FRATERNIDADE
REGIONAL SUL
OFS
PORTUGAL
PLANO
DE VIDA E AÇÃO 2015-2016
Ano Santo da Misericórdia
VIII Centenário do Perdão de Assis
Uma feliz coincidência
Tiberio d'Assisi, Concessione dell'indulgenza, 1512
Basilica
di Santa Maria degli Angeli
Lema: Sede Misericordiosos
INTRODUÇÃO
Ao longo dos tempos, sucederam-se
pessoas capazes do melhor bem e pessoas capazes do pior mal na Igreja e na
sociedade, que parecem tantas vezes fazer vacilar a iniciativa de Deus que Ele
decidiu sustentar até ao fim dos tempos. Tem havido manifestações do
mistério da iniquidade, desgraças de infidelidades, ofensas à dignidade humana.
Mas também superabundam maravilhosos testemunhos da grandeza e da beleza de
corações puros, almas místicas, espíritos lúcidos, inteligências bondosas. Uma
multidão de fiéis, homens e mulheres, eloquentes na proclamação da Palavra com
clareza de doutrina; sensatos no discernimento com audaciosas reformas
religiosas e sociais; corajosos na confissão da fé em Cristo; fidelíssimos ao
duplo mandamento do amor - a Deus e ao próximo - com o risco da própria vida em
defesa dos pobres e fracos. Lembremo-nos, por exemplo, que através das mulheres
ouviu-se o primeiro anúncio de um mistério incomparável que perdura até aos
dias de hoje com o vigor e a frescura de um encontro que transforma a vida: Vidimus
Dominum! Vimos o Senhor!
Depois, confirmados no seu íntimo, avançaram os Apóstolos, enérgicos numa evangelização imparável. E depois, ao longo dos séculos, tantos outros, entre os quais se encontram também os Irmãos da Ordem Franciscana Secular, que vencendo «a resistência muitas vezes humanamente invencível da parte daqueles a quem se dirige o evangelizador» (EN 50) (1), se entregaram com vontade de reviver o Evangelho inteiro, num esforço permanente de nunca se negarem à comunicação, ao diálogo, à colaboração, à revisão crítica e ao discernimento público, com o realismo histórico e a capacidade de inserção tão viva, tão próxima na evolução histórica, com todo o mundo por campo e todo o Evangelho por inspiração única.
Por isso, os desafios de mais um ano da
Vida e Ação da Fraternidade Região Sul da
OFS em Portugal hão-de basear-se fundamentalmente na renovação da confiança
entre todos nós, Irmãos e Irmãs, com os olhos abertos criticamente, convictos
de que a relação fraterna é oferta na liberdade, inclusive com aquela linguagem
que pode soar dura mas que pretende anunciar uma proposta libertadora de
qualquer ilusão ou desilusão acerca do próprio viver livremente. O Espírito
torna-nos capazes de acolher a vida fraterna no horizonte da eternidade,
sabendo que entre a liberdade de cada um e a ação divina do Espírito existe uma
autêntica colaboração, «sinergia», que contribui para a verdadeira realização
das nossas vidas, em Deus, cuja misericórdia é «elemento indispensável para dar
forma às relações mútuas entre os homens, em espírito do mais profundo respeito
por aquilo que é humano e pela fraternidade recíproca.» (DM 14) (2) .
Irmãos e Irmãs comprometidos em tempos
de incertezas nos quais é preciso manter a fé sem dureza e o empenho no
essencial sem fanatismos, conscientes de que «um anúncio renovado proporciona
aos crentes, mesmo tíbios ou não praticantes, uma nova alegria na fé e uma
fecundidade evangelizadora. Na realidade, o seu centro e a sua essência são sempre
o mesmo: o Deus que manifestou o seu amor imenso em Cristo morto e
ressuscitado.» (EG 11) (3) Sabendo
que a palavra e a pessoa encontram-se no centro da relação entre nós, e a
confiança, para lá de todos os sentimentos, assenta também na razão com que
somos capazes de discernir o que melhor convém à vida segundo a vocação
franciscana assumida na Ordem Franciscana Secular. Neste sentido, a obediência
recíproca no amor é o grande princípio: não dominar um ao outro, mas
submeter-se mutuamente, para que nenhum «escândalo», como pedra que provoca a
queda ou o tropeço, impedindo a quem caminha de alcançar a sua meta, os afaste
do caminho da felicidade juntos. E escandaloso seria a subserviência, a
subalternização, a dominação de um sobre o outro, tolhendo assim a liberdade
que deve estar presente na escolha e na decisão pelo amor que dá sentido à
vida.
Mas, atenção, pois às vezes, por
incauta credulidade, pensa-se que a experiência da comunhão pode acontecer à
flor da pele ou simplesmente com o aproximar a superfície da alma. Mas a vida
ensina-nos que pensando deste jeito, sofremos inevitavelmente fracasso e
desolação, devolvidos ao isolamento, amargados diante do facto de não
conseguirmos aquela comunhão desejada que sacia e acalma, que concentra e ao
mesmo tempo desafoga o nosso espírito. Importa entender que esta comunhão
realiza-se a partir da fé, esculpida na rocha viva do silêncio e da palavra, em
oração, uma fé humilde mas segura de si mesma, capaz de alicerçar-se na
convicção de inserir na relação, isto é, de criar laços interpessoais com
Cristo e com os outros. Certamente, um percurso árduo, pois é bem sabido, como
dado da psicologia geral, que existe sempre uma dialética entre solidão e
comunhão, entre silêncio e palavra, entre distância e proximidade ao outro.
Por tudo isto, importa, pois, para
todos nós, membros da Ordem Franciscana Secular em Portugal, viver da
consciência e da liberdade acolhedoras de uma oferta, feita com a capacidade
crítica e a confiança atrevida, sem lugar à lamúria nem ao engulho de uma fraca
estima por si próprio. Importa manter uma simultânea docilidade à voz do
Espírito e à voz de todos os Irmãos, que equilibre a seriedade com a mansidão,
e a perseverança para alcançar a meta com a humildade para recomeçar novos
caminhos que conduzam mais diretamente a essa mesma meta. Importa cultivar a
sabedoria na simplicidade das nossas relações interpessoais, pois «não devemos
ser sábios e prudentes segundo a carne, mas procuremos ser simples, humildes e
puros. (…) Nunca devemos estar acima dos outros, mas antes devemos ser servos e
sujeitos a toda a humana criatura por amor de Deus.» (2CF 45, 47) (4).
ORAÇÃO
«Deus
omnipotente, eterno, justo e misericordioso, concede-nos a nós, miseráveis, que
por ti façamos o que sabemos que tu queres, e sempre queiramos o que te apraz,
/ para que, interiormente purificados, interiormente alumiados e abrasados pelo
fogo do Espírito Santo, possamos seguir os passos do teu Filho, nosso Senhor
Jesus Cristo, / e mediante somente tua graça, chegar até ti, ó Altíssimo, que,
em Trindade perfeita e em simples Unidade, vives e reinas e tens toda a glória,
ó Deus omnipotente, por todos os séculos dos séculos. Amén.» (CO
50-52) (5).
Frei Luís de
Oliveira, OFM
Objetivos:
– Viver a
Paz e a Misericórdia no Coração da Fraternidade.
– Estudar nas Fraternidades o Documento do
Capítulo Geral:
«Como Gerir uma Ordem como a OFS, nos dias de
hoje».
Motivações
O Santo
Padre, o Papa Francisco, convocou a Igreja a viver um Ano Santo extraordinário,
a que deu o nome de «Ano Santo da
Misericórdia». Este Ano Santo, terá o seu início com a solenidade da
Imaculada Conceição, a 8 de Dezembro de 2015, e concluir-se-á, na solenidade de
Cristo Rei, em 20 de Novembro de 2016.
Segundo os
Ministros Gerais da Primeira Ordem Franciscana e da TOR, esta iniciativa
proposta pelo Papa Francisco, é uma feliz coincidência com o que a Família
Franciscana se propõe viver em 2016, isto é, o Oitavo Centenário do Perdão de
Assis.
Por esta
razão os referidos Ministros Gerais dirigiram a todos os frades do mundo, uma
carta datada de 12 de Março de 2015, onde manifestam o «desejo sincero de
caminhar juntos e crescer na comum vocação e missão», conforme as expectativas
que o Papa Francisco tem sobre os religiosos de hoje, e que apresentou por
ocasião do Ano da Vida Consagrada.
Neste
sentido, é nosso desejo que a Fraternidade Nacional da Ordem Franciscana
Secular de Portugal, se deixe plasmar pelo Espirito Santo, a fim de que este
ano de graça que Deus nos concede, a todos fortaleça na alegria da fidelidade
reconciliada.
Conclusão
Cada uma
das nossas Fraternidades possa viver com profundidade a graça deste Ano, para
oferecer de maneira renovada a riqueza do nosso carisma, antes de mais, a toda
a nossa família espiritual, e depois, de maneira especial aos irmãos seculares
que se alimentam da espiritualidade franciscana. Por isso, cada Fraternidade
estabeleça na sua formação permanente, momentos de tomada de consciência, de
pedido de perdão e de acolhimento alegre da misericórdia.
As
diferentes celebrações deste ano contribuam para que todos os Irmãos renovem a
sua relação com a Igreja, com a Ordem, e com todo o Povo de Deus, sabendo que o
carisma partilhado e posto ao serviço, é uma graça para todos.
Conferência dos Assistentes Espirituais
Sassetta
S. Francisco
diante do Papa Honório IIII
1437-44
National Gallery, Londres
(1) Papa Paulo VI, Evangelii Nuntiandi
(2) Papa João Paulo II, Dives in Misericordia
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