Retalhos Como Francisco e Clara de Assis, a Fraternidade a todos saúda em Paz e Bem!Retalhos

28 de abril de 2017

28 de abril - Beato Luquésio (ou Lucio), OFS



O primeiro franciscano da Terceira Ordem Franciscana



Dia vinte e oito de Abril – lembramos o Beato Luquésio (ou Lucio), o primeiro da Terceira Ordem de S. Francisco.
S. Francisco foi verdadeiramente um ser humano maravilhoso. Depois da sua conversão e porque se deixava conduzir humildemente pelo Senhor Jesus, compreendia tão bem os outros…
Assim, quando confrontado por muitos que pediam para se juntarem a ele e seguir o seu modo de vida, soube ler nos seus corações e aconselhar sabiamente. Nem todos tinham vocação para professarem os votos de pobreza, castidade e obediência.  Podiam continuar as suas vidas, fazendo o bem e sendo misericordiosos para com todos e assim encontrarem a felicidade neste mundo.
Luquésio, mercador como o senhor Bernardone, pai de Francisco, ambicioso e pouco dado a ajudar quem necessitava, foi ouvindo o que se dizia do jovem que, por amor de Deus, tinha renunciado a todos os seus bens. E, no seu coração, começou a crescer um forte desejo de conversão. Sua mulher, porém, criada como ele na abundância, não o acompanhava nesse despertar. Mas Luquésio cada vez mais se sentia impelido para se aproximar de Francisco.  Continuava com os seus negócios mas já atendia os necessitados. Era dono de muitos bens mas estes já não lhe preenchiam totalmente o coração.
Até se conta que sua mulher, contrariada por saber que o marido a toda hora dava pão a quem precisava, de tal modo que a arca estava vazia, lhe mostrou o seu descontentamento. Luquésio falou com ela. Recordou-lhe como Jesus fizera a multiplicação dos pães. Nada  lhes iria faltar. A caridade agradava ao Senhor. Buonadonna ficou pensativa. Abriu de novo a arca do pão e… estava cheia.
Ambos foram então ter com Francisco. Queriam segui-lo. Luquésio seria frade e Buonadonna juntar-se-ia às Senhores Pobres de Clara Offreducci, em S. Damião. Mas o nosso seráfico Pai não aceitou. Fez-lhes ver que a sua vocação era o matrimónio, a sua família. Deveres sagrados que Deus lhes tinha confiado.
E Francisco, que já trazia consigo o desejo de atender a tantos pedidos que lhe faziam, decidiu, por inspiração divina, criar a Terceira Ordem, com uma Regra voltada para aqueles que, solteiros ou casados, homens ou mulheres, se quisessem comprometer a seguir uma vida de perfeição, segundo o Evangelho, para serem testemhunhas, no mundo, do verdadeiro amor que é Deus.
Era a Terceira Ordem Franciscana. Os Irmãos e Irmãs da Penitência. A sua Regra seria seguir o Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, não deixando as suas casas e os deveres que, perante Deus ou perante a sociedade, já se tinham comprometido.
S. Francisco recebeu Luquésio. Entregou-lhe um hábito. Seguiu-se-lhe Buonadonna. Invocam-se hoje como padroeiros dos bem-casados. O seu apostolado centrou-se nas famílias e nos mais carenciados. A penitência e a oração foram constantes e fortaleceram ainda mais os seus laços matrimoniais.
Obrigada S. Francisco, santo de coração grande, que preparaste um caminho acessível a todos: a OFS. Paz e Bem!
Que o Senhor seja louvado!
maria clara, ofs
28ABRIL2017

Basílica em Poggibonzi, Itália, onde repousa o Beato Luquésio

23 de Abril - Frei Egídio de Assis



Beato Gil de Assis
Neste dia, 23 de abril, assinala-se a memória do Beato Gil (Egídio) de Assis, o terceiro companheiro do Poverello.
Francisco já tinha restaurado as três igrejas que estavam em ruínas. Já entendera verdadeiramente a mensagem que o Crucifixo de S. Damião lhe segredara. Ser um verdadeiro discípulo de Cristo. Viver conforme o Evangelho.  Calcorreando as ruas de Assis, a todos saudava: “o Senhor vos dê a Sua paz” e, numa explosão de alegria contagiante, falava do tesouro que tinha encontrado. A sua pregação era escutada. As suas vestes que antes eram ricas e vistosas, refletiam agora a imagem da pobreza que ele tinha abraçado.
Era um homem novo. Muitos chamavam-lhe louco.  Insultavam-no. Outros, porém, começaram a ver nele a pureza duma alma de eleição.
Assim, o rico senhor Bernardo de Quintavalle, juntou-se a Francisco depois de ter repartido todos os seus bens pelos pobres. Veio a seguir Pedro Cattanio, jurista ilustre e cónego da Catedral de San Rufino em Assis e que chegaria a ser um dia, ainda que por pouco tempo, Vigário Geral dos Frades Menores.
*
E assim chegamos àquele que hoje recordamos: Frei Gil. O terceiro companheiro de Francisco. Jovem, de espírito reto e piedoso, admirava Francisco, seguia-o de longe e sentia-se atraído pela vida que ele levava. Desejava aproximar-se dele. Porém, tímido como era, rapaz simples e sem títulos, ia adiando o encontro.
Mas, ao saber que frei Bernardo e frei Pedro eram agora seus companheiros, encheu-se de coragem e foi ao seu encontro. Francisco ficou feliz. Viu no jovem Gil uma bênção que o Senhor lhe enviava. E tratou logo de o pôr à prova.
Estavam os dois a conversar quando parou diante deles uma mendiga pedindo esmola. Por “amor de Deus” – dizia ela. Francisco não tendo nada para dar aproveitou a oportunidade para testar Gil. Dá-lhe o teu casaco… O jovem olhou para ele e não hesitou. Tirou o que de melhor trazia consigo, o seu agasalho e entregou-o à mulher que estava diante de si.
Francisco exultou de alegria. Deu graças ao Senhor e foram juntar-se a Bernardo e a Pedro. Frei Gil - chamar-lhe-iam a partir de então. Era o dia 23 de abril de 1208.
A candura da vida destes primeiros companheiros do pai S. Francisco, estava em sintonia com a natureza. Os bosques onde rezavam, os caminhos que percorriam, as águas que brotavam nas encostas e lhes matavam a sede, constituíam um cenário de beleza e de paz, onde seria impossível não escutar o Senhor. A liberdade de nada possuírem, de se entregarem inteiramente a Deus, dava-lhes a força para suportarem alegremente o rigor da vida que tinham abraçado.
Gil, a quem Francisco costumava chamar “cavaleiro da Távola Redonda”, depressa aprendeu os ensinamentos do mestre. Rapaz robusto, dinâmico e muito habilidoso em trabalho manual, usou essa sua aptidão ao longo da vida, com alegria. Fazia cestos, embalagens para guardar ou transportar produtos e também objetos de barro. Além disto também foi lenhador e no tempo das ceifas ia para o campo ajudar os trabalhadores.
Era assim que ele cumpria rigorosamente a Regra (2R 5. 1-4) “Os irmãos a quem o Senhor deu a graça de trabalhar, trabalhem fiel e devotamente, de maneira que afugentem a ociosidade, inimiga da alma, mas não apaguem o espírito da santa oração e devoção, ao qual todas as demais coisas temporais devem servir. Como remuneração do trabalho recebam as coisas necessárias ao corpo para si e seus irmãos, salvo dinheiro ou pecúnia; e isto humildemente, como convém a servos de Deus e seguidores da santíssima pobreza.” Tanto em Itália como nas suas andanças pelo mundo, Frei Gil trabalhava para ganhar o seu sustento e dos seus irmãos, ao mesmo tempo que, com a naturalidade de quem conversa serenamente, ia exortando, com palavras simples que todos entendiam, a amarem a Deus, a converterem os corações, a praticarem o bem e a dedicarem algum tempo à oração.
Frei Gil devia ser encantador. Além de ser conhecido pela sua santidade e alegria, também a ele recorriam a pedir conselhos. As suas “Sentenças” foram compiladas. Tinha resposta para tudo. Tanto aconselhava pobres como ricos ou altas figuras da Igreja. Apesar da sua grande humildade não passava despercebido.
Foi um verdadeiro Menor. Partiu para o céu no dia 23 de abril de 1262, o mesmo dia em que, na Porciúncula, cinquenta e quatro anos antes, Francisco o recebera como um dos seus Irmãos.
O seu corpo é venerado no Convento de Monteripido, perto de Perúgia.
Beato Gil de Assis. Frei Gil nosso irmão. Paz e Bem!
Altíssimo, Omnipotente e bom Senhor, a Ti toda a honra e toda a glória…
maria clara, ofs
23ABRIL2017



21 de abril de 2017

2º DOMINGO DA PÁSCOA

Meu Senhor e meu Deus!
(23.04.2017)
Introdução à Liturgia:
A liturgia deste 2º domingo da Páscoa apresenta-nos a comunidade cristã que vive segundo o espírito do Ressuscitado e que d’Ele dá testemunho a todo o povo. É o novo povo de Deus que nasce da cruz e da ressurreição de Jesus: a Igreja. A sua missão consiste em revelar aos homens a vida nova que brota da vitória de Cristo sobre a morte.

Introdução às Leituras:
Na primeira leitura temos, na “fotografia” da comunidade cristã de Jerusalém, os traços da comunidade ideal: é uma comunidade fraterna, preocupada em conhecer Jesus e a sua proposta de salvação, que se reúne para louvar o seu Senhor na oração e na Eucaristia, que vive na partilha, na doação e no serviço e que testemunha – com gestos concretos – testemunhando desta forma a salvação que Jesus veio propor aos homens e ao mundo.
A segunda leitura recorda aos membros da comunidade cristã que a identificação de cada crente com Cristo – nomeadamente com a sua entrega por amor ao Pai e aos homens – é o verdadeiro caminho de ressurreição. Por isso, e apesar das dificuldades, os crentes são convidados a percorrer a vida com esperança, de olhos postos nesse horizonte onde se desenha a salvação definitiva.

No Evangelho sobressai a ideia de que Jesus vivo e ressuscitado é o centro da comunidade cristã; é à volta d’Ele que a comunidade se estrutura e é d’Ele que ela recebe a vida que a anima e que lhe permite enfrentar as dificuldades e as perseguições. Por isso, é na vida da comunidade que os homens encontram as provas de que Jesus está vivo. 
Padre João Lourenço, OFM

25 de abril - Encontro de Formadores

Encontro de Formadores da Região Sul da Ordem Franciscana Secular



Programa:

10:00h – Inicio / oração
11:00h – Apresentação dos formadores e das respetivas fraternidades
·         O que está a ser feito na fraternidade
·         Quantos formandos e em que etapa da formação se encontram
·         Que dificuldades encontram na formação

13:00h – Almoço

14:00h – Formação / Reflexão
15:00h – Debate
17:00h – Eucaristia / Vésperas 

Mensagem do Ministro Regional Sul
Caros Irmãos da OFS
Ao aproximar-se a festa por excelência, a Páscoa da nossa redenção, não queria deixar de enviar a todos os Irmãos da OFS os meus votos e de todo o CERS de uma Santa Páscoa plena da paz do Senhor.
Que o Senhor Jesus ressuscite verdadeiramente em nós e nos faça abrir o coração aos nossos irmãos, principalmente aos mais carenciados.
Aproveito a oportunidade para lembrar aos irmãos a nossa próxima atividade que se realizará no dia 25 do corrente mês no Convento da imaculada Conceição, no Largo da Luz nº 11 e destinada aos responsáveis da formação das Fraternidades.
Recordo que poderão estar presentes também outros irmãos.
É muito importante que estejam representadas todas as fraternidades para que assim o CERS melhor se possa inteirar da realidade de cada uma das fraternidades.
As fraternidades em que o responsável da formação não possa vir, não deixe de enviar outro irmão do conselho.
É também importante que se inscrevam até ao dia 20 do corrente mês para que possamos providenciar a reserva do restaurante para o almoço.
A inscrição poderá ser feita através do e-mail do CERS, ou através deste meu e-mail. Poderá ainda ser feita através de contacto telefónico, para o meu ou o de outros irmão do CERS.
Não deixem, no entanto, de inscrever alguém da vossa fraternidade.
Para todos os Irmãos um forte abraço em Cristo Ressuscitado e os meus votos de PAZ E BEM!

Carlos Miranda
Ministro Regional Sul
ORDEM FRANCISCANA SECULAR (OFS)

Mensagem do Responsável pela Formação da Região Sul

Dia: 25 de Abril de 2017
Local: Seminário da Imaculada Conceição
Largo da Luz, 11
Lisboa

Lisboa, 25 de Março de 2017
Paz e Bem

Realiza-se no próximo dia 25 de Abril de 2017, no Convento da Imaculada Conceição à Luz em Lisboa, o encontro de formadores da OFS Região Sul, solicita-se a todas as fraternidades que enviem o responsável da formação a este encontro programado no plano de vida e ação.
É importante a presença de TODOS os responsáveis pela formação para assim ficarmos a conhecer as necessidades de cada fraternidade, se por algum motivo de força maior tal não se puder concretizar, o CERS solicita que a fraternidade envie algum representante do conselho para este encontro. O encontro é também aberto a membros dos conselhos das fraternidades.
Agradecemos que nos confirmem presença e número de participantes até dia 20 de Abril para reserva de almoço.

Sem outro assunto
Um abraço Fraterno

Luís Miguel Ramos, ofs
Responsável pela Formação da Região Sul 

Tríduo da Paixão e Ressurreição do Senhor



Num documento da reforma litúrgica que dá pelo nome de “Normas Gerais do Ano Litúrgico e do Calendário Romano” lêem-se estas palavras: “O sagrado Tríduo da Paixão e Ressurreição do Senhor é o ponto culminante de todo o ano litúrgico” (NGALC 18; EDREL 856). A este sagrado Tríduo chama-se também Tríduo Pascal: “tríduo”, por abranger um período de três dias consecutivos; “pascal”, por acontecer nas imediações da Páscoa de Jesus.
Afirmar que o Tríduo é o ponto culminante do ano litúrgico equivale a dizer que ele é o verdadeiro centro de toda a liturgia cristã. Ele não é uma simples festa, mas a festa das festas; não é apenas uma grande solenidade, mas a solenidade das solenidades cristãs (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1169). Não há, no decurso do ano litúrgico, nada maior do que ele. Santo Agostinho chamava-lhe “Tríduo de Cristo morto, sepultado e ressuscitado”.
Qual a razão desta importância ímpar do Tríduo Pascal, perguntarão os nossos leitores? A resposta volta a dá-la o documento já citado juntamente com a Constituição Litúrgica: “Porque a obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus foi realizada por Cristo especialmente no seu mistério pascal” (Ibidem), e porque “Cristo está sempre presente na sua Igreja, especialmente nas acções litúrgicas” (SC 7)É esta presença de Cristo, particularmente nas celebrações do Tríduo Pascal, que faz delas o ponto culminante da liturgia cristã.
Está quase a chegar o Tríduo Pascal deste ano. O seu início vai acontecer «na Missa da Ceia do Senhor» (tarde de Quinta-Feira santa). Mas o Tríduo propriamente dito será a Sexta-Feira Santa (dia da paixão, morte e sepultura de Jesus), o Sábado Santo (dia em que o corpo de Cristo repousou no sepulcro) e o Domingo (dia da ressurreição e das primeiras aparições de Jesus). O coração pulsante do grande Mistério é a «Vigília Pascal, mãe de todas as santas vigílias» (NGALC 19.21; EDREL 857.859).
Bendito seja Deus pela Liturgia destes três dias santíssimos. Não é para recordar factos do passado, por mais importantes que sejam, que participamos nas celebrações do Tríduo, mas para tornar presente um Mistério, cuja eficácia nos envolve e une a Cristo. O Senhor da cruz, do túmulo e da ressurreição toca-nos naqueles ritos, ilumina-nos nas palavras e cânticos que proferimos e escutamos. Não somos nós que nos tornamos santos, mas é Cristo que nos santifica através da participação viva, consciente e activa nestas celebrações.
Se já adquiriste o hábito de não trocar a participação no Tríduo por outras ocupações da tua vida, dá graças ao Senhor e continua a fazê-lo. Se, pelo contrário, nunca participaste nas suas celebrações, deixa-me dizer-te que ainda não descobriste o que é começar a ser cristão deveras. Se quiseres, aceita livremente o meu convite: vem ao Tríduo. Nele encontrarás Cristo, e, se não Lhe opuseres resistência, Ele transformará a tua vida.
Mais do que tu próprio, por tuas orações e trabalhos, é Cristo, na Liturgia, que te torna cristão a valer. O cristianismo não é um voluntarismo. É um DOM. Vem do Pai, não nasce de ti, embora procure e suscite em ti a resposta da tua liberdade. Pela Liturgia da terra participa desde já, cristão, na Liturgia celeste que eternamente é celebrada no seio da Santíssima Trindade.
 
P. José de Leão Cordeiro


15 de abril de 2017

Domingo de Páscoa



Introdução à Liturgia:
Após termos celebrado a Vigília Pascal, a liturgia deste domingo convida-nos a viver festivamente a ressurreição do Senhor, centro da nossa fé e fundamento da nossa esperança. É no Ressuscitado que reside a vida plena a que todos somos chamados. A ressurreição de Cristo é o fundamento desta nossa esperança. Por isso, hoje, em comunhão com toda a Igreja, proclamamos com os nossos cantos de aleluia a vitória de Cristo ressuscitado.

Introdução às Leituras:
A primeira leitura apresenta o exemplo de Cristo que “passou pelo mundo fazendo o bem” e que, por amor, Se deu até à morte; por isso, Deus ressuscitou-O. Os discípulos, testemunhas desta dinâmica, anunciam este “caminho” a todos os homens.

A segunda leitura convida os cristãos, revestidos de Cristo pelo baptismo, a continuarem a sua caminhada de vida nova até à transformação plena que nos há-de levar a viver como mulheres e homens ressuscitados. É esta a nossa identidade pascal.

O Evangelho coloca-nos diante de duas atitudes face à ressurreição: a do discípulo obstinado, que se recusa a aceitá-la porque, na sua lógica, o amor total e a doação da vida nunca podem ser geradores de vida nova; e a do discípulo ideal, que ama Jesus e que, por isso, entende o seu caminho e a sua proposta. É assim que da cruz se faz vida e que o amor leva à comunhão.
Padre João Lourenço, OFM



Ressurreição

Não precisamos de ir verificar
o túmulo vazio
nem inspeccionar as ligaduras dobradas
na pedra da sepultura
 
Não necessitamos de terramoto
para fazer rolar a pedra
nem nos deixamos impressionar pelos seguranças
à entrada de uma morada de mortos

O túmulo está vazio
porque o coração está cheio - e para sempre! -
de todas as palavras que ouvimos na Galileia
de todos os gestos que nos convenceram da novidade

Não correremos atrás de aparições
porque acreditamos
firmemente
na  Sua palavra: “eu estarei lá...
onde dois ou três
se reunirem em Meu nome”
 
O Seu testemunho do amor de Deus
aos pobres, pecadores e excluídos
aos de fora, aos perto e aos de longe
é o verdadeiro terramoto
a fazer avançar a história
a desencadear ressurreição

Não necessitamos do túmulo vazio nem de ligaduras
mas agarramo-nos ao testemunho das mulheres
daquela primeira manhã de Páscoa
e juntamo-nos a cada um e a todos os que caminham
sabendo-nos  acompanhados sem O ver
por Ele mesmo, Jesus Ressuscitado!

Páscoa 2017





14 de abril de 2017

Despojamento e Cruz

Só aí, na cruz, ao beber o cálice amargo, Jesus tornou-se homem até ao máximo das Suas possibilidades, … mas o fruto da árvore amarga da cruz é a alegre notícia da Páscoa.



DESPOJAMENTO E CRUZ
‘Formas de seguir Jesus’
«Se os homens soubessem... que Deus "sofre" con­nosco e muito mais do que nós todo o mal que devasta a terra, muitas coisas mudariam sem dúvida e muitas almas seriam libertadas» (J. Maritain). Os traços do rosto trinitário de Deus, revelados na história da Paixão e morte de Jesus de Nazaré, chamam o homem à liberdade no seguimento da Cruz.
a) A cruz é o lugar em que Deus fala no silêncio, o silêncio da finitude humana, que por amor se tornou a Sua finitude! O mistério escondido nas trevas da cruz é o mistério da dor de Deus e do Seu amor. Um aspecto exige o outro: o Deus cristão sofre porque ama, e ama enquanto sofre. Ele é o Deus «da compaixão», porque é o Deus para nós, que Se dá até ao ponto de sair totalmente de Si, de se despojar de tudo, na alienação da morte, para nos acolher plena­mente em Si, na doação da vida que é feita por Jesus. Na morte de cruz o Filho entrou no «fim» do homem, no abismo da sua pobreza, do seu despojamento, da sua tristeza, da sua solidão, da sua escuridão. E somente aí, ao beber o cálice amargo, que viveu até ao fundo a experiência da nossa condição humana,- na escola da dor tornou-Se homem até ao máximo das Suas possibilidades. Mas também o Pai conheceu a dor, pois na hora da cruz, enquanto o Filho Se oferecia a Ele numa obediência incondicional e numa infinita solidariedade com os pecadores, também o Pai fez história! Ele sofreu como Inocente entregue injustamente à morte; e, toda­via, optou por oferecê-Lo, para que na humildade e na ignomínia da cruz se revelasse aos homens o amor trini­tário de Deus por eles e a possibilidade de se tornarem participantes. E o Espírito, «entregue» por Jesus mori­bundo ao Seu Pai, não esteve menos presente no escon- dimento daquela hora; Espírito de extremo silêncio, Ele foi o espaço divino do sofrimento doloroso e amante que se consumou entre o Senhor do céu e da terra e Aquele que Se fez pecado por nós, de modo que se abrisse uma passagem no abismo e se fechasse para os pobres o cami­nho do Pobre.
Esta morte em Deus não significa, porém, a morte de Deus que o «louco» de Nietzsche vai gritanto nas praças do mundo,- não há nem nunca haverá um tempo em que se possa cantar com verdade o «Requiem aeternam Deo»! O amor trinitário que une o Abandonante ao Abandona­do, e nestes o mundo, vencerá a morte, apesar do apa­rente triunfo desta. É no despojamento total de Si mesmo que Jesus manifesta a plenitude do amor de Deus. A surpreendente identidade do Cru­cificado e do Ressuscitado mostra abertamente o que se revelou na cruz «sub contrario» e garante que aquele fim é um novo princípio: o cálice da paixão de Deus encheu-se com uma bebida de vida, que dimana e jorra para sempre (cf. Jo 7,37-39). Adão morreu, nasceu o novo Adão, Cristo e o homem que, com Ele e n'Ele, vence o pecado e a morte. Deus morreu, mas ofereceu-Se a todos os homens o mistério do Pai que, acolhendo o Abando­nado no momento da glória, acolhe-os também conSigo. O fruto da árvore amarga da cruz é a alegre notícia da Páscoa: o dia em que Deus morreu dá lugar ao dia do Deus que vive. O Consolador do Crucificado foi derra­mado em toda a carne para ser o Consolador de todos os crucificados da história e para revelar na humildade e na ignomínia da cruz, de todas as cruzes da história, a pre­sença corroborante e transformadora do Deus cristão.
A «palavra da cruz» (ICor 1,18) demonstra que é no despojamento, na pobreza, na fraqueza, na dor e na reprovação do mundo, que encontraremos Deus, - não os esplendores das per­feições terrenas, mas precisamente o seu contrário, a pequenez e a ignomínia, tornam-se o lugar da Sua pre­sença entre nós, o deserto onde Ele fala ao nosso coração. A perfeição do Deus cristão manifesta-se nas imper­feições, que Ele assume por nosso amor: a finitude do sofrimento, a dor extrema da morte, a fraqueza da pobre­za, o cansaço e a incerteza do amanhã, são outros tantos lugares, onde Ele mostra o Seu amor, perfeito até à con­sumação total do dom. E nestas imperfeições que ecoa no Espírito a palavra que sela o acontecimento da cruz: «Tudo está realizado» (Jo 19, 30). Na vida de cada homem já pode ser reconhecida a cruz do Deus trinitário: no sofrimento torna-se possível abrir-se ao Deus presente, que Se oferece connosco e por nós, e transformar a dor em amor, o sofrimento em oferecimento. O Espírito do Crucificado opera o milagre desta revelação salvífica: Ele é o Consolador da paixão do mundo, Aquele que pro­clama a verdade da história dos vencidos, confundindo a história dos vencedores. Vive connosco e em nós as ago­nias da vida, tornando presente no nosso sofrimento o sofrimento do Filho e do Pai, e por isso, abrinos-nos uma aurora de vida, revelação e dom do mistério de Deus. A «kenosis» do Espírito nas trevas do tempo dos homens é apenas o fruto da «kenosis» do Verbo na história da pai­xão e morte de Jesus de Nazaré, a última consequência do maior amor, que venceu e vencerá a morte.
b) Como se configuram a Igreja e cada um dos discí­pulos do Deus trinitário, que sofre por nosso amor? Constituem o povo da sequela crucis, a comunidade e o indivíduo «debaixo da cruz». Precedidos por Cristo no abismo da prova, por meio do qual se abre o caminho da vida, os cristãos sabem que devem viver no sinal da cruz as obras e os dias do seu caminho. «Fui morto na cruz com Cristo. Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim. E esta vida que agora vivo, eu vivo-a pela fé no Filho de Deus, que me amou e Se entre­gou por mim» (Gal 2,20). «Ainda peregrinando na terra, enquanto seguimos as Suas pegadas na tribulação e na perseguição, somos associados aos Seus sofrimentos, como o corpo à cabeça, e sofremos com Ele, para ser com Ele glorificados (cf. Rm 8,17)» (Lúmen Gentium, 7). Nada está mais longe da imagem do discípulo do Crucificado do que uma Igreja tranquila e segura, confiante nos seus meios e nas suas influências: «A cristandade estabele­cida na qual todos são cristãos, mas na sua interioridade secreta não se parece com a Igreja militante mais do que o silêncio da morte com a eloquência da paixão» (Kierkegaard). A Igreja ao pé da cruz é o povo daqueles que, com Cristo e no Seu Espírito, se esforçam por sair de si e entrar no caminho doloroso do amor; é uma comunidade de pobres ao serviço dos pobres, capaz de refutar com a vida os sábios e poderosos desta terra. Uma Igreja ao pé da cruz significa também uma comunidade fecunda na dor dos seus membros: o seguimento do Nazareno, fonte de vida que vence a morte, exige que se percorra com Ele o escuro caminho da paixão: «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas quem perde a sua vida por causa da Boa Notícia, vai sal­vá-la» (Mc 8,34-35 e par.). «Quem não toma a sua cruz e Me segue não é digno de Mim» (Mt 10,38 e Lc 14,27). O discípulo deverá «completar na sua carne o que falta aos sofrimentos de Cristo» (Col 1,24): fá-lo-á se conseguir levar a mais pesada de todas as cruzes, a cruz do pre­sente, para a qual é chamado pelo Pai, crendo também sem ver, lutando e esperando, mersmo sem notar a ger­minação dos frutos, na solidariedade com todos aqueles que sofrem (cf. 1Cor 15,26), na comunhão com Cristo, companheiro e sustentáculo do sofrimento humano e na oblação ao Pai, que valoriza cada uma das nossas dores. Esta cruz do presente é o trabalho da fidelidade e tam­bém a perseguição realizado pelos «inimigos da cruz de Cristo» (Fil 3,18). A «via crucis» da fidelidade faz-se de luta interior e das agonias silenciosas dos momentos de prova, de solidão e de dúvida, de despojamento e é sustentada pela oração perseverante e tenaz de uma pobreza que espera a mise­ricórdia do Pai; a mesma «via crucis» da fidelidade de Jesus, com a diferença de que Ele percorreu-a sozinho, enquanto nós fomos precedidos e acompanhados por Ele. A cruz da perseguição é, pelo contrário, a consequência do amor pela justiça e da revitalização de cada suposto absoluto mundano, da parte dos discípulos do Crucifi­cado; é que a sua esperança no Reino futuro os torna subversivos e críticos em realção às miopias de todos os vencedores e dominadores da história. «Eis que Eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos... Sereis odia­dos por todos por causa do Meu nome» (Mt 10,16.22; cf. 16ss). A radicalidade das opções de uma Igreja verdadei­ramente evangélica é intolerável para todos os sistemas de poder e de riqueza: «Dilexi iustitiam, odivi iniqui- tatem, propterea morior in exilio» (palavras escritas sobre o túmulo do Papa Gregório VII): quem amou a justiça, quem odiou a iniquidade, morrerá inevitavel­mente no exílio da cruz, mas confortado e sustentado pelo Crucificado, que venceu a morte. «Basta-te a Minha graça, pois é na fraqueza que a força manifesta todo o seu poder» (2Cor 12,9).
A Igreja ao pé da cruz torna-se assim, pela sua própria fome e sede do mundo novo de Deus e pela graça de que é instrumento, um povo que ajuda a levar a cruz e que combate as causas iníquas das cruzes de todos os oprimi­dos, pois confronta-se com as prisões de toda a espécie de lei e com a escravidão de todo o género de poder e, como o seu Senhor, apresenta-se como alternativa hu­milde e corajosa. O Crucificado não hesita em identificar-Se com todos os crucificados da história: «Estava com fome e destes-me de comer; estava com sede e destes-Me de beber; era estrangeiro e recebestes-Me na vossa casa, - estava sem roupa e vestistes-Me; estava doente e cuidastes de Mim; estava na prisão e fostes visi­tar-Me... Todas as vezes que fizestes isto a um dos me­nores dos meus irmãos, foi a Mim que o fizestes» (Mt 25,35-36.40). Nos perseguidos é Ele que está presente: «Saulo, Saulo, porque Me persegues?» (Act 9,4). Quem ama o Crucificado e O segue não pode deixar de se sentir chamado a aliviar as cruzes de todos os que sofrem e destruir as suas causas iníquas com a palavra e com a vida. A cruz da libertação do pecado e da morte exige a libertação de todas as cruzes que são fruto da morte e do pecado: a «imitatio Christi crucifixi» nunca poderá ser aceitação passiva do mal presente! Pelo contrário, con- sumar-se-á na dedicação activa na causa do Reino fu­turo, que é também empenhamento activo e vigilante para fazer do Calvário da terra um lugar de ressurreição, de justiça e de vida plena. A compaixão para com o Cru­cificado traduz-se na compaixão activa para com os membros do Seu corpo na história; por uma Igreja que se debate no problema da relação entre a sua identidade e a sua importância, entre a fidelidade e a criatividade auda­ciosa, isto significa o reconhecimento da possibilidade de resolução. A Igreja reencontra-se-á se se perder, se puser a sua identidade exactamente ao serviço dos ou­tros, para a reencontrar no único nível digno dos segui­dores do Crucificado: o amor.
Ao discípulo, esmagado debaixo do peso da cruz ou amedrontado face às exigências do seguimento, dirige-se a palavra da promessa, manifestada na ressurreição, con­tradição de todas as cruzes da história; palavra de conso­lação e de compromisso, que já sustentou a vida, a dor e a morte de todos os que nos precederam no combate da fé. «Na verdade, assim como os sofrimentos de Cristo são numerosos para nós, assim também é grande a nossa consolação por meio de Cristo» (2Cor 1,5). «Somos atri­bulados por todos os lados, mas não desanimamos, - so­mos postos em extrema dificuldade, mas não somos ven­cidos por nenhum obstáculo; somos perseguidos, mas não abandonados; prostrados por terra, mas não aniqui­lados. Sem cessar e por toda a parte levamos no nosso corpo a morte de Jesus, a fim de que também a vida se Je­sus se manifeste no nosso corpo» (2Cor 4,8-10). Naquele que se esforça por viver assim, a cruz de Cristo não foi em vao (cf. 1Cor 1,17): nele se manifestará também a vitória do Humilde, que venceu o mundo (cf. Jo 16,33)!
Pai, que entregas o Teu único Filho por nós, Filho que vive
o supremo abandono da cruz
e o oferece àquele que Te abandona,
Paráclito do sofrimento,
que unes o Pai que dá e acolhe
ao Filho moribundo
e n'Ele à paixão do mundo,
Trindade da dor,
Deus escondido nas trevas
da Sexta-Feira Santa,
concede-nos, Te pedimos,
que tomemos cada dia
a cruz do abandono,
e a ofereçamos conTigo
numa comunhão maior:
aquela em que Te revelas
Trindade do amor,
Deus da solidariedade
e da proximidade
da fraqueza da Tua criatura.
Amen. Aleluia!

Perguntas que se impõem sobre o despojamento do discípulo: Estou disposto a ler a minha vida a partir da cruz? Sei reconhecer a cruz na minha vida? Como vivo a esperança da Cruz? Em que medida ajudo os outros a levar a sua cruz?
Bruno Forte 

O Processo de Cristo

Sentir o Direito Por: Fernanda Palma, Professora Catedrática de Direito Penal

O Processo de Cristo

O processo de Cristo não foi injusto só por razões intemporais – foi-o também como processo contra um homem do seu tempo, à luz do direito aplicável. As razões da acusação, conduzida por Herodes, revelam um aproveitamento da ocupação romana pelos representantes políticos dos judeus, para impedir qualquer contestação à interpretação oficial da sua lei.
 Os "crimes" de Cristo têm caráter religioso. Jesus foi acusado de interpretar a lei num sentido não ritualista, associado à ética, fazer milagres ao sábado, conviver com pessoas de "maus costumes" e se assumir como rei de um reino diferente. A lei do seu povo, que o condenou, tornou-se prepotente e contraditória com o seu sentido último: a salvação.
O processo de Cristo foi ainda injusto porque os romanos, detentores do poder político, se demitiram de intervir. Pilatos portou-se como precursor do moderno multiculturalismo, admitindo que Jesus fosse julgado segundo critérios injustos à luz dos seus próprios padrões morais, culturais e jurídicos. A razão de Estado e a pura cobardia vergaram a Justiça.
O que se perceciona, numa perspetiva histórica, é que Jesus foi injustamente condenado em qualquer tempo e no seu tempo. Prevaleceu, no julgamento, uma conceção do Direito como lei ritual, isenta de justificação e compatível com qualquer conteúdo. A injustiça residiu na profunda divergência entre a lei formal e o sentido último do Direito e da Justiça.
As autoridades judaicas, que não podiam proferir uma condenação à morte, remeteram para a lei romana e esta, apesar de não encontrar nenhuma culpa em Jesus, pois Pilatos reconheceu a sua inocência, remeteu para a lei judaica. A lei que condenou Cristo não existia – foi criada pelo interesse político, que juntou a perversão de uns com a omissão de outros.
A condenação de Cristo revela arquétipos do processo penal que devemos rejeitar. Não podemos permitir que convicções baseadas em interesses privados manipulem os processos judiciais, sujeitem os tribunais a uma autêntica coação e criem o ambiente propício a uma definição do Direito que esteja para além das razões e dos valores da Ordem Jurídica.
Aos juristas – sejam magistrados, advogados ou professores de Direito –, resta não cair na tentação de Pilatos e impor a lógica do Direito de acordo com os critérios da sua validade, como fez Thomas Morus com o sacrifício da sua própria vida. Quem se aventure numa carreira jurídica tem de vencer quaisquer tentações de politização e de tecnicismo vazio.
(Coluna segundo as regras do Acordo Ortográfico)

(in Correio da Manhã [on line], Domingo, 8 de Abril de 2012) 


A crucificação de Jesus na visão de um médico



O doutor Pierre Barbet, cirurgião do Hospital de São José, em Paris, é quem fez, até agora, o estudo médico mais completo da paixão de Cristo, conforme se deduz do Santo Sudário (Cf. La Passione di N. S. Gesu Cristo secondo el chirurgo, L. I. C. E. Torino). Leia seu relato:
“Sou um cirurgião, e dou aulas há algum tempo. Por treze anos vivi em companhia de cadáveres e durante a minha carreira estudei anatomia a fundo.
Posso, portanto escrever sem presunção a respeito de morte como aquela.
Jesus entrou em agonia no Getsémani e seu suor tornou-se como gotas de sangue a escorrer pela terra. O único evangelista que relata o facto é um médico, Lucas. E fá-lo com a precisão de um clínico. O suar sangue, ou “hematidrose”, é um fenómeno raríssimo. É produzido em condições excecionais: para provocá-lo é necessário uma fraqueza física, acompanhada de um abatimento moral violento causado por uma profunda emoção, por um grande medo. O terror, o susto, a angústia terrível de sentir-se carregando todos os pecados dos homens devem ter esmagado Jesus.
Tal tensão extrema produz o rompimento das finíssimas veias capilares que estão sob as glândulas sudoríparas, o sangue mistura-se ao suor e concentra-se sobre a pele, e então escorre por todo o corpo até a terra. Conhecemos a farsa do processo preparado pelo Sinédrio hebraico, o envio de Jesus a Pilatos e o desempate entre o procurador romano e Herodes. Pilatos cede, e então ordena a flagelação de Jesus. Os soldados despojam Jesus e prendem-no pelos pulsos a uma coluna do pátio. A flagelação efetua-se com tiras de couro múltiplas sobre as quais são fixadas bolinhas de chumbo e de pequenos ossos. Os carrascos devem ter sido dois, um de cada lado, e de diferente estatura. Golpeiam com chibatadas a pele, já alterada por milhões de microscópicas hemorragias do suor de sangue. A pele dilacera-se e rompe-se; o sangue espirra. A cada golpe Jesus reage num sobressalto de dor. As forças esvaem-se; um suor frio impregna-lhe a fronte, a cabeça gira numa vertigem de náusea, calafrios correm-lhe ao longo das costas. Se não estivesse preso no alto pelos pulsos, cairia numa poça de sangue. Depois o escárnio da coroação. Com longos espinhos, mais duros que os de acácia, os algozes entrelaçam uma espécie de capacete e aplicam-no sobre a cabeça. Os espinhos penetram no couro cabeludo fazendo-o sangrar (os cirurgiões sabem o quanto sangra o couro cabeludo).
Pilatos, depois de ter mostrado aquele homem dilacerado à multidão feroz, entrega-o para ser crucificado. Colocam sobre os ombros de Jesus o grande braço horizontal da Cruz; pesa uns cinquenta quilos. A estaca vertical já está erguida sobre o Calvário. Jesus caminha com os pés descalços pelas ruas de terreno irregular, cheia de grandes pedras. Os soldados puxam-no com cordas. O percurso é de cerca de 600 metros. Jesus, fatigado, arrasta um pé após o outro, frequentemente cai sobre os joelhos. E os ombros de Jesus estão cobertos de chagas.
Quando ele cai por terra, a viga escapa-se-lhe, escorrega, e esfola-lhe o dorso. Sobre o Calvário tem início a crucificação. Os carrascos despojam o condenado, mas a sua túnica está colada nas chagas e tirá-la produz dor atroz. Quem já tirou uma ligadura de gaze de uma grande ferida percebe do que se trata. Cada fio de tecido adere à carne viva: ao arrancarem a túnica, laceram-se as terminações nervosas postas em descoberto pelas chagas. Os carrascos dão um puxão violento. Há um risco de toda aquela dor provocar uma síncope, mas ainda não é o fim. O sangue começa a escorrer.
Jesus é deitado de costas, as suas chagas incrustam-se de pé em pedras facetadas.
Depositam-no sobre o braço horizontal da cruz. Os algozes tomam as medidas.
Com uma broca, é feito um furo na madeira para facilitar a penetração dos pregos. Os carrascos pegam um prego (um longo prego pontudo e quadrado), apoiam-no sobre o pulso de Jesus, com um golpe certeiro de martelo cravam-no e rebatem-no sobre a madeira. Jesus deve ter contraído o rosto assustadoramente. O nervo mediano foi lesionado. Pode-se imaginar aquilo que Jesus deve ter sofrido; uma dor lancinante, agudíssima, que se difundiu pelos dedos, e espalhou-se pelos ombros, atingindo o cérebro. A dor mais insuportável que um homem pode provar, ou seja, aquela produzida pela lesão dos grandes troncos nervosos: provoca uma síncope e faz perder a consciência. Em Jesus não. O nervo é destruído só em parte: a lesão do tronco nervoso permanece em contato com o prego: quando o corpo for suspenso na cruz, o nervo esticar-se-á fortemente como uma corda de violino esticada sobre a cravelha. A cada solavanco, a cada movimento, vibrará despertando dores dilacerantes.
Um suplício que durará três horas. O carrasco e seu ajudante empunham a extremidade da trava; elevam Jesus, colocando-o primeiro sentado e depois em pé; consequentemente fazendo-o tombar para trás, encostando-o à estaca vertical.
Depois rapidamente encaixam o braço horizontal da cruz sobre a estaca vertical. Os ombros da vítima esfregam dolorosamente sobre a madeira áspera. A ponta cortante da grande coroa de espinhos penetram o crânio.
A cabeça de Jesus inclina-se para frente, uma vez que o diâmetro da coroa impede-o apoiar-se na madeira. Cada vez que o Jesus levanta a cabeça, recomeçam pontadas agudas de dor. Pregam-lhe os pés. Ao meio-dia Jesus tem sede. Não bebeu desde a tarde anterior. Seu corpo é uma máscara de sangue. A boca está semiaberta e o lábio inferior começa a pender. A garganta, seca, queima a garganta, ele não pode engolir. Tem sede. Um soldado estende-lhe, sobre a ponta de uma vara, uma esponja embebida numa bebida ácida, em uso entre os militares. Tudo aquilo é uma tortura atroz. Um estranho fenómeno dá-se no corpo de Jesus. Os músculos dos braços enrijecem-se numa contração que se vai acentuando: os deltoides, os bíceps esticados e levantados, os dedos, curvam-se. É como acontece a alguém ferido de tétano. A isto que os médicos chamam tetania, quando os sintomas se generalizam: os músculos do abdómen enrijecem-se em ondas imóveis, em seguida o mesmo acontece com aqueles entre as costelas, do pescoço, e os respiratórios. A respiração faz-se, pouco a pouco mais curta. O ar entra com um sibilo, mas não consegue mais sair. Jesus respira com o ápice dos pulmões. Tem sede de ar: como um asmático em plena crise, seu rosto pálido pouco a pouco torna-se vermelho, depois transforma-se num violeta purpúreo e enfim em cianítico. Jesus é envolvido pela asfixia.
Os pulmões cheios de ar não podem mais esvaziar-se. A fronte está impregnada de suor, os olhos saem fora de órbita. Mas o que acontece? Lentamente com um esforço sobre-humano, Jesus toma um ponto de apoio sobre o prego dos pés. Esforça-se a pequenos golpes, eleva-se aliviando a tração dos braços. Os músculos do tórax distendem-se. A respiração torna-se mais ampla e profunda, os pulmões esvaziam-se e o rosto recupera a palidez inicial. Por que este esforço? Porque Jesus quer falar: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. Logo em seguida o corpo começa a amortecer de novo, e a asfixia recomeça. Foram transmitidas sete frases pronunciadas por ele na cruz: cada vez que quer falar, deverá elevar-se tendo como apoio o prego dos pés. Inimaginável! Atraídas pelo sangue que ainda escorre e pelo coagulado, enxames de moscas zunem ao redor do seu corpo, mas ele não pode enxotá-las. Pouco depois o céu escurece, o sol esconde-se: de repente a temperatura diminui. Logo serão três da tarde, depois de uma tortura que durará três horas.
Todas as suas dores, a sede, as cãibras, a asfixia, o latejar dos nervos medianos, arrancam-lhe um lamento: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?”. Jesus grita: “Tudo está consumado!”. Em seguida num grande brado diz: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”. E morre. Em meu lugar e no seu.”
Dr. Barbet, médico francês.

(Postado por Padre Rodrigo Maria in Notícias Views 60578)

13 de abril de 2017

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11 de abril de 2017

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