para fazer rolar a pedra
nem nos deixamos impressionar pelos seguranças
à entrada de uma morada de mortos
para fazer rolar a pedra
nem nos deixamos impressionar pelos seguranças
à entrada de uma morada de mortos
O túmulo está vazio
porque o coração está cheio - e para sempre! -
de todas as palavras que ouvimos na Galileia
de todos os gestos que nos convenceram da novidade
Não correremos atrás de aparições
porque acreditamos
firmemente
na Sua palavra: “eu estarei lá...
onde dois ou três
se reunirem em Meu nome”
O Seu testemunho do amor de Deus
aos pobres, pecadores e excluídos
aos de fora, aos perto e aos de longe
é o verdadeiro terramoto
a fazer avançar a história
a desencadear ressurreição
Não necessitamos do túmulo vazio nem de ligaduras
mas agarramo-nos ao testemunho das mulheres
daquela primeira manhã de Páscoa
e juntamo-nos a cada um e a todos os que caminham
sabendo-nos acompanhados sem O ver
por Ele mesmo, Jesus Ressuscitado!
aos pobres, pecadores e excluídos
aos de fora, aos perto e aos de longe
é o verdadeiro terramoto
a fazer avançar a história
a desencadear ressurreição
Não necessitamos do túmulo vazio nem de ligaduras
mas agarramo-nos ao testemunho das mulheres
daquela primeira manhã de Páscoa
e juntamo-nos a cada um e a todos os que caminham
sabendo-nos acompanhados sem O ver
por Ele mesmo, Jesus Ressuscitado!
Páscoa 2017
Joaquim
http://jamnunes.wordpress.com
http://jamnunes.wordpress.com
Publicada por OFS LUZ à(s) 20:01:00 0 comentários
14 de abril de 2017
Despojamento e Cruz
Só aí, na cruz, ao beber o cálice amargo, Jesus
tornou-se homem até ao máximo das Suas possibilidades, … mas o fruto da árvore
amarga da cruz é a alegre notícia da Páscoa.
DESPOJAMENTO E CRUZ
‘Formas de seguir
Jesus’
«Se
os homens soubessem... que Deus "sofre" connosco e muito mais do que
nós todo o mal que devasta a terra, muitas coisas mudariam sem dúvida e muitas
almas seriam libertadas» (J. Maritain). Os traços do rosto trinitário de Deus,
revelados na história da Paixão e morte de Jesus de Nazaré, chamam o homem à
liberdade no seguimento da Cruz.
a)
A cruz é o lugar em que Deus fala no silêncio, o silêncio da finitude humana,
que por amor se tornou a Sua finitude! O mistério escondido nas trevas da cruz
é o mistério
da dor de Deus e do Seu amor. Um aspecto exige o outro: o Deus
cristão sofre porque ama, e ama enquanto sofre. Ele é o Deus «da compaixão»,
porque é o Deus para nós, que Se dá até ao ponto de sair totalmente de Si, de
se despojar de tudo, na alienação da morte, para nos acolher plenamente em Si,
na doação da vida que é feita por Jesus. Na morte de cruz o Filho entrou no
«fim» do homem, no abismo da sua pobreza, do seu despojamento, da sua tristeza,
da sua solidão, da sua escuridão. E somente aí, ao beber o cálice amargo, que
viveu até ao fundo a experiência da nossa condição humana,- na escola da dor
tornou-Se homem até ao máximo das Suas possibilidades. Mas também o Pai
conheceu a dor, pois na hora da cruz, enquanto o Filho Se oferecia a Ele numa
obediência incondicional e numa infinita solidariedade com os pecadores, também
o Pai fez história! Ele sofreu como Inocente entregue injustamente à morte; e,
todavia, optou por oferecê-Lo, para que na humildade e na ignomínia da cruz se
revelasse aos homens o amor trinitário de Deus por eles e a possibilidade de
se tornarem participantes. E o Espírito, «entregue» por Jesus moribundo ao Seu
Pai, não esteve menos presente no escon- dimento daquela hora;
Espírito de extremo silêncio, Ele foi o espaço divino do sofrimento doloroso e
amante que se consumou entre o Senhor do céu e da terra e Aquele que Se fez
pecado por nós, de modo que se abrisse uma passagem no abismo e se fechasse
para os pobres o caminho do Pobre.
Esta
morte em Deus não significa, porém, a morte de Deus que o «louco» de Nietzsche
vai gritanto nas praças do mundo,- não há nem nunca haverá um tempo em que se
possa cantar com verdade o «Requiem aeternam Deo»! O amor trinitário que une o
Abandonante ao Abandonado, e nestes o mundo, vencerá a morte, apesar do aparente
triunfo desta. É no despojamento total de Si mesmo que Jesus manifesta a
plenitude do amor de Deus. A surpreendente identidade do Crucificado e do
Ressuscitado mostra abertamente o que se revelou na cruz «sub contrario» e
garante que aquele fim é um novo princípio: o cálice da paixão de Deus
encheu-se com uma bebida de vida, que dimana e jorra para sempre (cf. Jo
7,37-39). Adão morreu, nasceu o novo Adão, Cristo e o homem que, com Ele e
n'Ele, vence o pecado e a morte. Deus morreu, mas ofereceu-Se a todos os homens
o mistério do Pai que, acolhendo o Abandonado no momento da glória, acolhe-os
também conSigo. O fruto da árvore amarga da cruz é a alegre notícia da Páscoa:
o dia em que Deus morreu dá lugar ao dia do Deus que vive. O Consolador do
Crucificado foi derramado em toda a carne para ser o Consolador de todos os
crucificados da história e para revelar na humildade e na ignomínia da cruz, de
todas as cruzes da história, a presença corroborante e transformadora do Deus
cristão.
A «palavra da cruz»
(ICor 1,18) demonstra que é no despojamento, na pobreza, na fraqueza, na dor e
na reprovação do mundo, que encontraremos Deus, - não os esplendores das perfeições
terrenas, mas precisamente o seu contrário, a pequenez e a ignomínia, tornam-se
o lugar da Sua presença entre nós, o deserto onde Ele fala ao nosso coração. A
perfeição do Deus cristão manifesta-se nas imperfeições, que Ele assume por
nosso amor: a finitude do sofrimento, a dor extrema da morte, a fraqueza da
pobreza, o cansaço e a incerteza do amanhã, são outros tantos lugares, onde
Ele mostra o Seu amor, perfeito até à consumação total do dom. E nestas
imperfeições que ecoa no Espírito a palavra que sela o acontecimento da cruz:
«Tudo está realizado» (Jo 19, 30). Na vida de cada homem já pode ser
reconhecida a cruz do Deus trinitário: no sofrimento torna-se possível abrir-se
ao Deus presente, que Se oferece connosco e por nós, e transformar a dor em
amor, o sofrimento em oferecimento. O Espírito do Crucificado opera o milagre
desta revelação salvífica: Ele é o Consolador da paixão do mundo, Aquele que
proclama a verdade da história dos vencidos, confundindo a história dos
vencedores. Vive connosco e em nós as agonias da vida, tornando presente no
nosso sofrimento o sofrimento do Filho e do Pai, e por isso, abrinos-nos uma
aurora de vida, revelação e dom do mistério de Deus. A «kenosis»
do Espírito nas trevas do tempo dos homens é apenas o fruto da «kenosis»
do Verbo na história da paixão e morte de Jesus de Nazaré, a última
consequência do maior amor, que venceu e vencerá a morte.
b)
Como se configuram a Igreja e cada um dos discípulos do Deus trinitário, que
sofre por nosso amor? Constituem o povo da sequela crucis, a comunidade
e o indivíduo «debaixo da cruz». Precedidos por Cristo no abismo da prova, por
meio do qual se abre o caminho da vida, os cristãos sabem que devem viver no
sinal da cruz as obras e os dias do seu caminho. «Fui morto na cruz com Cristo.
Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim. E esta vida
que agora vivo, eu vivo-a pela fé no Filho de Deus, que me amou e Se entregou
por mim» (Gal 2,20). «Ainda peregrinando na terra, enquanto seguimos as Suas
pegadas na tribulação e na perseguição, somos associados aos Seus sofrimentos,
como o corpo à cabeça, e sofremos com Ele, para ser com Ele glorificados (cf.
Rm 8,17)» (Lúmen
Gentium, 7). Nada está mais longe da imagem do discípulo do
Crucificado do que uma Igreja tranquila e segura, confiante nos seus meios e
nas suas influências: «A
cristandade estabelecida na qual todos são cristãos, mas na sua
interioridade secreta não se parece com a Igreja militante mais do que o
silêncio da morte com a eloquência da paixão» (Kierkegaard). A Igreja ao pé da
cruz é o povo daqueles que, com Cristo e no Seu Espírito, se esforçam por sair
de si e entrar no caminho doloroso do amor; é uma comunidade de pobres ao
serviço dos pobres, capaz de refutar com a vida os sábios e poderosos desta
terra. Uma Igreja ao pé da cruz significa também uma comunidade fecunda na dor
dos seus membros: o seguimento do Nazareno, fonte de vida que vence a morte,
exige que se percorra com Ele o escuro caminho da paixão: «Se alguém quiser
seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Pois quem quiser
salvar a sua vida, vai perdê-la; mas quem perde a sua vida por causa da Boa
Notícia, vai salvá-la» (Mc 8,34-35 e par.). «Quem não toma a sua cruz e Me
segue não é digno de Mim» (Mt 10,38 e Lc 14,27). O discípulo deverá «completar
na sua carne o que falta aos sofrimentos de Cristo» (Col 1,24): fá-lo-á se
conseguir levar a mais pesada de todas as cruzes, a cruz do presente, para a
qual é chamado pelo Pai, crendo também sem ver, lutando e esperando, mersmo sem
notar a germinação dos frutos, na solidariedade com todos aqueles que sofrem
(cf. 1Cor 15,26), na comunhão com Cristo, companheiro e sustentáculo do
sofrimento humano e na oblação ao Pai, que valoriza cada uma das nossas dores.
Esta cruz do presente é o trabalho da fidelidade e também a perseguição
realizado pelos «inimigos da cruz de Cristo» (Fil 3,18). A «via crucis» da
fidelidade faz-se de luta interior e das agonias silenciosas dos momentos de
prova, de solidão e de dúvida, de despojamento e é sustentada pela oração
perseverante e tenaz de uma pobreza que espera a misericórdia do Pai; a mesma
«via crucis» da fidelidade de Jesus, com a diferença de que Ele percorreu-a
sozinho, enquanto nós fomos precedidos e acompanhados por Ele. A cruz da
perseguição é, pelo contrário, a consequência do amor pela justiça e da
revitalização de cada suposto absoluto mundano, da parte dos discípulos do
Crucificado; é que a sua esperança no Reino futuro os torna subversivos e
críticos em realção às miopias de todos os vencedores e dominadores da
história. «Eis que Eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos... Sereis
odiados por todos por causa do Meu nome» (Mt 10,16.22; cf. 16ss). A
radicalidade das opções de uma Igreja verdadeiramente evangélica é intolerável
para todos os sistemas de poder e de riqueza: «Dilexi iustitiam, odivi iniqui-
tatem, propterea morior in exilio» (palavras escritas sobre o túmulo do Papa
Gregório VII): quem amou a justiça, quem odiou a iniquidade, morrerá inevitavelmente
no exílio da cruz, mas confortado e sustentado pelo Crucificado, que venceu a
morte. «Basta-te a Minha graça, pois é na fraqueza que a força manifesta todo o
seu poder» (2Cor 12,9).
A
Igreja ao pé da cruz torna-se assim, pela sua própria fome e sede do mundo novo
de Deus e pela graça de que é instrumento, um povo que ajuda a levar a cruz e
que combate as causas iníquas das cruzes de todos os oprimidos, pois
confronta-se com as prisões de toda a espécie de lei e com a escravidão de todo
o género de poder e, como o seu Senhor, apresenta-se como alternativa humilde
e corajosa. O Crucificado não hesita em identificar-Se com todos os
crucificados da história: «Estava com fome e destes-me de comer; estava com
sede e destes-Me de beber; era estrangeiro e recebestes-Me na vossa casa, -
estava sem roupa e vestistes-Me; estava doente e cuidastes de Mim;
estava na prisão e fostes visitar-Me... Todas as vezes que fizestes isto a um
dos menores dos meus irmãos, foi a Mim que o fizestes» (Mt 25,35-36.40). Nos
perseguidos é Ele que está presente: «Saulo, Saulo, porque Me
persegues?» (Act 9,4). Quem ama o Crucificado e O segue não pode deixar de se
sentir chamado a aliviar as cruzes de todos os que sofrem e destruir as suas
causas iníquas com a palavra e com a vida. A cruz da libertação do pecado e da
morte exige a libertação de todas as cruzes que são fruto da morte e do pecado:
a «imitatio Christi crucifixi» nunca poderá ser aceitação passiva do mal presente!
Pelo contrário, con- sumar-se-á na dedicação activa na causa do Reino futuro,
que é também empenhamento activo e vigilante para fazer do Calvário da terra um
lugar de ressurreição, de justiça e de vida plena. A compaixão para com o Crucificado
traduz-se na compaixão activa para com os membros do Seu corpo na história; por
uma Igreja que se debate no problema da relação entre a sua identidade e a sua
importância, entre a fidelidade e a criatividade audaciosa, isto significa o
reconhecimento da possibilidade de resolução. A Igreja reencontra-se-á se se
perder, se puser a sua identidade exactamente ao serviço dos outros, para a
reencontrar no único nível digno dos seguidores do Crucificado: o amor.
Ao discípulo, esmagado
debaixo do peso da cruz ou amedrontado face às exigências do seguimento,
dirige-se a palavra da promessa, manifestada na ressurreição, contradição de
todas as cruzes da história; palavra de consolação e de compromisso, que já
sustentou a vida, a dor e a morte de todos os que nos precederam no combate da
fé. «Na verdade, assim como os sofrimentos de Cristo são numerosos para nós,
assim também é grande a nossa consolação por meio de Cristo» (2Cor 1,5). «Somos
atribulados por todos os lados, mas não desanimamos, - somos postos em extrema
dificuldade, mas não somos vencidos por nenhum obstáculo; somos perseguidos,
mas não abandonados; prostrados por terra, mas não aniquilados. Sem cessar e
por toda a parte levamos no nosso corpo a morte de Jesus, a fim de que também a
vida se Jesus se manifeste no nosso corpo» (2Cor 4,8-10). Naquele que se
esforça por viver assim, a cruz de Cristo não foi em vao (cf. 1Cor 1,17): nele
se manifestará também a vitória do Humilde, que venceu o mundo (cf. Jo 16,33)!
Pai,
que entregas o Teu único Filho por nós, Filho que vive
o
supremo abandono da cruz
e
o oferece àquele que Te abandona,
Paráclito
do sofrimento,
que
unes o Pai que dá e acolhe
ao
Filho moribundo
e
n'Ele à paixão do mundo,
Trindade
da dor,
Deus
escondido nas trevas
da
Sexta-Feira Santa,
concede-nos,
Te pedimos,
que
tomemos cada dia
a
cruz do abandono,
e
a ofereçamos conTigo
numa
comunhão maior:
aquela
em que Te revelas
Trindade
do amor,
Deus
da solidariedade
e
da proximidade
da
fraqueza da Tua criatura.
Amen.
Aleluia!
Perguntas que se impõem sobre o despojamento do
discípulo: Estou disposto a ler a minha vida a
partir da cruz? Sei reconhecer a cruz na minha vida? Como vivo a esperança da
Cruz? Em que medida ajudo os outros a levar a sua cruz?
Bruno Forte
Publicada por OFS LUZ à(s) 16:56:00 0 comentários
O Processo de Cristo
Sentir o Direito Por:
Fernanda Palma,
Professora Catedrática de Direito Penal
O Processo de Cristo
O
processo de Cristo não foi injusto só por razões intemporais – foi-o também
como processo contra um homem do seu tempo, à luz do direito aplicável. As razões
da acusação, conduzida por Herodes, revelam um aproveitamento da ocupação
romana pelos representantes políticos dos judeus, para impedir qualquer
contestação à interpretação oficial da sua lei.
Os
"crimes" de Cristo têm caráter religioso. Jesus foi acusado de
interpretar a lei num sentido não ritualista, associado à ética, fazer milagres
ao sábado, conviver com pessoas de "maus costumes" e se assumir como
rei de um reino diferente. A lei do seu povo, que o condenou, tornou-se
prepotente e contraditória com o seu sentido último: a salvação.
O
processo de Cristo foi ainda injusto porque os romanos, detentores do poder
político, se demitiram de intervir. Pilatos portou-se como precursor do moderno
multiculturalismo, admitindo que Jesus fosse julgado segundo critérios injustos
à luz dos seus próprios padrões morais, culturais e jurídicos. A razão de
Estado e a pura cobardia vergaram a Justiça.
O
que se perceciona, numa perspetiva histórica, é que Jesus foi injustamente
condenado em qualquer tempo e no seu tempo. Prevaleceu, no julgamento, uma
conceção do Direito como lei ritual, isenta de justificação e compatível com
qualquer conteúdo. A injustiça residiu na profunda divergência entre a lei
formal e o sentido último do Direito e da Justiça.
As
autoridades judaicas, que não podiam proferir uma condenação à morte, remeteram
para a lei romana e esta, apesar de não encontrar nenhuma culpa em Jesus, pois
Pilatos reconheceu a sua inocência, remeteu para a lei judaica. A lei que
condenou Cristo não existia – foi criada pelo interesse político, que juntou a
perversão de uns com a omissão de outros.
A
condenação de Cristo revela arquétipos do processo penal que devemos rejeitar.
Não podemos permitir que convicções baseadas em interesses privados manipulem
os processos judiciais, sujeitem os tribunais a uma autêntica coação e criem o
ambiente propício a uma definição do Direito que esteja para além das razões e
dos valores da Ordem Jurídica.
Aos
juristas – sejam magistrados, advogados ou professores de Direito –, resta não
cair na tentação de Pilatos e impor a lógica do Direito de acordo com os
critérios da sua validade, como fez Thomas Morus com o sacrifício da sua
própria vida. Quem se aventure numa carreira jurídica tem de vencer quaisquer
tentações de politização e de tecnicismo vazio.
(Coluna
segundo as regras do Acordo Ortográfico)
(in Correio
da Manhã [on line], Domingo, 8 de Abril de 2012)
Publicada por OFS LUZ à(s) 16:55:00 0 comentários
A crucificação de Jesus na visão de um médico
O doutor Pierre Barbet, cirurgião do Hospital de São José, em Paris, é quem
fez, até agora, o estudo médico mais completo da paixão de Cristo, conforme se
deduz do Santo Sudário (Cf. La Passione di N. S. Gesu Cristo secondo el
chirurgo, L. I. C. E. Torino). Leia seu relato:
“Sou um cirurgião, e dou aulas há algum tempo. Por treze anos vivi em
companhia de cadáveres e durante a minha carreira estudei anatomia a fundo.
Posso, portanto escrever sem presunção a respeito de morte como aquela.
Jesus entrou em agonia no Getsémani e seu suor tornou-se como gotas de
sangue a escorrer pela terra. O único evangelista que relata o facto é um
médico, Lucas. E fá-lo com a precisão de um clínico. O suar sangue, ou
“hematidrose”, é um fenómeno raríssimo. É produzido em condições excecionais:
para provocá-lo é necessário uma fraqueza física, acompanhada de um abatimento
moral violento causado por uma profunda emoção, por um grande medo. O terror, o
susto, a angústia terrível de sentir-se carregando todos os pecados dos homens
devem ter esmagado Jesus.
Tal tensão extrema produz o rompimento das finíssimas veias capilares que
estão sob as glândulas sudoríparas, o sangue mistura-se ao suor e concentra-se
sobre a pele, e então escorre por todo o corpo até a terra. Conhecemos a farsa
do processo preparado pelo Sinédrio hebraico, o envio de Jesus a Pilatos e o
desempate entre o procurador romano e Herodes. Pilatos cede, e então ordena a
flagelação de Jesus. Os soldados despojam Jesus e prendem-no pelos pulsos a uma
coluna do pátio. A flagelação efetua-se com tiras de couro múltiplas sobre as
quais são fixadas bolinhas de chumbo e de pequenos ossos. Os carrascos devem
ter sido dois, um de cada lado, e de diferente estatura. Golpeiam com
chibatadas a pele, já alterada por milhões de microscópicas hemorragias do suor
de sangue. A pele dilacera-se e rompe-se; o sangue espirra. A cada golpe Jesus
reage num sobressalto de dor. As forças esvaem-se; um suor frio impregna-lhe a
fronte, a cabeça gira numa vertigem de náusea, calafrios correm-lhe ao longo
das costas. Se não estivesse preso no alto pelos pulsos, cairia numa poça de
sangue. Depois o escárnio da coroação. Com longos espinhos, mais duros que os
de acácia, os algozes entrelaçam uma espécie de capacete e aplicam-no sobre a
cabeça. Os espinhos penetram no couro cabeludo fazendo-o sangrar (os cirurgiões
sabem o quanto sangra o couro cabeludo).
Pilatos, depois de ter mostrado aquele homem dilacerado à multidão feroz,
entrega-o para ser crucificado. Colocam sobre os ombros de Jesus o grande braço
horizontal da Cruz; pesa uns cinquenta quilos. A estaca vertical já está erguida
sobre o Calvário. Jesus caminha com os pés descalços pelas ruas de terreno
irregular, cheia de grandes pedras. Os soldados puxam-no com cordas. O percurso
é de cerca de 600 metros. Jesus, fatigado, arrasta um pé após o outro,
frequentemente cai sobre os joelhos. E os ombros de Jesus estão cobertos de
chagas.
Quando ele cai por terra, a viga escapa-se-lhe, escorrega, e esfola-lhe o
dorso. Sobre o Calvário tem início a crucificação. Os carrascos despojam o
condenado, mas a sua túnica está colada nas chagas e tirá-la produz dor atroz.
Quem já tirou uma ligadura de gaze de uma grande ferida percebe do que se
trata. Cada fio de tecido adere à carne viva: ao arrancarem a túnica, laceram-se
as terminações nervosas postas em descoberto pelas chagas. Os carrascos dão um
puxão violento. Há um risco de toda aquela dor provocar uma síncope, mas ainda
não é o fim. O sangue começa a escorrer.
Jesus é deitado de costas, as suas chagas incrustam-se de pé em pedras
facetadas.
Depositam-no sobre o braço horizontal da cruz. Os algozes tomam as medidas.
Com uma broca, é feito um furo na madeira para facilitar a penetração dos
pregos. Os carrascos pegam um prego (um longo prego pontudo e quadrado),
apoiam-no sobre o pulso de Jesus, com um golpe certeiro de martelo cravam-no e
rebatem-no sobre a madeira. Jesus deve ter contraído o rosto assustadoramente.
O nervo mediano foi lesionado. Pode-se imaginar aquilo que Jesus deve ter sofrido;
uma dor lancinante, agudíssima, que se difundiu pelos dedos, e espalhou-se
pelos ombros, atingindo o cérebro. A dor mais insuportável que um homem pode
provar, ou seja, aquela produzida pela lesão dos grandes troncos nervosos:
provoca uma síncope e faz perder a consciência. Em Jesus não. O nervo é
destruído só em parte: a lesão do tronco nervoso permanece em contato com o prego:
quando o corpo for suspenso na cruz, o nervo esticar-se-á fortemente como uma
corda de violino esticada sobre a cravelha. A cada solavanco, a cada movimento,
vibrará despertando dores dilacerantes.
Um suplício que durará três horas. O carrasco e seu ajudante empunham a
extremidade da trava; elevam Jesus, colocando-o primeiro sentado e depois em
pé; consequentemente fazendo-o tombar para trás, encostando-o à estaca
vertical.
Depois rapidamente encaixam o braço horizontal da cruz sobre a estaca
vertical. Os ombros da vítima esfregam dolorosamente sobre a madeira áspera. A
ponta cortante da grande coroa de espinhos penetram o crânio.
A cabeça de Jesus inclina-se para frente, uma vez que o diâmetro da coroa
impede-o apoiar-se na madeira. Cada vez que o Jesus levanta a cabeça, recomeçam
pontadas agudas de dor. Pregam-lhe os pés. Ao meio-dia Jesus tem sede. Não
bebeu desde a tarde anterior. Seu corpo é uma máscara de sangue. A boca está
semiaberta e o lábio inferior começa a pender. A garganta, seca, queima a garganta,
ele não pode engolir. Tem sede. Um soldado estende-lhe, sobre a ponta de uma
vara, uma esponja embebida numa bebida ácida, em uso entre os militares. Tudo
aquilo é uma tortura atroz. Um estranho fenómeno dá-se no corpo de Jesus. Os
músculos dos braços enrijecem-se numa contração que se vai acentuando: os
deltoides, os bíceps esticados e levantados, os dedos, curvam-se. É como
acontece a alguém ferido de tétano. A isto que os médicos chamam tetania,
quando os sintomas se generalizam: os músculos do abdómen enrijecem-se em ondas
imóveis, em seguida o mesmo acontece com aqueles entre as costelas, do pescoço,
e os respiratórios. A respiração faz-se, pouco a pouco mais curta. O ar entra
com um sibilo, mas não consegue mais sair. Jesus respira com o ápice dos
pulmões. Tem sede de ar: como um asmático em plena crise, seu rosto pálido
pouco a pouco torna-se vermelho, depois transforma-se num violeta purpúreo e
enfim em cianítico. Jesus é envolvido pela asfixia.
Os pulmões cheios de ar não podem mais esvaziar-se. A fronte está
impregnada de suor, os olhos saem fora de órbita. Mas o que acontece?
Lentamente com um esforço sobre-humano, Jesus toma um ponto de apoio sobre o
prego dos pés. Esforça-se a pequenos golpes, eleva-se aliviando a tração dos
braços. Os músculos do tórax distendem-se. A respiração torna-se mais ampla e
profunda, os pulmões esvaziam-se e o rosto recupera a palidez inicial. Por que
este esforço? Porque Jesus quer falar: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que
fazem”. Logo em seguida o corpo começa a amortecer de novo, e a asfixia
recomeça. Foram transmitidas sete frases pronunciadas por ele na cruz: cada vez
que quer falar, deverá elevar-se tendo como apoio o prego dos pés.
Inimaginável! Atraídas pelo sangue que ainda escorre e pelo coagulado, enxames
de moscas zunem ao redor do seu corpo, mas ele não pode enxotá-las. Pouco
depois o céu escurece, o sol esconde-se: de repente a temperatura diminui. Logo
serão três da tarde, depois de uma tortura que durará três horas.
Todas as suas dores, a sede, as cãibras, a asfixia, o latejar dos nervos
medianos, arrancam-lhe um lamento: “Meu Deus, meu Deus, porque me
abandonastes?”. Jesus grita: “Tudo está consumado!”. Em seguida num grande
brado diz: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”. E morre. Em meu lugar e
no seu.”
Dr. Barbet, médico
francês.
Publicada por OFS LUZ à(s) 16:54:00 0 comentários
13 de abril de 2017
11 de abril de 2017
Domingo de Ramos
Introdução
à Liturgia:
Com a liturgia deste domingo damos
início à celebração da ‘grande semana’ da nossa redenção, acompanhando Jesus
nos últimos passos da sua vida e nos momentos mais significativos da sua
entrega total por nós. A cruz, que a liturgia deste domingo coloca no horizonte
próximo de Jesus, apresenta-nos a lição suprema do seu amor, o último passo
desse caminho de vida nova que, em Jesus, Deus nos propõe: a doação da vida por
amor.
Introdução
às Leituras:
A primeira leitura apresenta-nos um
profeta anónimo que, à maneira de Isaías, é chamado por Deus a testemunhar no
meio das nações a Palavra da salvação. Apesar do sofrimento e da perseguição, o
profeta confiou em Deus e concretizou, com plena fidelidade, o projecto que
Deus lhe havia confiado. Os primeiros cristãos viram neste “servo” a figura de
Jesus.
A segunda leitura apresenta-nos o
exemplo de Cristo. Ele prescindiu do orgulho e da arrogância, para escolher a
obediência ao Pai e o serviço aos homens, até ao dom da vida. É esse mesmo
caminho de vida que a Palavra de Deus nos propõe.
O Evangelho narra-nos a paixão de S.
Mateus: é o momento supremo de uma vida feita dom e serviço, a fim de libertar
os homens de tudo aquilo que gera egoísmo e escravidão. Na cruz, revela-se o amor
de Deus – esse amor que não guarda nada para si, mas que se faz dom total.
Padre João Lourenço, OFM
Publicada por OFS LUZ à(s) 09:17:00 0 comentários
4 de abril de 2017
3 de abril de 2017
Retiro Quaresmal - 2017
Fraternidade
de S. Francisco à Luz
Seminário da Luz
Largo da Luz nº 11
LISBOA
Crónicas da vida da Fraternidade
RETIRO QUARESMAL (dia da
reunião mensal da Fraternidade)
Lisboa,18 de março de 2017
Local:
Convento da Imaculada Conceição – Sala dos Santos Mártires de Marrocos
Pregador:
Frei Albertino Rodrigues, OFM
10:00 – Acolhimento
10:30 – Recitação de Laudes
11:00 – 1ª Pregação – “A Misericórdia em S.
Francisco”
12:00 – Adoração Eucarística na Capela da
Imaculada Conceição
13:00 – Momento de
Reflexão/Meditação/Silêncio
14:00 – 2ª Pregação – “As
Quaresmas em S. Francisco”
15:00 – Momento de
Reflexão/Meditação/Silêncio
16:00 – Eucaristia
17:00 – Encerramento
Com a participação de muitos Irmãos e a presença brilhante
do “senhor irmão Sol”, fizemos uma pausa no nosso caminho e, em Fraternidade,
vivemos um dia de reflexão.
Alguns Irmãos não puderam estar presentes. Todos
justificaram essa ausência. Motivos imprevistos e situações de doença. Rezámos
por eles. Estiveram no pensamento desta assembleia. Juntos em amor. Um dia de
vivência fraterna. Um dia de Retiro.
Frei Albertino ajudou-nos a refletir. A vida de S.
Francisco está impregnada de misericórdia. À semelhança de Jesus. Misericórdia para com os
pobres, com os pecadores, com os seus frades e até para com todos os seres por
Deus criados. Diz a Regra, caso
seja necessário impôr uma penitência a algum irmão, que “se faça com
misericórdia”. Na Carta aos fiéis
(8,43) recomenda ao Superior que “use de misericórdia com eles (os
Irmãos) como gostaria que com ele usassem, se estivesse no lugar deles”. Também
nos avisos espirituais (27,6)
se pode ler: ”onde há misericórdia aí
não há dureza de coração”.
É
tão simples, mas ao mesmo tempo tão exigente, ser franciscano secular. Viver
segundo o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo é o compromisso assumido no
dia em que cada Irmão faz a sua profissão solene. Oração, penitência e
humildade. Francisco não pede aos seus filhos nada que estes não possam fazer.
Querendo
seguir fielmente o Senhor, Francisco preparava a grande Quaresma, com
penitência e oração, para celebrar a Páscoa. Mas, também, antes de outras
grandes solenidades da Igreja, ele refugiava-se nos eremitérios e aí permanecia
durante quarenta dias em contemplação e jejuando.
Fazia
cinco Quaresmas: A Grande Quaresma (preparação para a Páscoa), a Quaresma do
Advento, a da Epifania, a dos Apóstolos e a de S. Miguel.
E
continuando o nosso retiro em silêncio, tivemos o privilégio de poder adorar o
Santíssimo Sacramento na pequenina, acolhedora e lindíssima Capela da Imaculada
Conceição. Que paz! Apetecia dizer: “Senhor como é bom estarmos aqui…”. Quantas
confidências com Jesus! Que intimidade! ELE estava ali. Tão próximo. Tão
visível! Que doce tranquilidade!
Os
Irmãos levaram a sua merenda. Recolhidos, sentados ou passeando por entre o
arvoredo do jardim, cada um viveu a seu modo este dia. Tempo de encontro
pessoal, de interiorização… tempo de pensar que uso se faz do “tempo” que o
Senhor nos dá.
Decerto
que Ele deixou nos corações de todos alguma mensagem. Qual foi a minha? Qual foi a tua?
No
fim da tarde a Eucaristia. A Capela estava repleta. Frei Albertino celebrou,
cantou e viveu connosco este momento. As suas palavras foram de incentivo e de perseverança.
Como cristãos, como franciscanos, temos que dar testemunho de misericórdia.
Mensageiros de paz e de Misericórdia. Misericórdia para com todos. Misericórdia,
também, com cada um de nós.
Foi
um dia lindo. Tranquilo. Rostos sorridentes neste final de tarde. S. Francisco
esteve ali connosco. Despediram-se os
Irmãos com com gestos de carinho. Com saudações de Paz e Bem. É tão bom e
enriquecedor, saborear os momentos que nos são dados para viver em
fraternidade!
Que
Francisco continue a caminhar ao nosso lado, fortalecendo a nossa fé e
ensinando-nos o que é a “verdadeira alegria” que encheu a sua vida. Que neste entusiasmo que inunda as nossas
almas, robustecido neste dia de meditação, cresça em nós, verdadeiramente, o amor a Deus. Que possamos dizer como ele:” meu
Senhor e meu Deus, meu Deus e meu tudo”.
“Altíssimo, Omnipotente
e Bom Senhor…”
maria
clara, ofs
Lisboa,
18 de março de 2017
Publicada por OFS LUZ à(s) 22:27:00 0 comentários
5º Domingo da Quaresma
Introdução à Liturgia:
Nos domingos anteriores, a liturgia
convidou-nos a reestruturar a nossa caminhada quaresmal a partir da ‘água viva’
e da ‘Luz’ que é Cristo. Neste 5º Domingo da Quaresma, a liturgia apresenta-nos
Jesus como a vida nova, a vida em plenitude, uma vida que ultrapassa
definitivamente a vida biológica: é a vida definitiva que supera a morte. Ele é
a fonte dessa vida que nos leva à eternidade.
Introdução às Leituras:
Na primeira leitura, Yahwé oferece ao
seu Povo, exilado na Babilónia, desesperado e sem futuro, uma vida nova.
Abre-se para este povo uma porta de esperança. Essa vida nova vem pelo
Espírito, que irá recriar o coração do Povo e inseri-lo numa dinâmica de escuta
e de amor a Deus e aos irmãos.
O Evangelho garante-nos que Jesus veio
realizar o desígnio de Deus e dar aos homens a vida definitiva. Ser “amigo” de
Jesus é aderir à sua proposta; é entrar na vida definitiva de comunhão com Ele.
Os crentes que vivem nesta relação de comunhão experimentam a morte física, mas
não estão mortos: vivem para sempre em Deus.
A segunda leitura lembra aos cristãos
que, no dia do seu Baptismo, optaram por Cristo e pela vida nova que Ele veio
oferecer. Convida-os, portanto, a ser coerentes com essa escolha, a fazerem as
obras de Deus e a viverem “segundo o Espírito”.
Padre João Lourenço, OFM
Publicada por OFS LUZ à(s) 21:34:00 0 comentários
24 de março de 2017
4º Domingo da Quaresma
Tu és a nossa Luz! |
Introdução à Liturgia:
As leituras deste Domingo colocam-nos
perante o tema da “luz” como sendo um desafio que é apresentado e proposto a
todo o homem. Sempre na vida buscamos uma luz que nos oriente, que nos permita
ter horizonte e que alimente a nossa esperança na caminhada que fazemos. A
Quaresma é este tempo de encontrar a Luz que é Cristo e de nos abrirmos à sua
claridade. Os textos de hoje definem a experiência cristã como um “viver na luz”
que é Cristo.
.Introdução às Leituras:
A primeira Leitura não se refere
directamente ao tema da “luz” - o tema central na liturgia deste domingo. No
entanto, conta a eleição de David para rei de Israel e a sua unção: é uma
óptima motivação para reflectirmos sobre a unção que recebemos no dia do nosso
Baptismo e que nos constituiu testemunhas da “luz” de Deus no mundo.
No Evangelho, Jesus apresenta-se como “a
luz do mundo”; a sua missão é libertar os homens das trevas do egoísmo, do
orgulho e da auto-suficiência, da vaidade pessoal e do exibicionismo, pecados
estes que obscurecem a Luz de Cristo em nós. Aderir à proposta de Jesus é
enveredar por um caminho de liberdade e de realização que conduz à vida plena.
Na segunda Leitura, Paulo propõe aos
cristãos de Éfeso que recusem viver à margem de Deus, nas trevas, mas que
escolham a “luz”. Em concreto, para Paulo, viver na “luz” é praticar as obras
de Deus que são bondade, justiça, verdade, sinceridade, connosco, com Deus e
com os Irmãos.
Padre João Lourenço, OFM
Publicada por OFS LUZ à(s) 15:56:00 0 comentários
20 de março de 2017
3º Domingo da Quaresma
Jesus Salvador da Humanidade |
Introdução
à Liturgia:
A liturgia quaresmal convida-nos a olhar
a vida nos seus ritmos do quotidiano e a questionar aquilo que ela comporta de
menos bom em ordem a uma nova etapa que seja marcada pela ressurreição do
Senhor. A Palavra de Deus que hoje nos é proposta mostra que o nosso Deus está
sempre presente ao longo da nossa caminhada pela história, mesmo no meio das
maiores vicissitudes, e que só Ele nos pode oferecer um horizonte de plenitude
e de esperança.
Introdução
às Leituras:
A primeira leitura mostra como Yahwé
acompanha a caminhada do povo de Israel no deserto do Sinai e como, nos
momentos de crise, responde às necessidades do seu Povo. O texto mostra-nos a
proximidade de Deus e dá-nos a chave para entender a lógica de Deus,
manifestada em cada passo da história da salvação.
A segunda leitura repete, noutros
termos, o ensinamento da primeira: Deus acompanha o seu Povo em marcha pela
história; e, apesar do pecado e da infidelidade, insiste em oferecer ao seu
Povo – de forma gratuita e incondicional – a salvação.
O Evangelho fala-nos do encontro de
Jesus com a Samaritana, à qual oferece o dom da ‘água viva’ que mata a sede que
cada homem tem de infinito e de salvação. Como ao tempo de Jesus, hoje todos
somos um pouco a imagem da Samaritana, buscando novas fontes e procurando
saciar a sede de salvação. Mais uma vez, através da sua Palavra, Jesus promete
àqueles que o procuram essa vida nova que Ele veio anunciar.
Padre João Lourenço, OFM
Publicada por OFS LUZ à(s) 09:50:00 0 comentários
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