O sentido da Liturgia deste V Domingo:
Com a caminhada
quaresmal que vamos fazendo e aproximando-nos da centralidade do Mistério
Pascal, temos neste domingo a possibilidade de contemplar e deixarmo-nos tocar
por um dos textos mais belos de S. João: O Diálogo entre Jesus e Marta que
culmina com o sinal da Ressurreição do seu irmão, Lázaro. Estamos em presença
do 3º sinal que Jesus oferece sobre a sua condição messiânica. Depois da água
que ‘mata a sede e fortalece a vida’, como Ele mesmo diz à Samaritana, água que
leva o crente a adorar o Pai em Espírito e Verdade; depois da cura da vista que
nos abre os olhos do coração para reconhecer que Ele é o verdadeiro enviado do
Pai, hoje, neste domingo a Liturgia apresenta-nos um ‘novo sinal’, o da vida
plena, pelo qual Ele nos faz a todos como ‘amigos’ (e filhos) de Deus. Ele era
amigo de Lázaro, mas também é nosso amigo, nosso salvador, Aquele que nos
arranca da morte e nos liberta para uma vida total de comunhão com Deus. Se os
sinais dados nos 2 domingos anteriores nos aproximavam de Jesus e nos ajudavam
a acreditá-lo com o Enviado do Pai, neste domingo, o grande sinal é o da vida
nova para ‘aqueles que acreditam’ como Marta: ‘Disse-lhe Marta: Acredito Senhor,
que Tu és o Messias que havia de vir ao mundo’. E, dito isto, foi chamar a
Irmã...
Meditar as Leituras:
Queiramos ou não,
o temor da morte é o ‘grande virus’ (para aproveitar um sinal dos tempos que
correm) que paralisa a vida do Homem. Sempre ao longo da história isso se fez
presente; sempre em todas as religiões os sinais de esperança que são
apresentados convergem para isso: superar e vencer esse pavor. A Escritura
recorre continuamente a uma linguagem que procura dissociar a Morte do medo, abrindo
o sentido da morte à comunhão com o Criador. São os textos das tradições
patriarcais, primeiros fundamentos vivenciais da fé bíblica: Deus não é um Deus
de Mortos, mas de vivos, porque para Ele todos estão vivos. De Ezequiel,
profeta de um tempo em que a morte não era apenas um estado físico e anímico,
mas a condição social e religiosa a que o povo eleito estava confinado na
Babilónia, vem-nos uma promessa e uma mensagem de Esperança, pois é o próprio
Senhor que nos diz: ‘Vou abrir os vossos túmulos e deles vos farei ressuscitar’.
Como Senhor, podemos perguntar nós? A resposta é a mesma que o profeta recebe
da parte de Deus: “Porei o Meu Espírito em vós e haveis de viver”.
S. Paulo, na Carta aos Romanos deixa-nos os
traços fundamentais da sua fé na ressurreição. Para ele, deixar-se habitar por
Deus não é uma mera realidade social ou cultural, nem uma questão de
ascendência judaica, tal como teria aprendido nas ‘escolas’ rabínicas do seu
tempo que também abordavam esta temática. Para Paulo, a ressurreição é
deixar-se habitar por Cristo, pelo Ressuscitado que, mediante o Seu espírito,
derramado nos nossos corações, empresta uma nova vida aos nossos corpos mortais
e deles faz a habitação do próprio Deus, faz-nos templos santos presentes no
mundo para testemunharmos a vida de Deus..
O Evangelho é,
como já antes referi, um dos mais belos textos de S. João, onde está tudo
presente: a proximidade humana (tão oportuna nos tempos que correm); a presença
dialogante que conduz as almas à descoberta dos sinais de Deus (como sentimos
no diálogo entre Jesus e Marta); a oração como partilha desafiante na busca dos
‘mistérios’ do Senhor (como podemos sentir em cada passo do nosso viver e estar
hoje, aqui e agora); a confiança na certeza que Jesus vem ao nosso encontro e
nos liberta também das amarras que nos paralisam (… deixai-o ir); até mesmo as
interrogações que se constroem à nossa volta acerca do ‘sentido de tudo isto que
vai sucedendo (Ele que deu vista ao cego, não podia ter feito com que este
homem não tivesse morrido?). Mas o mais importante e significativo é, hoje como
ontem, ‘ver que Ele é nosso Amigo’.
Padre João Lourenço, OFM
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