(19.04.2020)
Reflexão
e partilha pascal
Introdução:
Os ecos da experiência pascal dos
discípulos prolongam-se na história e emprestam sentido à vida e à missão que
eles anunciam a partir do seu encontro com o Ressuscitado. Este encontro não só
marcou a vida dos discípulos e dos seguidores de Jesus, mas define também um
tempo novo, que o judaísmo anunciava e esperava que acontecesse com o messias,
mas que para nós acontece como experiência permanente. Por isso, esta ‘semana’
dita pascal, que se conclui com o ‘domingo in albis’, como foi e é
chamado na tradição cristã, significa a ‘semana eterna’ dos novos tempos a que
Jesus dá início; é a plenitude dos tempos. Para os crentes do Antigo
Testamento, o messias havia de implementar o 7º milénio, o milénio eterno do
repouso sabático. Cristo, não veio inaugurar um milénio de repouso sabático,
mas sim um tempo de eterna comunhão com Deus, de reconciliação plena da
humanidade com Deus e, como profetizara Isaías, uma comunhão universal com
todas as criaturas. Para que isso possa acontecer, há que descobrir e reconhecer
a humanidade de Jesus e anunciar a sua divindade, tal como no-lo propõe o
Evangelho de hoje.
O ‘Espírito’ das Leituras de hoje:
As leituras da Eucaristia de hoje
centram-se, como sucede nestes dias, no encontro com o Ressuscitado. No
entanto, olhando para estes textos, logo percebemos que eles incorporam uma
dinâmica crente que vai para além do acontecimento em si e traduzem-se por uma
nova forma de ser e estar: Nós já não ficamos à espera do acontecer, agora é o
tempo novo de viver e testemunhar. Por isso, na 1ª leitura temos o testemunho
da comunidade que se constrói a partir de Jesus, já não são os ‘feitos de
outrora’, mas é o encontro com Jesus que nos leva ao encontro com o Outro, seja
ele quem for. Olhar o outro e descobrir nele, na sua humanidade e, porventura na
fragilidade, que ele é o sinal de Deus. Por isso, este domingo, dito também da ‘Misericórdia’
que é a expressão mais sublime da Escritura para nos falar de Deus, como o fez
Oseias, é, acima de tudo, o ‘domingo de Tomé’. Temos no evangelho de hoje um
dos textos fundamentais do Novo Testamento: o reconhecimento da humanidade de
Jesus. Embora todos nós, e cada um, sejamos um ‘Tomé’ que procura encontrar-se
com Deus em Jesus, fugimos muitas vezes ao encontro com a sua humanidade, com
as marcas da sua existencialidade; preferimos um Jesus que não traga em si
esses sinais. Por isso, precisamos de Tomé, do seu testemunho, do seu encontro
e do seu reconhecimento, da sua fé: ‘Meu Senhor e meu Deus’! Por isso, Tomé
abre-nos um caminho novo, a nós e a todos os que procuram os sinais de Deus na
história, sabendo que essa presença tem as marcas e os traços da Sua paixão em
Jesus Cristo. É aí que se encontram todos ‘aqueles que, mesmo sem verem,
acreditam’. É nesta experiência que estejamos todos incluídos. É que só
chegamos à divindade de Cristo se passarmos pela sua paixão e aí descobrimos os
traços da sua humanidade na história de cada um de nós.
A todas e a todos desejo uma feliz
continuação de vivência pascal.
Que os traços da dor e do sofrimento da
história atual nos ajudem
também descobrir que Ele é o Salvador:
‘Meu Senhor e meu Deus’!
Fr. João Lourenço
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