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27 de abril de 2013

Identidade Pascal - Leitura dos Salmos 137 e 126

Seminário Filosofia e Espiritualidade
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Leitura dos Salmos 137 e 126
"Da nostalgia do Exílio ao Júbilo do regresso"

Salmo 137
1*Junto aos rios da Babilónia nos sentámos a chorar,
recordando-nos de Sião.
2Nos salgueiros das suas margens pendurámos as nossas harpas.
3Os que nos levaram para ali cativos pediam-nos um cântico;
e os nossos opressores, uma canção de alegria: "Cantai-nos um cântico de Sião."
4Como poderíamos nós cantar um cântico do SENHOR,
estando numa terra estranha?
5Se me esquecer de ti, Jerusalém, fique ressequida a minha mão direita!
6Pegue-se-me a língua ao paladar, se eu não me lembrar de ti,
se não fizer de Jerusalém a minha suprema alegria!
7*Lembra-te, SENHOR, do que fizeram os filhos de Edom,
no dia de Jerusalém, quando gritavam: "Arrasai-a! Arrasai-a até aos alicerces!"
8*Cidade da Babilónia devastadora, feliz de quem te retribuir
com o mesmo mal que nos fizeste!
9*Feliz de quem agarrar nas tuas crianças e as esmagar contra as rochas!

WALL PLAQUE for the REMEMBRANCE of JERUSALEM Artist: Zalman Zwieg, c1910 From the Gross Family Collection, Israel

Salmo 126  
1*Cântico das peregrinações.
Quando o SENHOR mudou o destino de Sião, parecia-nos viver um sonho.
2A nossa boca encheu-se de sorrisos e a nossa língua de canções.
Dizia-se, então, entre os pagãos: "O SENHOR fez por eles grandes coisas!"
3Sim, o SENHOR fez por nós grandes coisas; por isso, exultamos de alegria.
4*Transforma, SENHOR, o nosso destino, como as chuvas transformam o deserto do Négueb.
5*Aqueles que semeiam com lágrimas,vão recolher com alegria.
6À ida vão a chorar,carregando e lançando as sementes;
no regresso cantam de alegria,transportando os feixes de espigas.

Comentário e enquadramento

Temos 2 Salmos que traduzem 2 sentimentos de alma que se contrapõem, mas que a História os torna complementares: são Salmos do Povo de Deus, são ecos da História e são expressão da vida de cada crente.

Sl 137:
É um grito de dor e de angústia do mais profundo que a poesia universal conhece e onde se condensam e adensam os sentimentos mais contrastantes do coração humano. Nele se revêm todas as tragédias humanas, sociais e pessoais. É um "código de leitura" não apenas da História de Israel, figurado depois ao longo dos tempos (Diáspora romana pelo mundo, conquistaárabe do séc. Vii, Inquisição, Holocausto, etc), mas também uma evocação de todas as batalhas e tragédias que ferem a mais densa e rica memória dos povos e dos corações: a Pátria ditosa (Sião-Jerusalém; a morada do eterno; o espaço do encontro e da memória; a ditosa esperança de uma terra-prometida; a herançla messiânica acreditada e ansiosamente esperada); a Promessa desfeita (a cidade abandonada e desmoronada; o culto sem espaço; o templo sem lugar santo; o sonho que já não tem vida). É uma lamentação que em hebraico se diz qînah e que expressa a nostalgia de uma mágoa sem consolação; tinha um ritmo e uma música.

Do Sl 137 ao texto de Lc 19, 41-44:
"41Quando se aproximou, ao ver a cidade, Jesus chorou sobre ela e disse: 42*«Se neste dia também tu tivesses conhecido o que te pode trazer a paz! Mas agora isto está oculto aos teus olhos. 43*Virão dias para ti, em que os teus inimigos te hão-de cercar de trincheiras, te sitiarão e te apertarão de todos os lados; 44hão-de esmagar-te contra o solo, assim como aos teus filhos que estiverem dentro de ti, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, por não teres reconhecido o tempo em que foste visitada."

Sl 126:
É um Hino à alegria, no regresso após a caminhada e a experiência de dor e de ausência no Exílio: depois das lágrimas, vem a alegria. Aqueles que eram libertados dos campos nazis, ao avistarem a costa palestinense e o monte Carmelo cantavam o Sl 126, tal como os prisioneiros de Sião quando voltavam à Pátria.
Uma das imagens mais velas do Salmo está no vers. 6: "à ida vão a chorar levando as sementes, à volta vêm a cantar trazendo os molhos de espigas". Esta dupla simbólica encerra em si uma dupla alegria e conjuga e dos fatores que mais simbolozam na experiência habraica: deixar Sião e regressar à Pátria (a memória permanente do exílio no tempo e da chegada à eterna morada de Deus) por um lado; por outro, as sementes, símbolo da esperança que não se deixa matar pela dor e os frutos da colheita, expressão da luta recompensada.
Temos também as diversas expressões da alegria e da paz que inuda o rosto dos regressados, tal como sucede com todos aqueles que vêm coroados os seus esforços, lutas e canseiras, que não se deixam abater pelo cansaço, nem pelo medo e, menos ainda, pelo desterro. na experiência prática da vida do crente, a identidade cristã é, em cada passo da História, a expressão do Sl 126: à volta vêm a cantar. Sempre este Cântico significa e se faz acompanhar pela alegria da colheita: os frutos da liberdade, da solidariedade, da comunhão fraterna, da alegria vivida e partilhada no serviço fraterno.
O Sl 126 é a melhor expressão da "identidade pascal" da nossa fé: "É pela fé na ressurreição de Cristo que a nossa face se alarga em sorrisos de esperanças e a nossa boca entoa loas de louvor e de alegria: "Ó Senhor fazei-nos regressar como as torrentes do Negev." São os caudais das águas das chuvas que inundam a terra e a preparam para as sementeiras do início da primavera.   
Lisboa, 8 de abril de 2013
Professor Padre João Lourenço, OFM



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