Retalhos Como Francisco e Clara de Assis, a Fraternidade a todos saúda em Paz e Bem!Retalhos

21 de março de 2012

No encontro e no diálogo fiéis à Regra e à Igreja



Na próxima sexta-feira, dia 23 de março, realiza-se, no Centro Cultural Franciscano, mais uma conferência do ciclo de conferências dedicadas à Família - 2012.


Tema: Família: esteio de Amor incondicional
Oradores
: Luísa e António Marques de Carvalho
Sumário:
A família vive actualmente o assalto do relativismo, da indiferença, da licenciosidade, do egoísmo e do individualismo, como aqui realçou o Dr. Bagão Félix no início deste ciclo de conferências. Ela é porém o único bastião em que se pode viver o amor incondicional, a fraternidade e o diálogo intergeracional e é a primeira comunidade, a célula base de qualquer sociedade solidária, onde se aprendem a viver os valores que a sustentam.
Uma gestão adequada das relações humanas, particularmente no seio da família, deve procurar permanentemente a satisfação das necessidades de amar e ser amado e das de ser autónomo e válido, um equilíbrio dinâmico que exige de cada um de nós um escrutínio (avaliação) dos sentimentos, pensamentos e comportamentos, e uma comunicação franca, clara e confiante desse diagnóstico aos que amamos, para que, após o romance, possamos superar as desilusões, vencer os medos e renovar o vigor do nosso sonho de felicidade e retomar o entusiasmo do projecto comum que acompanha o nosso compromisso de constituir uma família ou de seguir uma vocação de consagração aos outros, fazendo opções realistas de aperfeiçoamento da relação em casal, em família e com a comunidade. Dialogando e partilhando com simplicidade esse nosso esforço de encontro connosco mesmos vivemos um estilo de vida aberto e confiante que é crucial para o reconhecimento mútuo e para nos acompanharmos realmente na alegria e na dor, numa comunhão que vence o desânimo, supera as ameaças de desagregação e as pressões de uma sociedade que aparenta estar carente de valores e tornar-se escrava do consumismo e do individualismo.
Perante estas ameaças é dever do cristão reafirmar na sua prática quotidiana que o amor eterno e incondicional é possível, certamente com imperfeições, mas com perseverança de crente num caminho de santidade dos que não desistem de uma visão esperançosa da humanidade. Isso é certamente o cerne do sacramento do Matrimónio, mas é-o também da consagração ao serviço da Igreja numa comunidade e no sacramento da Ordem. Todos estes compromissos são de relação de amor, seja para constituir uma família, seja para servir a comunidade.

Algumas referências bibliográficas:
Familiaris Consortio – exortação Apostólica de João Paulo II sobre a Família – Ed. S. Paulo – ISBN-972-30-0616-2, 1994
O Segredo do Amor Eterno – John Powell, sj – Ed. Paulinas –ISBN-972751-479-0, 2002
As 5 linguagens do Amor – Gary Chapman – Ed. SmartBook -
ISBN: 978-9898297112
Não à solidão a dois, a (in)comunicação no casamento – Jacques Salomé – Ed. Ésquilo – ISBN-972-8605-10-2, 2001
Ouvir, Falar, Amar – Laurinda Alves, Alberto Brito, sj – Ed. Oficina do Livro – ISBN-978-989-555-552-9, 2011
Sabedoria de um pobre – Elói Leclerc – Ed. Franciscana - , ISBN-972-9190-36-4, 1983
P. José António da Silva Soares, Ensino e Acção Pastoral – Coord. António de Sousa Araújo – estudos Franciscanos, Itinerarium, XLIX (2003) 369-380

10 de março de 2012

A Correção Fraterna




A Correção Fraterna
O dever de correção fraterna. A sua eficácia sobrenatural. A correção fraterna era praticada com frequência entre os primeiros cristãos. Falsas desculpas para não fazê-la. Ajuda que prestamos. Virtudes que se devem viver ao fazer a correção fraterna. Modo de recebê-la.
I. JÁ NO ANTIGO TESTAMENTO a Sagrada escritura nos mostra como Deus se serve frequentemente de homens cheios de fortaleza e de caridade para fazer notar a outros o seu afastamento do caminho que conduz ao Senhor. O Livro de Samuel apresenta-nos o profeta Natã, enviado por Deus ao rei David para falar-lhe dos pecados gravíssimos que este havia cometido. Apesar da evidência desses pecados tão graves (adultério com a mulher do seu fiel servidor, cuja morte provocou) e de que o rei fosse um bom conhecedor da L, “o desejo havia-se apoderado de todos os seus pensamentos e a sua alma estava completamente adormecida, como que num torpor. Necessitou da luz e das palavras do profeta para tomar consciência do que tinha feito”. Naquelas semanas, David vivia com a consciência adormecida pelo pecado. Para fazê-lo perceber a gravidade do seu delito, Natã expôs-lhe uma parábola:
Havia numa cidade dois homens: um rico e outro pobre. O rico tinha muitos rebanhos de ovelhas e de bois; o pobre só tinha uma ovelhinha que havia comprado; ia criando-a e ela crescia com ele e com os seus filhos, comendo do seu pão e bebendo da sua taça, dormindo nos seus braços: era para ele como uma filha. Certo dia, chegou uma visita à casa do rico e este, não querendo perder uma ovelha ou um boi para dar de comer ao seu hóspede, subtraiu a ovelha do pobre e preparou-a para o seu hóspede. David pôs-se furioso contra aquele homem e disse a Natã: Pela vida de Deus! Aquele que fez isso é réu de morte!
Natã respondeu então ao rei: Tu és esse homem. E David tomou consciência dos seus pecados, arrependeu-se e dasafogou a sua dor num salmo que a Igreja nos propõe como modelo de contrição. Começa assim: Tem piedade de mim, ó Deus, segundo a tua bondade; e conforme a imensidão da tua misericórdia, apaga a minha iniquidade…
David fez penitência e foi grato a Deus. Tudo graças a uma advertência oportuna e cheia de fortaleza. Um dos maiores bens que podemos prestar àqueles a quem mais queremos e a todos, é a ajuda, muitas vezes heróica, da correção fraterna. No convívio diário, observamos que os nossos familiares, amigos ou conhecidos – como, aliás, nós mesmos – podem chegar a formar hábitos que destoam de um bom cristão e que os afastam de Deus. Podem ser faltas de laboriosidade habituais, de pontualidade, modos de falar que beiram a murmuração ou a difamação, brusquidões, impaciências… Podem ser também faltas de justiça nas relações de trabalho, atitudes pouco exemplares no modo de viver a sobriedade ou a temperança, gula embriaguez, gastos de pura ostentação, desperdícios de dinheiro no jogo ou nas lotarias, amizades ou familiaridades que põem em perigo a fidelidade conjugal ou a castidade… É fácil compreender que uma correção fraterna feita a tempo, oportuna, cheia de caridade e de compreensão, a sós com o interessado, pode evitar muitos males: um escândalo, um dano irreparável à família…; ou, simplesmente, pode ser um estímulo eficaz para que a pessoa em questão corrija um defeito e se aproxime mais de Deus. Esta ajuda espiritual nasce da caridade e é uma das suas principais manifestações. Por vezes, é também uma exigência da virtude da justiça, quando existe para com a pessoa que deve ser corrigida uma especial obrigação de prestar-lhe essa ajuda. Devemos pensar com frequência se não nos omitimos nesta matéria. “porque não te decides a fazer uma correção fraterna? – Sofre-se ao recebê-la, porque custa humilhar-se, pelo menos no começo. Mas, fazê-la, custa sempre. Bem o sabem todos. – O exercício da correção fraterna é a melhor maneira de ajudar, depois da oração e do bom exemplo.

II. A CORREÇÃO FRATERNA tem sabor evangélico; os primeiros cristãos praticavam-na frequentemente, tal como o Senhor a tinha estabelecido – Vai e corrige-o a sós -, e ocupava um lugar muito importante nas suas vidas, pois conheciam a sua eficácia. São Paulo escreve aos fiéis de Tessalónica: Se alguém não obedecer ao que dizemos nesta carta… não o olheis como inimigo, antes corrigi-o como a um irmão. Na epístola aos Gálatas, o apóstolo diz que a correção fraterna deve ser feita com espírito de mansidão. O Apóstolo São Tiago incentiva da mesma forma os primeiros cristãos a praticá-la, recordando-lhes a recompensa que o Senhor lhes dará: Se algum de vós se desviar da verdade e um outro conseguir reconduzi-lo, saiba que quem converte um pecador do seu extravio salvará a alma dele da morte e cobrirá a multidão dos seus próprios pecados. Não é uma recompensa pequena. Não podemos desculpar-nos a repetir e repetir as palavras de Caim: Por acaso sou eu o guardião do meu irmão? Entre as desculpas que podemos dar no nosso coração para não fazer ou para adiar a correção fraterna, está antes de mais nada o medo de entristecer aquele que a deve receber. É paradoxal que o médico não deixe de ao paciente que, se quer ser curado, deve sofrer uma dolorosa operação, e que nós, cristãos e franciscanos, tenhamos relutância às vezes em dizer àqueles que nos rodeiam que está em jogo a saúde da sua alma. “É grande o número dos que, para não desagradarem ou para não impressionarem uma pessoa que tenha entrado nos últimos dias e nos momentos extremos da sua existência terrena, lhe silenciam o seu estado real, causando-lhe desse modo um mal de dimensões incalculáveis. Mas é mais elevado o número daqueles que vêem os seus amigos no erro ou no pecado, ou prestes a cair num ou noutro, e permanecem mudos, e não mexem um dedo para lhes evitar esses males. Poderíamos considerar amigo a quem se comportasse connosco desse modo? Certamente que não. E, no entanto, as pessoas à nossa volta adoptam frequentemente essa atitude para não nos magoarem”. Com a prática da correção fraterna, cumpre-se verdadeiramente o que nos diz a Sagrada escritura: o irmão ajudado pelo seu irmão é como uma cidade amuralhada. Nada nem ninguém pode derrotar uma caridade bem vivida. Com essa demonstração de amor cristão, não são só as pessoas que melhoram, mas toda a sociedade. Evitam-se ao mesmo tempo críticas e murmurações que tiram a paz da alma e conturbam as relações entre homens. A amizade, se for verdadeira, torna-se mais profunda e autêntica com a correção fraterna; e e cresce também a amizade com Cristo.

III QUANDO SE PRATICA a correção fraterna, deve-se viver uma série de virtudes sem as quais não estaríamos diante de uma autêntica manifestação de caridade. “Quando tiveres de corrigir, fá-lo com caridade, no momento oportuno, sem humilhar…e com ânimo de aprender e de melhorares tu mesmo naquilo que corriges”, tal como Cristo a praticaria se estivesse no nosso lugar, com a mesma delicadeza, com a mesma firmeza. Às vezes, uma certa irritabilidade e falta de paz interior pode levar-nos a ver nos outros defeitos que na realidade são nossos. “Devemos corrigir, pois, por amor; não com o desejo de ferir, mas com a intenção carinhosa de conseguir que a pessoa se emende […]. Porque a corriges? Porque te irrita teres sido ofendido por ela? Queira Deus que não. Se o fazes por amor-próprio, nada fazes. Se é o amor que te move, atuas bem”. A humildade ensina-nos, mais talvez do que qualquer outra virtude, a encontrar as palavras certas e o modo de falar que não ofende, ao recordar-nos que nós também precisamos de muitas ajudas semelhantes. A prudência leva-nos a fazer a advertência com prontidão e no momento mais adequado; esta virtude é-nos necessária para levarmos em conta o modo de ser da pessoa e as circunstâncias por que está passando: “como bons médicos, que não curam de uma só maneira”, não dão a mesma receita a todos os pacientes. Depois de corrigirem alguém, não devemos deixar-nos impressionar se parece que não reage, antes é preciso ajudá-lo ainda um pouco mais com o exemplo, com a oração e a mortificação por ele, e com uma maior compreensão. Quando somos nós que recebemos uma correção, devemos aceitá-la com humildade e em silêncio, sem nos desculparmos, reconhecendo a mão do Senhor nesse bom amigo, que o é pelo menos a partir daquele momento; comum sentimento de gratidão viva, porque alguém se interessou de verdade por nós; com a alegria de pensar que não estamos sós no esforço por dirigir sempre os nossos passos para Deus. “Depois de teres recebido com provas de carinho e de reconhecimento as advertências que te fazem, procura segui-las como um dever, não só pelo benefício que representa corrigir-se, mas também para fazeres ver à pessoa que te advertiu que não foram em vão os seus esforços e que tens muito em conta a sua benevolência. O soberbo, ainda que se corrija, não quer aparentar que seguiu os conselhos que lhe deram, porque os despreza; quem é verdadeiramente humilde tem por ponto de honra submeter-se a todos por amor de Deus, e vive os sábios conselhos que recebe como vindos do próprio Deus, seja qual for o instrumento de que Ele se tenha servido”. Ao terminarmos a nossa oração, recorramos à santíssima Virgem, Mater boni consilii, Mãe do bom conselho, para que nos ajude a viver sempre que for necessário essa prova de amizade verdadeira, de apreço sincero por aqueles com quem temos um contacto mais frequente, que é a correção fraterna.
Pe. Paulo Ferreira, OFM
Assistente da Região Sul da Ordem Franciscana Secular de P
ortugal
Fontes: 2 Sam 12. 1-17; São João Crisóstomo, Homilias sobre São Mateus, 60, 1; Sl 50; São Josemaría Escrivá, Forja, n. 455 e 641; Mt 18, 15; Didaqué, 15, 13; 2Tess 3, 14-15; gál 6, 1; Ti 5, 19-20; Gen 4, 9; S. Canals, Reflexões Espirituais, pág. 133; Prov 18, 19; São João Crisóstomo, op. Cit., 29; Leão XIII, Prática da humildade, 41.

 
© 2007 Template feito por Templates para Você