25 de fevereiro de 2014
20 de fevereiro de 2014
Retiro da Região Sul - 15 de Fevereiro
«Como a família é verdade»
PROGRAMA / HORÁRIO
09.30h - Acolhimento
10.00h - Laudes
10.30h – Reflexão (Orientador do
Retiro)
11.15h – Reflexão Pessoal (individual,
em silêncio)
12.00h – Tempo de oração – adoração
12.30h - Almoço partilhado
14.00h –
Partilha da Reflexão em plenário (os Irmãos presentes)
15.00h
– Reflexão preparatória da Eucaristia (Orientador do Retiro)
16.00h
– Eucaristia
17.00h
– Despedida
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29 de janeiro de 2014
Janeiro - Formação Permanente - Revitalizar
REVITALIZAR/REAVIVAR
A "FORMA DE VIDA"
TESTEMUNHANDO
A FRATERNIDADE
1. Palavra
inspiradora:
MC 23,8-10: "Quanto a vós,
não vos deixeis tratar por mestres, pois um só é o vosso Mestre, e vós
sois todos irmãos. E,
na
terra, a ninguém chameis pai, porque um só é vosso Pai: Aquele que está nos
céus".
Mt 18,20: "Pois onde
estiverem reunidos, em Meu nome, dois ou três, Eu estou no meio deles (Cfr. Rnb
22,32-37
OU IR).
2. Regra de vida:
No 4: "A Regra e Vida dos Franciscanos Seculares
é esta: observar o
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo os exemplos de S.
Francisco de Assis, que fez de Cristo o inspirador e centro da sua vida
para com Deus e com os homens".
3. Algumas
implicações
- Descobrir
nos irmãos a pessoa viva e operante de Cristo (R.V., 5).
- Como
irmãos, conformar a sua maneira de pensar e de agir com Cristo (Id., 7).
- Acolher
todos os homens com espírito humilde e benevolente, como sendo um dom do
Senhor e a imagem de Cristo. Conviver com todos num espírito de verdadeira
alegria (Id., 13).
- Procurar
os caminhos da unidade e dos entendimentos fraternos através do diálogo e
com o poder transformador do amor e do perdão, mostrando-se, assim,
portadores da paz, a qual deve ser construída constantemente (Id., 19).
- Assumir
a vocação da OFS como o viver o Evangelho em comunhão fraterna (Id., 33).
- Aprofundar
os verdadeiros fundamentos da fraternidade universal e implementar em toda
a parte o espírito de acolhimento e o clima de fraternidade (Const., art.º
18,2).
- Colaborar
com os movimentos que promovam a fraternidade entre os povos (Id., art.º
18,3).
- Atuar
como fermento, mediante o testemunho do amor fraterno (Id., art.º 19,l).
- Entender
a paz como obra da justiça e fruto da reconciliação e do amor fraterno
(Id., art.º 23,1).
4.
Fraternidade/Comunhão - Unidade "versus" solidão-individualismo
- Dia Mundial da Paz : 01.01.2014
- Mensagem do Papa
Francisco: "Fraternidade,
fundamento e caminho para a paz"
- Semana de Oração pela
Unidade dos Cristãos: 18-25 de Jan.
Estes dois acontecimentos motivam esta
partilha fraterna, como contributo de formação permanente dos Irmãos desta
fraternidade. Apenas alguns elementos que se apresentam como ajuda a uma
reflexão pessoal e como compromisso para a vida concreta.
Da Mensagem do Papa
Francisco podemos salientar alguns pontos. Assim:
No 1 e 3: a fraternidade
dimensão essencial - A paternidade divina
- A fraternidade como uma dimensão
essencial da pessoa, sendo esta um ser relacional.
- A consciência desta dimensão
essencial leva-nos a ver e a tratar
cada
pessoa como um verdadeiro irmão. Sem isto, não é possível a
construção de uma sociedade justa.
- A
fraternidade começa-se a aprender no seio da família.
- Apesar
da importância das ligações e comunicações que envolvem o nosso planeta e
do que elas permitem, isto contrasta muitas vezes com a globalização da
indiferença. Torna-nos vizinhos, mas não irmãos.
- Em
muitas partes do mundo: a lesão dos direitos humanos fundamentais, as
situações de desigualdade, pobreza, injustiça, a ausência de uma cultura
de solidariedade, o individualismo, o egocentrismo, o consumismo materialista... a revelarem uma profunda
carência de fraternidade.
- Uma
verdadeira fraternidade entre os homens supõe e exige a referência a um
Pai comum – paternidade divina. A partir do reconhecimento desta
paternidade, consolida-se a fraternidade entre os homens. A raiz da
fraternidade está contida na paternidade de Deus que se revela no amor
pessoal, solícito e concreto por cada pessoa (cfr. Mt 6,25-30). Quando este amor
é acolhido ele
torna-se agente de transformação da vida e das relações com o outro.
No 2: Onde está o
teu irmão?
- Partindo
da história dos dois irmãos Caim e Abel (Gn 4,l-16),
cuja
vocação era ser irmãos, importa entender alguns dos obstáculos que se
interpõem à
realização
da fraternidade. Caim assassinou Abel. Recusou-se a reconhecer-se como
irmão e a relacionar-se com ele. Ignorou o vínculo da fraternidade, da
reciprocidade e da comunhão. Porquê? Por inveja.
- Esta
narração ensina que a humanidade traz inscrita uma vocação à fraternidade,
mas também a possibilidade da sua rejeição. Disto mesmo dá testemunho o
egoísmo diário, estando este na base de muitas guerras e injustiças.
No 4: A fraternidade é fundamento e caminho para a paz
- Referindo
a "Populorum Progressio",
de Paulo VI, salienta: o dever de solidariedade: que nações ricas ajudem
as menos avançadas; o
dever
de justiça social: que requer a reformulação entre povos fortes e povos
fracos; o dever de caridade universal: que impele à promoção de um
mundo mais humano para todos
No 5: A fraternidade,
principio que vence a pobreza
- A fraternidade é fundamental para
vencer a pobreza, porque uma causa importante da pobreza é a falta de
fraternidade entre os povos e entre as pessoas. Em muitas sociedades
sente--se uma profunda pobreza relacional, devido à carência de
sólidas relações familiares e comunitárias. Com isto surgem a
marginalização, a solidão e várias formas de doença patológica.
- Uma tal pobreza só pode ser
superada através da redescoberta e valorização de relações fraternas no
seio das famílias e das comunidades, através da partilha das alegrias e
tristezas, das dificuldades e sucessos.
No 6: A redescoberta
da fraternidade na economia
- As
graves crises financeiras e económicas dos nossos dias: que têm a sua
origem no progressivo afastamento do homem de Deus e do próximo, com a
ambição desmedida de bens materiais, e também no empobrecimento das
relações interpessoais e comunitárias.
- As
sucessivas crises económicas devem levar a superar os modelos de
desenvolvimento económico e a mudar os estilos de vida. Além disso, pode
ser também uma ocasião para recuperar as virtudes da prudência, justiça,
fortaleza e temperança (virtudes cardiais). Elas podem ajudar-nos a
superar os momentos difíceis e a descobrir os laços fraternos que nos unem
uns aos outros. Estas virtudes são necessárias sobretudo para construir e
manter a sociedade a
medida
da dignidade humana.
No 7: A fraternidade extingue
a guerra
- Irmãos
que continuam a viver a experiência dilacerante da guerra. A exigir de todos
a oração pela paz.
- Apelo
a quantos semeiam a violência e morte, com armas: naquele que se considera
um inimigo a abater, redescobrir um irmão; ir o encontro do outro com o
diálogo, o perdão e a reconciliação para construir a justiça, a confiança
e a esperança.
- Não
bastam os acordos internacionais e as leis nacionais para preservar a
humanidade do
risco
de conflitos armados. É preciso uma conversão do coração que permita a
cada um reconhecer no outro um irmão do qual cuidar e com o qual trabalhar
para, juntos, construírem uma vida em plenitude para todos.
No. 8: A corrupção e o crime
organizado que contrastam com a fraternidade
- A
fraternidade
como sendo geradora de paz social, porque cria o equilíbrio entre
liberdade e justiça, entre responsabilidade pessoal e solidariedade, entre
bem dos indivíduos e bem comum.
- Um
autêntico espírito de fraternidade vence o egoísmo individual. Este
desenvolve-se quer em formas de corrupção, quer na formação de
organizações económicas, as quais, minando a legalidade e a justiça, ferem
no coração a dignidade da pessoa. Estas organizações ofendem a Deus,
prejudicam os irmãos e lesam a criação.
- O
drama
da droga, com a qual se lucra desafiando as leis morais e civis; a
devastação dos recursos naturais, a poluição, a tragédia da exploração no
trabalho, os tráficos ilícitos de dinheiro, a prostituição que destrói e
rouba o futuro a tanta gente, o tráfico de seres humanos, os crimes contra
menores ...
- As
condições desumanas de muitos estabelecimentos prisionais, onde os
reclusos acabam reduzidos a um estado degrandante e violados na sua
dignidade.
No 9: A fraternidade ajuda a
guardar e a cuidar da natureza
- A
natureza: dom do Criador oferecido à família humana. A natureza está à nossa
disposição, mas somos chamados a administrá-la responsavelmente. Por vezes
surge a ganância, a soberba de dominar, de possuir, de manipular ..., não permitindo a
defesa deste dom e o respeito do mesmo.
- O
sector
agrícola que tem a vocação vital de cultivar e guardar os recursos
naturais para alimentar a humanidade. De que modo usamos os recursos da
terra?
No 10: Conclusão
Uma necessidade: que a fraternidade seja
descoberta, amada, experimentada, assumida, testemunhada
...
5. Fraternidade
franciscana
- Antes
da fraternidade como ideal de vida evangélica, Francisco encontrou o
irmão. No irmão se revelou o Cristo Irmão. Através de Cristo e do seu
Evangelho foi percebendo o sentido pleno da paternidade universal de Deus
e de família dos filhos de Deus, que irmana os batizados, todos os homens,
a criação inteira.
- Fundada
em Cristo, a fraternidade que S. Francisco tem em mente é sempre a que
une os homens no amor de um mesmo Pai, realizada, como ele diz, por
"um tal filho, agradável, humilde, pacífico, doce, amável e mais que
tudo desejável, Nosso Senhor Jesus Cristo, que deu a vida pelas suas
ovelhas e orou ao Pai, dizendo: Pai Santo, guarda em Teu nome aqueles que
Me deste" (cfr. 1CF 11-14 e Jo 17).
- Esta
unidade, constituída por irmãos, se converte em fraternidade pela ação do
Espírito Santo. Francisco, nos seus escritos, fala sempre de fraternidade
quando designa o grupo dos seus seguidores. O termo "irmão" aparece com
muita frequência nas duas Regras (Rnb e Rb) e no Testamento com adjetivos
cheios de afeto: "irmãos meus", "meus irmãos
benditos", amadíssimos irmãos" ...
- Na
fraternidade franciscana podemos distinguir alguns aspetos fundamentais:
- Cristo como centro
vivo da fraternidade
- a fraternidade
vitalizada pela Palavra
- a fraternidade
alimentada pela oração
- a fraternidade
fundada na caridade
- a mútua aceitação
- a nivelação entre os
componentes do grupo-fraternidade (irmãos)
- a mútua abertura e confiança
- a caridade terna,
cordial e sacrificada
...
E isto tanto vale para
as fraternidades dos "menores" como dos "seculares".
6. A paz franciscana
Da homilia do Papa
Francisco, em Assis, a 04 de Outubro de 2013
A propósito de Mt 11, 28-29.
"Esta é a segunda coisa de que Francisco nos dá
testemunho (porque a primeira diz respeito ao ser cristão = uma relação vital com a Pessoa de
Jesus): quem segue a Cristo, recebe a verdadeira paz, a paz que só Ele, e
não o mundo, nos pode dar. Na ideia de muitos, S. Francisco aparece
associado com a paz: e está certo, mas poucos vão em profundidade. Qual é a paz
que Francisco acolheu e viveu, e que nos transmite? A paz de Cristo, que
passou através do maior amor, o da Cruz. É a paz que Jesus Ressuscitado deu aos
discípulos, quando apareceu no meio deles e disse: "A paz esteja
convosco!"; e disse-o, mostrando as mãos chagadas e o peito trespassado
(Jo 20, 19.20).
A paz franciscana não é um sentimento piegas.
Por favor,
este S. Francisco não existe! A paz de S. Francisco é a de Cristo, e encontra-a quem
"toma sobre si" o seu "jugo", isto é, o seu mandamento:
"amai- vos uns aos outros, como Eu vos amei" (cf. Jo 13,34; 15,12). E este jugo não se
pode levar com arrogância, presunção, orgulho, mas apenas com mansidão e
humildade de coração. Voltamo-nos para ti, Francisco, e te pedimos: ensina-nos a ser
"instrumentos da paz", da paz que tem a sua fonte em Deus, a paz que
nos trouxe o Senhor Jesus"
"Altíssimo, omnipotente, bom Senhor,
(...) louvado sejas( ...)
com todas
as tuas criaturas". Assim começa o Cântico de S. Francisco. O amor por toda a
criação, pela sua harmonia. O Santo de Assis dá testemunho do respeito por tudo o que
Deus criou e que o homem é
chamado a
guardar e proteger, mas sobretudo da testemunho de respeito e amor por todo o
ser humano. Deus criou o mundo, para que seja lugar de crescimento na harmonia
e na paz. A harmonia e a paz! Francisco foi homem de harmonia e de paz. Daqui, desta Cidade da paz, repito com a força e a
mansidão do amor: respeitemos
a criação, não
sejamos instrumentos de destruição! Respeitemos todo o ser humano: cessem os conflitos
armados que ensanguentam a terra, calem-se as armas, e que, por toda a parte, o
ódio dê lugar ao amor, a ofensa ao perdão e a discórdia à união. Ouçamos o grito
dos que choram, sofrem e morrem por causa da violência, do terrorismo ou da
guerra na Terra Santa, tão amada por S. Francisco, na Síria, em todo o Médio Oriente,
no mundo.
Voltamo-nos para ti, Francisco, e te
pedimos: alcançai-nos
de Deus o dom de ter, neste nosso mundo, harmonia e pazl"
Frei José Pinto, OFM
(Assistente Espiritual da Fraternidade Franciscana Secular de S. Francisco à Luz)
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19 de janeiro de 2014
Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos 2014
http://www.ofm.org/ofm/
http://www.vatican.va/
http://terrasanta.net
Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos: “será que Cristo está dividido?”
Está em pleno andamento, desde Sábado (18), a Semana de Oração pela Unidade dos
Cristãos que, este ano, apresenta como tema o apelo veemente do Apóstolo Paulo
por uma sólida unidade: “Será que Cristo está dividido”? O tema é
extraído da Carta de São Paulo aos Coríntios (1Cor 1,13).
Diante desta
pergunta, pensa-se imediatamente na trágica situação da cristandade dividida,
porque a ruptura da Igreja, ainda existente, deve ser entendida como divisão do
que por natureza é indivisível, ou seja, a unidade do Corpo de Cristo. Foi
precisamente este doloroso problema que animou os padres conciliares a lançarem
o documento sobre o ecumenismo, Unitatis redintegratio que, este ano,
celebra o seu cinquentenário de publicação.
Momento central, neste ano,
é, sobretudo, a comemoração do histórico encontro entre o patriarca ecuménico de
Constantinopla, Atenágoras e Paulo VI, que teve lugar em Jerusalém, há cinquenta
anos, precisamente de 5 a 6 de Janeiro de 1964. A então anunciada vontade mútua
de restabelecer a unidade entre as duas Igrejas, selada com o ósculo fraterno
entre os dois líderes religiosos, em nome dos dois irmãos André e Pedro,
continua a ser o ícone da disponibilidade ecuménica de
reconciliação.
Promovida mundialmente pelo Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos e pelo Conselho Mundial das Igrejas, a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos realiza-se em períodos diferentes nos dois
hemisférios. No hemisfério norte, o período tradicional para a Semana de
Oração pela Unidade dos Cristãos vai de 18 a 25 de Janeiro. Esta data foi
proposta, em 1908, por Paul Watson, por causa da celebração da festa de São
Pedro e São Paulo e, portanto, tinha um significado simbólico.
No
hemisfério Sul, por sua vez, as Igrejas geralmente celebram a Semana de Oração
no período entre a Ascensão do Senhor e a Solenidades de Pentecostes, que este
ano ocorre de 1 a 8 de Junho. Este período foi sugerido pelo movimento Fé e
Ordem, em 1926, por ser também um momento simbólico para a unidade da Igreja. A
busca da unidade torna-se um gesto concreto, todos os anos, com a celebração da
Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.O subsídio para 2014 foi
preparado por um grupo de representantes das diversas Igrejas presentes no
Canadá, que tiveram um encontro a convite do Centro Canadiano para o Ecumenismo
e o Centro das Pradarias para o Ecumenismo. O seu trabalho foi
posteriormente revisto na sua redacção final pela Comissão Internacional nomeada
pela Comissão Fé e Constituição do Conselho ecuménico das Igrejas e pelo
Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos. O texto assim
elaborado foi dedicado à memória de dois grandes recentemente desaparecidos, o
teólogo Ralph Del Colle (1954-2012) e a Professora Margaret O'Gara (1947-2012 ).
Fazem parte do material difundido alguns hinos e cânticos, especialmente
preparados por escritores e compositores canadianos para a Semana de Oração. O
repertório inclui versos intensos como estes: "Todas as raças, línguas e
culturas santificadas pelo Espírito se transformam em uma única voz no
testemunho de Jesus Crucificado. Unidos pelo Espírito: uma luz para a
humanidade. O sacrifício de Jesus é suficiente para esta época e para sempre".http://pt.radiovaticana.va/news/2014/01/18/semana_de_ora%C3%A7%C3%A3o_pela_unidade_dos_crist%C3%A3os:_%E2%80%9Cser%C3%A1_que_cristo_est%C3%A1/por-765181
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1 de janeiro de 2014
1 de janeiro de 2014 - Santa Maria Mãe de Deus
MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO
PARA
O XLVII DIA MUNDIAL DA PAZ - 1 DE JANEIRO DE 2014
PARA
O XLVII DIA MUNDIAL DA PAZ - 1 DE JANEIRO DE 2014
FRATERNIDADE,
FUNDAMENTO E CAMINHO PARA A PAZ
1. Nesta minha primeira Mensagem
para o Dia Mundial da Paz, desejo formular a todos, indivíduos e povos, votos
duma vida repleta de alegria e esperança. Com efeito, no coração de cada homem
e mulher, habita o anseio duma vida plena que contém uma aspiração irreprimível
de fraternidade, impelindo à comunhão com os outros, em quem não encontramos
inimigos ou concorrentes, mas irmãos que devemos acolher e abraçar.
Na realidade, a fraternidade é uma
dimensão essencial do homem, sendo ele um ser relacional. A consciência viva
desta dimensão relacional leva-nos a ver e tratar cada pessoa como uma
verdadeira irmã e um verdadeiro irmão; sem tal consciência, torna-se impossível
a construção duma sociedade justa, duma paz firme e duradoura. E convém desde
já lembrar que a fraternidade se começa a aprender habitualmente no seio da
família, graças sobretudo às funções responsáveis e complementares de todos os
seus membros, mormente do pai e da mãe. A família é a fonte de toda a
fraternidade, sendo por isso mesmo também o fundamento e o caminho primário
para a paz, já que, por vocação, deveria contagiar o mundo com o seu amor.
O número sempre crescente de
ligações e comunicações que envolvem o nosso planeta torna mais palpável a
consciência da unidade e partilha dum destino comum entre as nações da terra.
Assim, nos dinamismos da história – independentemente da diversidade das
etnias, das sociedades e das culturas –, vemos semeada a vocação a formar uma
comunidade feita de irmãos que se acolhem mutuamente e cuidam uns dos outros.
Contudo, ainda hoje, esta vocação é muitas vezes contrastada e negada nos
factos, num mundo caracterizado pela «globalização da indiferença» que
lentamente nos faz «habituar» ao sofrimento alheio, fechando-nos em nós mesmos.
Em muitas partes do mundo, parece
não conhecer tréguas a grave lesão dos direitos humanos fundamentais, sobretudo
dos direitos à vida e à liberdade de religião. Exemplo preocupante disso mesmo
é o dramático fenómeno do tráfico de seres humanos, sobre cuja vida e desespero
especulam pessoas sem escrúpulos. Às guerras feitas de confrontos armados
juntam-se guerras menos visíveis, mas não menos cruéis, que se combatem nos
campos económico e financeiro com meios igualmente demolidores de vidas, de
famílias, de empresas.
A globalização, como afirmou Bento XVI, torna-nos vizinhos,
mas não nos faz irmãos.[1] As
inúmeras situações de desigualdade, pobreza e injustiça indicam não só uma
profunda carência de fraternidade, mas também a ausência duma cultura de
solidariedade. As novas ideologias, caracterizadas por generalizado
individualismo, egocentrismo e consumismo materialista, debilitam os laços sociais,
alimentando aquela mentalidade do «descartável» que induz ao desprezo e
abandono dos mais fracos, daqueles que são considerados «inúteis». Assim, a
convivência humana assemelha-se sempre mais a um mero do ut des pragmático
e egoísta.
Ao mesmo tempo, resulta claramente
que as próprias éticas contemporâneas se mostram incapazes de produzir
autênticos vínculos de fraternidade, porque uma fraternidade privada da
referência a um Pai comum como seu fundamento último não consegue subsistir.[2] Uma
verdadeira fraternidade entre os homens supõe e exige uma paternidade
transcendente. A partir do reconhecimento desta paternidade, consolida-se a
fraternidade entre os homens, ou seja, aquele fazer-se «próximo» para cuidar do
outro.
«Onde está o
teu irmão?» (Gn 4, 9)
2. Para compreender melhor esta
vocação do homem à fraternidade e para reconhecer de forma mais adequada os
obstáculos que se interpõem à sua realização e identificar as vias para a
superação dos mesmos, é fundamental deixar-se guiar pelo conhecimento do
desígnio de Deus, tal como se apresenta de forma egrégia na Sagrada Escritura.
Segundo a narração das origens,
todos os homens provêm dos mesmos pais, de Adão e Eva, casal criado por Deus à
sua imagem e semelhança (cf. Gn 1, 26), do qual nascem Caim e
Abel. Na história desta família primigénia, lemos a origem da sociedade, a
evolução das relações entre as pessoas e os povos.
Abel é pastor, Caim agricultor. A
sua identidade profunda e, conjuntamente, a sua vocação é ser irmãos,
embora na diversidade da sua actividade e cultura, da sua maneira de se
relacionarem com Deus e com a criação. Mas o assassinato de Abel por Caim
atesta, tragicamente, a rejeição radical da vocação a ser irmãos. A sua
história (cf. Gn4, 1-16) põe em evidência o difícil dever, a que
todos os homens são chamados, de viver juntos, cuidando uns dos outros. Caim,
não aceitando a predilecção de Deus por Abel, que Lhe oferecia o melhor do seu
rebanho – «o Senhor olhou com agrado para Abel e para a sua oferta, mas não
olhou com agrado para Caim nem para a sua oferta» (Gn4, 4-5) –, mata
Abel por inveja. Desta forma, recusa reconhecer-se irmão, relacionar-se
positivamente com ele, viver diante de Deus, assumindo as suas
responsabilidades de cuidar e proteger o outro. À pergunta com que Deus
interpela Caim – «onde está o teu irmão?» –, pedindo-lhe contas da sua acção,
responde: «Não sei dele. Sou, porventura, guarda do meu irmão?» (Gn 4,
9). Depois – diz-nos o livro do Génesis –, «Caim afastou-se da presença do
Senhor» (4, 16).
É preciso interrogar-se sobre os
motivos profundos que induziram Caim a ignorar o vínculo de fraternidade e,
simultaneamente, o vínculo de reciprocidade e comunhão que o ligavam ao seu
irmão Abel. O próprio Deus denuncia e censura a Caim a sua contiguidade com o
mal: «o pecado deitar-se-á à tua porta» (Gn 4, 7). Mas Caim recusa
opor-se ao mal, e decide igualmente «lançar-se sobre o irmão» (Gn 4,
8), desprezando o projecto de Deus. Deste modo, frustra a sua vocação original
para ser filho de Deus e viver a fraternidade.
A narração de Caim e Abel ensina que
a humanidade traz inscrita em si mesma uma vocação à fraternidade, mas também a
possibilidade dramática da sua traição. Disso mesmo dá testemunho o egoísmo
diário, que está na base de muitas guerras e injustiças: na realidade, muitos
homens e mulheres morrem pela mão de irmãos e irmãs que não sabem reconhecer-se
como tais, isto é, como seres feitos para a reciprocidade, a comunhão e a
doação.
«E vós sois
todos irmãos» (Mt 23, 8)
3. Surge espontaneamente a pergunta:
poderão um dia os homens e as mulheres deste mundo corresponder plenamente ao
anseio de fraternidade, gravado neles por Deus Pai? Conseguirão, meramente com
as suas forças, vencer a indiferença, o egoísmo e o ódio, aceitar as legítimas
diferenças que caracterizam os irmãos e as irmãs?
Parafraseando as palavras do Senhor
Jesus, poderemos sintetizar assim a resposta que Ele nos dá: dado que há um só
Pai, que é Deus, vós sois todos irmãos (cf. Mt 23, 8-9). A
raiz da fraternidade está contida na paternidade de Deus. Não se trata de uma
paternidade genérica, indistinta e historicamente ineficaz, mas do amor
pessoal, solícito e extraordinariamente concreto de Deus por cada um dos homens
(cf. Mt 6, 25-30). Trata-se, por conseguinte, de uma
paternidade eficazmente geradora de fraternidade, porque o amor de Deus, quando
é acolhido, torna-se no mais admirável agente de transformação da vida e das
relações com o outro, abrindo os seres humanos à solidariedade e à partilha
activa.
Em particular, a fraternidade humana
foi regenerada em e por Jesus Cristo, com a
sua morte e ressurreição. A cruz é o «lugar» definitivo de fundação da
fraternidade que os homens, por si sós, não são capazes de gerar. Jesus Cristo,
que assumiu a natureza humana para a redimir, amando o Pai até à morte e morte
de cruz (cf. Fl 2, 8), por meio da sua ressurreição
constitui-nos como humanidade nova, em plena comunhão com a vontade
de Deus, com o seu projecto, que inclui a realização plena da vocação à
fraternidade.
Jesus retoma o projecto inicial do
Pai, reconhecendo-Lhe a primazia sobre todas as coisas. Mas Cristo, com o seu
abandono até à morte por amor do Pai, torna-Se princípio novo e definitivo de
todos nós, chamados a reconhecer-nos n’Ele como irmãos, porque filhos do
mesmo Pai. Ele é a própria Aliança, o espaço pessoal da reconciliação do homem
com Deus e dos irmãos entre si. Na morte de Jesus na cruz, ficou superada
também a separação entre os povos, entre o povo da Aliança e o
povo dos Gentios, privado de esperança porque permanecera até então alheio aos
pactos da Promessa. Como se lê na Carta aos Efésios, Jesus Cristo é Aquele que
reconcilia em Si todos os homens. Ele é a paz, porque, dos
dois povos, fez um só, derrubando o muro de separação que os dividia, ou seja,
a inimizade. Criou em Si mesmo um só povo, um só homem novo, uma só humanidade
nova (cf. 2,14-16).
Quem aceita a vida de Cristo e vive
n’Ele, reconhece Deus como Pai e a Ele Se entrega totalmente, amando-O acima de
todas as coisas. O homem reconciliado vê, em Deus, o Pai de todos e,
consequentemente, é solicitado a viver uma fraternidade aberta a todos. Em
Cristo, o outro é acolhido e amado como filho ou filha de Deus, como irmão ou
irmã, e não como um estranho, menos ainda como um antagonista ou até um
inimigo. Na família de Deus, onde todos são filhos dum mesmo Pai e, porque
enxertados em Cristo, filhos no Filho, não há «vidas descartáveis».
Todos gozam de igual e inviolável dignidade; todos são amados por Deus, todos
foram resgatados pelo sangue de Cristo, que morreu na cruz e ressuscitou por
cada um. Esta é a razão pela qual não se pode ficar indiferente perante a sorte
dos irmãos.
A fraternidade,
fundamento e caminho para a paz
4. Suposto isto, é fácil compreender
que a fraternidade é fundamento e caminho para
a paz. As Encíclicas sociais dos meus Predecessores oferecem uma ajuda valiosa
neste sentido. Basta ver as definições de paz da Populorum progressio, de Paulo VI, ou da Sollicitudo rei socialis, de João Paulo II. Da primeira,
apreendemos que o desenvolvimento integral dos povos é o novo nome da paz[3] e,
da segunda, que a paz é opus solidaritatis, fruto da solidariedade.[4]
Paulo VI afirma que tanto as pessoas
como as nações se devem encontrar num espírito de fraternidade. E explica:
«Nesta compreensão e amizade mútuas, nesta comunhão sagrada, devemos (...)
trabalhar juntos para construir o futuro comum da humanidade».[5] Este
dever recai primariamente sobre os mais favorecidos. As suas obrigações
radicam-se na fraternidade humana e sobrenatural, apresentando-se sob um
tríplice aspecto: o dever de solidariedade, que exige que as nações
ricas ajudem as menos avançadas; o dever de justiça social, que
requer a reformulação em termos mais correctos das relações defeituosas entre
povos fortes e povos fracos; o dever de caridade universal, que
implica a promoção de um mundo mais humano para todos, um mundo onde todos
tenham qualquer coisa a dar e a receber, sem que o progresso de uns seja
obstáculo ao desenvolvimento dos outros.[6]
Ora, da mesma forma que se considera
a paz como opus solidarietatis, é impossível não pensar que o seu
fundamento principal seja a fraternidade. A paz, afirma João Paulo II, é um bem
indivisível: ou é bem de todos, ou não o é de ninguém. Na realidade, a paz só
pode ser conquistada e usufruída como melhor qualidade de vida e como
desenvolvimento mais humano e sustentável, se estiver viva, em todos, «a
determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum».[7] Isto
implica não deixar-se guiar pela «avidez do lucro» e pela «sede do poder». É
preciso estar pronto a «“perder-se” em benefício do próximo em vez de o
explorar, e a “servi-lo” em vez de o oprimir para proveito próprio (...). O
“outro” – pessoa, povo ou nação – [não deve ser visto] como um instrumento
qualquer, de que se explora, a baixo preço, a capacidade de trabalhar e a
resistência física, para o abandonar quando já não serve; mas sim como um nosso
“semelhante”, um “auxílio”».[8]
A solidariedade cristã pressupõe
que o próximo seja amado não só como «um ser humano com os seus direitos e a
sua igualdade fundamental em relação a todos os demais, mas [como] a imagem
viva de Deus Pai, resgatada pelo sangue de Jesus Cristo e tornada
objecto da acção permanente do Espírito Santo»,[9] como
um irmão. «Então a consciência da paternidade comum de Deus, da
fraternidade de todos os homens em Cristo, “filhos no Filho”, e da presença e
da acção vivificante do Espírito Santo conferirá – lembra João Paulo II – ao
nosso olhar sobre o mundo como que um novo critério para o
interpretar»,[10] para
o transformar.
A fraternidade,
premissa para vencer a pobreza
5. Na Caritas in
veritate, o meu Predecessor lembrava
ao mundo que uma causa importante da pobreza é a falta defraternidade entre
os povos e entre os homens.[11] Em
muitas sociedades, sentimos uma profunda pobreza relacional, devido
à carência de sólidas relações familiares e comunitárias; assistimos,
preocupados, ao crescimento de diferentes tipos de carências, marginalização,
solidão e de várias formas de dependência patológica. Uma tal pobreza só pode
ser superada através da redescoberta e valorização de relações fraternas no
seio das famílias e das comunidades, através da partilha das alegrias e
tristezas, das dificuldades e sucessos presentes na vida das pessoas.
Além disso, se por um lado se
verifica uma redução da pobreza absoluta, por outro não podemos
deixar de reconhecer um grave aumento da pobreza relativa, isto é,
de desigualdades entre pessoas e grupos que convivem numa região específica ou
num determinado contexto histórico-cultural. Neste sentido, servem políticas eficazes
que promovam o princípio da fraternidade, garantindo às pessoas –
iguais na sua dignidade e nos seus direitos fundamentais – acesso aos
«capitais», aos serviços, aos recursos educativos, sanitários e tecnológicos,
para que cada uma delas tenha oportunidade de exprimir e realizar o seu
projecto de vida e possa desenvolver-se plenamente como pessoa.
Reconhece-se haver necessidade
também de políticas que sirvam para atenuar a excessiva desigualdade de
rendimento. Não devemos esquecer o ensinamento da Igreja sobre a chamada hipoteca
social, segundo a qual, se é lícito – como diz São Tomás de Aquino – e
mesmo necessário que «o homem tenha a propriedade dos bens»,[12]quanto
ao uso, porém, «não deve considerar as coisas exteriores que legitimamente
possui só como próprias, mas também como comuns, no sentido de que possam
beneficiar não só a si mas também aos outros».[13]
Por último, há uma forma de promover
a fraternidade – e, assim, vencer a pobreza – que deve estar na base de todas
as outras. É o desapego vivido por quem escolhe estilos de vida sóbrios e
essenciais, por quem, partilhando as suas riquezas, consegue assim experimentar
a comunhão fraterna com os outros. Isto é fundamental, para seguir Jesus Cristo
e ser verdadeiramente cristão. É o caso não só das pessoas consagradas que
professam voto de pobreza, mas também de muitas famílias e tantos cidadãos
responsáveis que acreditam firmemente que a relação fraterna com o próximo
constitua o bem mais precioso.
A redescoberta
da fraternidade na economia
6. As graves crises financeiras e
económicas dos nossos dias – que têm a sua origem no progressivo afastamento do
homem de Deus e do próximo, com a ambição desmedida de bens materiais, por um
lado, e o empobrecimento das relações interpessoais e comunitárias, por outro –
impeliram muitas pessoas a buscar o bem-estar, a felicidade e a segurança no
consumo e no lucro fora de toda a lógica duma economia saudável. Já, em 1979,
o Papa João
Paulo IIalertava para a existência de «um real e perceptível perigo de que,
enquanto progride enormemente o domínio do homem sobre o mundo das coisas, ele
perca os fios essenciais deste seu domínio e, de diversas maneiras, submeta a
elas a sua humanidade, e ele próprio se torne objecto de multiforme
manipulação, se bem que muitas vezes não directamente perceptível; manipulação
através de toda a organização da vida comunitária, mediante o sistema de
produção e por meio de pressões dos meios de comunicação social».[14]
As sucessivas crises económicas
devem levar a repensar adequadamente os modelos de desenvolvimento económico e
a mudar os estilos de vida. A crise actual, com pesadas consequências na vida
das pessoas, pode ser também uma ocasião propícia para recuperar as virtudes da
prudência, temperança, justiça e fortaleza. Elas podem ajudar-nos a superar os
momentos difíceis e a redescobrir os laços fraternos que nos unem uns aos
outros, com a confiança profunda de que o homem tem necessidade e é capaz de
algo mais do que a maximização do próprio lucro individual. As referidas virtudes
são necessárias sobretudo para construir e manter uma sociedade à medida da
dignidade humana.
A fraternidade
extingue a guerra
7. Ao longo do ano que termina,
muitos irmãos e irmãs nossos continuaram a viver a experiência dilacerante da
guerra, que constitui uma grave e profunda ferida infligida à fraternidade.
Há muitos conflitos que se consumam
na indiferença geral. A todos aqueles que vivem em terras onde as armas impõem
terror e destruição, asseguro a minha solidariedade pessoal e a de toda a
Igreja. Esta última tem por missão levar o amor de Cristo também às vítimas
indefesas das guerras esquecidas, através da oração pela paz, do serviço aos
feridos, aos famintos, aos refugiados, aos deslocados e a quantos vivem no
terror. De igual modo a Igreja levanta a sua voz para fazer chegar aos
responsáveis o grito de dor desta humanidade atribulada e fazer cessar,
juntamente com as hostilidades, todo o abuso e violação dos direitos
fundamentais do homem.[15]
Por este motivo, desejo dirigir um
forte apelo a quantos semeiam violência e morte, com as armas: naquele que hoje
considerais apenas um inimigo a abater, redescobri o vosso irmão e detende a
vossa mão! Renunciai à via das armas e ide ao encontro do outro com o diálogo,
o perdão e a reconciliação para reconstruir a justiça, a confiança e esperança
ao vosso redor! «Nesta óptica, torna-se claro que, na vida dos povos, os
conflitos armados constituem sempre a deliberada negação de qualquer concórdia
internacional possível, originando divisões profundas e dilacerantes feridas
que necessitam de muitos anos para se curarem. As guerras constituem a rejeição
prática de se comprometer para alcançar aquelas grandes metas económicas e
sociais que a comunidade internacional estabeleceu».[16]
Mas, enquanto houver em circulação
uma quantidade tão grande como a actual de armamentos, poder-se-á sempre
encontrar novos pretextos para iniciar as hostilidades. Por isso, faço meu o
apelo lançado pelos meus Predecessores a favor da não-proliferação das armas e
do desarmamento por parte de todos, a começar pelo desarmamento nuclear e
químico.
Não podemos, porém, deixar de
constatar que os acordos internacionais e as leis nacionais, embora sendo
necessários e altamente desejáveis, por si sós não bastam para preservar a
humanidade do risco de conflitos armados. É precisa uma conversão do coração
que permita a cada um reconhecer no outro um irmão do qual cuidar e com o qual
trabalhar para, juntos, construírem uma vida em plenitude para todos. Este é o
espírito que anima muitas das iniciativas da sociedade civil, incluindo as
organizações religiosas, a favor da paz. Espero que o compromisso diário de
todos continue a dar fruto e que se possa chegar também à efectiva aplicação,
no direito internacional, do direito à paz como direito humano fundamental,
pressuposto necessário para o exercício de todos os outros direitos.
A corrupção e o
crime organizado contrastam a fraternidade
8. O horizonte da fraternidade apela
ao crescimento em plenitude de todo o homem e mulher. As justas ambições duma
pessoa, sobretudo se jovem, não devem ser frustradas nem lesadas; não se lhe
deve roubar a esperança de podê-las realizar. A ambição, porém, não deve ser
confundida com prevaricação; pelo contrário, é necessário competir na mútua
estima (cf. Rm 12, 10). Mesmo nas disputas, que constituem um
aspecto inevitável da vida, é preciso recordar-se sempre de que somos irmãos;
por isso, é necessário educar e educar-se para não considerar o próximo como um
inimigo nem um adversário a eliminar.
A fraternidade gera paz social,
porque cria um equilíbrio entre liberdade e justiça, entre responsabilidade
pessoal e solidariedade, entre bem dos indivíduos e bem comum. Uma comunidade
política deve, portanto, agir de forma transparente e responsável para
favorecer tudo isto. Os cidadãos devem sentir-se representados pelos poderes
públicos, no respeito da sua liberdade. Em vez disso, muitas vezes, entre
cidadão e instituições, interpõem-se interesses partidários que deformam essa
relação, favorecendo a criação dum clima perene de conflito.
Um autêntico espírito de
fraternidade vence o egoísmo individual, que contrasta a possibilidade das
pessoas viverem em liberdade e harmonia entre si. Tal egoísmo desenvolve-se,
socialmente, quer nas muitas formas de corrupção que hoje se difunde de maneira
capilar, quer na formação de organizações criminosas – desde os pequenos grupos
até àqueles organizados à escala global – que, minando profundamente a
legalidade e a justiça, ferem no coração a dignidade da pessoa. Estas
organizações ofendem gravemente a Deus, prejudicam os irmãos e lesam a criação,
revestindo-se duma gravidade ainda maior se têm conotações religiosas.
Penso no drama dilacerante da droga
com a qual se lucra desafiando leis morais e civis, na devastação dos recursos
naturais e na poluição em curso, na tragédia da exploração do trabalho; penso
nos tráficos ilícitos de dinheiro como também na especulação financeira que,
muitas vezes, assume caracteres predadores e nocivos para inteiros sistemas
económicos e sociais, lançando na pobreza milhões de homens e mulheres; penso
na prostituição que diariamente ceifa vítimas inocentes, sobretudo entre os
mais jovens, roubando-lhes o futuro; penso no abomínio do tráfico de seres
humanos, nos crimes e abusos contra menores, na escravidão que ainda espalha o
seu horror em muitas partes do mundo, na tragédia frequentemente ignorada dos
emigrantes sobre quem se especula indignamente na ilegalidade. A este respeito
escreveu João XXIII: «Uma
convivência baseada unicamente em relações de força nada tem de humano: nela
vêem as pessoas coarctada a própria liberdade, quando, pelo contrário, deveriam
ser postas em condição tal que se sentissem estimuladas a procurar o próprio
desenvolvimento e aperfeiçoamento».[17]Mas
o homem pode converter-se, e não se deve jamais desesperar da possibilidade de
mudar de vida. Gostaria que isto fosse uma mensagem de confiança para todos,
mesmo para aqueles que cometeram crimes hediondos, porque Deus não quer a morte
do pecador, mas que se converta e viva (cf. Ez 18, 23).
No contexto alargado da
sociabilidade humana, considerando o delito e a pena, penso também nas
condições desumanas de muitos estabelecimentos prisionais, onde frequentemente
o preso acaba reduzido a um estado sub-humano, violado na sua dignidade de
homem e sufocado também em toda a vontade e expressão de resgate. A Igreja faz
muito em todas estas áreas, a maior parte das vezes sem rumor. Exorto e
encorajo a fazer ainda mais, na esperança de que tais acções desencadeadas por
tantos homens e mulheres corajosos possam cada vez mais ser sustentadas, leal e
honestamente, também pelos poderes civis.
A fraternidade
ajuda a guardar e cultivar a natureza
9. A família humana recebeu, do
Criador, um dom em comum: a natureza. A visão cristã da criação apresenta um
juízo positivo sobre a licitude das intervenções na natureza para dela tirar
benefício, contanto que se actue responsavelmente, isto é, reconhecendo aquela
«gramática» que está inscrita nela e utilizando, com sabedoria, os recursos
para proveito de todos, respeitando a beleza, a finalidade e a utilidade dos
diferentes seres vivos e a sua função no ecossistema. Em suma, a natureza está
à nossa disposição, mas somos chamados a administrá-la responsavelmente. Em vez
disso, muitas vezes deixamo-nos guiar pela ganância, pela soberba de dominar,
possuir, manipular, desfrutar; não guardamos a natureza, não a respeitamos, nem
a consideramos como um dom gratuito de que devemos cuidar e colocar ao serviço
dos irmãos, incluindo as gerações futuras.
De modo particular o sector
produtivo primário, o sector agrícola, tem a vocação vital de
cultivar e guardar os recursos naturais para alimentar a humanidade. A
propósito, a persistente vergonha da fome no mundo leva-me a partilhar convosco
esta pergunta: De que modo usamos os recursos da terra? As
sociedades actuais devem reflectir sobre a hierarquia das prioridades no
destino da produção. De facto, é um dever impelente que se utilizem de tal modo
os recursos da terra, que todos se vejam livres da fome. As iniciativas e as
soluções possíveis são muitas, e não se limitam ao aumento da produção. É mais
que sabido que a produção actual é suficiente, e todavia há milhões de pessoas
que sofrem e morrem de fome, o que constitui um verdadeiro escândalo. Por isso,
é necessário encontrar o modo para que todos possam beneficiar dos frutos da
terra, não só para evitar que se alargue o fosso entre aqueles que têm mais e
os que devem contentar-se com as migalhas, mas também e sobretudo por uma
exigência de justiça e equidade e de respeito por cada ser humano. Neste
sentido, gostaria de lembrar a todos o necessáriodestino universal dos bens,
que é um dos princípios fulcrais da doutrina social da Igreja. O respeito deste
princípio é a condição essencial para permitir um acesso real e equitativo aos
bens essenciais e primários de que todo o homem precisa e tem direito.
Conclusão
10. Há necessidade que a
fraternidade seja descoberta, amada, experimentada, anunciada e testemunhada;
mas só o amor dado por Deus é que nos permite acolher e viver plenamente a
fraternidade.
O necessário realismo da política e
da economia não pode reduzir-se a um tecnicismo sem ideal, que ignora a
dimensão transcendente do homem. Quando falta esta abertura a Deus, toda a
actividade humana se torna mais pobre, e as pessoas são reduzidas a objecto
passível de exploração. Somente se a política e a economia aceitarem mover-se
no amplo espaço assegurado por esta abertura Àquele que ama todo o homem e
mulher, é que conseguirão estruturar-se com base num verdadeiro espírito de
caridade fraterna e poderão ser instrumento eficaz de desenvolvimento humano
integral e de paz.
Nós, cristãos, acreditamos que, na
Igreja, somos membros uns dos outros e todos mutuamente necessários, porque a
cada um de nós foi dada uma graça, segundo a medida do dom de Cristo, para
utilidade comum (cf. Ef 4, 7.25; 1 Cor 12,
7). Cristo veio ao mundo para nos trazer a graça divina, isto é, a
possibilidade de participar na sua vida. Isto implica tecer um relacionamento
fraterno, caracterizado pela reciprocidade, o perdão, o dom total de si mesmo,
segundo a grandeza e a profundidade do amor de Deus, oferecido à humanidade por
Aquele que, crucificado e ressuscitado, atrai todos a Si: «Dou-vos um novo
mandamento: que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros assim
como Eu vos amei. Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se
vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 34-35). Esta é a boa nova que
requer, de cada um, um passo mais, um exercício perene de empatia, de escuta do
sofrimento e da esperança do outro, mesmo do que está mais distante de mim,
encaminhando-se pela estrada exigente daquele amor que sabe doar-se e gastar-se
gratuitamente pelo bem de cada irmão e irmã.
Cristo abraça todo o ser humano e
deseja que ninguém se perca. «Deus não enviou o seu Filho ao mundo para
condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele» (Jo 3,
17). Fá-lo sem oprimir, sem forçar ninguém a abrir-Lhe as portas do coração e
da mente. «O que for maior entre vós seja como o menor, e aquele que mandar,
como aquele que serve – diz Jesus Cristo –. Eu estou no meio de vós como aquele
que serve» (Lc 22, 26-27). Deste modo, cada actividade deve ser
caracterizada por uma atitude de serviço às pessoas, incluindo as mais
distantes e desconhecidas. O serviço é a alma da fraternidade que edifica a
paz.
Que Maria, a Mãe de Jesus, nos ajude
a compreender e a viver todos os dias a fraternidade que jorra do coração do
seu Filho, para levar a paz a todo o homem que vive nesta nossa amada terra.
Vaticano, 8 de
Dezembro de 2013.
FRANCISCUS
[4]Cf.
JOÃO PAULO II, Carta enc. Sollicitudo rei socialis (30 de
Dezembro de 1987), 39: AAS 80 (1988), 566-568.
[13] Conc.
Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 69; cf. Leão XIII, Carta
enc. Rerum novarum (15 de Maio de 1891),
19: ASS 23 (1890-1891), 651; João Paulo II, Carta enc. Sollicitudo rei socialis (30 de
Dezembro de 1987), 42: AAS 80 (1988), 573-574; Pont. Conselho
«Justiça e Paz», Compêndio da Doutrina Social da
Igreja, 178.
[16] FRANCISCO, Carta ao Presidente Vladimir
Putin (4 de Setembro de 2013): L’Osservatore
Romano (ed. portuguesa de 8/IX/2013), 5.
Publicada por OFS LUZ à(s) 19:25:00 0 comentários
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