Retalhos Como Francisco e Clara de Assis, a Fraternidade a todos saúda em Paz e Bem!Retalhos

4 de setembro de 2023

Tempo da Criação 2023

 


Mensagem de Sua Santidade o Papa Francisco para o Tempo da Criação 2023

 

Queridos irmãos e irmãs,

 

«Que jorrem a justiça e a paz» é, neste ano, o tema do Tempo ecuménico da Criação, inspirado pelas palavras do profeta Amós: «Jorre a equidade como uma fonte, e a justiça como torrente que não seca» (5, 24).

Esta expressiva imagem de Amós diz-nos aquilo que Deus deseja. Deus quer que reine a justiça, que é essencial para a nossa vida de filhos, criados à imagem de Deus, como é a água para a nossa sobrevivência física. Esta justiça não se deve esconder demasiado em profundidade, nem desaparecer como a água que evapora antes de poder sustentar-nos, mas deve surgir onde houver necessidade. Deus quer que cada um procure ser justo em todas as situações e sempre se esforce por viver segundo as suas leis, permitindo à vida florescer plenamente. Quando buscarmos antes de tudo o Reino dos Céus (cf. Mt 6, 33), mantendo uma justa relação para com Deus, a humanidade e a natureza, então a justiça e a paz poderão jorrar como torrente inexaurível de água pura, vivificando a humanidade e todas as criaturas.

Em julho de 2022, num lindo dia de Verão, convidei a meditar sobre isto durante a minha peregrinação até às margens do Lago de Sant’Ana, província de Alberta, no Canadá. Aquele lago foi, e é, um local de peregrinação para muitas gerações de indígenas. Como disse então, acompanhado pelo rufar dos tambores, «quantos corações chegaram aqui ansiosos e trepidantes, sobrecarregados pelo peso da vida, e junto destas águas encontraram a consolação e a força para continuar! Mas aqui, imerso na criação, há outro batimento que podemos escutar: a palpitação materna da Terra. E assim como o batimento dos bebés, ainda no seio materno, está em harmonia com o das mães, assim também para crescer como seres humanos precisamos de cadenciar os ritmos da existência com os da criação que nos dá vida».

Neste Tempo da Criação, detenhamo-nos a sondar estes batimentos do coração: o nosso, o das nossas mães e das nossas avós, o pulsar do coração da Criação e do coração de Deus. Hoje não estão harmonizados, não batem em uníssono pela justiça e a paz. A muitos, é impedido beber neste rio caudaloso. Ouçamos, pois, o apelo a permanecer ao lado das vítimas da injustiça ambiental e climática, pondo fim a esta guerra insensata contra a Criação.

Vemos os efeitos desta guerra em muitos rios que estão a secar. «Os desertos exteriores multiplicam-se no mundo, porque os desertos interiores tornaram-se tão amplos»: afirmou certa vez Bento XVI. O consumismo voraz, alimentado por corações egoístas, está a transtornar o ciclo da água do planeta. O uso desenfreado de combustíveis fósseis e a destruição das florestas estão a criar uma subida das temperaturas e a provocar secas graves. Terríveis carências hídricas estão a afligir cada vez mais as nossas casas, desde as pequenas comunidades rurais até às grandes cidades. Além disso, indústrias predatórias estão a esgotar e poluir as nossas fontes de água potável com atividades extremas, como o fraturamento hidráulico para a extração de petróleo e gás, os megaprojetos de extração descontrolada e a engorda acelerada de animais. Apropriam-se da «irmã água» – como lhe chama São Francisco –, transformando-a em «mercadoria sujeita às leis do mercado» (Laudato si’, 30).

O Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (IPCC) defende uma ação urgente em prol do clima a fim de nos impedir de malbaratar a ocasião para criar um mundo mais sustentável e justo. Podemos e devemos evitar que se verifiquem as piores consequências. E «é tanto o que se pode fazer» (Ibid., 180), se no final, como tantos riachos e torrentes, confluirmos num rio caudaloso para irrigar a vida deste nosso planeta maravilhoso e das gerações futuras da nossa família humana. Unamos as mãos e demos passos corajosos, para que a justiça e a paz jorrem em toda a Terra.

Como podemos contribuir para o rio caudaloso da justiça e da paz neste Tempo da Criação? Que podemos nós, sobretudo como Igrejas cristãs, fazer para sanar a nossa Casa Comum, para que volte a pulular de vida? Devemos decidir-nos a transformar os nossos corações, os nossos estilos de vida e as políticas públicas que regem a nossa sociedade.

Em primeiro lugar, contribuamos para este rio caudaloso transformando os nossos corações. Isto é essencial, se se quer começar qualquer outra transformação. É a «conversão ecológica» que São João Paulo II nos exortava a realizar: a renovação do nosso relacionamento com a Criação, de modo que já não a consideremos como objeto a explorar, mas, ao contrário, guardemo-la como um sacro dom do Criador. Depois, consciencializemo-nos de que uma abordagem global requer que se pratique o respeito ecológico nas quatro vertentes: para com Deus, para com os nossos semelhantes de hoje e de amanhã, para com toda a natureza e para com nós próprios.

Quanto à primeira destas dimensões, Bento XVI identificou como urgente a necessidade de compreender que Criação e Redenção são inseparáveis: «O Redentor é o Criador e, se nós não anunciarmos Deus nesta sua grandeza total – de Criador e de Redentor –, tiraremos valor à Redenção». A Criação refere-se à ação misteriosa e magnífica de Deus criar do nada este majestoso e belo planeta e o universo inteiro, e também ao resultado de tal ação, ainda em curso, que experimentamos como um dom inexaurível. Durante a liturgia e a oração pessoal na «grande catedral da Criação»recordemos o Grande Artista que cria tanta beleza e reflitamos sobre o mistério da sua amorosa opção de criar o mundo.

Em segundo lugar, contribuamos para o fluxo deste rio caudaloso, transformando os nossos estilos de vida. Partindo duma grata admiração do Criador e da Criação, arrependamo-nos dos nossos «pecados ecológicos», como adverte o meu irmão Patriarca Ecuménico Bartolomeu. Estes pecados prejudicam o mundo natural e também os nossos irmãos e irmãs. Com a ajuda da graça de Deus, adotemos estilos de vida com menor desperdício e menos consumos inúteis, sobretudo onde os processos de produção são tóxicos e insustentáveis. Procuremos estar o mais possível atentos aos nossos hábitos e opções económicas, para que todos possam estar melhor: os nossos semelhantes, onde quer que se encontrem, e também os filhos dos nossos filhos. Colaboremos para esta criação contínua de Deus mediante opções positivas: fazendo o uso mais moderado possível dos recursos, praticando uma jubilosa sobriedade, separando e reciclando o lixo e recorrendo a produtos e serviços – e há tantos à nossa disposição – que sejam ecológica e socialmente responsáveis.

Por fim, para que o rio caudaloso continue a jorrar, devemos transformar as políticas públicas que regem as nossas sociedades e moldam a vida dos jovens de hoje e de amanhã. Políticas económicas, que favorecem riquezas escandalosas para poucos e condições degradantes para tantos, decretam o fim da paz e da justiça. É evidente que as nações mais ricas acumularam – e cito a encíclica Laudato si’ – uma «dívida ecológica». Os líderes mundiais presentes na cimeira COP28, programada de 30 de novembro a 12 de dezembro deste ano no Dubai, devem ouvir a ciência e começar uma transição rápida e equitativa para acabar com a era dos combustíveis fósseis. À luz dos compromissos do Acordo de Paris tendentes a suspender o risco do aquecimento global, é insensato permitir a exploração e expansão contínua das infraestruturas para os combustíveis fósseis. Levantemos a voz para deter esta injustiça para com os pobres e os nossos filhos, que sofrerão os impactos piores da mudança climática. Apelo a todas as pessoas de boa vontade para agirem de acordo com estas orientações acerca da sociedade e da natureza.

Numa perspetiva paralela, mais específica do serviço da Igreja Católica, temos a sinodalidade. Este ano, o encerramento do Tempo da Criação, na festa de São Francisco a 4 de outubro, coincidirá com a abertura do Sínodo sobre a Sinodalidade. Como os rios que são alimentados por mil ribeirinhos e torrentes maiores, o processo sinodal, iniciado em outubro de 2021, convida todos os componentes, a nível pessoal e comunitário, a convergirem num majestoso rio de reflexão e renovação. Todo o Povo de Deus está envolvido num abrangente caminho de diálogo sinodal e conversão.

À semelhança duma bacia hidrográfica com os seus numerosos afluentes grandes e pequenos, a Igreja é uma comunhão de inumeráveis Igrejas locais, comunidades religiosas e associações que se alimentam da mesma água. Cada fonte acrescenta a sua contribuição única e insubstituível, até confluírem todas no vasto oceano do amor misericordioso de Deus. Como um rio é fonte de vida para o ambiente que o rodeia, assim a nossa Igreja sinodal deve ser fonte de vida para a casa comum e quantos nela habitam. E como um rio dá vida a todo o tipo de espécies animais e vegetais, assim uma Igreja sinodal deve dar vida semeando justiça e paz em cada lugar que atinge.

Em julho de 2022, no Canadá, recordei o Mar da Galileia onde Jesus curou e consolou tanta gente e proclamou «uma revolução de amor». Soube que também o Lago de Sant’Ana é um lugar de cura, consolação e amor, um lugar que «nos recorda que a fraternidade é verdadeira se une os distantes, que a mensagem de unidade que o Céu envia à terra não teme as diferenças e convida-nos à comunhão, à comunhão das diferenças, a recomeçar juntos, porque todos – todos! – somos peregrinos a caminho».

Neste Tempo da Criação, como seguidores de Cristo no nosso caminho sinodal comum, vivamos, trabalhemos e rezemos para que a nossa Casa Comum seja novamente repleta de vida. Que o Espírito Santo continue a pairar sobre as águas e nos guie para renovar a face da terra (cf. Sal 104, 30).

Roma – São João de Latrão, 13 de maio de 2023.

FRANCISCO



Informação geral 


TEMPO DA CRIAÇÃO 2023

Tempo da Criação é um tempo de graça que a Igreja, no diálogo ecuménico, oferece à humanidade para renovar a sua relação com o Criador e com a Criação, por meio da celebração, da conversão e do compromisso conjunto. O Tempo da Criação, que é um período propício para refletir sobre a importância da conversão ecológica, procurar atingir uma Ecologia Integral e, acima de tudo, para reconhecer que toda a Criação fala da beleza de seu autor, começa no dia 1º de setembro, Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, e termina no dia 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis, o padroeiro da ecologia. Trata-se de uma oportunidade preciosa para renovar a adesão pessoal à própria vocação de guardião da criação, refletir sobre o que fazer para curar nossa Casa Comum elevando a Deus o agradecimento pela obra maravilhosa que Ele confiou ao nosso cuidado,

Em cada ano, o Comitê Diretivo Ecumênico sugere um tema. “Que jorrem a justiça e a paz” é o tema do ‘Tempo da Criação’, em 2023, inspirado no livro bíblico do profeta Amós: ‘Que o direito corra como a água e a justiça como um rio perene’.                                                 

1 - Juntemo-nos ao rio da justiça e da paz

O profeta Amós clama: “Que jorre a equidade como uma fonte e a justiça como torrente que não seca!” (Amós 5, 24) e assim somos chamados a juntarmo-nos ao rio da justiça e da paz, assumir a justiça climática e ecológica e falar com e para as comunidades mais afetadas pela injustiça climática e a perda da biodiversidade. As nossas orações devem clamar por justiça não apenas para os seres humanos, mas para toda a Criação. A justiça, aliada à paz, chama-nos ao arrependimento pelos nossos pecados ecológicos e à mudança das nossas atitudes e ações. A retidão exige que vivamos em paz, sem conflito com nossos vizinhos humanos e construindo relacionamentos corretos com toda a Criação. Somos convidados a unirmo-nos ao rio da justiça e da paz em nome de toda a Criação e a convergir nossas identidades individuais, como os afluentes se unem para formar um poderoso rio. Como povo de Deus, devemos trabalhar juntos em nome de toda a Criação como parte deste rio de paz e justiça. 

2 - O rio da vida traz esperança em vez de desespero

O profeta Isaías proclama: “porque eis que vou fazer obra nova, a qual já surge: não a vedes? Vou abrir uma via pelo deserto, e fazer correr arroios pela estepe”. (Isaías 43, 19) A biodiversidade está sendo perdida a uma velocidade nunca vista desde a última extinção em massa. A esperança de manter os aumentos médios de temperatura em 1,5 graus Celsius está desaparecendo. O mundo conhecido e  desfrutado pelos seres humanos está mudando rapidamente para além da possibilidade de reparação. O futuro dos jovens está ameaçado pelos impactos em cascata da perda de biodiversidade e das mudanças climáticas. A industrialização, colonização e extração e consumo de recursos geraram grandes riquezas, distribuídas de forma desigual. A emergência climática e ecológica de hoje afeta mais os mais vulneráveis, muitos deles vivendo nas nações menos ricas e que menos contribuíram com as emissões de poluentes. Atualmente, estamos mais conscientes do que nunca da ligação entre combustíveis fósseis, violência e guerra. Podemos, no entanto, sonhar e trabalhar por um mundo em que cada país produza a energia de que necessita com os dons do sol e do vento dados por Deus, em vez de ir à guerra por combustíveis fósseis. A urgência cresce e devemos tornar visíveis a paz com a Terra e na Terra, enquanto a justiça nos chama ao arrependimento e a uma mudança de atitude e ação. À medida que nos juntamos ao rio da justiça e da paz com os outros, criamos esperança. Uma economia de paz pode ser construída em vez de uma economia baseada no conflito. 

3 - Uma poderosa torrente pode mover montanhas

As nossas ações individuais durante o Tempo da Criação são importantes. Também devemos reconhecer que, como precisamos de um poderoso movimento de justiça, as ações individuais não são  suficientes. Em nível global, as nações com poder e riqueza têm o dever de lidar com justiça e honestidade com as comunidades que mais sofrem com as crises climática e ecológica. As decisões da COP 15 [dezembro de 2022] para preservar a biodiversidade são fonte de esperança, mas exigem perseverança. Essas vitórias foram alcançadas por aqueles com menos poder trabalhando em conjunto. Juntos podemos ser um poderoso rio de justiça e paz, que traz vida nova à terra e às gerações futuras, um rio que pode mover as montanhas da injustiça. 

4 - Pedidos de mobilização profética

Outras ações em reconhecimento da nossa interconexão e interdependência com toda a Criação incluem aprender mais sobre a Declaração Universal dos Direitos dos Rios, parte de um movimento para reconhecer os direitos inerentes à Mãe Terra. Como família ecuménica, podemos  envolver-nos nessas ações e contribuir para que a teia da vida seja preservada e cuidada. Ao mesmo tempo que confiamos na obra de Deus, reconhecemos que também podemos participar da vontade Dele para a justiça e a paz. Neste Tempo da Criação, podemos caminhar juntos e em comunhão como povo de Deus para deixar fluir a justiça e a paz!

22º Domingo do Tempo Comum

 


(Ano A – 03.9.2023)

 Introdução à Liturgia:


A liturgia de hoje constitui uma ótima oportunidade para refletir sobra a forma como nos situamos no ambiente que estamos a viver. Muitos de nós sentem que os seus projetos e, porventura, os seus sonhos têm sido abalados pelas dificuldades da vida, designadamente pela ‘pandemia’ que temos vindo a viver. As nossas esperanças precisam hoje de ser recentradas e de fazermos uma espécie de ‘regresso’ aos fundamentos da nossa experiência existencial, à procura do essencial da nossa vida. O Senhor Jesus, no Evangelho de hoje, diz-nos exatamente isso.


Introdução às Leituras:

A primeira leitura, do livro de Jeremias, apresenta-nos um dos textos mais marcantes deste profeta, onde ele nos confessa o seu encanto por Deus, apesar das circunstâncias que o envolvem e da hostilidade dos seus contemporâneos. Essa paixão por Deus leva-o a superar tudo. Um belo testemunho para nós. 

Na segunda leitura, na continuação dos domingos anteriores, S. Paulo exorta os crentes da comunidade de Roma a não se conformarem nem se deixarem cativar pelo ambiente mundano que os rodeia. Ser crente, para Paulo, é ser capaz de fazer opções e estas são aquelas que Jesus nos propõe.

 No Evangelho, numa sequência imediata ao texto do passado domingo, Jesus diz a Pedro e aos Discípulos que Ele não é o messias com que eles estão a contar, nem a missão que recebeu do Pai é compatível com os planos deles. Ele é o messias de Deus e não o messias dos homens e, por isso, há que perder a vida para a poder ganhar em Deus.

Padre João Lourenço, OFM

 

25 de agosto de 2023

21º Domingo do Tempo Comum

 

(27/08/2023)

           Introdução à Liturgia:

A liturgia dominical, para além da celebração da fé comunitária, elemento fundamental da nossa identidade eclesial, ajuda-nos também a formular perguntas e questões sobre a forma como cada um de nós se confronta com Jesus e a encontrar respostas para essas mesmas questões. Neste domingo, através da Palavra de Deus, escutamos o convite pessoal que nos é feita para que respondamos com a nossa vida e o nosso testemunho.

           Introdução às leituras:       

Na 1ª leitura, Isaías apresenta-nos dois paradigmas, dois modelos de pessoas para que cada um de nós possa também descobrir a forma como se coloca ao serviço do Reino de Deus: a pensar em si ou disponibilizando-se para servir os Irmãos.

 Na segunda leitura, da Carta aos Romanos, e já em jeito de conclusão, Paulo fala-nos, com admiração e espanto, acerca da sabedoria e da generosidade de Deus. Nisso, está todo o mistério da gratuidade da salvação que nos é concedida.

          No texto do Evangelho, Jesus coloca perguntas, interroga os seus discípulos. As perguntas assumem dois âmbitos: os que dizem as pessoas, o que escutas por aí acerca da pessoa de Jesus? Depois, Jesus faz uma pergunta pessoal, dirigida a cada um de nós que não tem a ver com o que se diz, mas sim com a minha afirmação pessoal de fé: E tu, quem dizes que Eu sou? É a pergunta desafiante da fé e para a qual só cada cristão pode responder, pois a resposta é pessoal.

Padre João Lourenço, OFM

XX Domingo do Tempo Comum


(20/08/2023) 

 

     Introdução à Liturgia 

Um dos grandes contributos que a Igreja tem vindo a oferecer à nossa sociedade de hoje é a questão do acolhimento e da inclusão. De inúmeras formas, sentimos diariamente esta questão que, por vezes, assume também contornos religiosos. Ao seu tempo, Jesus sentiu igualmente este problema, já que o judaísmo contemporâneo vivia uma realidade fechada em si mesmo, mormente nas questões das práticas rituais e da relação com aqueles que não eram judeus. Ontem, como hoje, encontramos em Jesus respostas para questões que são eternas: como acolher o outro.  

 

Introdução às leituras:         

Na 1ª leitura, Isaías fala-nos do acolhimento que o povo de Israel devia dispensar àqueles que, mesmo não pertencendo ao povo eleito, eram também amados e sinais do amor universal de Deus. Para o profeta, esse era um dever imposto a Israel.  


 A segunda leitura, da Carta aos Romanos, Paulo fala-nos da salvação universal que Deus oferece a todos os povos que através de Cristo chegam à plena comunhão com Deus. É por Ele que todos alcançam a misericórdia divina.  

 

         No texto do Evangelho, tomando as palavras de Jesus, S. Mateus faz uma aplicação dessas palavras em 1ª pessoa; ele, que fora também uma das ovelhas desgarradas do povo eleito, tornou-se beneficiário da misericórdia divina que em Jesus se estande e alarga a todos, incluindo a própria mulher cananeia que implora a sua salvação. 

 

Padre João Lourenço, OFM

16 de agosto de 2023

SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA



 

(15.08. 2020)

Introdução à Eucaristia

 Hoje, é um dia solene para a Igreja; a festa que celebramos – a Assunção de Nossa Senhora – é a solenidade da plenitude de Maria, elevada à glória da Trindade, e é também a solenidade da plenitude da Igreja, de que Maria é imagem e primícias. N’Ela se cumprem as palavras do Magnificat: Deus a enalteceu, porque Ele eleva os humildes e os cumula de bens. A glória da Virgem Maria faz-nos também participantes da esperança que anima a nossa caminhada: chegar um dia à plenitude da glória do Pai.

 Introdução às Leituras

 Na primeira leitura, o livro do Apocalipse recorre a uma visão para nos descrever, de forma simbólica, Maria como símbolo da Igreja que luta para testemunhar a salvação que brota do Menino gerado pela Mãe. Da mãe Maria, surge a mãe Igreja que anuncia e testemunha no tempo a esperança da salvação.

 Na segunda leitura, da 1ª Carta aos Coríntios, Paulo fala-nos da vitória de Cristo, o novo Adão. Na sua ressurreição todos renascemos para a vida nova e é nessa vida nova que chegamos à plenitude da comunhão com Deus.

No Evangelho, temos a visitação de Maria a Isabel, completada depois pelo hino do Magnificat. Ela é a mensageira da nova-aliança, Aquela que Deus escolheu para morada do Seu Filho. Por isso, ela canta, agradecida, todos os dons com que Deus beneficiou o Seu povo.

Padre João Lourenço, OFM

19º Domingo do Tempo Comum

 

(13.08.2023)

Introdução à Liturgia:

A liturgia deste Domingo convida-nos a olhar para Jesus como Aquele que nos revela o rosto sereno de Deus, de um Deus que está próximo e que se dá a conhecer nas coisas simples que constituem o nosso espaço existencial. É por elas que Deus chega até nós e se aproxima para nos ajudar a superar as tormentas da nossa caminhada. Esta proximidade, como bem recordamos, foi realçada e destacada pelo Papa Francisco na Jornada Mundial na semana passada.

Introdução às Leituras:

A peregrinação interior é uma condição fundamental para a nossa experiência cristã. A primeira leitura convida-nos, à semelhança de Elias, a fazer essa peregrinação ao encontro de Deus, a subir ao Monte e a descobrí-l’O na humildade, na simplicidade, na interioridade, na brisa suave de que Ele se serve para chegar até nós.

 Na segunda leitura, Paulo convida os seus concidadãos da Comunidade de Roma a aceitar Jesus como Messias, como Salvador, partindo das próprias instituições do Antigo Testamento que já apontavam para Cristo. Elas eram um caminho; Jesus Cristo é a meta da plena comunhão com o Pai. 

O Evangelho apresenta-nos uma reflexão sobre a caminhada histórica dos discípulos, enviados à “outra margem” a propor aos homens o anúncio do Reino. Nessa missão, a comunidade do Reino não está sozinha, à mercê das forças do mal. Em Jesus, o Deus do amor e da comunhão, vem ao encontro dos discípulos, estende-lhes a mão, dá-lhes a força para vencer a adversidade, a desilusão, a hostilidade do mundo. Os discípulos são convidados a reconhecê-l’O, a acolhê-l’O e a aceitá-l’O como “o Senhor”.

Padre João Lourenço, OFM

9 de agosto de 2023

18º Domingo do Tempo Comum


(06.08.2023)

Introdução à Liturgia:


Hoje, apesar de ser domingo, a Igreja celebra a festa da transfiguração do Senhor, convidando-nos a descobrir n’Ele a plenitude da revelação, que congrega a palavra de Moisés e a profecia de Elias. Vivemos na cultura da imagem; esta festa oferece-nos a imagem da Luz plena que é Cristo, a quem somos convidados a escutar e a contemplar.

Introdução às Leituras:

A primeira leitura, tomada do livro de Daniel, fala-nos dessa figura misteriosa do ‘Filho do Homem’ que Jesus aplica a si mesmo e com a qual nos quer dizer que Ele é a plenitude da humanidade. No entanto, essa humanidade plena só se alcança através da vivência do mistério pascal. É para esse momento que este texto nos aponta, abrindo-nos a uma nova vivência da sua missão messiânica. 

Na segunda leitura, São Pedro fala-nos da sua experiência no monte santo, perante a descoberta do verdadeiro rosto de Jesus e diz-nos que esse momento marcou a sua fé e a sua caminhada com o Senhor.


No Evangelho, pela palavra de Mateus, é nos narrada, de uma forma muito bela, a experiência vivida no monte Tabor. Mesmo sem saber o que dizia, tal como refere o texto, Pedro dá voz à sua fé e ao desejo de encontrar o verdadeiro rosto de Jesus, de fazer a experiência da sua plenitude, percorrendo os caminhos abertos por Moisés e por Elias. Ele é o Filho amado a quem somos convidados a escutar.

Padre João Lourenço, OFM

17º Domingo do Tempo Comum

 



Introdução à Liturgia:

A liturgia deste domingo é um desafio a reformular as nossas prioridades, os valores sobre os quais fundamentamos o nosso projeto de vida e as nossas opções, desafio que se faz ainda mais urgente nas circunstâncias em que vivemos. Mais que nunca, hoje impõe-se saber escolher, já que nos vemos confrontados com tantas e tão diversificadas propostas. Encontrar o ‘tesouro’ é acertar na vida, é ter a certeza que não caminhamos sem horizonte. É também esta a proposta que Jesus nos faz no Evangelho. Além disso, vivemos esta próxima semana a Jornada Mundial da Juventude, um momento importante para revigorar a nossa fé e o nosso empenho cristão.

 Introdução às Leituras:

A primeira leitura apresenta-nos o exemplo de Salomão, rei de Israel. Ele é apresentado como protótipo do homem “sábio”, que consegue perceber e escolher o que é importante e que não se deixa seduzir nem alienar por valores efémeros. Por isso, ele pede a sabedoria para saber escolher, já que é aí que está o fundamental da nossa vida.

 Na segunda leitura, Paulo recorda-nos que, antes de sermos nós a escolher, foi Deus que nos escolheu. Agora, seguí-l’O, é disponibilizar-se para aceitar essa escolha e assumi-la como nossa. Esse é o valor mais alto, que deve sobrepor-se a todos os outros valores e propostas.

 No Evangelho, recorrendo à linguagem das parábolas, Jesus recomenda aos seus seguidores que façam do Reino de Deus a sua prioridade fundamental. Todos os outros valores e interesses devem situar-se face a esta prioridade, face a esse “tesouro” supremo que é o Reino. Esse, é o tesouro dos tesouros, aquele que dá e confere valor a todas as demais opções.

Padre João Lourenço, OFM

16º Domingo do Tempo Comum

 
(23.07.2023)

Introdução

A liturgia de hoje convida-nos a descobrir o Deus paciente e cheio de misericórdia que sempre aguarda e espera que a semente da sua palavra germine no coração de cada crente. Para Ele, o tempo conta pouco; o que importa é que cada um abra o seu coração, acolha a Palavra e deixe que ela germine na sua vida. A lógica de Deus não é a nossa, nem a nossa é a d’Ele. Nisto consiste a fé.

Introdução às Leituras:

A primeira leitura, do livro da Sabedoria, fala-nos da justiça como o grande princípio da ação de Deus na sua relação com o homem. Mas não se trata da justiça dos homens, mas da justiça de Deus que consiste no amor e na bondade para connosco. A sua indulgência é o grande suporte da vida crente. A sua Palavra é a fonte desta justiça que nos humaniza e nos leva à comunhão com Ele.

 A segunda leitura realça que a nossa caminhada é fruto do Espírito; é Ele que nos conduz e intercede por nós, para que saibamos acolher os grandes desafios que nos coloca.

O Evangelho fala-nos deste mistério do tempo, em que cada um de nós se confronta com o projeto de Deus. Saber acolher e deixar que a Palavra, o Reino de Deus cresça nas nossas vidas é o grande desígnio da nossa vivência cristã. Saber dar ‘tempo ao tempo’ é uma das grandes dimensões da sabedoria cristã, aceitando os ritmos do Senhor e não querendo impor os nossos.

Padre João Lourenço, OFM

15º Domingo do Tempo Comum

(16/07/2023)

 Introdução à Liturgia:

A liturgia deste domingo apresenta-nos uma das imagens mais belas para significar a Palavra de Deus: a do semeador e da semente. Sendo uma imagem que emerge da cultura própria do tempo de Jesus, de um mundo agrícola com as suas raízes nomádicas, esta Parábola diz muito daquilo que é o processo da fé, daquilo que é o processo da evangelização e daquilo que foi a prática e a atividade de Jesus: Ele foi um Semeador da Palavra. A nós compete deixar crescer a semente, procurando ser terreno acolhedor.

Introdução às Leituras:

No pequeno texto da 1ª leitura encontramos tudo aquilo que é a força e o dinamismo da PALAVRA, tudo aquilo que ela é e aquilo que ela produz. Parece que não seria possível ‘dizer’ a PALAVRA de outra forma, de modo mais denso e mais simples do que aquilo que o texto de Isaías nos diz. Ela é a autêntica semente que entra no coração, quando este se faz terra de acolhimento.

           Na 2ª leitura, Paulo associa os sofrimentos e a morte de Cristo ao seu próprio percurso de acolhimento e de configuração da sua vida à do Mestre. Marcado pela sua experiência pessoal, Paulo descobre em Cristo um sentido de plenitude, sem o qual o mundo perde o seu centro e o homem o sentido da sua vida.

    Do Evangelho recolhemos a imagem rica e significativa da Palavra como semente. Deste texto retiramos duas dimensões: aquela que diz respeito ao Semeador e a que se refere à semente. Do semeador, que é Cristo e aqueles que anunciam o Evangelho, destaca-se a confiança na missão de semear e na força da semente que deve ser lançada à terra. Para a semente frutificar, importa que o terreno que nós somos seja acolhedor e hospitaleiro da Palavra.

Padre João Lourenço, OFM

10 de julho de 2023

14º Domingo do Tempo Comum

 

9 de julho de 2023 - Ano A

Introdução à Eucaristia:

Celebramos, hoje, o Décimo Quarto Domingo do Tempo Comum. A liturgia deste domingo enquadra-se muito bem no contexto social e humano que estamos a viver. A sociedade moderna vive num ritmo que dificilmente nos concede algum tempo para poder pensar a nossa vida, vivê-la com alguma serenidade e, acima de tudo, enriquecer-nos com a nossa reflexão pessoal. Construímos um sistema que agora nos impõe que o alimentemos, roubando-nos muito daquilo que é a nossa singularidade e o uso do tempo. Acolher, hoje, a palavra de Deus é aceitar parar um pouco e abrir o nosso coração ao convite de Jesus para estar com Ele que é “manso e humilde de coração”.

 Introdução às Leituras:

 A primeira leitura, do livro de Zacarias, fala-nos do messias futuro que vem para servir, manifestando-se de forma simples e humilde, não se impondo, mas propondo-se como testemunho de serviço e de acolhimento. Ele é um sinal de paz e de harmonia para todos os povos.  

Na Carta aos Romanos, dando continuidade às leituras dos domingos anteriores, fala-nos da nossa relação de comunhão com Cristo que tem por fundamento o seu mistério pascal. É d’Ele que nos vem a vida nova de ressuscitados, não vivendo segundo as nossas tendências carnais, mas sim segundo a força do Espírito.

No Evangelho, Jesus propõe aos seus discípulos uma vivência interior que saiba saborear a liberdade de espírito e a gratuidade da paternidade divina. Há aqui um nítido distanciamento daquilo que era o ritmo de vida que o judaísmo propunha. Nem sempre uma vida intensa é uma agitada, em permanente correria. Para Jesus, há que saber parar, comtemplar, saborear e partilhar. É este o ritmo novo que os seus discípulos devem seguir.

Pe. João Lourenço OFM

13º Domingo do Tempo Comum

 

(02.07.2023)

Introdução à Eucaristia:

Por vezes, a nossa caminhada de fé é entendida e vivida numa certa passividade e estagnação. Neste domingo, a palavra de Deus convida-nos a uma dinâmica de vida, de seguimento. Como nos diz o Papa Francisco, ser igreja e ser discípulo de Jesus implica sempre estar numa atitude de partida, de saída ao encontro dos outros para os ganhar para Cristo.


Introdução às Leituras:

A Escritura apresenta-nos, em muitas situações, pessoas que são chamadas por Deus para nos mostrar como Ele precisa de nós para se fazer presente na história e imprimir nela o selo do seu amor e da sua misericórdia. Elias é uma destas personagens que nos abre a este absoluto de Deus, antecipando neste profetas muitos traços daquela que viria a ser mensagem do próprio.

 Dando continuação à leitura da Carta aos Romanos, que vimos fazendo nos últimos domingos, Paulo diz-nos que é no batismo em Cristo que se fundamenta a nossa esperança. É n’Ele que temos a plenitude da nossa vida; é na gratuidade do mistério pascal de Cristo que radica a nossa verdadeira liberdade.

 No Evangelho, S. Mateus fala-nos a nossa opção radical pelo seguimento, à semelhança da proposta que Ele deixa aos discípulos. Mateus diz-nos que a opção por Jesus é a grande opção da nossa vida, pois é a partir dela e com fundamento nela que tudo ganha sentido, incluindo mesmo os gestos mais simples e mais humildes.

Padre João Lourenço, OFM

28 de junho de 2023

XII Domingo do Tempo Comum

25 de Junho de 2023

 Ano A

Introdução à Eucaristia:

 Neste 12º Domingo do Tempo Comum, a Palavra de Deus que nos é proposta deixa-nos um desafio importante para a nossa autenticidade de vida: vencer o medo, não se deixar amedrontar pela injustiça e ser capaz de denunciar a falsidade. São exigências árduas e que só conseguimos realizar com a graça de Deus e a força da oração. Mas, apesar da dificuldade não nos devemos dispensar do empenho que o Senhor nos propõe.

      Introdução às Leituras:

 A primeira leitura apresenta-nos o exemplo de um profeta do Antigo Testamento – Jeremias. É o paradigma do profeta sofredor, vítima da perseguição, da solidão e do abandono. Tudo isto tem como motivo a retidão da sua vida e o testemunho corajoso que faz da Palavra. Apesar de tudo, nada demove a sua confiança em Deus, anunciando – com coerência e fidelidade – as propostas de Deus para os homens.

Na segunda leitura, Paulo demonstra aos cristãos de Roma como a fidelidade, aos projetos de Deus, gera vida e como uma vida, organizada numa dinâmica de egoísmo e de auto suficiência, gera a morte.

 O Evangelho traz até nós as advertências de Jesus aos seus discípulos quando os envia em missão, avisando-os para a inevitabilidade das perseguições e das incompreensões; mas acrescenta: “não temais”. Jesus garante aos seus a presença contínua, a solicitude e o amor de Deus, ao longo de toda a sua caminhada pelo mundo. Os tempos que vivemos exigem também de nós esta coragem de olhar em frente sem temor.

Padre João Lourenço, OFM 


HOMILIA DE FREI NICOLÁS HIPÓLITO ALMEIDA   

Domingo XII do Tempo Comum

“O Espírito da verdade dará testemunho de mim, diz o Senhor, e vós também dareis testemunho de mim!”

Foi com estas Palavras que introduzimos a aclamação ao Evangelho de Hoje, um Evangelho que se se recordam, é a sequência e consequência do Evangelho de domingo passado. No Evangelho do domingo passado fomos escolhidos por Deus para irmos trabalhar na sua messe; chegou agora a hora de darmos testemunho: “O Espírito da verdade dará testemunho de mim… e vós também dareis testemunho… esta palavra “testemunho é uma palavra poderosa, porque os mártires da igreja são aqueles que dão testemunho… e a primeira leitura de hoje falava-nos de Jeremias - chamado ao serviço de Deus desde o seio materno da sua mãe, como ouvíamos nos textos relativos à festa de S. João Baptista, é morto de uma forma horrível apedrejado por membros do seu próprio povo durante o exilio na Egipto. Ser discípulo de Jesus significa estar exposto a uma serie de tribulações…Jesus sabe disso e por isso fala abertamente aos doze - e hoje a cada um de nós - dizendo, “não tenhais medo dos homens…” sempre que na Sagrada Escritura alguém é chamado a uma missão especial, esta frase aparece, como uma garantia de que não estaremos sozinhos nessa luta… não tenhais medo… esta frase hoje no Evangelho parece por três vezes… Não tenhais medo dos homens…não temais os que matam o corpo… não temais porque valeis mais que todos os passarinhos… Nestas frases fica claro, por um lado a pequenez do ser humano diante das tribulações da vida e por outro a sua grandeza aos olhos de Deus, que nos cuida e nos ama mais que todos os passarinhos do céu e nos conhece de tal forma que tem contados todos os cabelos da nossa cabeça. Jesus quer dizer-nos que, por mais insignificante que possa parecer a nossa vida, ela é valiosa aos olhos de Deus… A liturgia deste domingo coloca-nos diante da pequenez e da grandeza do ser humano…

Foi com palavras semelhantes às da liturgia de hoje que o Papa Francisco publicou no dia 19 de Junho uma carta dedicada ao sábio Blaise Pascal, por altura do quarto centenário do seu nascimento. O Papa Francisco começa assim: Grandeza e miséria do homem é o paradoxo que está no centro da reflexão e mensagem de Blaise Pascal. BLAISE pascal de facto, foi um homem tocado por esta grandeza e miséria do ser humano, e na sua oração muitas vezes refletia sobre o salmo 8. Neste salmo o salmista, ao contemplar a obra da criação perguntava «Que é o homem para Te lembrares dele, o filho do homem para com ele Te preocupares? E através desta inquietação procurava a verdade da condição humana. Resumidamente, com esta carta o Papa Francisco dá a entender que este sábio merece ser visto mais do que um cientista, mas alguém que merece o nosso reconhecimento, como um dos que deu testemunho de Cristo, e é isso que hoje nos interessa ver. Blaise Pascal, no contexto em que viveu, foi sem dúvida um dos discípulos de Jesus. Ao ser guiado, desde criança, pelo Espírito de Deus - o Tal Espirito da Verdade que dá testemunho de Jesus, como ouvíamos no aleluia- deu testemunho de Cristo ao Mundo, de modo especial na sua obra mais conhecida, os Pensamentos…E um dos momentos mais belos da sua vida foi quando a sua busca pela verdade o conduziu a uma experiência mística que ele chamou de Noite de Fogo, Ele deixou escrito que nesse momento chorou lágrimas de Alegria, porque tornou-se evidente para ele que Jesus é de facto a Verdade do mundo que merece ser anunciada… Reparemos por isso no que diz Jesus hoje no Evangelho… não tenhais medo dos homens pois nada há encoberto que não venha a descobrir-se, nada há oculto que não venha a conhecer-se, o que vos digo às escuras dizei o à luz do dia, e o que escutais ao ouvido proclamai o sobre os telhados… Como poderemos interpretar estas palavra de Jesus senão que os seus discípulos devem ser pessoas inquietas por buscar a verdade, viver na verdade e anunciar a verdade! E que verdade é esta senão o próprio Jesus!? Como seria diferente a catequese se conseguíssemos passar este desejo, esta curiosidade de conhecerem Jesus… a espiritualidade só avançou quando homens e mulheres comuns como nós não se contentaram com as respostas, mas colocavam perguntas…Já o Papa Bento XVI dizia que quem busca a verdade encontrará Deus…

O Evangelho termina com estas palavras… todo aquele que se tiver declarado por mim diante dos homens também eu me declararei por ele diante do meu pai que está nos céus… A carta que o Papa escreveu é a expressão dessa declaração de Jesus sobre a vida e obra de Blaise Pascal. Cabe-nos agora a nós fazer o nosso percurso como discípulos, sem medo dos homens, porque a verdade  - que é Cristo - vale mais do que tudo na vida.

PADRE FREI NICOLÁS HIPÓLITO ALMEIDA , OFM

 
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