REVITALIZAR/REAVIVAR
A "FORMA DE VIDA"
TESTEMUNHANDO
A FRATERNIDADE
1. Palavra
inspiradora:
MC 23,8-10: "Quanto a vós,
não vos deixeis tratar por mestres, pois um só é o vosso Mestre, e vós
sois todos irmãos. E,
na
terra, a ninguém chameis pai, porque um só é vosso Pai: Aquele que está nos
céus".
Mt 18,20: "Pois onde
estiverem reunidos, em Meu nome, dois ou três, Eu estou no meio deles (Cfr. Rnb
22,32-37
OU IR).
2. Regra de vida:
No 4: "A Regra e Vida dos Franciscanos Seculares
é esta: observar o
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo os exemplos de S.
Francisco de Assis, que fez de Cristo o inspirador e centro da sua vida
para com Deus e com os homens".
3. Algumas
implicações
- Descobrir
nos irmãos a pessoa viva e operante de Cristo (R.V., 5).
- Como
irmãos, conformar a sua maneira de pensar e de agir com Cristo (Id., 7).
- Acolher
todos os homens com espírito humilde e benevolente, como sendo um dom do
Senhor e a imagem de Cristo. Conviver com todos num espírito de verdadeira
alegria (Id., 13).
- Procurar
os caminhos da unidade e dos entendimentos fraternos através do diálogo e
com o poder transformador do amor e do perdão, mostrando-se, assim,
portadores da paz, a qual deve ser construída constantemente (Id., 19).
- Assumir
a vocação da OFS como o viver o Evangelho em comunhão fraterna (Id., 33).
- Aprofundar
os verdadeiros fundamentos da fraternidade universal e implementar em toda
a parte o espírito de acolhimento e o clima de fraternidade (Const., art.º
18,2).
- Colaborar
com os movimentos que promovam a fraternidade entre os povos (Id., art.º
18,3).
- Atuar
como fermento, mediante o testemunho do amor fraterno (Id., art.º 19,l).
- Entender
a paz como obra da justiça e fruto da reconciliação e do amor fraterno
(Id., art.º 23,1).
4.
Fraternidade/Comunhão - Unidade "versus" solidão-individualismo
- Dia Mundial da Paz : 01.01.2014
- Mensagem do Papa
Francisco: "Fraternidade,
fundamento e caminho para a paz"
- Semana de Oração pela
Unidade dos Cristãos: 18-25 de Jan.
Estes dois acontecimentos motivam esta
partilha fraterna, como contributo de formação permanente dos Irmãos desta
fraternidade. Apenas alguns elementos que se apresentam como ajuda a uma
reflexão pessoal e como compromisso para a vida concreta.
Da Mensagem do Papa
Francisco podemos salientar alguns pontos. Assim:
No 1 e 3: a fraternidade
dimensão essencial - A paternidade divina
- A fraternidade como uma dimensão
essencial da pessoa, sendo esta um ser relacional.
- A consciência desta dimensão
essencial leva-nos a ver e a tratar
cada
pessoa como um verdadeiro irmão. Sem isto, não é possível a
construção de uma sociedade justa.
- A
fraternidade começa-se a aprender no seio da família.
- Apesar
da importância das ligações e comunicações que envolvem o nosso planeta e
do que elas permitem, isto contrasta muitas vezes com a globalização da
indiferença. Torna-nos vizinhos, mas não irmãos.
- Em
muitas partes do mundo: a lesão dos direitos humanos fundamentais, as
situações de desigualdade, pobreza, injustiça, a ausência de uma cultura
de solidariedade, o individualismo, o egocentrismo, o consumismo materialista... a revelarem uma profunda
carência de fraternidade.
- Uma
verdadeira fraternidade entre os homens supõe e exige a referência a um
Pai comum – paternidade divina. A partir do reconhecimento desta
paternidade, consolida-se a fraternidade entre os homens. A raiz da
fraternidade está contida na paternidade de Deus que se revela no amor
pessoal, solícito e concreto por cada pessoa (cfr. Mt 6,25-30). Quando este amor
é acolhido ele
torna-se agente de transformação da vida e das relações com o outro.
No 2: Onde está o
teu irmão?
- Partindo
da história dos dois irmãos Caim e Abel (Gn 4,l-16),
cuja
vocação era ser irmãos, importa entender alguns dos obstáculos que se
interpõem à
realização
da fraternidade. Caim assassinou Abel. Recusou-se a reconhecer-se como
irmão e a relacionar-se com ele. Ignorou o vínculo da fraternidade, da
reciprocidade e da comunhão. Porquê? Por inveja.
- Esta
narração ensina que a humanidade traz inscrita uma vocação à fraternidade,
mas também a possibilidade da sua rejeição. Disto mesmo dá testemunho o
egoísmo diário, estando este na base de muitas guerras e injustiças.
No 4: A fraternidade é fundamento e caminho para a paz
- Referindo
a "Populorum Progressio",
de Paulo VI, salienta: o dever de solidariedade: que nações ricas ajudem
as menos avançadas; o
dever
de justiça social: que requer a reformulação entre povos fortes e povos
fracos; o dever de caridade universal: que impele à promoção de um
mundo mais humano para todos
No 5: A fraternidade,
principio que vence a pobreza
- A fraternidade é fundamental para
vencer a pobreza, porque uma causa importante da pobreza é a falta de
fraternidade entre os povos e entre as pessoas. Em muitas sociedades
sente--se uma profunda pobreza relacional, devido à carência de
sólidas relações familiares e comunitárias. Com isto surgem a
marginalização, a solidão e várias formas de doença patológica.
- Uma tal pobreza só pode ser
superada através da redescoberta e valorização de relações fraternas no
seio das famílias e das comunidades, através da partilha das alegrias e
tristezas, das dificuldades e sucessos.
No 6: A redescoberta
da fraternidade na economia
- As
graves crises financeiras e económicas dos nossos dias: que têm a sua
origem no progressivo afastamento do homem de Deus e do próximo, com a
ambição desmedida de bens materiais, e também no empobrecimento das
relações interpessoais e comunitárias.
- As
sucessivas crises económicas devem levar a superar os modelos de
desenvolvimento económico e a mudar os estilos de vida. Além disso, pode
ser também uma ocasião para recuperar as virtudes da prudência, justiça,
fortaleza e temperança (virtudes cardiais). Elas podem ajudar-nos a
superar os momentos difíceis e a descobrir os laços fraternos que nos unem
uns aos outros. Estas virtudes são necessárias sobretudo para construir e
manter a sociedade a
medida
da dignidade humana.
No 7: A fraternidade extingue
a guerra
- Irmãos
que continuam a viver a experiência dilacerante da guerra. A exigir de todos
a oração pela paz.
- Apelo
a quantos semeiam a violência e morte, com armas: naquele que se considera
um inimigo a abater, redescobrir um irmão; ir o encontro do outro com o
diálogo, o perdão e a reconciliação para construir a justiça, a confiança
e a esperança.
- Não
bastam os acordos internacionais e as leis nacionais para preservar a
humanidade do
risco
de conflitos armados. É preciso uma conversão do coração que permita a
cada um reconhecer no outro um irmão do qual cuidar e com o qual trabalhar
para, juntos, construírem uma vida em plenitude para todos.
No. 8: A corrupção e o crime
organizado que contrastam com a fraternidade
- A
fraternidade
como sendo geradora de paz social, porque cria o equilíbrio entre
liberdade e justiça, entre responsabilidade pessoal e solidariedade, entre
bem dos indivíduos e bem comum.
- Um
autêntico espírito de fraternidade vence o egoísmo individual. Este
desenvolve-se quer em formas de corrupção, quer na formação de
organizações económicas, as quais, minando a legalidade e a justiça, ferem
no coração a dignidade da pessoa. Estas organizações ofendem a Deus,
prejudicam os irmãos e lesam a criação.
- O
drama
da droga, com a qual se lucra desafiando as leis morais e civis; a
devastação dos recursos naturais, a poluição, a tragédia da exploração no
trabalho, os tráficos ilícitos de dinheiro, a prostituição que destrói e
rouba o futuro a tanta gente, o tráfico de seres humanos, os crimes contra
menores ...
- As
condições desumanas de muitos estabelecimentos prisionais, onde os
reclusos acabam reduzidos a um estado degrandante e violados na sua
dignidade.
No 9: A fraternidade ajuda a
guardar e a cuidar da natureza
- A
natureza: dom do Criador oferecido à família humana. A natureza está à nossa
disposição, mas somos chamados a administrá-la responsavelmente. Por vezes
surge a ganância, a soberba de dominar, de possuir, de manipular ..., não permitindo a
defesa deste dom e o respeito do mesmo.
- O
sector
agrícola que tem a vocação vital de cultivar e guardar os recursos
naturais para alimentar a humanidade. De que modo usamos os recursos da
terra?
No 10: Conclusão
Uma necessidade: que a fraternidade seja
descoberta, amada, experimentada, assumida, testemunhada
...
5. Fraternidade
franciscana
- Antes
da fraternidade como ideal de vida evangélica, Francisco encontrou o
irmão. No irmão se revelou o Cristo Irmão. Através de Cristo e do seu
Evangelho foi percebendo o sentido pleno da paternidade universal de Deus
e de família dos filhos de Deus, que irmana os batizados, todos os homens,
a criação inteira.
- Fundada
em Cristo, a fraternidade que S. Francisco tem em mente é sempre a que
une os homens no amor de um mesmo Pai, realizada, como ele diz, por
"um tal filho, agradável, humilde, pacífico, doce, amável e mais que
tudo desejável, Nosso Senhor Jesus Cristo, que deu a vida pelas suas
ovelhas e orou ao Pai, dizendo: Pai Santo, guarda em Teu nome aqueles que
Me deste" (cfr. 1CF 11-14 e Jo 17).
- Esta
unidade, constituída por irmãos, se converte em fraternidade pela ação do
Espírito Santo. Francisco, nos seus escritos, fala sempre de fraternidade
quando designa o grupo dos seus seguidores. O termo "irmão" aparece com
muita frequência nas duas Regras (Rnb e Rb) e no Testamento com adjetivos
cheios de afeto: "irmãos meus", "meus irmãos
benditos", amadíssimos irmãos" ...
- Na
fraternidade franciscana podemos distinguir alguns aspetos fundamentais:
- Cristo como centro
vivo da fraternidade
- a fraternidade
vitalizada pela Palavra
- a fraternidade
alimentada pela oração
- a fraternidade
fundada na caridade
- a mútua aceitação
- a nivelação entre os
componentes do grupo-fraternidade (irmãos)
- a mútua abertura e confiança
- a caridade terna,
cordial e sacrificada
...
E isto tanto vale para
as fraternidades dos "menores" como dos "seculares".
6. A paz franciscana
Da homilia do Papa
Francisco, em Assis, a 04 de Outubro de 2013
A propósito de Mt 11, 28-29.
"Esta é a segunda coisa de que Francisco nos dá
testemunho (porque a primeira diz respeito ao ser cristão = uma relação vital com a Pessoa de
Jesus): quem segue a Cristo, recebe a verdadeira paz, a paz que só Ele, e
não o mundo, nos pode dar. Na ideia de muitos, S. Francisco aparece
associado com a paz: e está certo, mas poucos vão em profundidade. Qual é a paz
que Francisco acolheu e viveu, e que nos transmite? A paz de Cristo, que
passou através do maior amor, o da Cruz. É a paz que Jesus Ressuscitado deu aos
discípulos, quando apareceu no meio deles e disse: "A paz esteja
convosco!"; e disse-o, mostrando as mãos chagadas e o peito trespassado
(Jo 20, 19.20).
A paz franciscana não é um sentimento piegas.
Por favor,
este S. Francisco não existe! A paz de S. Francisco é a de Cristo, e encontra-a quem
"toma sobre si" o seu "jugo", isto é, o seu mandamento:
"amai- vos uns aos outros, como Eu vos amei" (cf. Jo 13,34; 15,12). E este jugo não se
pode levar com arrogância, presunção, orgulho, mas apenas com mansidão e
humildade de coração. Voltamo-nos para ti, Francisco, e te pedimos: ensina-nos a ser
"instrumentos da paz", da paz que tem a sua fonte em Deus, a paz que
nos trouxe o Senhor Jesus"
"Altíssimo, omnipotente, bom Senhor,
(...) louvado sejas( ...)
com todas
as tuas criaturas". Assim começa o Cântico de S. Francisco. O amor por toda a
criação, pela sua harmonia. O Santo de Assis dá testemunho do respeito por tudo o que
Deus criou e que o homem é
chamado a
guardar e proteger, mas sobretudo da testemunho de respeito e amor por todo o
ser humano. Deus criou o mundo, para que seja lugar de crescimento na harmonia
e na paz. A harmonia e a paz! Francisco foi homem de harmonia e de paz. Daqui, desta Cidade da paz, repito com a força e a
mansidão do amor: respeitemos
a criação, não
sejamos instrumentos de destruição! Respeitemos todo o ser humano: cessem os conflitos
armados que ensanguentam a terra, calem-se as armas, e que, por toda a parte, o
ódio dê lugar ao amor, a ofensa ao perdão e a discórdia à união. Ouçamos o grito
dos que choram, sofrem e morrem por causa da violência, do terrorismo ou da
guerra na Terra Santa, tão amada por S. Francisco, na Síria, em todo o Médio Oriente,
no mundo.
Voltamo-nos para ti, Francisco, e te
pedimos: alcançai-nos
de Deus o dom de ter, neste nosso mundo, harmonia e pazl"
Frei José Pinto, OFM
(Assistente Espiritual da Fraternidade Franciscana Secular de S. Francisco à Luz)
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