(2020)
A Páscoa do silêncio e do Encontro
Introdução – Uma Páscoa diferente:
Com a liturgia do domingo de Ramos damos início à celebração da ‘grande
semana’ da nossa redenção, acompanhando Jesus nos últimos passos da sua caminhada.
Não o vamos fazer, como há dois mil anos, metendo-nos a caminho com Ele a
descer o Monte das Oliveiras e, entre Hossanas, irromper pelas portas de Jerusalém,
provocando o alvoroço daqueles que nada queriam aceitar da novidade que Ele vinha
anunciar e propor aos homens. Desta vez, a grande novidade que Ele nos convida
a viver é o silêncio contemplativo, marcado pela mesma esperança, que nos
convida a olhar com fé para a situação que vivemos e que partilhamos. Desta
vez, não temos atores e espetadores; o drama da história envolve a todos da
mesma forma e todos nos situamos na mesma plateia; mas sabemos que o drama é
vivido com fé, na certeza que a Sua caminhada desce ao coração de cada crente para
aí contruir um vínculo de comunhão que se vive e se celebra na intimidade de
cada um, numa proximidade silenciosa, mas nem por isso menos intensa nem menos
partilhada. É o tempo, nesta semana, de aprender a alegria do silêncio na
certeza que Ele no-la fará viver na madrugada da ressurreição. As nuvens aparecem
no horizonte, mas o Sol do amor de Deus é mais forte e esse irrompe do sepulcro
e nos mostra a aurora da vida nova.
As Leituras da semana santa – uma caminhada
de Ressurreição:
Neste tempo de ‘semana santa’ podemos olhar o mundo e os acontecimentos
à luz do mistério de Cristo que nos mostra as duas dimensões da história: a
cruz e a glória. Nascemos da árvore da cruz, onde, de braços abertos, Ele
abraçou o mundo para que possamos caminhar ao encontro do Ressuscitado. Nesta semana,
à cruz e à ressurreição, os dois momentos do mesmo mistério, junta-se
necessariamente a experiência do silêncio; não é um silêncio mudo, um vazio de
voz ou de ecos, é um silêncio contemplativo que olha o mundo e olhamos para
cada um de nós à procura do sentido, daquele itinerário que, apesar de curto no
espaço geográfico, entre o calvário e o jardim do encontro onde está o túmulo
do Senhor, é um percurso longo, uma caminhada de eternidade que nos leva da
morte à vida, das trevas ‘que cobriram toda a terra’ até ao amanhecer do 1º dia
da nova semana, do não-sentido em que abanamos a cabeça sem nada compreender
até à manhã da esperança gloriosa que nos ‘faz correr a levar a notícia’ aos ‘meus
irmãos’, como nos narra a tradição extra bíblica do encontro entre o
Ressuscitado e sua Mãe, na madrugada da Ressurreição: ‘Vai dizer a Meus Irmãos
que estou vivo e vou para o Pai, meu pai e seu pai, meu Deus e seu Deus’.
Esta semana é o
tempo da adoração silenciosa, da contemplação vigilante, já que, à semelhança dos
Discípulos, todos e cada um de nós aguarda com esperança a aurora da
Ressurreição. Entramos em nós, descobrimos que o nosso confinamento, mesmo
limitado no espaço, tem a abertura do infinito, da misericórdia e da comunhão
na Igreja. É o tempo de sentir que ela é a mãe que nos guarda neste tempo de
abandono, porque é do abandono no tempo que nos entregamos à comunhão na
Eternidade.
‘Se morremos com
Cristo, também com Ele ressuscitaremos’
Uma Santa Páscoa,
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